Escritos em tempos sombrios de pandemia e solidão (2)
Por Cunha e Silva Filho Em: 13/10/2021, às 14H17
Me arrependo de não ter trazido comigo de Teresina, em 1964, mais livros de meu pai, visto que, se assim o tivesse feito, alguns bons dicionários e outros volumes estariam ainda comigo.Que lástima! Estariam cuidadosamente guardados no meu acervo particular e ter-me-iam sido muito úteis em minha atividade não profissional de tradutor de poesia.
Retomando o assunto das obras organizadas em tempos de pandemia, me vejo, agora, regozijado com o que reuni recolhendo textos meus publicados, ou não, em forma de "apostila". Grande parte dos textos estava em forma digitada. Tirei cópias do meu Blog, As ideias no tempo, bem como do site Entretexto, no qual assino a minha coluna Letra viva desde 2009.
Na organização dos livros de meu pai, me vali do meu acervo conservado por mim faz muitos anos com os artigos em recortes de jornais de Teresina dos anos 1960 até os anos 1990. Decerto, alguns artigos perdi-os em tantas mudanças de residência aqui no Rio de Janeiro. Tanto artigos meus quanto de meu pai. Que tristeza! Terei que ir aos arquivos de Teresina a fim de tirar cópias de velhos e juvenis artigos meus e de meu pai. Quem sabe, em Parnaíba, possa localizar, nos arquivos públicos de lá, velhuscos textos de meu pai publicados no Almanaque de Parnaíba, quem sabe também em Floriano, que já teve um jornal chamado O Floriano, para o qual meu pai enviava os seus primeiros artigos.
Quanto à correspondência ativa e passiva que está já reunida em dois grossos volumes, no mesmo formato de “apostila,” só lamento dizer que as minhas cartas a meu pai trocadas durante mais de 20 anos, não foram guardadas. Sumiram como folhas ao vento. Só tenho as dele, segundo já afirmei neste texto.
Elas significariam muito para mim, porquanto nelas amiúde comentava-lhe os artigos e trabalhos de outra natureza. Além do mais, essa parte ativa da minha correspondência com meu pai muito me ajudou na prática de analisar textos jornalísticos e literários, no calor da impressão da primeira leitura de cada artigo remetido de Teresina, circunstância esta sem dúvida epistemologicamente conexionada ao processo de criação e produção literária de cunho crítico e ensaístico que, seguramente, colaborou para a práxis da minha atividade ensaística nos meus posteriores estudos de Letras tanto ao nível de graduação quanto ao nível de pós-graduação stricto sensu.
Há poucos meses, revendo as “apostilas” referentes à minha correspondência, nos dois grossos volumes já mencionados, me deparei com um carta de um amigo que tive um grande prazer de conhecer durante o tempo em que lecionava língua inglesa, língua portuguesa e literatura brasileira no Instituto de Educação "Governador Roberto Silveira,” em Duque de Caxias, município do Rio de Janeiro. Esse amigo era professor de língua inglesa e se chamava Vilmar.
Com ele e a pedido dele, também fui lecionar língua portuguesa e literatura brasileira numa escola particular de classe média, também em Duque de Caxias. Era ele o coordenador geral. Com ele mantive uma amizade de respeito e admiração recíprocos, e a amizade só não durou muito, porque falecera ainda moço.
O meu contato primeiro se deu em razão de ele ser, no Instituto Governador Roberto Silveira, o coordenador de língua inglesa. Foi um contato inicial amável da parte dele e da minha. Logo nos sentimos bons amigos. Eu viera transferido de uma escola muito distante, no interior de Duque de Caxias, num bairro chamado Xerém. Era nos meados dos anos de 1970.
O Instituto Roberto Silveira era, então, um educandário público com um excelente curso de formação de professores, no qual pude conhecer admiráveis professores em todas as disciplinas. O meu período de atividade nessa instituição me foi muito útil, muito proveitoso. Só saí de lá porque fui fazer o mestrado na UFRJ., pois minha intençã era largar o ensino médio, o que aconteceu só parcialmente, visto que fiz concurso de provas e títulos para professor de língua inglesa do conceituado Colégio Militar do Rio deJanero (CMRJ) e, paralelamente, fui convidado a lecionar literatura brasileria e língua inglesa na Universidade Castelo Branco (UCB, Rio deJaneiro).
Deixei pois, grandes amizades no Insttiuto de Educação "Governador Roberto Silveira," entre as quais as dos professores Vilmar, Tytiro Telles (de matemática), Nélio ( de matemática), Cícero ( de língua portuguesa e literatura brasileira), Sebastião (de inglês), Assis (de filosofia), Stélio ( de história) assim como de muitas distintas professoras de várias disciplinas da grade curricular, como didática, psicologia educacional, filosofia da educação etc.
Dos mais íntimos, citaria o Tytiro, o Nélio, o Cícero. Entretanto, quero deixar registrado nestas relembranças docentes, por ora, três professores: o Vilmar, o Tytiro e o Sebastão, já que els estão incluídos na minha correspondência organizada.
Falemos do Vilmar e da amizade que nos uniu no campo docente, amizade que nasceu e se fortaleceu sobretudo por duas circunstâncias. A primeira foi já exposta anteriormenete neste texto: a da admiração gratuita e desinteressada, amizade principalmente encetada pelas afinidades intelectuais, de simpatia mútua; A segunda circunstância prende-se a um fato que ocorreu para o meu deleite docente.
Encontrava-me dando aula de literatura brasilera num dado dia, à tarde, precisamente comentando o papel de alta relevância da obra de Cruz e Sousa (1861-1898), poeta pelo qual sempre tive especial admiração, tanto quanto pelo estilo de época. o Simbolismo. Estava falando do Simbolismo brasileiro, do qual o “Cisne Negro” é figura de proa no quadro desse estilo de época da nossa literatura . Era um aula em que estava muito empolgado, dado que. desde adolescente, fiquei cativo da poesia cruzesouziana . Um fato circinsstancial leva a outro, à semelhnaça da palavara-puxa-palava no caso de de Cruz e Sousa e retornando no tempo, me vem à tona a escrita daquele artigo juvenil de 1963, sobre o Simbolismo, de título, "O Simbolismo Brasileiro" publicado em duas partes, em jornal de Teresina, das quais só guardei a segunda partae. Muitos anos depois, por sinal, no meu doutorado, empreendi uma boa pesquisa sobre u mtexto em prisa de Cru e Sousa, que resultou na monografia, orientada pelo professor de literatura brasileria da Faculdade de Letras da UFRJ, o romancista e ensaísta Godofredo de Oliveira Neto, autor dentre outros, do romance Pedaço de santo (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, 222 p. ). A monografia tem o título de "Cruz e Souza: os limites do emparedado" (1997)
Ocorre que, no dia dessa aula, sem que o soubese, o professor Vilmar estava passando vagarosamente por um dos corredores, no qual ficava a sala em que estava dando a minha aula. Ele, conforme depois me contara, parou diante da porta entreaberta da minha sala e permaneceu ali até ao término da aula, ouvindo a minha exposição. Quando saí da sala, ele se dirigiu a mim com um largo sorriso e me parabenizou pela aula que acabara de dar. (Continua)