FILETO PIRES FERREIRA
Por Rogel Samuel Em: 31/01/2008, às 05H18
Leia o que diz Agnello Bittencourt. no "Dicionário amazonense de biografia". (Rio, Conquista, 1973).
FILETO PIRES FERREJRA Governou de 26 de julho de 1896 a 4 de abril de 1898.
Projetou-se em uma das mais agitadas fases da história política do Amazonas, dentro do ciclo de inquietação que caracterizou os esforços de implantação e consolidação do regime republicano. Pertenceu ao grupo de jovens oficiais que subiu ao poder nos Estados logo após o 15 de Novembro.
Fileto Pires Ferreira, natural do Piauí, nasceu a 16 de março de 1866, filho do Capitão Raymundo de Carvalho Pires e D. Lydia de Santana Pires. Fez seus cursos primário e de preparatório em Teresina.
Iniciou sua formação militar em Porto Alegre em 1884. Transferido no ano seguinte para o Rio de Janeiro, veio a tomar parte na preparação do movimento republicano, sob a liderança de Benjamim Constant. Como Alferes-Aluno, juntamente com outros oficiais do Regimento de Artilharia, dirigiu um vibrante manifesto de solidariedade a Benjamim Constant, à semelhança de outros pactos de sangue com que a jovem oficialidade se dispunha levar sua indignação cívica e seus ressentimentos profissionais às últimas conseqüências. (Esse manifesto é reproduzido pelo acadêmico, Sr. Raymundo Magalhães Júnior, “Deodoro”— Vol. II, pág. 45).
A 15 de novembro de 1889, estava entre os oficiais da 2.a Brigada, à frente da qual o Marechal Deodoro da Fonseca compareceu ao Quartel-General para depor o Gabinete Ouro Preto, episódio da seqüência de acontecimentos que compõem a proclamação da República.
Em começo de 1890, foi mandado para o Amazonas, para servir ao lado de Augusto Ximenes de Villeroy, que, então, era 1.°-Tenente e Governador do Amazonas nomeado pelo Governo- Provisório, em substituição à Junta que assumiu o poder com a proclamação da República.
Ao chegar à Manaus, já como 1.°-Tenente, Fileto Pires foi nomeado Superintendente Municipal de Tefé. Regressou ao Rio de Janeiro, concluindo em 1891 sua formação militar básica, com o título de Bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Tinha deixado no Amazonas a semente de sua prosperidade política e, também, de grandes mágoas que sofreu.
A fim de evitar sua transferência para Mato Grosso, pediu licença. Temporariamente fora do serviço ativo do Exército, esteve em Minas Gerais, onde atuou como engenheiro em serviços ferroviários.
Logo após o golpe de Estado de Deodoro, Fileto Pires foi chamado ao serviço ativo, sendo classificado no Pará. Em viagem, durante a qual cumpriu missões de articulação com chefes militares que lhe dera o Marechal Floriano Peixoto, soube da queda de Deodoro da ascensão de Floriano. Deste recebeu ordem de seguir para Manaus.
Fileto Pires estava em Manaus, quando, a 27 de fevereiro de 1892, foi deposto do governo do Estado o então Coronel Thaumaturgo de Azevedo. Este aderira ao golpe de estado de Deodoro e agora era incluído na derrubada de governadores que veio com o contra-golpe de Floriano.
Após a breve interinidade do Capitão-de-Fragata José Inácio Borges Machado, assume o governo, a 11 de março de 1892, Eduardo Gonçalves Ribeiro, que convida Fileto Pires para Secretário do Estado.
Em 1893, eleito Deputado Federal, distinguiu-se, na Câmara, na defesa de Floriano e da terra que ali representava. Foram seus companheiros Francisco Ferreira de Lima Bacury, Gabriel Salgado dos Santos e Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto.
A 25 de julho de 1893 casou-se com Maria Lucrécia Gomes de Souza, filha do General Francisco Gomes de Souza. Ao explodir, logo após, a Revolta da Armada, Fileto Pires apresentou- se ao Governo, indo servir nas Fortalezas de Santa Cruz e São João.
A l.° de março de 1894, foi reeleito Deputado Federal pelo Amazonas, continuando a apoiar o Marechal Floriano, em uma época de muita agitação.
O ano de 1895 foi de grande movimentação política no Amazonas, sobretudo depois que o Partido Democrata, chefiado pelo Coronel Emílio José Moreira, apresentou, à sucessão de Eduardo Gonçalves Ribeiro, o nome do Senador Manuel Francisco Machado, que logo foi recusado. O Governador cujo mandato findava tinha predileção por Fileto Pires. Apresentado este, cindiu se o Partido Democrata, mas já estavam eleitos os seus deputados ao Congresso Legislativo do Estado, tornando-se, em conseqüência, arriscado para o Governo o propósito de promover o reconhecimento e a posse de Fileto. Tal risco porém, não convinha à política do Governo. Naquele tempo, havia um lema: “Governo não perde eleição”.
