Günther Anders escreveu sobre o homem de massa

Segundo Anders, o consumo de massa moderno é uma soma de performances individuais e cada consumidor, um trabalhador doméstico não-pago na produção do homem de massa.

 

                                    

  

 

 

 

 

"Nous, fils d'Eichmann
lettre ouverte à Klaus Eichmann

Auteur : Günther Anders

Günther Anders

traduit de l'allemand par et prés. par Sabine Cornille, Philippe Ivernel

Éditeur : Rivages, Paris

Collection : Rivages-Poche426Petite bibliothèque

Description : 168 pages; (17 x 11 cm) "

(http://www.mollat.com/livres/gunther-anders-nous-fils-eichmann-lettre-ouverte-klaus-eichmann-9782743611095.html)

 

 

 

 

"Water color paintings of Bikini Atoll A-bomb tests

 Ac Bikini 95129D
The official US navy history site has a mind blowing gallery of water color, pencil, and oil paintings made by military observers of the Bikini Atoll A-bomb tests in 1946. Link (via Exclamation Mark)"

(http://www.boingboing.net/2005/08/25/water-color-painting.html)

 

 

 

 

"Günther Anders

 

Günther Anders, pseudônimo de Günther Stern (12 de julho de 1902, em Breslau, atual Wrocław - 17 de dezembro de 1992, em Viena) foi um jornalista, filósofo e ensaísta alemão de origem judaica.

Doutorou-se em filosofia, em 1923, sob a orientação de Edmund Husserl, tendo sido aluno de Heidegger e Cassirer. Foi colega de Hannah Arendt, com quem foi casado entre 1929 e 1936.

No Brasil, é mais conhecido por seu ensaio Kafka: Pró & Contra (1946), no qual reavalia a importância de Franz Kafka no contexto imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial, quando a obra do escritor tcheco corria o risco de ser mal compreendida ou reduzida a interpretações simplistas. O ensaio - um clássico da crítica literária - foi publicado no Brasil em 1968, por sugestão de Anatol Rosenfeld ao tradutor Modesto Carone, que a partir de então deu início a sua série de traduções da obra de Kafka para o português. O ensaio foi retraduzido, pelo mesmo tradutor, em 2007.

Ligações externas

 

 (VERBETE EM PORTUGUÊS 'Günther Anders',

da Wikipédia,

http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%BCnther_Anders)

 

 

 

 

Hannah Arendt e seu primeiro marido, Gunther Stern/Anders (1929)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Hannah Arendt e seu primeiro marido, Gunther Stern/Anders (1929)"

[O PENSADOR GÜNTHER ANDERS era, ao tempo em que foi

marido de Hannah Arendt, conhecido como GÜNTHER STERN]

(http://hannaharendt.wordpress.com/galeria-de-fotos-harendt/gunter_stern_hannah_arendt/)

 

 

 

 

 

                  Homenageando Gunters Anders e Hannah Arendt, em memória,

                  cujos textos e ações teórico-políticas eram, antes de mais nada, éticos, e

                  e agradecendo a Nalu Fernandes pela tradução impecável do absolutamente

                  impressionante texto de Anders

 

 

 

 

19.9.2010 - Parecia que ele exagerava quando afirmava que um consumidor deveria, em vez de pagar para ter um televisor em casa, receber algum valor para o trabalho de assistir a programas de televisão - Hoje, quando, em certos países, nada se paga por um telefone celular (telefone móvel), percebe-se que ele foi um visionário - e nada tinha de exagerado. Era G. Anders bastante "realista", até: a "realidade" é que parece ser bastante "alucinada". F. A. L. Bittencourt

 

 

 

 

TRANSCRIÇÃO DE TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS DE ARTIGO NO PORTAL

Antroposmoderno

 

"O mundo como espectro e como matriz

Gunter Anders


[In Trabalho e jogo na sociedade industrial. Este artigo é uma versão condensada do primeiro de três artigos sobre televisão que foram divulgados na revista alemã Der Merkur.]

 



O consumo de massa moderno é uma soma de performances individuais; cada consumidor, um trabalhador doméstico nãopago na produção do homem de massa.

