Museu do Piauí
Museu do Piauí

 

Reginaldo Miranda[1]

Foi um abastado fazendeiro, advogado, político e benemérito cidadão piauiense. Um dos principais chefes políticos dos termos de Teresina e Campo Maior, na década que se iniciou em 1860.

Nascido em 23 de novembro de 1829[2], na Casa Grande de São Domingos, do extenso termo de Campo Maior, depois passando ao de Livramento, hoje José Freitas, província do Piauí. Filho do comendador e coronel Jacob Manoel de Almendra, colonizador português e abastado fazendeiro radicado no Piauí e da piauiense Lina Clara Castelo Branco e Almendra, esta falecida em setembro de 1868, “senhora respeitável por sua elevada posição social, e por suas virtudes”; segundo o jornal A Imprensa, em nota fúnebre, “o desvalido sempre encontrou nela um arrimo decidido, e uma benéfica proteção”[3].

A família Almendra teve início no Piauí, com a chegada de seu tio-avô, o padre João Manoel de Almendra, no final do século XVIII, para assumir o cargo de vigário da freguesia de Santo Antônio do Surubim da vila de Campo Maior. Em 1804, de visita a Portugal para cuidar de assuntos familiares, em virtude do falecimento de um cunhado, trouxe o padre Almendra para o termo de Campo Maior, a única irmã, Maria José de Almendra, que ficara viúva, e dois dos três sobrinhos, filhos daquela desditosa irmã, sendo o jovem Jacob Manoel de Almendra, genitor do biografado e sua irmã, Rita Maria de Almendra[4]. É o tronco da família Almendra, propriamente dita, no Piauí. Seu pai angariou fortuna e alcançou notável liderança na vila de Campo Maior e na cidade de Teresina, que ajudara a fundar, em ambas construindo diversos prédios urbanos. Foi deputado provincial, posição também conquistada pelo filho homônimo Jacob Manoel de Almendra Júnior, ambos filiados ao partido conservador. Com a prematura morte daqueles, foram essas posições herdadas pelo biografado, que passou a ser o chefe daquela ilustrada família.

Antônio de Sampaio Almendra, encetou seus estudos na terra natal, depois passando a Pernambuco, onde formou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito do Recife, no ano de 1856.

De retorno ao Piauí fixou-se na fazenda São Domingos[5], permutando sua morada entre esta e a cidade de Teresina, que, então, alvorecia como nova capital da província do Piauí, onde militou na advocacia. Foi seu genitor, um dos propulsores do progresso da nova cidade, construindo diversas residências, inclusive a que serviu de Palácio do Governo, hoje abrigando o Museu Odilon Nunes.

Em fevereiro de 1857, foi nomeado promotor público da comarca de Campo Maior[6].

No entanto, desde o ano de 1853, sofria incômodo em sua saúde, fato que o obrigou, logo despois de formado, buscar auxílio na Europa. Ali procurou diversos especialistas, porém, não obtendo alternativa, “sujeitou-se a doloríssima operação de amputar uma perna”[7]. Essa perda não o impediu de tocar sua vida com naturalidade.

Sem demora, ingressou no partido conservador, onde militava sua família, inclusive o genitor e o irmão primogênito de mesmo nome daquele, ambos eleitos deputados provinciais em diversas legislaturas. Por essa legenda, em 1860, juntamente com Raimundo Borges Leal Castelo Branco, foi eleito deputado geral em duplicata com Simplício Mendes e Fialho[8], sendo reconhecidos esses últimos. No mesmo ano seria eleito deputado provincial. Dessa agremiação partidária somente se afastou temporariamente, entre 1863 a 1864, quando desarmoniou-se com o médico Simplício Mendes. Filiou-se ao Partido Progressista, também chamado Liga, que, inicialmente se organizou na Corte, entre dissidentes dos dois grandes partidos que se revezavam no poder durante o Segundo Reinado: liberais e conservadores. Entendia ele que essa nova agremiação seria mais moderada, de conciliação. Eram autodenominados progressistas, mas pejorativamente eram chamados de ligueiros. No Piauí, para divulgar suas ideias fundaram o jornal Liga e Progresso, de que foi redator. Porém, em pouco tempo frustraram-se suas expectativas retornando à antiga situação. Essa passagem, alguns anos depois, vai ser esclarecida por um seu correligionário da vila da freguesia de Nossa Senhora dos Humildes, por nome João Fernandes Camello:

“Assim, considerações particulares me fizeram acompanhar a bandeira política, que surgiu com a liga e progresso em 1864; política que se dizia regeneradora ou reformista, composta de fiéis de ambos os credos políticos constitucionais e que por isto me pareceu de conciliação.

