“ A friend in need is a friend indeed.”

 Cunha e Silva Filho
                   Sei, leitor, que eu, você, todo mundo, em geral, estamos errados quando, tantas vezes, deixamos de lado a continuidade de uma amizade que, com o tempo, se vai, pouco a pouco, embora e, o que é pior, quando pensamos em reatá-la, já é impossível, visto que o amigo ou a amiga podem não estar mais entre nós. Falo disso a propósito de amigos que perdemos de vista por longo tempo e este, conforme tão lucidamente vemos em romances de Machado de Assis, vão desaparecendo até mesmo com muita frequência, o que é de lamentar do ângulo da condição humana.
             Lá por volta dos anos de 1960, diria melhor, 1963 até 1968 aproximadamente, minha esposa mantinha uma grande amizade com a família Freire, então gerente-geral do Banco do Brasil, agência Centro, Rua Primeiro de Março, no prédio onde hoje funciona o Centro Cultural Banco do Brasil. A esposa do Sr. Moacyr Freire era a D. Santuzzi e eles tinham um casal de filhos. Moacyr Freyre era do Piauí, não sei se exatamente da capital. Sei de um irmão dele, o Sr. Zequinha Freire, que morava em Teresina e, de vez em quando, visitava o irmão Moacyr. O Sr. Moacyr Freire morava no belo bairro de Ipanema, na rua Visconde de Pirajá.
                Naquele tempo, eu ainda era namorado de minha esposa. Foi ela quem me apresentou ao Sr. Moacyr Freire. Antes, me contara em que circunstâncias o conhecera. Tendo chegado do Piauí muito jovem, necessitou de ir ao Banco do Brasil receber uma ordem de pagamento que lhe enviara a mãe, em União. Ocorre que, por algum motivo, houve atraso na chegada da ordem de pagamento. Ela ficara aflita, pois necessitava do valor enviado.
                Conversando com um funcionário do banco, e expondo-lhe o problema, contara-lhe que era do Piauí. O funcionário, solícito, logo entendeu o desespero da jovem e, com boa vontade, lhe sugeriu que falasse com o gerente, o Sr. Mocyr Freire, por sinal, do Piauí, conterrâneo dela.
                O funcionário, muito educado, levou-a até ao gerente. Ela lhe relatou a ocorrência do atraso da ordem de pagamento. O gerente a ouviu atentamente e, numa ação de bondade que iria ainda se repetir tantas vezes, lhe disse: “Não se preocupe, menina, vamos fazer assim. Eu lhe empresto agora o valor que lhe remeteram e, depois, você me paga.”
                     Nasceu daí uma boa amizade. A amizade se estendeu, depois, a mim igualmente, pois fora o Sr. Moacyr Freire que me tinha conseguido uma colocação num banco de uma agência do Centro, na Rua 1º de Março. Era o Banco do Intercâmbio Nacional(já extinto), departamento de câmbio, onde iria trabalhar como escriturário principiante, que, na prática, redundou mais em escrever carta em inglês comercial, ou em verter para o inglês cartas em português enviadas pela gerência de câmbio.

                   Por um lado foi muito bom ter trabalhado naquele banco, uma vez que me vi compelido a aprender bastante a terminologia do inglês comercial e bancário. Até havia comprado pra mim um ótimo compêndio das Edições de Ouro que ensinava a escrever cartas comerciais em inglês, cujo autor ainda guardo na memória: Leônidas Gontijo de Carvalho. Era no ano de 1968, ano em que nasceu meu primeiro filho, hoje moço vitorioso, professor de Direito em Curitiba, Paraná, e Procurador do  Municipio. 

                 A amizade do Sr Moacyr foi sempre motivo de orgulho para a minha esposa e a ele e à sua esposa, D. Santuzzi (não sei bem se a grafia está correta) ela deveu muitos favores, favores que não podem ser nunca esquecidos.
            Da família do Sr. Moacyr sei que tenho as melhores recordações de amizade e de gratidão. Me recordo de que o seu filho estava na época cursando engenharia em Petrópolis e que a sua irmã, uma moça muito bonita, se casara com um moço também educadíssimo que, uma vez, da mesma forma, me quis arranjar uma colocação, se não me engano, num estaleiro em Niterói.
               O casal Moacyr Freire, para resumir, nos apoiou até à época de meu casamento. Sempre esteve disposto a ajudar-nos, assim como o fizeram outros poucos amigos, aqui no Rio de Janeiro, que conhecemos nesta vida.
                O tempo passou. Não nos vimos mais. Porém, temos vontade de saber alguma notícia de nossos benfeitores, bem como de sua família.O Sr. Moacyr Freire, a sua esposa são dessas pessoas a quem jamais apagamos do mais fundo dos nossos corações. Agradeceria se alguém que, por ventura, me lesse, pudesse fornecer-me informações sobre aquele lindo casal da rua Visconde de Pirajá. Ficaremos confortados, minha esposa e eu.