Preparou-se um golpe violento: em dia aprazado, os deputados foram convocados, na sede do Congresso. Compareceu, igualmente uma grande multidão de curiosos e interessados. Segundo o Regimento do Congresso, suas sessões seriam sempre realizadas ao meio-dia (12h). Às 9 horas, a Casa estaca à cunha; às 10 horas, a improvisada Mesa do Congresso presidida pelo Deputado Albuquerque Serejo, mandou fazer a chamada dos deputados, mas somente daqueles que não foram depurados pela Comissão de Reconhecimento, os quais eram em número de nove (9), tendo sido considerado eleito igual número de intrusos.
Não se pode imaginar o que se passou nesse momento naquela casa legislativa. Gritava-se, berrava-se, batiam-se palmas de aplausos, batiam-se os pés de protestos, tudo numa confusão dantesca. O Deputado Raymundo Nunes Salgado, um dos espoliados, frenético, com o relógio na mão, dizia: “São 10 horas apenas, quando é certo que o Regimento manda que a sessão comece às 12 horas!” Por outro lado, o Deputado Henrique Álvares Pereira, também com o seu relógio entre os dedos, em altas vozes, anunciava: “São 12 horas em ponto”. E Raymundo Salgado: “Vide, Senhores, como o sol está entrando por estas janelas, o que não é possível ao meio-dia!” Uma gargalhada misturada de assovios explode de todos os lados.
Nisto, nesse pandemônio, rebenta um “foguetão”, que ali mesmo, no terreno do edifício, era de costume ser queimado, desde muitos anos, para anunciar o meio-dia à cidade. Mas, naquele dia, assinalava a mentira oficial.
Tudo vi e ouvi do meu lugar de amanuense da Secretaria do Congresso. Lá se vão 70 anos. Tão impressionante aquela cena que, ainda, agora, não esqueci os seus detalhes!
Esse Congresso ficou assinalado, na história da minha terra, com o nome de Congresso Foguetão.
Faltavam poucos meses, em 1896, para o término do mandato de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Realizou-se a eleição do seu candidato: o Capitão Fileto Pires Ferreira. Sendo sufragado nas urnas, foi reconhecido e empossado pelo “Congresso Foguetão”, no dia marcado por Lei.
Tudo foi feito como Eduardo Ribeiro traçara.
Fileto Pires desde sua investidura (23 de julho de 1896), foi um administrador dinâmico, honesto e bem orientado.
No seu governo foi inaugurado o Teatro Amazonas, a 31 de dezembro de 1896. Ainda no seu governo, o Amazonas colaborou com a União na repressão ao foco rebelde de Canudos: a 4 de agosto de 1897, um Batalhão de Infantaria da Polícia Estadual embarcou para juntar-se às forças que atacavam o reduto de Antônio Conselheiro, ficando todas as despesas desse participação a cargo do Estado.
A situação das finanças estaduais era lisonjeira, beneficiando-se do surto da borracha. A situação política, apesar da oposição, poderia achar-se sob o controle de Fileto Pires.
Por isso, adoecendo, Fileto Pires acreditou poder afastar-se tranqüilamente do Estado: a 4 de abril de 1898 embarcou para a Europa com a devida licença do Congresso. Ficou em seu lugar o Coronel José Cardoso Ramalho Júnior, Vice-Governador do Estado, que viria a preencher o resto do quatriênio.
Fileto Pires, estando em Paris, em tratamento de saúde, foi abandonado pelos seus amigos, pelos “incondicionais” de todos os tempos, do “Congresso Foguetão”.
Surgiu uma suposta “renúncia”, logo recebida e aceita pelo Congresso. Fileto Pires contestou energicamente a autenticidade do documento de “renúncia” e, dentro da legalidade, tudo fez para reaver seu mandato. Já no final de seu mandato presidencial, Prudente de Moraes preferiu encaminhar o caso à apreciação do Congresso Nacional. A seguir, no exercício da Presidência, Campos Salles, embora houvesse cogitado a princípio de promover a intervenção no Estado, esquivou-se de corrigir a situação, consagrando o fato consumado.
Fileto Pires recusou-se a voltar ao serviço do Exército pelo tempo restante do seu mandato. Após, dedicou-se inteiramente ao seu ofício militar até sua morte.
Fileto Pires Ferreira faleceu no posto de General, no Rio de Janeiro, a 11 de agosto de 1917, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier.
(Fontes subsidiárias de sua biografia:
Raul de Azevedo, “Terras e Homens”, pág. 141 e seg. — Rio de Janeiro — 1948;
Fileto Pires Ferreira, “A Verdade sobre o Amazonas”, 189 pág.
“Jornal do Comércio”, Rio de Janeiro – 1900).
(In: Agnello Bittencourt. Dicionário amazonense de biografia. Rio, Conquista, 1973.)
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