Nos dias anteriores em que as torneiras culturais do rádio e da televisão tinham se tornado um equipamento padrão em cada residência, os Smiths e os Millers amontoavam-se nas salas de cinemas, onde consumiam coletivamente os estereotipados produtos de massa fabricados para eles. Alguém pode ficar tentado a avaliar isto como uma circunstância particular na qual os produtos de massa deveriam, então, ser consumidos por uma massa compacta. Esta visão, entretanto, seria inapropriada. Nada contradiz a proposta essencial da produção em massa
mais completamente do que uma situação na qual um tipo de commodity é simultaneamente desfrutado por muitos, para não dizer inúmeros, consumidores. Se
este consumo é “uma genuína experiência comunitária” ou apenas a soma de diversas experiências individuais, é uma questão indiferente para o produtor de massa. O que ele precisa não é uma massa compacta como esta, mas uma massa
descontínua ou atomizada no maior número possível de clientes; ele não quer que todos os clients consumam um e o mesmo produto, quer que todos os clientes comprem produtos idênticos com base em uma demanda idêntica que também tem de ser produzida.
Em incontáveis indústrias este ideal foi mais ou menos atingido. Se a indústria cinematográfica poderia alcançá-lo parece duvidoso, uma vez que esta indústria mantém a tradição do teatro: a commodity que produz é um espetáculo destinado para um consumo simultâneo por um grande número de espectadores. Uma situação como esta é obsoleta.
Não é de admirar que as indústrias do rádio ou da televisão possam entrar em competição com o cinema apesar do tremendo desenvolvimento deste último: no caso das duas novas favorecidas pela possibilidade comercial, além da commodity a ser consumida, os instrumentos exigidos para este consumo, objetos
que diferente do cinema, poderiam ser vendidos para quase todo o mundo. Ocorreu que muitos dos finais de tarde dos quais os Smiths e os Millers antigamente passavam juntos nas salas de cinemas começaram, então, a passar em casa. A situação que é dada como certa na exibição em salas de cinema – o consumo de produto de massa por uma massa de pessoas – foi então dissipada. É dispensável dizer que isto não significou uma desaceleração da produção em massa; ao contrário, a produção em massa para o homem da massa, na verdade a produção
em massa do próprio homem da massa, foi acelerada continuamente. Milhões de espectadores eram servidos com o mesmo produto; cada um deles era tratado como um homem da massa, “um artigo indefinido”; cada um foi ratificado em sua personalidade – ou ausência dela – como um homem da massa. Mas com esta diferença, que o consumo coletivo tornou-se desnecessário em virtude da produção em massa dos aparelhos de recepção. Os Smiths consumiam os produtos de massa en famille ou individualmente; quanto mais isolados tornavam-se, mais lucros geravam. O eremita produzido em massa surgiu como um novo tipo humano, e agora milhões deles, separados uns dos outros, ainda que idênticos uns aos outros, permanecem reclusos em suas casas. O objetivo deles, no entanto, não é
renunciar ao mundo, mas assegurar que não ficarão privados da migalha mais ínfima do mundo como imagem em uma tela.
É de amplo conhecimento que o princípio da centralização industrial, que transcorreu inalterado há apenas uma geração, agora foi derrubado, principalmente por razões estratégicas, em favor do princípio da dispersão. É menos conhecido que este princípio da dispersão é também aplicado na produção do homem da massa. Embora nós tenhamos falado até agora apenas sobre consumo disperso, nós estamos justificados ao falar em produção uma vez que neste caso ambos coincidem de
uma forma peculiar. Assim como o provérbio alemão sentencia Mensch ist was er isst, “o homem é aquilo que come” (em uma percepção não-materialista), é por meio do consumo das mercadorias de massa que os homens da massa são produzidos. Isto implica que o consumidor do produto de massa torna-se, por meio de seu consumo, um dos operários contribuindo para sua própria transformação em um homem da massa. Em outras palavras, consumo e produção coincidem. Se o consumo é “disseminado”, então também o é a produção do homem da massa. E esta produção ocorre cada vez que o consumo ocorrer – em frente de cada rádio, em frente de cada aparelho de televisão.
Cada pessoa está, por assim dizer, empregado como um operário em sua casa – um trabalhador autônomo do tipo mais incomum: ele desempenha seu
trabalho - que consiste em transformar a si próprio em um homem da massa – por meio do consumo do produto de massa que lhe é oferecido, isto é, por
meio do lazer. Enquanto o trabalhador clássico fabricava suas mercadorias para garantir um mínimo de bens de consumo e lazer, o trabalhador moderno consome um máximo de produtos de entretenimento com o objetivo de ajudar a produzir o homem de massa.
Para completar o paradoxo, o trabalhador em vez de ter remuneração por seu trabalho deve pagar por ele comprando os meios de produção (os aparelhos receptores e, em diversos países, os sinais de transmissão) pelo uso dos quais ele acaba transformado em um homem da massa. Em outras palavras, ele paga por vender a si mesmo: ele precisa comprar a não-liberdade que ele mesmo ajuda
a produzir.
Esta conclusão pode parecer artificial. Mas ninguém negaria que para a produção do tipo do homem da massa que é demandado hoje, a formação efetiva do grupo de massa não é mais exigida. As observações de Le Bon 2 sobre a psicologia das
multidões tornaram-se obsoletas, uma vez que a individualidade de cada pessoa pode ser apagada e sua racionalidade subjugada em sua própria casa. A direção de cena das massas no estilo de Hitler tornou-se supérflua: para transformar um homem em ninguém (e um que seja orgulhoso de ser ninguém) não é mais necessário engolfá-lo na massa ou alistá-lo como um membro de uma organização de massa. Nenhum método de despersonalizar um homem, de privá-lo da sua faculdade humana, é mais 2 Le Bon, Gustav. Psicologia das multidões. Rio de Janeiro: F. Briguet & Cia. Editores, 1954. (Nota da Tradutora) eficiente do que um que parece preservar a liberdade pessoal e os direitos da individualidade.
E quando o condicionamento é realizado separadamente para cada indivíduo, na solidão de seu lar, em milhões de lares isolados, é incomparavelmente mais bem-sucedido. Uma vez que este isolamento é disfarçado de “diversão”, a vítima não está ciente de que precisa sacrificar algo, e desde que o procedimento deixa-o com a
ilusão de privacidade, ou, pelo menos, de residência particular, permanece perfeitamente discreto. O velho ditado “a morada de um homem é tão preciosa quanto ouro” novamente tornou-se verdadeiro, embora em um sentido totalmente novo.
Hoje, a casa é valiosa não apenas para seu dono, mas também para os donos dos donos da casa - os que fornecem os serviços do rádio e da televisão que servem ao dono da casa no entretenimento diário.

