Dois gorilas-bebês e um pé humano

Em fotografia magnífica, estranho é o pé com o qual brincam dois lindos meninos das montanhas africanas.

 

Contemple, por favor, a seguinte foto.

 (http://www.achetudoeregiao.com.br/noticias/animal0252.htm)

 

                                                                       A Jaguar, Ziraldo e o saudoso Pasquim

15.11.2009 - NESTA FOTO MAGNÍFICA, UM PÉ HUMANO MOSTRA, SIMULTANEAMENTE, DUAS COISAS: (1) a altura dos bebês gorilas, servindo como escala de referência, e (2) a convivência afetuosa, possível, entre humanos e grandes primatas (no caso, ainda pequenos...) das montanhas africanas. Pensando-se nas funções da linguagem, propostas em 1960 pelo grande linguista russo Ramon Jakobson [estudioso da poética, do cinema e das semióticas contemporâneas que, a propósito, se correspondia com o poeta, tradutor e ensaísta brasileiro Haroldo de Campos e esteve no Brasil, também para conhecer o barroco mineiro e a arte de Aleijadinho], a despeito de a descrição da altura de animal ser puramente referencial (informativo-científica), elementos poéticos (estético-fotográficos), emotivos (referentes a sentimentos do autor da foto, evidentemente pró-lindos-bebês), referenciais-etológicos (relativos a comportamentos de animais em sua tenra infância) e metalínguísticos estão implicados. No início da história fotografia, para um fotógrafo ser fotografado ("por ele mesmo", autorretrato) era necessário que um auxiliar acionasse o mecanismo da máquina, tendo o profissional-chefe montado ou orientado a montagem do cenário no qual apareceria. Com o desenvolvimento tecnólogico dos equipamentos, o fotógrafo passou a poder acionar um recurso (semelhante ao de uma "bomba-relógio") que permite que o "click" só aconteça segundos após o botão de fotografar ser acionado, o que obrigava o fotógrafo a correr, para poder aparecer. Evidentemente, o pé que aparece nessa muito impressionante fotografia pode ser de outra pessoa, todavia há uma identificação total entre a intenção fotográfica do autor do estupendo retrato e os sentimentos de alguém com cujo pé brincam, placida e exoticamente, bebês-gorilas das montanhas. E como falar de sentimentos... se só aparece o pé de quem com cuja base - o pé - brincam gorilinhas? Não importa o rosto do dono do pé, mas seu "coração" (sentimentos). Ocorre que, teoricamente, o dono do pé poderia estar dormindo naquele momento, por exemplo! O espectador crítico passa a refletir sobre o ato de criticar um produto cultural, dessa forma: não haverá superinterpretação (overinterpretation [Cf. Umberto Eco e outros autores]) na consideração de que fotógrafo e dono do pé - ou que fotógrafo-dono-do-pé - algo "sentem" por assim brincar com gorilas-bebês?  O trabalho artístico é monumental, no caso. Remete aos fundamentos da crítica literária, da crítica cinematográfica, da crítica teatral, da crítica de artes plásticas - e assim por diante. Não haverá sempre excessos em comentários externos à obra? Isso sem se falar que o pé aparece quase como "personalidade autônoma", quase "gorilinha" também, o que nos permite, sem traição ao autor da foto - nem ao dono do pé (se se tratar de outra pessoa) - conferir à foto um título como "Dois animaizinhos e um pé humano", com um elemento humorístico que, aliás, já existia antes da criação do nome bizzaro, numa espécie de gag  visual, um verdadeiro cartum [cartum, como ensinaram, no Pasquim, Jaguar, Ziraldo e outros grandes artistas, é uma charge que não se refere acontecimentos recentes, uma charge por assim dizer "apolítica", "eterna", e não imediatamente datada, comoo são as charges políticas de jornais]. Temos aí um legítimo cartum fotográfico, uma obra-prima também de humor zoologicamente correto. Uma "estória" recontada visualmente: pé (só um dos dois) e dois futuros senhores das montanhas lá estavam, esperando um belo click que, felizmente para nós, efetivamente aconteceu. [Descobertos os créditos da imagem, tais dados serão aqui informados.]  Flávio Bittencourt

             

Foto mundialmente premiada de funeral de gorilas adultos no Congo (2007) foi reproduzida ontem, nesta mesma coluna do Entre-textos, em:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/funeral-no-congo,236,2611.html.

