Fernando Pessoa: Sonnet II
Por Cunha e Silva Filho Em: 18/09/2009, às 12H07
Cunha e Silva Filho
Caro leitor, dentro do possível, de quando em quando, trago à sua fruição poética, um soneto traduzido do genial autor de Mensagem(1934) . Veja abaixo:
Sonnet II
If THAT APAPARENT part of life’s delight
Our tingled flesh-sense circumscribes were seen
By aught save reflex and co-carnal sight,
Joy, flesh and life might prove but a gross screen.
Haply Truth’s body is no eyeable being.
Appearance even as appearances lies.
Haply our close, dark, vague, warm sense of seeing
Is the choked vision of blindfolded eyes.
Wherfrom what comes to thought’s sense of life? Nought.
All is either the irrational world we see
Or some aught-else whose being-unknown doth rot
Its use for our thought’s use. Whence taketh me
A qualm-like ache of life, a body-deep
Soul-hate of what we seek and what we weep.
Soneto II
Caso AQUELA APARENTE parte das delícias da vida
Que abrange nosso dolorido sentido carnal fosse vista
Por qualquer coisa, exceto como reflexo e carnal visão conjunta,
A alegria, a carne e a vida não passariam de uma tela vulgar.
Felizmente, não é um ser visível o corpo da Verdade.
A aparência ilude, ainda como aparência.
Por sorte que o nosso sentido de visão profunda, escura, vaga e cálida
Seja a visão sufocada de olhos vendados,
Consequentemente, que vem a ser o sentido da vida para o pensamento? Nada.
Tudo não é mais do que o mundo irracional visível.
Ou de qualquer algo mais cujo ser-desconhecido por força apodrece
Com o uso quando empregamos nosso pensamento. Daí me vem
Um sofrimento incerto da vida, um ódio d’alma tão profundo
Quanto o do corpo naquilo que procuramos e pelo qual choramos.