II

O aparelho radiofônico e a tela da televisão acabaram transformando-se em uma mesa negativa da família; a família em uma audiência miniatura.

É desnecessário dizer que este consumo de massa não é chamado, habitualmente, pelo nome verdadeiro.
Ao contrário, é representado como favorável ao renascimento da família e da privacidade – uma hipocrisia compreensível.
Na verdade, o tipo de consumo de massa discutido aqui ameaça dissolver a família sob a aparência de encorajar a intimidade da vida familiar. Porque agora o que predomina nas casas graças à televisão, é o mundo exterior – real ou
ficcional; e este mundo externo é tão irrestritamente dominante que a realidade da casa – não apenas as quatro paredes e os móveis, mas precisamente o compartilhamento da vida familiar – torna-se inoperante como uma fantasmagoria. Quando o que é distante se torna familiar, o que é familiar se torna distante. Quando o fantasma torna-se real, a realidade torna-se uma fantasmagoria. O lar tende a se tornar um contêiner, sua função tende a ser reduzida a conter uma tela de vídeo do mundo exterior. O reino dos fantasmas triunfa sobre o reino do lar, sem nem
mesmo chance de uma disputa entre os dois; ele triunfa no momento em que o aparelho de televisão entra na casa: ele vem, vê e vence. Uma vez que o teto está cheio de buracos, as paredes tornam-se transparentes, o cimento unindo os membros da família esfacela-se, a privacidade compartilhada desintegra-se.
Décadas atrás foi possível observar que o certificado social da família – a mesa maciça no centro da sala de estar, que servia como ponto de encontro da família – começou a perder sua força de atração, tornou-se obsoleto. Conseqüentemente, a
mesa da sala de estar foi eliminada da casa moderna. Agora foi encontrado seu verdadeiro sucessor, o aparelho televisor, um móvel cujo simbolismo social e poder persuasivo podem ser comparados àqueles da antiga mesa. Isto não
significa, entretanto, que o aparelho de televisão tenha se tornado o centro da família. Ao contrário, o que o aparelho personifica é mais a descentralização da família, sua ex-centricidade: é, por assim dizer, a mesa negativa da família. Ela não fornece um centro comum, mas uma via de acesso comum de escape. Considerando que a mesa era uma força centrípeta, sua existência encorajava os membros da família sentados em torno dela a continuar entrelaçando o tecido da vida familiar
como uma lançadeira num vai e vem de interesses, olhares e conversas. A influência exercida pela tela da televisão é centrífuga. As poltronas em torno da TV estão arrumadas de forma que os membros da família não mais olhem de frente uns para os outros; eles podem ver-se ou olhar uns para os outros somente à custa de perder algo na tela; eles conversam (se ainda puderem ou quiserem conversar uns com os outros) apenas por acidente. Eles não estão mais unidos, eles estão apenas situados um ao lado do outro, como simples expectadores. Não há mais qualquer debate de um mundo formado ou compartilhado por eles. A única coisa que os membros da família fazem juntos – embora nunca como um grupo familiar integrado – é excursionar pelos domínios da irrealidade, um mundo que, na verdade, não compartilham com ninguém (que eles mesmos não compartilham realmente); ou se compartilham é somente com todos aqueles milhões de “solistas” do consumo de massa que, como os quais e simultaneamente com quem, olham fixamente a tela da
televisão. A família foi (re)estruturada em uma platéia miniatura, e a casa em um teatro em miniatura moldado em uma sala de cinema.