 

É assinalado, no portal da UNISINOS, que "Roman Osipovich Jakobson foi um pensador russo que se tornou num dos maiores linguistas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e arte. Sua vida foi baseada no conhecimento, e principalmente em espalhar o conhecimento pelo mundo, sempre comparando culturas para que elas pudessem ter um sentido que foi o início de suas teorias. Conseguiu transformar conceitos que até hoje são seguidos".

(http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=12622)

 

 

JAGUAR E ZIRALDO

(http://www.stiletto.blog.br/content/view/355/) 

Jaguar e Ziraldo, citados no texto, grandes ilustradores brasileiros, que se especializaram, na época do regime autoritário (1964 - 1985) em combater implacavelmente, por meio de charges, o sistema político da época. Seu veículo era o jornal político-humorístico semanal O Pasquim. Ziraldo escreveu e ilustrou uma estória - Flicts - que se tornou clássico da literatura infantil brasileira. Em Flicts um cor é personagem. Flicts tornou-se peça de teatro, enquanto o Menino maluquinho, outro personagem da literatura infantil, criação também de também criação de Ziraldo, merecidamente ganhou as telas do cinema brasileiro.  Jaguar (Sérgio Jaguaribe) foi ilustrador dos livros de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do escritor, cronista e apresentador de televisão Sérgio Porto), que também combateu diuturnamente o regime político daquela época. Para amedrontar jornaleiros que vendiam O Pasquim, bombas foram colocadas, de madrugada, em bancas de jornais, com avisos de não vender O Pasquim, periódico que revolucionou a linguagem jornalística, ao introduzir elementos linguísticos coloquiais (gírias) no texto jornalístico. Outros grandes profissionais ali brilharam, tais como Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Prósperi, Luis Carlos Maciel, Millôr Fernandes, Paulo Francis, Ivan Lessa, Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Chico Anísio, Ferreira Gullar, Pedro Ferretti, Marcos de Vasconcelos, Odette Lara, Vinicius de Moraes, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Newton Carlos, Sérgio Augusto, Alberto Dines, Aloísio Biondi, Alfredo Sirkis, Edílson Martins, Ivan Lessa, Newton Carlos, Flávio Rangel,  Claudius, Fortuna, Henfil, Zélio, Reinaldo, Nani, Mariano, Guidacci, Duayer, Chico Caruso, Agner, Cláudio Paiva, Humbert e outros. As fotografias eram assinadas por Pedro de Moraes, Paulo Garcez, Valter Gheiman e outros. [Fonte: minha memória (não deixava de ler, a cada semana, e http://www.assis.unesp.br/cedap/cat_periodicos/popup3/o_pasquim.html]

O principal personagem de Jaguar - e do Pasquim - era o rato Sig, que merecerá, se Deus permitir, considerações atentas neste espaço de crítica, informação de debates.

Sérgio Porto e Jaguar foram, durante mais de 17 anos, funcionários do Banco do Brasil, casualmente durante o mesmo tempo (em épocas distintas) que lá trabalhei, no meu caso, de 1977 a 1995. Jaguar, na Rua Primeiro de Março, trabalhou com minha mãe [Fernanda Araujo Lima Bittencourt, filha do teatrólogo Benjamin Lima e de Cacilda Mello de Araujo Lima, citada anteriormente nesta coluna (1)]. Guardou ela um documento por ele datilografado e rubricado -Dª. Fernanda era conferente -, onde consta "Sérgio Jaguaribe", já que não se usa nome artístico em ambiente de trabalho. Jaguar, em entrevistas e palestras, declarou que "aprendeu a ser disciplinado" na bissecular casa de crédito, o que, segundo ele, muito ajudou em sua carreira posterior de desenhista e entrevistador. Há crônica de Jaguar sobre seu tempo de Banco do Brasil, quando trabalhou na mesma sala de, por exemplo, Homero Magalhães (renomado pianista da época), sindicalistas influentes no movimento dos bancários da época - membros do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, de Vargas e João Goulart), do PSB (Partido Socialista Brasileiro, de João Mangabeira) e do PCB (Partido Comunista Brasileiro, então dirigido por Luís Carlos Prestes) - e outras personalidades cariocas de então.  FB

O RATO SIG, criação imortal de Jaguar

(http://www.universohq.com/quadrinhos/2006/n23062006_10.cfm)

Nota

(1) - http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/betty-mindlin-e-os-mitos-indigenas,236,2564.html.

