ESTÁTUA DE SAL - CONTO
Por Margarete Hülsendeger Em: 19/02/2011, às 16H24
O táxi a deixa bem em frente ao endereço combinado. Está no horário. Detesta essa sua mania de pontualidade. No entanto, por mais que se esforce, nunca consegue chegar atrasada, nem mesmo quando quer. Hoje não é diferente.
Aproveita para se arrumar. Seu vestido novo não está amarrotado, mas, pensando ver uma prega, o alisa repetidas vezes. Para retocar o batom, retira da bolsa um pequeno espelho. Seus gestos são nervosos. Sente-se uma criminosa. Na calçada, olha para todos os lados. Quer se certificar de que não há conhecidos na redondeza. Aliviada, logo percebe que não se trata de rua movimentada. Ao contrário. Naquela hora da noite já não se vê mais ninguém circulando por ali.
Diante da porta, inspira profundamente. Decidida, entra no bar.
Lá dentro há pouca luz. Uma penumbra domina o ambiente. Seus olhos demoram a se acostumar com a pouca claridade. Consegue, no entanto, entrever algumas mesas e cadeiras. Garçons se movem, silenciosamente, atendendo aos pedidos discretos dos frequentadores. Laura fica parada sem saber ao certo o que fazer.
Seu nervosismo aumenta. Começa a duvidar da sua decisão de ir a esse encontro. Está resolvendo se vai ou se fica, quando percebe um movimento em sua direção. É ele.
Agora, não há como fugir.
- Oi, Laura. Você está linda!
- Obrigada. Você também.
Imediatamente, se dá conta da estupidez de suas palavras. Ele, contudo, nada diz, parece não tê-la ouvido. Com tranquilidade, a conduz para mesa onde está sentado. Laura aproveita o momento para observar seu acompanhante.
Definitivamente, não é um homem bonito. Há, porém, algo nele difícil de explicar. Algo que, desde aquela primeira vez, a atraiu de uma forma estranha e irresistível. Talvez, fossem os olhos. Ora verdes, ora castanhos. É difícil olhar diretamente para eles. Ela tem um medo infantil de se transformar, quem sabe, em uma estátua de sal.
Sentados à mesa, ele não força o início da conversa. Apenas a olha. Nervosa, Laura sente-se constrangida com a intensidade daquele olhar. A situação toda é por demais estranha para ela. Dúvidas novas e antigas tomam conta da sua mente. A razão lhe diz para agradecer o convite, levantar e ir embora o mais rápido que as suas pernas permitirem. Laura, entretanto, está surda a razão.
Enquanto isso, ele continua olhando-a, totalmente alheio aos seus conflitos e medos.
- Laura relaxa. Eu não mordo – diz, rompendo o silêncio. Um sorriso, lentamente, se desenha em sua boca.
- Desculpa, mas essa situação é nova para mim – responde, gaguejando. Pela milionésima vez, reflete se não seria melhor deixar para trás toda essa história.
Ele lhe dá um novo sorriso. Sua mão toca a dela. Um carinho. Ele se aproxima ainda mais. Sussurrando, em seu ouvido, afasta uma mecha de cabelo do seu rosto, colocando-a com delicadeza atrás da orelha. Volta a sussurrar. Laura parece hipnotizada. Compreende, finalmente, que não há outro lugar onde gostaria de estar.
Ele, calmamente, levanta. De pé, diante dela, estende-lhe a mão. É um convite para segui-lo. Espantada, ela olha diretamente em seus olhos. Um está verde, o outro castanho.