III

Uma vez que os aparelhos receptores falam em nosso lugar, eles gradualmente nos privam do poder da fala,transformando-nos em dependentes passivos.

Os telespectadores, como dissemos, conversam uns com os outros somente por acidente – ainda que mantenham a disposição ou a capacidade de falar.
Isto é verdade também para os ouvintes de rádios. Eles também falam apenas por engano. O desejo e a habilidade de falar diminuem dia a dia – e isto não significa que eles se tornaram calados em um sentido literal, mas que sua eloqüência
assumiu uma forma puramente passiva. Uma vez que os aparelhos de recepção falam em nosso lugar, eles progressivamente nos roubam a capacidade de falar,
a oportunidade de falar e, finalmente, até nosso prazer em nos expressarmos, assim como o gramofone e o rádio nos roubaram a música ao vivo em nossas
casas.
Os casais passeando pelas margens do Hudson, do Tâmisa ou do Danúbio com um rádio portátil não conversam um com o outro, mas ouvem uma terceira pessoa – a pública, geralmente anônima, voz do programa que eles levam para passear como um cachorro, ou, mais precisamente, que os leva para passear como um casal de cachorros. Desde que eles são uma audiência miniatura que acompanha a voz da transmissão, eles não fazem seu passeio a sós, mas em companhia de um terceiro. Conversas íntimas são eliminadas de antemão; e qualquer contato íntimo que ocorra entre os amantes é introduzido e, até mesmo estimulado não por eles, mas pela terceira parte – a voz rouca ou tagarela do programa que (não é este o significado
verdadeiro de “programa”?) diz ao casal o que e como sentir ou fazer. Uma vez que eles fazem o que lhes é dito para fazer na presença de um terceiro, eles o fazem em uma situação acusticamente indiscreta. Por mais que pareça agradável aos amantes sua submissão, é certo que eles não entretêm um ao outro. Em vez disso os dois são distraídos por esta terceira parte que sozinha tem uma voz; e esta voz não os distrai
somente no sentido de mantê-los ocupados e divertindo-os, mas também com o propósito de fornecer a eles um amparo. Como a terceira parte na aliança, esta voz dá a eles o apoio que eles, na ignorância do que podem fazer a si mesmos, não podem dar um ao outro. De fato, não há razão para abandonar o manto do silêncio diante do fato de que, hoje, o namoro ocorre com acompanhamento do rádio. O aparelho de rádio que é admitido ou desejado em qualquer situação possível é uma reminiscência da guia feminina que portava o archote e que os anciãos toleravam, ou convidavam, como testemunha de seus deleites amorosos. A diferença entre os dois consiste nisto, que o guia moderno é uma utilidade pública mecanizada, a sua tocha
serve não apenas para iluminar mas também aquecer, e em nenhuma circunstância ela deve mantém a boca fechada, mas, ao contrário, deve falar exageradamente. Ela precisa montar um cenário cheio de ruídos na forma de músicas ou palavras e
silenciar aquele horror vacui que não afrouxa seu domínio sobre o casal de amantes nem mesmo in actu.
Mas a situação de namoro é apenas um exemplo, o mais evidente. As pessoas se mantêm “entretidas”, de forma semelhante, em qualquer situação, até mesmo enquanto trabalham. E se, por algum engano, falam uns com os outros, a voz do rádio fala no segundo plano como o principal protagonista, dando a eles a sensação confortadora e segura de que continuará a falar mesmo depois que eles tiverem se
manifestado – até mesmo depois que estiverem mortos.
Para eles, palavras não são mais algo que se fale, mas algo que alguém apenas ouça; falar não é algo que alguém faça, mas algo que alguém receba. Não importa em qual ambiente político ou cultural este processo rumo a uma existência sem fala
ocorra, seu resultado final deverá ser o mesmo em qualquer lugar – um tipo de homem que por não mais falar não tem mais nada a dizer; e que, por apenas
ouvir, não fará mais do que ouvir. Os efeitos iniciais desta ocorrência são manifestados ainda hoje: as linguagens de todos os países avançados tornaram-se mais grosseiras e pobres; e há uma crescente relutância no uso da linguagem. Mas isto não é tudo: a experiência humana, e, assim, o próprio homem, também se torna progressivamente mais bruto e empobrecido. A vida interior do homem, sua riqueza e sutileza, não pode resistir sem a riqueza e sutileza da linguagem; o homem não apenas se expressa pela sua fala, ele é também produto de sua linguagem.

IV

Nós vemos o mundo apenas quando estamos dentro de nossas casas. Os acontecimentos vêm até nós, não nós a eles.

