Dr. Severino Dias Carneiro, o moço, um bacharel no sertão.
Por Reginaldo Miranda Em: 05/06/2024, às 19H15
Reginaldo Miranda[1]
Foi um conceituado advogado, promotor público, magistrado, fazendeiro e parlamentar maranhense da Era Imperial.
Nasceu o Dr. Severino Dias Carneiro Júnior, em 1834, na fazenda Bacaba, situada no termo de Caxias, Centro-Leste maranhense. Filho do comendador Severino Dias Carneiro, o velho e dona Eusébia Maria de Jesus Carneiro, abastados lavradores e pecuaristas.
Com apenas quatro anos de idade viveu ao lado de seus familiares as maiores atribulações, com a invasão da cidade de Caxias e da fazenda paterna, em 1839, pelos rebeldes balaios. Na repressão a esses revoltosos, sobressaíram seu genitor, o irmão primogênito Sabino Dias Carneiro, o tio João Paulo e os primos Francisco e José Dias Carneiro, filhos deste último, ao lado de outros denodados lutadores.
Iniciou as primeiras letras na cidade de Caxias, logo depois da restauração aos rebeldes. Em 1846, mudou-se para São Luís do Maranhão, onde prosseguiu nos estudos, matriculando-se no Colégio de Nossa Senhora dos Remédios, dirigido pelo diretor D. F. Marques Perdigão. No ano seguinte, foi premiado com alguns livros “pela boa frequência das suas aulas; pelos bons exames ... de Geometria; por seu notável progresso em Desenho”[2].
Ficou órfão de pai com 14 anos de idade, tendo a sua educação cuidada e dirigida pela genitora.
Em 1854, concluídos os estudos preparatórios ruma para Pernambuco, matriculando-se no curso jurídico da Faculdade de Direito de Olinda, ao lado de Antônio Teixeira Belfort Roxo, Euzébio de Queiroz Mattozo Ribeiro, José Manoel de Freitas, Aureliano Câmara Tavares Bastos, Raimundo Borges Leal Castelo Branco, Polidoro César Burlamaqui, Raimundo Ribeiro Soares, Franklin Américo de Menezes Dória e alguns outros, ao todo 65 primeiranistas[3].
Forma-se em Direito no ano de 1858.
De retorno ao Maranhão, fixa-se na cidade de Caxias, “principal cidade do interior e rico empório comercial”[4], de onde passa a administrar suas fazendas e lança-se na política partidária. Em pouco tempo, foi nomeado promotor público da comarca de Pastos Bons, em cujo exercício permanece até janeiro de 1861, quando afastou-se para assumir os trabalhos legislativos na assembleia provincial, em razão de ter sido eleito deputado, pela primeira vez, no pleito travado em 1860[5].
Em setembro de 1862, foi nomeado juiz municipal e de órfãos dos termos reunidos de Carolina e Riachão, onde ocupou interinamente o cargo de juiz de direito. Porém, em pouco tempo deixa esse cargo para retornar à promotoria pública de Pastos Bons, de cujo exercício afastou-se novamente e pelas mesmas razões, em junho de 1864[6]. Mais uma vez, assume o cargo de juiz municipal e de órfãos dos termos reunidos de Carolina e Riachão, de onde foi exonerado, a pedido, em 10 de dezembro de 1866[7].
De fato, a carreira do bacharel Severino Dias Caneiro na magistratura e no ministério público foi intermitente, dedicando-se ele com maior vigor à administração das fazendas e a política, ocupando sucessivos mandatos de deputado provincial, com pequenos interregnos, por quase vinte anos, desde as vizinhanças da formatura ao fim de sua existência. Embora fosse de família conservadora e nesta legenda tenha militado, em face de mudanças políticas concorreu às eleições provinciais de 1867, pelo partido progressista[8]. Nas eleições de 1869, não conseguimos verificar a legenda, sendo provável que continuasse na mesma, concorrendo pelo primeiro distrito.
Em 1865, por ocasião da Guerra do Paraguai, o presidente da província designou comissões para, nas municipalidades, “promoverem a aquisição de voluntários da pátria”. A de Carolina foi formada pelos doutores Manoel Jansen Pereira e Severino Dias Carneiro; Manoel Joaquim Pereira, coronel Amaro Baptista Pereira e capitão João da Mata Ferreira[9].
