Expedição (espacial e histórica) ao Igaraçu
Por Elmar Carvalho Em: 08/06/2017, às 06H53
Elmar Carvalho
No dia 13 de maio, novamente naveguei o Velho Monge a bordo do indômito Tremembé. Saímos, por volta das onze horas da manhã, do Sítio Filomena, na Várzea do Simão, em direção à barra ou boca do Igaraçu. Natim Freitas era o comandante, coadjuvado pelo imediato Carlos Eduardo Coutinho, tendo como grumete ou recruta 000 este que escreve estas mal traçadas linhas.
Ao passar pela estação de captação e tratamento d’água de Parnaíba não pude deixar de evocar as várias pescarias de que participei, em suas imediações, na minha já distante juventude do final dos anos 1970. Pescar, pescar já seria uma estória de pescador, porque na verdade eu apenas tomava banho e umas boas talagadas de pinga.
Depois, comia uma caldeirada feita com os mais diferentes tipos de peixes, dos mais diversos formatos e tamanhos, pescados na hora pela tarrafa de hábil pescador que nos acompanhava. Quase sempre participavam da pescaria o Canindé Correia, o Vicente Potência de Paula, eu e outros eventuais convidados. De volta para casa, lavávamos o peritônio com uma cerveja bem gelada no bar do Careca, localizado na estrada do Rosápolis.
Cerca de um quilômetro após, encontramos a embocadura do Igaraçu. Era o nosso destino e meta. Contudo, resolvemos adentrar esse rio, que na verdade é uma espécie de braço do Parnaíba, como adiante explicarei. Fomos até aproximadamente dois mil metros em direção à cidade de Parnaíba, margeando a estrada que se dirige ao Céu, de nome tão bem-posto, por ser um local de paradisíaca beleza.
Vimos belas e frondosas árvores que ornam a mata ciliar, nem sempre bem conservada. Todavia, causou-nos pena constatar que, mesmo antes do término da estação chuvosa, o outrora grande rio dos tapuias já estivesse em estado deplorável; pois, embora o Tremembé seja um casco de pequeno calado, ainda assim roçava o fundo em bancos de areia, o que nos forçava tê-lo de rebocar durante pequenos trechos.
O Igaraçu, ao que tudo indica, era apenas um pequeno riacho ou Igarapé, nascido na região de Rosápolis. Creio fosse apenas um pequeno braço do Parnaíba. Leiamos o que diz Cláudio Bastos, no seu importante Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí: “Resolução provincial nº 244, de 30-8-1849, autoriza a abertura de seu canal com a finalidade de aproximar o porto da cidade de Parnaíba do litoral e atrair navios de curso marítimo. Uma tentativa de abertura foi feita por Evaristo da Silva Meneses, em 1853, que a retoma no ano seguinte. Em 1856 o 1º tte. engº Alfredo de Barros e Vasconcelos, encarregado das obras públicas da província, é enviado a Parnaíba para verificar o andamento dos trabalhos.” Desconheço o resultado prático dessa verificação e se o engenheiro produziu algum relatório a respeito. Tampouco sei se ainda existem vestígios da tentativa de Evaristo.
A ideia de se construir esse canal, que jogaria maior volume d’água no Igaraçu, foi retomada na primeira metade do século XX pela Associação Comercial de Parnaíba, tendo como um dos principais líderes o grande capitão de indústria José de Moraes Correia, seu presidente. O canal de São José foi construído e isso revitalizou a navegabilidade, seja em direção a Amarração, seja com destino ao porto de Tutoia – MA.
Creio seja lógico supor que, mesmo com a influência das marés, o volume d’água do Igaraçu no século XIX não permitisse a navegação de grandes embarcações. Portanto, suponho que os navios de Domingos e Simplício Dias da Silva devessem ficar fundeados em Tutoia ou em Amarração, hoje Luís Correia. As mercadorias seriam conduzidas até esses navios em embarcações menores, de pequeno calado. Ou, então, os navios não seriam propriamente navios. Mas, como já deixei bem claro, estou apenas levantando hipóteses. Deixo que os historiadores lancem luzes sobre esse assunto.
Feita essa viagem na história, retomo o meu pequenino e ousado Tremembé, faço a curva e me dirijo ao porto de origem, que será também o final. Não sem antes uma parada logística na churrascaria do Conrado, para uma rápida libação e degustação, como coroamento de nossa aventura fluvial.