Por mais esperto que você seja, um dia pode encontrar quem seja mais...

(Miguel Carqueija)


                                                           

     Lourival percorreu durante muitos meses a ferrovia interoceânica
Brasil-Zaire, vendendo os seus gênios engarrafados que em verdade não passavam de garrafas contendo hologramas cuja validade se esgotava em alguns meses. Depois, para não ser descoberto, passou a percorrer outras vias como o Grande Eixo Alasca-Argentina, e em meio a tanto formigueiro humano poderia permanecer impune durante séculos.
     Um dia porém esbarrou com a japonesinha Tomoyo, que lhe deu uma resposta surpreendente;
     - Gênio engarrafado? Não, obrigada...  não preciso, eu já tenho um.
     A princípio ele julgou que ela gracejava:
     - Como pode ter um? Onde você conseguiu?
     - Ora, não é só você que os vende! Esse eu comprei no Japão... – e ela abriu a bolsona e mostrou uma garrafa verde em cujo interior movia-se um “youkai” aparentemente também verde, com chifres, escamas e barbatanas. Lourival jamais tinha visto algo igual; não parecia com seus hologramas.
     - Eu tenho conseguido muita coisa com ele... inclusive dinheiro para viajar pelo mundo... mas o coitadinho anda cansado, sabe... faz tempo que sua eficiência diminuiu! Pelo que me disse o mago, só lhe restam dois anos de validade!
     - É mesmo? E ele conseguiu muita coisa para você?
     - Casa, namorado, formatura... você nem imagina o que o Iusuke aqui já fez!
     - Sabe, às vezes esses gênios duram mais quando mudam de dono e de ares. Não quer trocar o seu por um dos meus?
     - O meu é muito especial! Mas eu venderia por dez mil créditos... e mais dois gênios seus de bônus!
     Lourival acabou concordando. Afinal, uma criatura daquelas valia uma fortuna incalculável e dez mil créditos não era tanto dinheiro assim.
       Quando se viu no quarto do hotel, à noite, encheu uma bacia com água morna e desarrolhou a garrafa, pois Tomoyo lhe explicara que o gênio precisava se banhar toda noite. Bastava depois falar “PICKPOCK!” e ele voltava para o recipiente.
     Na manhã seguinte foi encontrado o cadáver dilacerado de Lourival, estendido no chão do dormitório. Longe dali uma jovem feiticeira, em outro quarto de hotel, recebia de volta o seu gênio e lhe dava dois hologramas para brincar.