Em 9 de junho de 1866, o Dr. Severino Dias Carneiro, segundo do nome, sofreu um atentado, felizmente escapando com vida. Fora assim relatado na imprensa:
“Notícias de Caxias dizem ter sido ali ferido no dia 9, o Dr. Severino Dias Carneiro, com dois tiros em um braço e pés, quando na varanda de sua casa conversava com sua mãe”[10].
Em 1870, com a abertura da estrada ligando o Município de Passagem Franca ao de Pastos Bons, o Dr. Severino, juntamente com o coronel José Vasco de Souza Coelho e alguns outros, entre fevereiro e março, opuseram embargos à obra. Alegavam que eram proprietários de terras legitimamente demarcadas, por onde passaria a nova estrada, já existindo outra na mesma direção. Foi, então, em 18 de julho, votada lei provincial autorizando a construção da obra sem indenização aos proprietários[11].
Em 1879, o bacharel Severino Dias Carneiro foi nomeado para delegado de polícia de Mirador, em substituição a Luiz Gonzaga de Sousa, em cujo exercício permaneceu até o óbito[12].
Faleceu o Dr. Severino Dias Carneiro, em 8 de outubro de 1879, em sua fazenda Sítio do Meio, comarca de Mirador, com apenas 45 anos de idade, vítima de doença cardíaca, a mesma que matara seu genitor[13]. Foi assim, respectivamente, anunciada nos periódicos A Imprensa, de Teresina e Diário do Maranhão, de São Luiz:
“No Maranhão faleceu o dr. Severino Dias Carneiro, um dos mais abastados fazendeiros d’aquela província”[14].
“Faleceu a 8 deste em sua fazenda Sítio do Meio, na comarca do Mirador, o dr. Severino Dias Carneiro, um dos abastados fazendeiros do interior. Foi vítima de moléstia do coração”[15].
Fora casado com D. Antônia Coelho de Souza Miranda Carneiro, que lhe sobrevivera, filha do tenente-coronel Cosme Coelho de Souza, chefe político de Riachão e de sua esposa Sabina Pereira de Miranda, esta filha do coronel Ladislau Pereira de Miranda[16], abastado fazendeiro piauiense radicado em Carolina (MA), de cuja cidade foi um dos principais fundadores, parente colateral do autor dessas notas; e de sua esposa Maria Carvalho. Deixou quatro filhos, a saber: 1. Coronel Ladislau Godofredo Dias Carneiro (1868 – 1917), deputado provincial; 2. Coronel Severino Dias Carneiro (1879 – 1925), prefeito de Pastos Bons; 3. Dr. Cosme Eurico Dias Carneiro (? – 1927), magistrado; e, 4. D. Eusébia Carneiro Teixeira[17] (? – 1944). É, hoje, muito vasta e ilustrada a sua descendência.
[1] Advogado e escritor. Membro titular da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e da Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons. Contato: [email protected]
[2] O Progresso, 30.7.1847.
[3] O Clarim Literário, Agosto-1856; Diário de Pernambuco, 20.3.1854.
[4] Jornal de Caxias, 19.4.1902.
[5] Publicador Maranhense, 21.5.1860; 24.1.1861; 6.10.1862;13.12.1866; 4.12.1879.
[6] Constitucional, 26.6.1864.
[7] A Actualidade, 18.9.1862; Correio Mercantil, 17.9.1862.
[8] Jornal do Comércio, 25.10.1867.
[9] A Situação, 17.8.1865.
[10] Diário de Pernambuco, 9.7.1866.
[11] Publicador Maranhense, 5.11.1870.
[12] O Paiz, 10.8.1879.
[13] O Paiz, 22.10.1879.
[14] A Imprensa, Suplemento ao N.º 615.
[15] Diário do Maranhão, 31.10.1879.
[16] Era neto de João Rodrigues de Miranda e Josefa de Sousa, fundadores da fazenda Buriti, no vale do rio Piauí, então pertencente ao termo de Oeiras. Sobre a família Miranda, cf. livro de nossa autoria, Memória dos Ancestrais – parentes e contraparentes: uma genealogia do sertão (Teresina: APL, 2017).
[17] Folha do Povo, 23.4.1925; Pacotilha, 22.4.1925; Diário de S. Luiz, 23.4.1925.