Andei registrando que o Piauí deu bons presentes de brilhantes intelectuais ao Ceará, como esse Geraldo Fontenelle, talentoso, sobretudo incentivador de inteligências. A recíproca se apresenta verdadeira: o Ceará tem enviado ao Piauí boa quantidade de jornalistas, poetas, ficcionistas, enriquecedores de nossa vida cultural.
 
Leio escrito de Geraldo, publicado na imprensa de Fortaleza, em que ele lembra haver Rilke aconselhado a Kappus que só se escreve por necessidade íntima, fugisse dos temas comuns, se fixasse no ambiente para captar-lhe as sugestões. Esta introdução estaria relacionada com Francisco Hardi Filho, cearense de nascimento, mas plantado nestas beiras de Poti e Parnaíba, com muito bem-querer e xodó, de forma que a gente anota nos seus gestos e nos seus poemas, e que visitou, recentemente, a terra do enterramento umbilical, para instantes de convivência benéfica.
 
Depois de uma introdução rica de ensinamento, Geraldo Fontenelle escreve:
 
"Nos versos de Hardi Filho encontrei - digo-o com humildade mas com bastante convicção - uma pessoa muito lúcida, muito envolvente, muito viva, muito ardente e muito sincera. Não se trata de um vate fastidioso, verborrágico, hermético, encastelado numa Torre de Marfim, querendo que os pobres leitores ajoelhem-se aos seus pés em busca de decifrações absurdas. Hardi Filho, irmão cearense-teresinense, tem um canto livre e exato, as frases fluem como se saídas de uma pauta musical e as palavras estão montadas com tamanha justeza que o igualam aos maiores poetas do Brasil".
 
Adiante diz o critico:
 
"Hardi Filho escreveu também um ensaio sobre um dos mais famosos poetas piauienses, Celso Pinheiro. Nascido em Barras, aos 24 de novembro de 1887, aliás ano pródigo em grandes figuras das letras do vizinho Estado, pois também vieram  a luz José de Arimathéa Tito e Esmaragdo de Freitas. Celso Pinheiro deixou uma obra literária imensa, infelizmente grande parte continua inédita".
 
Hardi figura no comentário correto de corpo inteiro. Poeta sensível a todas as belezas da vida e às dores do mundo. Geraldo Fontenelle tem de fato a virtude da justiça.
 
 
A. Tito Filho, 18/04/1988, Jornal O Dia.