É preciso resgatar Thales Andrade
Por Miguel Carqueija Em: 23/12/2011, às 15H58
(Miguel Carqueija)
Devemos incentivar o povo brasileiro (especialmente as novas gerações) a ler livros, e especialmente nossos autores de conteúdo
É PRECISO RESGATAR THALES ANDRADE
Quando eu era criança a minha mãe, Georgeta, comprou para mim muitos livros assinados por Thales Andrade, da série “Encanto e verdade”, editada pela Melhoramentos. Eram lindas e pequenas brochuras ilustradas com narrativas singelas que falavam no campo com suas árvores e seus animais, ou do amor, dos ideais infantis, de bichos falantes e outras fantasias. Eram novelas infanto-juvenis que recendiam brasilidade e nobreza e davam gosto de ler e colecionar.
Lembro que o primeiro livro de Thales Andrade que li foi “Árvores milagrosas”, as laranjeiras, que transformam a vida de um sítio decadente (nº 7 da coleção).
Depois pude ler o nº 2, “El-Rei Don Sapo”, o 3, “Bem-te-vi feiticeiro”, o 4, “Dona Içá Rainha”, o 5, “Bela, a verdureira”, o 8, “O pequeno mágico”. O número 1, “A filha da floresta”, era difícil de achar, mas acabei por ganha-lo num prêmio da escola.
Eram histórias muito ecológicas, assunto em que Thales Andrade foi pioneiro. “Bem-te-vi feiticeiro” defendia os passarinhos; “A filha da floresta” era contra a devastação das matas. Com animais com personagens falantes, “El-Rei Don Sapo” e “Dona Içá Rainha” mostrava o equilíbrio das espécies e ensinava quais os animais úteis e os nocivos para as lavouras.
“Bela, a verdureira” era uma história romântica da qual os detalhes se perderam na minha memória. Outra história de amor era o nº 25, “Flor de ipê”. “O pequeno mágico” misturava amor, mágica e aventura.
Outros títulos que li, dos 26 da coleção, foram “A fonte maravilhosa”, “O capitão feliz”, “O caminho do Céu”, “O sono do monstro”, tudo muito singelo e edificante. “O sono do monstro” era uma fábula sobre a paz e a guerra.
Nunca localizei diversos volumes, como o 6, “Totó judeu”. Todavia, mamãe encontrou certa vez um livro maior, um romance juvenil indianista, “Itaí, o menino da selva”, que desdobrava o folclore nacional apresentando seres da mitologia tupi, inclusive o monstruoso Anhangá, um horrendo morcego gigante, o diabo dos índios. Havia uma continuação, “Itaí fora da selva”, que não pudemos encontrar.
Nem todos os livros de Thales Andrade saíram pela Melhoramentos; “Saudade” é da Cia. Editora Nacional.
A ficção imaginativa brasileira tem, em Thales Andrade, um dos seus nomes mais importantes. As novas gerações precisam lê-lo, mas para tanto é imperativo reedita-lo.
A propósito, ele é talvez nosso primeiro autor de livros infantis, pois “A filha da floresta” saiu em 1919, antes portanto das “Reinações de Narizinho” do Monteiro Lobato.
Rio de Janeiro, 17 e 18 de dezembro de 2011.