O consumo de bens, por meio dos quais uma transformação da natureza humana como esta é obtida, é trazido para nossas casas, assim como o gás ou a eletricidade. A distribuição não é limitada a produtos artísticos, como música ou radionovela; também inclui acontecimentos reais, pelo menos aqueles que são selecionados e
preparados para representar a “realidade” ou para servir como um substituto para ela. Um homem que quer estar “antenado”, para saber o que está acontecendo do lado de fora, deve ir para casa, onde os acontecimentos estão esperando por ele,
como água pronta para sair da torneira. Se ele ficar fora de casa, no caos da realidade, como ele poderia distinguir qualquer coisa “real” mais do que de significado local? Somente depois que ele fechou a porta atrás de si, o mundo externo se torna visível a ele; somente depois de termos nos transformado em mônadas sem janelas (windowless monad3) o universo reflete-se em nós.
Isto nos traz ao âmago do nosso tema. Pelo fato de que as ocorrências do dia – os próprios acontecimentos, não relatos de eventos – uma partida de futebol, celebração religiosa, explosões atômicas visitam-nos em casa; a montanha vai ao
profeta, o mundo vai ao homem; o fato, próximo da produção em massa de eremitas e da transformação da família em uma platéia em miniatura, é a mudança revolucionária trazida pelo rádio e pela televisão.
As verdadeiras implicações filosóficas desta mudança tornar-se-ão aparentes a partir de uma lista experimental de algumas de suas conseqüências:
1. Quando o mundo vem até nós, em vez de irmos até ele, nós não estamos mais “no mundo”, mas estamos apenas apáticos, consumidores
passivos do mundo.
2. Uma vez que o mundo vem até nós apenas como uma imagem, ele é uma meia-presença e meia- 3 Windowless monad é uma expressão cunhada por Gottfried Leibniz para representar unidades atomizadas que não interagem umas com as outras, mas refletem o universo como um todo. (NT) ausência, em outras palavras, como fantasmagoria - e nós também somos como fantasmas.
3. Quando o mundo fala conosco, sem que nós sejamos capazes de falar com ele, nós estamos desprovidos da fala, e, então, estamos condenados a não sermos livres.
4. Quando o mundo é perceptível, mas não mais que isso, isto é, não está sujeito a nossa ação, nós somos transformados em espiões e voyeurs.
5. Quando um evento que ocorre em um local específico é noticiado, e quando ele pode ser elaborado para aparecer em qualquer outro lugar como uma ‘transmissão’ ele transforma-se em um objeto móvel, na verdade, quase ubíquo, e perdeu sua localização espacial, seu principium individuationis.
6. Quando o evento não está mais ligado a uma localização específica e pode ser reproduzido virtualmente diversas vezes,adquire as características de um produto de
uma linha de montagem - e, quando nós pagamos para tê-lo em casa, é uma commodity.
7. Quando o acontecimento real é socialmente importante somente em sua forma reproduzida, isto é, como espetáculo, a diferença entre ser e parecer, entre realidade e imagem da realidade, é abolida.
8. Quando o acontecimento na forma reproduzida é socialmente mais importante do que o acontecimento original, este original deve ser moldado com vistas a ser reproduzido. Em outras palavras, o acontecimento torna-se apenas uma matriz-mestra, ou um molde para projetar suas próprias reproduções.
9. Quando a experiência principal do mundo brota da mesma forma que produtos de linha de montagem, o conceito “o mundo” é anulado na proporção em que denota o qual nós vivemos. O mundo real é perdido; as transmissões, em outras palavras, são mais uma orientação h.

V

Porque o mundo é trazido para dentro de nossas casas, nós não temos de explorá-lo; como resultado, nós não adquirimos experiência. O homem moderno viaja apenas como último recurso.

