Elmar Carvalho


 
 
Neste sábado, fui a animada quadrilha junina, a convite de César e de Simone, sobrinha de Fátima. A festa é promovida em um quarteirão da rua Padre Mamede Lima, no bairro São João. Tanto a versão do ano passado como a do corrente ano, teve entre seus animadores e organizadores principais minha prima Maria Teresa e seu marido Edilson. No evento estavam presentes vários tios de Maria Teresa e outros parentes, entre os quais cito: Tadeu, Chiquinho, Maria do Carmo, Maria do Amparo, Arimatéia, Zeba, Geraldinho Majella, Antenor Rêgo, Nise, Maria Augusta, Antônio Carlos e outros amigos oriundos da velha Barras do Marataoã. A comida, típica dos festejos juninos, foi farta, gostosa e variada. A bebida, alcoólica ou não, ficou por conta de cada um. A música ficou a cargo de um autêntico grupo de forró pé de serra, nos moldes do velho Januário e seu filho Luiz Gonzaga. Ornamentavam o local do folguedo as típicas bandeirolas, de cores sortidas, agitadas pela brisa mansa e manhosa. Tanto no ano passado como neste, a festa transcorreu na mais perfeita ordem e harmonia, sem nenhuma forma de desinteligência que lhe maculasse o brilho. Foi completa; houve até fogueira de verdade, e não apenas ornamentação de paus com luz de lâmpada elétrica a imitar o fogo. A quadrilha, cantada e dançada de acordo com a praxe mais tradicional, teve a participação da maioria dos presentes, todos vestidos a caráter, ou seja, como matutos. Como pareço ter os pés redondos, não dancei, mas aplaudi, com muito entusiasmo, os brincantes.


De minha infância, guardo dos festejos juninos algumas recordações, entre as quais lendas, costumes e simpatias. Ainda tenho lembrança de dois quadros de santos, que minha mãe afixou no dormitório dos filhos: São José, com sua veneranda barba, um lírio branco que leva o seu nome e um rechonchudo Menino Jesus em seu colo; e São João, dito do carneirinho, ainda infante, com os cabelos encaracolados, em cuja tela aparecia um cordeiro, muito alvo e muito lanudo. Havia o costume de se passar fogo ou fogueira, que era uma pequena cerimônia em que duas pessoas se davam as mãos acima das brasas da fogueira, para que se tornassem compadres, padrinhos ou afilhados, após repetirem as palavras ritualísticas: “São João disse, / São Pedro confirmou, / Vamos ser compadres, / Que São Antônio mandou”. Também havia simpatia e crendice, como a de que a pessoa, adotando certo ritual, poderia ver a imagem de quem iria ser o seu cônjuge no fundo de uma bacia com água. Ainda sinto em minha boca o gosto de gengibre de um copo de aluá, que tomei quando ainda era criança. Mas sobretudo guardo a vívida lembrança de um imenso balão, iluminado, multicolorido, que teimava em não querer subir. Mãos ansiosas o tenteavam, tentando fazê-lo ganhar altura, mas ele negaceava, manhoso como uma fêmea muito requestada. Depois de muito esforço de homens e rapazes, após várias tentativas frustradas, resolveu galgar o espaço, até se perder naquela noite iluminada de minha infância. Nesse tempo, eu não sabia que era crime soltar artefato tão deslumbrante e tão encantado.