 

 

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OUTRA FOTO

 

(http://colunas.epoca.globo.com/animal/2009/04/08/bebe-gorila-dorme-nas-costas-da-mae/)

[Comentário da leitora Regina, em 6.10.2009, às 10h29)

"Essa foto me traz muita paz!!!"]

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Famosíssima é a música francesa cuja letra é a seguinte:

"Georges Brassens
LE GORILLE


C'est à travers de larges grilles,
Que les femelles du canton,
Contemplaient un puissant gorille,
Sans souci du qu'en-dira-t-on;
Avec impudeur, ces commères
Lorgnaient même un endroit précis
Que, rigoureusement ma mère
M'a défendu dénommer ici...
Gare au gorille!...

Tout à coup, la prise bien close,
Où vivait le bel animal,
S'ouvre on ne sait pourquoi (je suppose
Qu'on avait du la fermer mal);
Le singe, en sortant de sa cage
Dit "c'est aujourd'hui que je le perds!"
Il parlait de son pucelage,
Vous avez deviné, j'espère!
Gare au gorille!...

Le patron de la ménagerie
Criait, éperdu: "Nom de nom!
C'est assommant car le gorille
N'a jamais connu de guenon!"
Dès que la féminine engeance
Sut que le singe était puceau,
Au lieu de profiter de la chance
Elle fit feu des deux fuseaux!
Gare au gorille!...

Celles là même qui, naguère,
Le couvaient d'un oeil décidé,
Fuirent, prouvant qu'elles n'avaient guère
De la suite dans les idées;
D'autant plus vaine était leur crainte,
Que le gorille est un luron
Supérieur à l'homme dans l'étreinte,
Bien des femmes vous le diront!
Gare au gorille!...

Tout le monde se précipite
Hors d'atteinte du singe en rut,
Sauf une vielle décrépite
Et un jeune juge en bois brut;
Voyant que toutes se dérobent,
Le quadrumane accéléra
Son dandinement vers les robes
De la vielle et du magistrat!
Gare au gorille!...

"Bah! soupirait la centaire,
Qu'on puisse encore me désirer,
Ce serait extraordinaire,
Et, pour tout dire, inespéré!"
Le juge pensait, impassible,
"Qu'on me prenne pour une guenon,
C'est complètement impossible..."
La suite lui prouva que non!
Gare au gorille!...

Supposez que l'un de vous puisse être,
Comme le singe, obligé de
Violer un juge ou une ancêtre,
Lequel choisirait-il des deux?
Qu'une alternative pareille,
Un de ces quatres jours, m'échoie,
C'est, j'en suis convaincu, la vielle
Qui sera l'objet de mon choix!
Gare au gorille!...

Mais, par malheur, si le gorille
Aux jeux de l'amour vaut son prix,
On sait qu'en revanche il ne brille
Ni par le goût, ni par l'esprit.
Lors, au lieu d'opter pour la vielle,
Comme aurait fait n'importe qui,
Il saisit le juge à l'oreille
Et l'entraîna dans un maquis!
Gare au gorille!...

La suite serait délectable,
Malheureusement, je ne peux
Pas la dire, et c'est regrettable,
Ça nous aurait fait rire un peu;
Car le juge, au moment suprême,
Criait: "Maman!", pleurait beaucoup,
Comme l'homme auquel, le jour même,
Il avait fait trancher le cou.
Gare au gorille!...

 


À la page des textes de Georges Brassens
À la page des textes".

(http://www.frmusique.ru/texts/b/brassens_georges/gorille.htm