‘E digo considerações particulares, porque o Dr. Antônio de Sampaio Almendra, com quem sempre lidei, conservador, aderiu àquela situação, arrastando após si grande parte de seus amigos políticos.

‘Felizmente, porém logo depois criando ele certos desgostos com os outros diretores da política de ambiciosos em vez de conciliação, como eu supus, recolheu-se discriminado com seus amigos ao seio do partido conservador, a que pertencia; e dele politicamente nunca me separei, senão em 1871, quando a morte o arrebatou a todos em pleno domínio de seu partido”[9].

Aliás, na época, discorrendo em seu proselitismo político sobre as ideias do novo grupo, disse o veículo de imprensa do partido, por nome Liga e Progresso:

“Este grande partido tendo nesta província como um de seus chefes o Dr. Antônio de Sampaio Almendra, há de infalivelmente estender o seu domínio, porque sua influência baseia-se no seu prestígio, na sua moralidade, fortuna e inteligência”[10].

De fato, “pela nobreza de seu caráter e por sua posição” e fortuna, fácil foi assumir a liderança política da capital, “onde quase todo o eleitorado, depois do triunfo eleitoral de 1863, pertence à parcialidade do Sr. Dr. Antônio de Sampaio Almendra”[11].

Nessa conjuntura foi nomeado para 2º vice-presidente da província, por portaria de 5 de novembro de 1863. Por via de consequência, com o afastamento do titular Pedro Leão Veloso, o Dr. Almendra assume a presidência da província do Piauí em 4 de dezembro daquele ano e nela permanece até 28 de maio de 1864, quando a entrega ao novo titular, Franklin Américo de Menezes Dória[12]. Iniciou a construção da cadeia pública de Teresina, concluída em 1866.

Em 1865, “em virtude de combinação do partido progressista”[13], o Dr. Almendra concorreu ao cargo de deputado provincial para a legislatura que se iniciaria em 1866.

Em 1868, já era considerado “uma das mais fortes colunas que tem o Piauí”[14]. Era, de fato, estimadíssimo na sociedade local, gozando de largo prestígio político. Magnâmico, estava sempre de algibeira aberta para proteger desvalidos, conforme constam em muitas notas da imprensa; concorreu com apreciável ajuda financeira para custear os estudos na Europa, de um jovem pobre de recursos, mas rico de força de vontade, Francisco Parentes, que seria, mais tarde, o primeiro engenheiro agrônomo do Piauí. Retornando este ao Piauí, depois da formatura, não mais encontrou seu benfeitor, porém, os herdeiros se negaram a receber qualquer reembolso, assim, demonstrando que a generosidade era um traço de família.

O Dr. Antônio de Sampaio Almendra, rendeu alma ao criador, às 9h da manhã de 10 de fevereiro de 1871, na cidade de Teresina. Seu óbito foi anunciado no jornal A Imprensa, ressaltando suas virtudes e dizendo que o ilustre finado não completara 40 anos de idade, o que aproximaria o seu nascimento para o ano de 1831: “Coração cheio de bondade, alma piedosa e nobre, sentimentos de honra e de dignidade em grau muito elevado, eis os predicados característicos do finado”. Faleceu solteiro, sem deixar descendência. Na política, foi sucedido pelo sobrinho, tenente-coronel Fernando Antônio de Aguiar Almendra, comandante do primeiro batalhão da guarda nacional de Teresina.

 

 


[1] REGINALDO MIRANDA, advogado e escritor. Membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí E-mail: [email protected]

[2] Essa data de nascimento consta em todos os registros genealógicos, no entanto, merece ser conferida porque ao falecer em 10 de fevereiro de 1871, o jornal A Imprensa, anunciou sua morte dizendo que o defunto ainda não alcançara 40 anos de idade (A Imprensa, 16.2.1871).

[3] A Imprensa, 26.9.1868.

[4] A sobrinha mais velha, Maria Francisca de Almendra, de 40 anos de idade, temerosa com a travessia do Oceano, rogou à mãe e ao tio para não embarcar. Assim, para resolver a situação conseguiu o padre Almendra, casá-la com o jovem Francisco de Paula Freitas, de apenas 15 anos de idade, pagando-lhe substancioso dote. Mais tarde, dois netos dessa sobrinha viriam para o Piauí, viver na companhia dos parentes, dando início ao ramo dos Almendra Feitas.

[5] A Imprensa, 19.5.1866.

[6] A Imprensa, 7.11.1858.

[7] A Imprensa, 16.2.1871.

[8] A Imprensa, 10.11.1866.

[9] A Época, 14.2.1880.

[10] Liga e Progresso, 7.2.1863.

[11] A Imprensa, 3.2.1866; 12.5.1866.

[12] A Imprensa, 2.12.1865.

[13] A Imprensa, 2.9.1865.

[14] A Imprensa, 14.11.1868.