Entrevista: A obra de Everaldo Moreira Véras
Em: 30/10/2017, às 07H42
O município de Parnaíba-PI promove em novembro ampla programação em homenagem (em memória) ao escritor Everaldo Moreira Véras, nascido nesse torrão em 1937. Autor de mais de 4 dezenas de obras literárias, somente agora Everaldo Véras começa a ganhar maior visibilidade. Envolvidos na missão a Secretaria Municipal de Parnaíba, à frente a professora Altair Marinho, e o escritor parnaibano e advogado Diego Mendes Sousa. Em Entrevista a Entretextos, o escritor Diego Mendes Sousa falou sobre a obra de Everaldo Moreira Véras e sobre o empenho para fazer com que a literatura do escritor seja lida em sua cidade natal.
Dílson Lages -- Parnaíba, por seu intermédio e da secretária de educacão Altair Marinho tem dado ampla divulgação à obra de Everaldo Moreira Véras. Quais as razões para que ele seja lido?
EVERALDO MOREIRA VÉRAS é um criador de literatura extraordinário. Passou à margem dos parnaibanos e dos piauienses. Publicou 44 livros em diversos gêneros literários. Estreou em 1977, com a beleza cintilante de O Menino dos Óculos de Aro de Metal, dirigido para o público infantil e elogiado por gente de proa como Gilberto Freyre, Jorge Amado, Josué Montello e Mauro Mota. A invenção narrativa e a liberdade na sintaxe e na estilística, além da espontânea simplicidade, elevam o seu texto inovador e dão também a ilustração poética-singular de um genuíno cirurgião da palavra. Em 2017, comemoram-se os 80 anos do nascimento deste genial escritor, momento importante de devolver a memória de Everaldo a cidade do seu mistério inaugural, onde, infelizmente, é um anônimo. Uma personagem desconhecida para os intelectuais, inclusive.
Dílson Lages -- Por que, para você, embora tenha produzido obras significativas e de qualidade, a literatura de Everaldo Moreira Véras ainda é desconhecida, mesmo dos que cultivam entre nós o gosto pela literatura de autores regionais do Piauí?
Everaldo Moreira Véras saiu do Piauí na sua juventude e perdeu a convivência natalícia. Fez carreira no Recife, onde arrebatou os maiores prêmios literários como o Casa de Las Américas de Cuba, pelo livro A Insônia do Mar. Na realidade, a literatura é cultuada por poucos. O brasileiro lê pouco. O piauiense, também. Esse contexto desfavorável, aliado às distâncias físicas-afetivas, fez com que o nome de Everaldo se apagasse no tempo da nossa memória. Parnaíba dá o primeiro passo para o justo restauro da história humanística construída por Everaldo Moreira Véras. Decerto, começará a ganhar leitores, a ser admirado e amado, porque possui imenso valor para a Literatura Brasileira.
Dílson Lages -- Everaldo Moreira Véras cultivou diversos gêneros, produzindo literatura para públicos diferentes. O que melhor o definiria em cada gênero do ponto de vista estilístico?
A poesia em estado sublime percorre todos os textos de Everaldo Moreira Véras. É detentor da prosa-poética, pois se trata de um poeta nato, apesar de ter publicado somente três volumes no gênero: Fissuras, Camas Separadas e A Insônia do Mar. Os voos mais altos de Everaldo são os romances: A Hora Anterior e O Canto de Sal. São narrativas originais, repletas de erotismo e de angústia existencial. Everaldo Moreira Véras legou mais de 500 contos, que espelham costuras formidáveis dos elementos poéticos e ficcionais. Everaldo Moreira Véras é tão notável que chegou a ser publicado, diversas vezes, pela famosa Editora José Olympio, do Rio de Janeiro.
Dílson Lages -- Há na obra de Everaldo Moreira Véras elementos que o liguem às suas origens afetivas?
Everaldo Moreira Véras nasceu na PARNAÍBA, no litoral do Piauí, a 17 de agosto de 1937. Sua dicção é universal. Não cantou a sua aldeia, porém nunca deixou de registrar em sua biografia a cidade mágica do seu nascimento. A sua Literatura está impregnada da condição humana, do medo da morte e do desejo de viver. É um homem solar, portanto, jamais relegou a sua origem, além de ser primo de Humberto de Campos, maranhense louvado na PARNAÍBA.
Dílson Lages -- Nem todo escritor que diversifica sua produção em diversos gêneros consegue uniformidade em tudo que produz. Esse é o caso de Everaldo Moreira Véras? Onde ele foi mais completo como escritor?
Everaldo Moreira Véras é gênio. É um escritor robusto, pleno em tudo que escreveu. Sua incisão criadora é tão fértil quão a luz literária de um Assis Brasil (1932-) ou de um Benjamim Santos (1939-), seus pares conterrâneos e contemporâneos.
Professora Altair Marinho, secretária de Educação de Parnaíba
Dílson Lages -- O que você, como escritor e parnaibano, tem a dizer sobre o reconhecimento público que o Município de Parnaíba promove neste momento?
É um sinal de que a educação e a cultura estão em evidência na PARNAÍBA. Preservar a memória de vultos como o de Everaldo Moreira Véras é de suma importância para a continuidade da humanidade. É um ideal para o futuro. O que somos sem o exemplo? Todo escritor, via de regra, é um humanista, quando poeta, é o fundador da sua cidade. Everaldo Moreira Véras não somente recria o imaginário, mas também oferta, à posteridade, um elo fraterno de iluminações e de consciência coletiva. O Prefeito Municipal Mão Santa tem demonstrado que respeita os nossos liames evolutivos, pondo em evidência personalidades que pontuaram uma época, que influenciaram uma geração ou influenciarão muitas outras.
Dílson Lages -- Para finalizar, o que consta nas ações que Parnaíba realiza em prol da memória e da divulgação da obra de Everaldo Moreira Véras?
O Prefeito Municipal Mão Santa irá conceder, em memória, a Medalha e o Diploma do Mérito Municipal a Everaldo Moreira Véras. Na ocasião, a viúva do escritor, Maria de Lourdes Amorim Véras - que vive em Alagoas - e eu doaremos a Biblioteca Pública da PARNAÍBA a obra completa de Everaldo. No mesmo ato, será inaugurada uma sala de literatura infantil em homenagem a Everaldo Moreira Véras. O Vereador Geraldinho Alencar fará uma oração louvando os feitos literários de Everaldo Moreira Véras, na sede da Câmara Municipal da PARNAÍBA, bem como fará inaugurar uma Rua chamada Poeta Everaldo Moreira Véras. A Academia Piauiense de Letras, representada na ocasião pelo acadêmico Herculano Moraes, prepara uma edição com o texto inédito O Conto Eu Conto Assim, de Everaldo Moreira Véras, em volume póstumo.