Em um mundo que vem até o homem, o homem não tem necessidade de ir ao mundo com o objetivo de explorá-lo ou experienciá-lo. O que antes era chamado de “experiência” tornou-se supérfluo.
Até recentemente, expressões como “cair no mundo”, ou “experimentar”, denotavam importantes conceitos antropológicos. Uma vez que o homem está sendo relativamente pouco dotado de instintos, ele tem sido compelido a experimentar e a conhecer o mundo a posteriori com objetivo de encontrar seu lugar nele. Somente desta forma ele poderia alcançar seu objetivo e tornar-se “experimentado”. A vida costumava consistir em uma viagem de exploração. Esta é a razão pela qual o grande Erziehungsromane (“romances educativos”) tratava do costume de que o homem – embora sempre no mundo – tinha de viajar com o propósito de conhecer o mundo. Hoje, uma vez que o mundo vem até ele – como uma imagem – ele não precisa se incomodar em explorá-lo. Tais explorações e experiências são supérfluas e uma vez que todas as funções supérfluas tornam-se atrofiadas, ele não pode mais se envolver em explorações e se tornar experimentado. É, de fato, evidente que o tipo de “homem experiente” está tornando-se crescentemente raro, e este período e experiência tendem a ser vistos como cada vez menos valorizados. Como caminhantes que foram levados a voar, nós não precisamos mais de estradas; em conseqüência, nosso conhecimento das veredas do mundo, que nós antigamente costumávamos explorar, e que nos fizeram experientes, está declinando. Simultaneamente a isto, o próprio mundo transforma-se em uma região inóspita
intransitável. Enquanto anteriormente nós acumulávamos experiências por meio de viagens, hoje o mundo está armazenado para nós como uma commodity guardada para um uso futuro. Nós não temos de ir até os acontecimentos, os eventos desfilam perante nós.
Tal retrato dos nossos contemporâneos parece distorcido à primeira vista. Por isso tornou-se habitual considerar automóveis e aviões como símbolos do homem moderno, um ser cuja essência é viajar. O que está em questão é precisamente a exatidão desta definição. O homem moderno não agrega valor às suas viagens por interesse nas regiões visitadas de fato ou de forma vicária - ele não viaja para se tornar experiente, mas para apaziguar sua voracidade por onipresença e por mudanças rápidas. Mais do que isso, a velocidade de seus movimentos priva-o da oportunidade de experimentar (uma vez que a velocidade por si só tornou-se sua experiência única e conclusiva) – para não mencionar o fato de que o número de objetos dignos de serem experimentados, e capazes de somarem-se a sua experiência, é continuamente reduzido pelos seus esforços bem-sucedidos para deixar o mundo uniforme, e que mesmo hoje ele se sente em casa, sem precisar
de experiência, onde quer que ele aterrisse. Uma peça publicitária de uma empresa aérea conhecida, confundindo completamente o regional e o global, apela aos consumidores com estas palavras: “Quando você utiliza nossos serviços, você está em casa em todos os lugares”. Em casa em todos os lugares: Há, de fato, boa razão para presumir que hoje qualquer viagem (ainda que o homem que a faça possa dormir confortavelmente em sua cabine eletricamente aquecida enquanto voa sobre o Pólo Norte) é percebida como um método antiquado, desconfortável e inadequado para alcançar a onipresença. O homem moderno ainda recorre a este método exatamente porque, apesar de todos os esforços, ele ainda não teve êxito em ter tudo despachado para sua casa – algo que ele vem a considerar como seu direito inerente.
Uma situação deste tipo indica um modo de existência, uma relação com o mundo tão extraordinariamente perversa, no qual até mesmo o gênio do mal de Descartes seria incapaz de planejar um ardil comparável. Tal forma de existência pode ser descrita como “idealista” de duas maneiras:
1. Embora vivamos agora em um mundo alienado, este mundo é apresentado a nós de tal maneira que parece existir para nós como se fosse nosso ou como nós mesmos.
2. Nós o “tomamos” (i.e., consideramos e aceitamos) como tal, embora fiquemos em casa em nossas poltronas.
Nós, na verdade, não o “tomamos”, na maneira da besta devoradora ou de um conquistador, e nós, na verdade, não o fazemos nosso. Mas o ouvinte médio do rádio, ou o telespectador, avalia o mundo que é oferecido a ele
na forma de sons e imagens reproduzidas como o seu próprio mundo. Como resultado, ele se transforma em uma espécie de voyeur comandando um mundo fantasma.

VI

O mundo trazido para nossas casas pelo rádio e pela televisão é um mundo reduzido, pífio; a pseudo-familiaridade é um aspecto de alienação.

