Cunha e Silva Filho


                    Hosni Mubarack errou desde o primeiro ano na condição de todo poderoso da terra dos faraós. Ao invés de, naqueles anos distantes foram trinta anos de ditadura - preparar o país para uma sociedade livre e democrática, optou pela permanência e ambição do poder. Nele se eternizou, e isto, a longo prazo, daria no que deu. Foi obrigado a renunciar tão grandes foram as pressões da nação para que deixasse o cargo de presidente-ditador, cujas eleições apresentavam sempre um único candidato. Quem? Ele, claro, e , segundo fontes da imprensa, foram todas eleições e reeleições fraudadas, manipuladas a fim de que o poderoso chefão se mantivesse a salvo de toda contestação ao seu domínio político.
                 Oh, como foram inúteis as mortes de manifestantes contra seu governo, contra a situação insustentável em vários setores da sociedade, sobretudo no cotidiano dos egípcios, enfrentando, sem liberdade de expressão, todas as mazelas sociais que se iam acumulando ao longo dos anos de autoritarismo. 
                 Presidentes e mais presidentes dos Estados Unidos se sucediam no poder e ao Egito se reservou sempre a ajuda financeira às forças militares de Hosni Burack. Os norte-americanos, assim, se calavam porque, não obstante sabendo que Mubarak representava um paradigma de ditador com todas as sequelas que essa condição de forma discricionária de governo acarretavam de males a essa nação árabe, ainda assim mesmo continuavam dando apoio financeiro ao ditador, fortalecendo militarmente o país, em lastimável contradição com os proclamados princípios democráticos da Terra do Tio Sam. 
                  Os norte-americanos são espertos. Para a sua política externa, o Egito é uma região estratégica, sobretudo pela existência do Canal de Suez que, por hipótese alguma, deve sofrer embargos, impedindo a passagem de petróleo com direção ao Ocidente. 
                Mubarak ficou tão politicamente forte que, muitas vezes, serviu como intermediador nas questões delicadas entre palestinos e judeus, ou como força dissuasória entre agravamentos de natureza belicosa entre o Irã e Jerusalém. O governo estadunidense não perde ocasião de se proteger financeiramente e, sobretudo, de, com o apoio da nação egípcia e outras, manter um a situação geopolítica no Oriente Médio que possa arranhar o mínimo possível a sua liderança e sua hegemonia ante o equilíbrio de forças políticas mundiais.

              A cumplicidade norte-americana com os governantes autoritários se torna, assim, um calcanhar de Aquiles aos adversários da política dos EUA e faz do país de Lincoln um alvo sempre arriscado nas retaliações do terrorismo mundial, além de atrair e reforçar o repúdio e o ódio de muitos países contra a política externa norte-americana. Quantas vezes vêem-se inflamadas manifestações de repúdio aos ianques queimando o símbolo maior dos EUA, que é sua bandeira, seguidas de palavras rancorosas contra esse país! Eis um dado que o governo norte-americano não deve desprezar.
             Mubarak não suportou o clamor público, o estado de exaustão em se tornou o Egito, notadamente porque mm povo não pode continuar acumulando problemas de natureza econômico-financeira, ou graves dificuldades de desemprego, de miséria, de descontentamento geral, envolvendo segmentos diversos da sua constituição como Estado. Sabia que sua queda era questão de dias, ainda que , em comunicados à nação, ele negasse esboçar o passo definitivo de renunciar ao poder. A gravidade social do país era tão grande que, em algumas manifestações  gigantescas da população, até oficiais do exército chegaram a solidarizar-se com seus compatriotas, em cenas emocionantes exibidas pelos canais de televisão para o mundo.
            Refugiando-se  num balneário de nome Sharm el-Sheik, no Sinai, Hosni Mubarak, com seus depósitos em bancos suíços que montam a bilhões, trouxe alento e esperança para um povo sofrido, pobre e enlutado, já que, num levantamento do número de vítimas fatais ao longo das manifestações de protesto contra o governo, contaram-se trezentos mortos. Isso tudo poderia ser evitado se, da parte do tirano, a renúncia fosse logo a decisão correta que deveria ser por ele tomada para o bem da n ação. Esses mortos, imolados, servirão, agora, como símbolos de mártires que, em defesa de seu país, perderam o seu bem maior, que é a vida.
           Resta, agora, um caminho seguro, ainda que de transição, que deve ser encontrado pelos militares egípcios. Nesse período transitório todo cuidado será pouco a fim de que o poder não caia nas mãos de outro tirano. Desta maneira, os militares, que, segundo a imprensa , sã ainda respeitados pelo povo, têm uma missão grandiosa e patriota:a de fazer do Egito uma pátria democrática, com liberdade assegura em todas as suas formas de expressão e que o grande povo egípcio possa escolher, entre candidatos, aquele que mais condições reúna para exercer um mandato e dirigir em paz os destinos do Egito. Quando uma nação se liberta do jugo de um tirano, isso serve de estimulo a outros povos que ainda anseiam pela liberdade e bem-estar social. Oxalá a queda de Hosni Mubarak sirva de espelho às nações sofridas e ainda subjugadas por ditadores.