Hoje haverá o lançamento do livro de Selda Costa e Ediney Azancoth
Por Flávio Bittencourt Em: 27/03/2014, às 13H30
[Flávio Bittencourt]
Hoje haverá o lançamento do livro de Selda Costa e Ediney Azancoth
O evento acontecerá em Manaus, na livraria Valer, às 19 horas.
27.3.2014 - F.
tenho o prazer de te comunicar que, depois de alguns anos de espera, saiu finalmente meu último livro sobre a expressão teatral em Manaus, escrito com o ator Ediney Azancoth, que já nos deixou, em dezembro de 2012.
Será na Livraria Valer, dia 27 de março [de 2014], às 19 horas, aqui em Manaus.
Sinta-se convidado e divulgue entre nossos amigos amazonenses e outros.
Abraço
Selda Vale [Profª. da UFAM e Drª. pela PUC-SP Selda Vale da Costa]
(Convite recebido via e-mail)
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ARTIGO DE FELIX VALOIS,
NOV / 2012, QUANDO AZANCOTH
JÁ NÃO ESTAVA MAIS ENTRE NÓS:
"EDINEY AZANCOTH
Publicado em Quinta, 29 Novembro 2012 12:40 |
Outro dia fui apresentado a uma senhora e, ao declinar meu nome, ouvi a pergunta: "O senhor já não andou metido em política?" Disse-lhe que sim e ponderei cá comigo: e em tantas outras coisas mais, que a memória só não me permite lembrar tenha eu andado a guiar cegos pelas ruas da cidade. Nada, é óbvio, contra a atividade, das mais nobres, aliás, na medida em que, apesar da genialidade de Saramago, a falta de visão é das deficiências a que em nós mais desperta o sentimento de solidariedade. Simplesmente nunca surgiu a oportunidade para o desempenho do mister que haveria de ser exercido com a mesma dignidade com que se deve agir em qualquer trabalho.
Pensando nessa diversidade, lembrei-me do ano de 1961. Tinha acabado de passar no vestibular da Faculdade de Direito e frequentava a primeira série do curso que me levou à profissão em cujo porto lancei amarras definitivas. Eram tempos de juventude e -- por que não reconhecer? -- até de irresponsabilidade. Afinal de contas, dezoito anos não são uma idade para se estar a tecer lucrubrações de alto nível, permitidas apenas aquelas em que sonhamos com a completa mudança do mundo e quando as injustiças sociais nos açoitam cruelmente e doem muito mais.
Fiz teatro, então. Parece incrível, mas é verdade. Deixem-me contar como tudo se passou, até para não parecer que algum dia tive eu a veleidade de igualar um Procópio Ferreira. Nada disso. Sempre tive os pés no chão. Deu-se que Paschoal Carlos Magno, um diplomata que dedicou a vida às artes cênicas, promovia anualmente um Festival Universitário de Teatro. Acho que era esse o nome. O de 1962 estava programado para se realizar em Porto Alegre e, sem qualquer possibilidade financeira de realizar tão audaciosa viagem, deliberamos criar um grupo, montar as peças exigidas, e tentar obter financiamento para empreender a aventura.
Dito e feito. Havia entre nós um jovem chamado Virgílio Braga Barbosa, já acadêmico do terceiro ano, que possuía efetivamente uma vocação teatral. Já tinham sido diversas as suas participações em peças no teatro da Divina Providência, aquele que ficava bem em frente ao prédio da Academia de Letras. Virgílio assumiu o comando e convidou Américo Alvarez, conhecido na cidade como "Vovô Branco", para atuar na direção do elenco, tendo em vista sua reconhecida experiência como autor e diretor de teatro.
A primeira dificuldade foi a escolha das peças. O regulamento do Festival exigia que cada grupo se apresentasse com uma peça principal e outra, infantil. Tínhamos que escolher trabalhos com poucos personagens, uma vez que nosso orçamento não conseguia passar do zero. Como principal foi eleita "A Beata Maria do Egito", de Rachel de Queiroz, que exigia dois personagens masculinos e uma só atriz. A peça para crianças ficou sendo uma história de princesa e feitiçaria, cujo autor era o próprio Américo Alvarez. Fiz o papel de feiticeiro.
Ensaiamos, treinamos e as duas peças estavam prontas para encenação. O Governo do Estado, por especial gentileza do professor Gilberto Mestrinho, bancou as despesas com cenários e passagens. Recebemos a incrível quantia de trezentos mil cruzeiros e seguimos para Porto Alegre, com escala no Rio de Janeiro, que, sendo a Cidade Maravilhosa, pela primeira vez se apresentou aos meus olhos de pobre.
Chegou o nosso dia no Festival. Pela manhã, exibimos a peça infantil, em que minha irmã Antonieta fez o papel de uma fada e o nosso colega Luís Mendes, que nunca mais voltou a Manaus, recebeu elogios por seu trabalho. À noite era a hora da "Beata". Os nervos estavam à flor da pele porque, apesar do caráter estudantil do Festival, a plateia era exigente e do júri participavam expressivos nomes do Teatro nacional. Nosso atores chegaram a ser aplaudidos em cena aberta, o que, como é de consenso, é dos maiores elogios.
Tudo encerrado, era a hora da premiação. O mestre de cerimônias, à moda do "Oscar" hollywoodiano, só que sem smoking, retirou um papel da urna e anunciou: "O prêmio de melhor ator coadjuvante do Festival vai para... EDINEY AZANCOTH, do Amazonas". Vibramos a noite inteira e tomamos um porre homérico, no qual fizemos o maior esforço possível para esvaziar todas as adegas gaúchas.
Era o nosso Ediney, esse mesmo que morreu no domingo passado, pobre como não podia deixar de ser, já que, como certa vez me ponderou o escritor Márcio Souza, havia escolhido ser... artista e professor. Era o Ediney de fala mansa e gestos comedidos, gentil por natureza e grande ator por vocação e muito trabalho. Era o Ediney, figura imensamente humana, que deveria servir de paradigma para gerações.
Caiu o pano para ele. É pena. Não lhe fui ao enterro porque preferi ficar na plateia, de pé, aplaudindo e gritando "bravo", à espera de um bis. Se não vem, paciência. Continuo gritando: "Bravíssimo, Ediney" ". (http://www.reporter-am.com.br/interior/54-artigos/898-ediney-azancoth.html)