Este não é o lugar para discutir a origem e a sintomatologia da alienação. A literatura sobre o assunto é imensa, e nós devemos tomar este fenômeno por certo. A artimanha particular em questão aqui consiste nisto: o ouvinte de rádio ou o telespectador, embora vivendo em um mundo alienado, é levado a acreditar que está em uma relação de grande intimidade com tudo e todos. Ele não é impelido a relacionar-se com um mundo estranho; em vez disso, pessoas, países, situações, eventos, particularmente o menos familiar deles, são apresentados a ele como se sempre tivesse os conhecido; eles são totalmente vulgarizados de antemão.
Enquanto os vizinhos da porta ao lado, usualmente, não nos conhecem, e a distância entre eles e nós permaneça intransponível por anos, estrelas de cinema, garotas as quais nunca encontramos pessoalmente, mas que vimos inúmeras vezes e cujas características físicas e espirituais são mais completamente conhecidas por nós do que aquelas dos nossos colegas, parecem-nos à maneira de velhos amigos, de um
“chapa”. Nós estamos automaticamente em uma relação de intimidade, nós nos referimos a elas pelo primeiro nome.
Para causar tal estado de coisas, para permitir que o consumidor de programas trate o mundo como algo familiar, a imagem televisionada deve dirigir-se a ele como um velho amigo. De fato, toda transmissão tem esta característica amigável. Quando eu sintonizo no Presidente, ele rapidamente senta-se ao meu lado perto da lareira, conversando comigo, embora ele possa estar a quilômetros de distância. (Eu sou
apenas minimamente consciente do fato de que esta intimidade existe em milhões de reproduções). Quando a garota do anúncio aparece na tela, ela fala comigo em um tom de absoluta sinceridade, como se eu fosse seu amigo do peito. (Que ela também seja uma amiga do peito de todos os homens é novamente apenas uma percepção marginal).
Todos eles chegam até mim como visitantes íntimos ou indiscretos, todos eles encontram-me pronto para ser íntimo deles. Nenhuma destas pessoas, que são transportadas para dentro da minha casa, guarda nem mesmo um átomo de uma não familiaridade. E isto é verdade não apenas para pessoas, mas também para tudo o mais no mundo como um todo. Coisas, lugares, acontecimentos, situações – tudo chega até nós com um sorriso amável na face. Agora nós alcançamos uma condição
de intimidade não apenas com estrelas de cinema, mas também com as estrelas do firmamento; nós falamos da “boa e velha Cassiopéia4” tão prontamente quanto de Marilyn (Monroe) ou Rita (Hayworth). E isto não é tido como piada. O fato de que
leigos e cientistas vêem como possível e até mesmo provável que habitantes de outros planetas, que supostamente utilizam discos voadores, têm como nós e precisamente em nosso tempo 4 Constelação cujas cinco maiores estrelas formam um ‘W’ dependendo do
ponto de observação. (NT) nenhuma outra preocupação a não ser ocupar-se com viagens interplanetárias demonstra que nós consideramos tudo no universo como ‘um da nossa espécie’. Este é um sinal de um antropomorfismo contra o qual o antropomorfismo das, assim chamadas, civilizações primitivas ataca como covarde. Os provedores do universo vulgarizado percebem que a menos que eles reduzam o cosmo até o nosso nível eles não irão vende-lo – o que seria perder uma oportunidade lucrativa. Mas nós, os consumidores, somos sistematicamente transformados em colegas de farra de tudo em nosso planeta e no universo – não mais do que colegas de diversão, para os quais não pode haver dúvida de fraternização genuína ou identificação.
O que nós temos falado de coisas e pessoas distantes no espaço também se aplica a coisas e pessoas distantes no tempo. O passado também é vulgarizado. Eu não falarei dos filmes históricos nos quais tal tratamento é a regra. Mas mesmo em livros acadêmicos americanos sérios, escritos brilhantemente, Sócrates é descrito como u “homem e tanto” – em outras palavras, ele é colocado em uma categoria que traz o grande homem distante, aparentemente, para perto do leitor; sem precisar dizer, para quem também o leitor é um “homem e tanto”. Este rótulo dá ao leitor inconscientemente o sentimento gratificante de que Sócrates, se ele não tivesse vivido naquele passado remoto, seria essencialmente como nós, não teria nada a dizer que fosse essencialmente diferente do que nós temos a dizer, e de forma alguma poderia reivindica maior autoridade do que nós.
Outros vêem figuras históricas como cômicas, por definição, (e.g., suas reações a filmes históricos). Isto ocorre porque tais figuras aparecem para eles como provincianos no campo do tempo, como criaturas que não cresceram na capital – o Agora – e por esta razão comportamse como estúpidos de uma pequena comunidade da história ou caipira supersticioso. Cada invenção elétrica feita desde o tempo deles é vista como uma prova eloqüente da sua inferioridade. Finalmente, para um grande número de nossos contemporâneos, as figuras históricas aparecem como rebeldes, como, de forma questionável, sujeitos estranhos, para isso é óbvio que eles vêem a si mesmos como alguém especial especificamente, diferente de todo homem respeitável que escolhe viver no presente, eles preferem estabelecer residência em uma caverna do passado. (Isto é fonte de efeitos cômicos em diversos contos de Mark Twain). Mas se um grande homem do passado é observado como “um homem e tanto”, um sujeito esquisito ou um provinciano, estas categories denotam proximidade, e, então, são variações de intimidade.
Como para o caso típico de “Sócrates, o homem”, o epíteto aqui é obviamente baseado no famoso princípio político formulado na Declaração dos Direitos do Homem, “todos os homens nascem iguais”, que agora foi estendida na asserção da igualdade de todos os cidadãos da nação dos tempos passado e presente. Não é preciso dizer que tal extensão do princípio de igualdade sugere não apenas uma falsa proximidade histórica, mas também uma concepção errônea do denominador comum de toda a humanidade – depois de tudo, a essência de Sócrates consiste na simples noção de que “nossa espécie” é ausente. O método que supostamente pretende trazer o objeto perto de nós, na verdade serve para encobrir o objeto, para aliena-lo ou simplesmente anula-lo. Uma vez que você projete a história em um plano simples de companheiros de diversão, na verdade deixou de existir como história – e isto talvez seja mais plausível do que nossa tese geral, de que quando as várias e variadamente distantes regiões do mundo são trazidas igualmente para perto de nós, o mundo como tal se esvaece".

 

Tradução Nalu Fernandes

(http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=1063

 

 

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"El piloto de Hiroshima". Günther Anders y la expiación del hombre que lanzó la bomba atómica

Günther Anders y Claude Eatherly mantuvieron durante varios años una relación epistolar basada en el intento de redención del segundo

Cultura | Kepa Arbizu-TerceraInformación | 15-07-2010 | facebook yahoo twitter Versión para imprimir de este documento

Günther Anders es uno de los filósofos más fascinantes de la historia. Al margen de su impresionante "currículum intelectual", su biografía ha servido para romper ciertos estereotipos de comportamiento, como aquel que arguye que con el paso de los años se disipa la rebeldía. Su historia demuestra más bien todo lo contrario.

De origen judío, como a tantos otros, el hecho de tener que escapar del nazismo marcaría su pensamiento. Uno de sus mayores compromisos y por los que es más conocido es por su postura antinuclear, nacida del binomio Auschwitz-Hiroshima, y sus reflexiones sobre los avances tecnológicos y su papel dentro de las estructuras de poder.

Curiosamente con el paso de los años sus posturas se han mostrado más beligerantes con los poderes establecidos, llegando a escribir con 85 años un tratado realmente radical, en el que reflexiona sobre la violencia (desmarcándose de una actitud pacifista) y la necesidad del individuo de enfrentarse al sistema y no dejar en manos de éste la hegemonía de sus vidas y de su entorno.

Pero no es sólo su figura la esencial en el “El piloto de Hiroshima. Más allá de los límites de la conciencia”, reeditado por la editorial Paidós debido al 65 aniversario del final de la II Guerra Mundial, Claude Eatherly, joven piloto que lanzó la bomba atómica sobre la ciudad japonesa, también juega un papel central, ya que ambos tuvieron una relación epistolar centrada en estos hechos.

A través de las cartas nos vamos haciendo una composición de cómo cambió la vida del estadounidense el haber participado en aquella acción. Tras su regreso a Estados Unidos comete diferentes robos que le acaban llevando primero a la cárcel y luego a un centro de salud mental. La prisión no supone ningún drama para él, al contrario, encuentra que es su sitio debido a la necesidad que tiene de verse castigado.

Su discurso pacifista, es el único que rechaza ser tratado como héroe de guerra, se encuentra de bruces con el diagnóstico médico que le declara no apto mental. Recluido, entablará su relación por carta con Günther Anders desde 1959 hasta 1961, fecha en la que se fuga del hospital. Encuentra en él un apoyo y alguien que admira la dimensión humana necesaria para pedir perdón por los hechos y querer enmendarlos. En cambio, según Anders, sucede todo lo contrario con todos aquellos que siendo los culpables reales tienen una aptitud bien diferentey conciben el mundo como el lugar donde desarrollar sus planes de guerra.

El libro incluye también otras declaraciones de diferentes personas que vivieron el bombardeo y un escrito del propio filósofo, “Mandamientos de la era atómica”. Todo ello sirve en el fondo para ahondar más en el pensamiento del alemán y mostrar la indefinición que viven los individuos en un mundo dominado por poderes que controlan por completo sus vidas, llegando a alienarles de tal forma hasta hacerles creer que sus acciones, tan salvajes incluso como la de este libro, no tienen una dimensión humana real.

Sin buscar un interés puramente literario ni ornamental, a pesar de la fascinación que desprenden las palabras escritas por su valor moral, “El piloto de Hiroshima. Más allá de los límites de la conciencia”, es mucho más que la descripción de un arrepentimiento y su posterior intento por saldar las cuentas, se trata en verdad de un análisis, utilizando un caso concreto, de a dónde nos lleva la “era atómica” y en definitiva un modo de gobernar y ejercer el poder desde la pura violencia.

 
2 Mensajes del foro
  • 16 de julio 09:53, Joan Vecord
    0 vote

    Recomiendo encarecidamente la lectura de este libro, así como el siguiente artículo de Santiago Alba Rico, sobre el mismo tema (y alguno más):

    EL MUNDO EN GUERRA. CONSIDERACIONES SOBRE EL DERECHO A LA NORMALIDAD

    http://www.rebelion.org/noticia.php...

  • 18 de julio 00:06, Una duda
    0 vote

    ¿Veremos monumentos del que lance la bomba atómica iraní para hacer desaparecer Israel?
    Seguro que este medio será el primero en poner su foto.
    Como he leido en esta web en ocasiones, parece que lo importante es el Imperio del Islam.
    Tranquilos, todavia no ha terminado la partida...

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(http://www.tercerainformacion.es/spip.php?article16828)