Cunha e Silva Filho
 
 
         Após a gigantesca  manifestação em conjunto dos estados  do país no domingo passado, em protestos  acirrados e patrióticos  contra o atual governo federal e mormente contra o  segundo mandato da presidente Dilma, a politicagem crônica  e a corrupção  em larga escala, colocando na berlinda os denunciados pela Operação  Lava-Jato,  é muito provável  que esse governo de plantão não consiga sobreviver  até o final do mandato de Dilma. Pode-se aventar  a hipótese de que  se encontra ela encalacrada  e não resista às pressões populares ainda que  tenha  convidado  o ex-presidente Lula para exercer uma pasta num dos ministérios.
         A rejeição da sociedade ao governo Dilma é de tal magnitude  que o próprio  alicerce do PT  está prestes  a ruir. Bastaria  uma debandada  da maioria  da bancada do  PMDB para que ela  não contabilize  o mínimo de votos caso  o processo  legal de impeachment prospere. Se, por outro lado,  a situação  dela se agravar  no sentido   ético    como chefe do Executivo, tudo indica que sua  permanência no Palácio do Planalto não  chegará   ao término  do mandato. Está cada vez mais  sozinha  como ficou  Nero na sua derrocada na Roma antiga após a carnificina  contra os cristãos.
       Outro escândalo  envolvendo agora mais um ministro, o Aloysio Mercadante,  conhecido palaciano  muito próximo à presidente, ora  apanhado  em gravações comprometedoras nas delações de Dalcídio  do Amaral,  recrudesce anda mais  a ligação  ambígua daquele  ministro com a corrupção  que  se alastra   por todos  os  poros do petismo, sistema partidário que,   com lei e sem lei,  quer  porque quer, a todo custo,  perpetuar-se no  poder.
    Já o fato  inusitado de a  presidente Dilma  convidar  o Lula para ser ministro  complica  ainda mais  a situação do seu governo uma vez que, assim agindo, ele indiretamente   faz gol contra a sua condição  de cidadão  sob investigação  da Justiça em que pese a nova  condição  do cargo beneficiando-o com  foro  privilegiado – uma excrescência  legal e contraditória ao mesmo  tempo.
         A situação  da Corte Suprema ficará  delicada ainda mais   caso tenha  que  dar andamento  aos processos  penais    contra  o ex-presidente, sobretudo agora  depois que a voz da sociedade  clama a fim de que Lula seja julgado  por supostas prevaricações contra  o dinheiro  público, sobretudo   provenientes  da Petrobrás e de grandes empreiteiras.
         A  gravíssima situação econômica  brasileira  tem, no seu  epicentro,   os contínuos desvios  do dinheiro público destinados a bancar campanhas milionárias tanto de Lula quanto de Dilma  e outros   políticos mediante  impatrióticos conchavos   feitos entre o PT  e as grandes  empreiteiras com o uso  indiscriminado de propinas, superfaturamento,  lavagem de dinheiro, formação de  quadrilhas  e outras   falcatruas  que provocaram rombos  astronômicos,  especialmente  na Petrobrás.
        Ora, a drenagem  continuada  de dinheiro  público  para sustentar vitórias do PT  para parlamentares  e  sobretudo campanhas presidenciais, a gastança desordenada do governo federal  terminaram  por minar  os recursos  orçamentários destinados  à saúde,  segurança,  educação,  transportes e a outros setores  do governo  federal, afora  uma montanha de dinheiro  para fins sociais   eleitoreiros e demagógicos  com  o objetivo de  dar ao governo  uma falsa imagem  de promover a inclusão  social  livrando  o país da extrema  miséria. Até certos limites,  os benefícios sociais  são válidos num programa de  qualquer governo. 
         Entretanto, quando  esse mesmo governo pretende  melhorar  a situação social  de seu povo e ao mesmo  tempo  enriquecer seus principais membros através de   cambalachos,  o lado  positivo  se apaga com a  degradação moral. Ao  utilizar-se desse esquema espúrio,   se  esquece o governo  de que  irá  também  prejudicar  o país no que tange  ao desenvolvimento  de sua indústria, do seu comércio interno e externo, das médias,  pequenas  e micro-empresas. 
      Esses setores,   por seu turno,   sofrerão  grande perdas   de receitas. Em outras palavras, os níveis médios  e baixos da  população  sofrem  grandes  abalos  nos seus orçamentos domésticos. Os governos federal, estaduais e municipais  arrecadam  menos.Quer dizer,  a estrutura   econômico-financeira  involui e provoca  grandes  prejuízos ao país e retrocessos irrecuperáveis  em todos os sentidos e com consequências, infelizmente,  duradouras
     Os mais  desfavorecidos  são muito penalizados com o mencionado  esquema  regido pelo binômio benefício social-corrupção. A burguesia, a alta  burguesia e a elite econômica  perdem mas não perdem muito, pois ainda têm poder de compra e capacidade de investimentos. Com os ativos públicos em queda,  o  governo determina   aumentos  escorchantes  nos produtos,  na cesta básica, nos juros do crédito.
       Com vendas  em declínio, sobretudo as classe médias – barômetro  da economia  nacional -  começam  a reduzir  os seus gastos -   sobretudo os supérfluos – o comércio, a indústria, os serviços perdem receita e provocam  o desemprego, a carestia, o aumento dos juros dos quais  o Brasil  é um campeão no mundo, a recessão,  a inadimplência, o fechamento  das lojas, das fábricas, das indústrias. Enfim, o caos econômico se  instala. A moeda forte,  o dólar oscila com tendência mais de subir do que de descer.  
     Daí se pode deduzir  com facilidade que, na medida em que a  política   se corrompe, sofre abalos   em sua  credibilidade, hoje em baixíssimo ou zero  nível de aceitação  pela sociedade. A economia  acompanha lado a lado  esse descontrole. As contas  públicas,  o endividamento  interno junto aos  bancos  privados,  a instabilidade  governamental, tudo isso entra  na composição  de um  estado  desagregador provocado pela  imoralidade  pública, produto  da corrupção  sem limites  e pela  absoluta  descrença  da sociedade  nas diversas  instituições da máquina do Estado. Esse o sombrio momento  presente no país.
    A se ver pelo nefasto  evoluir  dos acontecimentos,   no que tange ao sistema  político  brasileiro, a entrada  do Lula como  protagonista,   em cargo de alta relevância, vai propiciar  ou uma  adesão submissa  e pusilânime  ao poder  presidencial,  ou  um afastamento   em massa dos partidos aliados do governo Dilma. O que não será bom  para ela.
    Ora, ao assumirem porventura uma posição arriscada, a da submissão e servilismo  oportunista,   os  políticos  brasileiros  que derem as costas aos anseios, reclamos e palavras de ordem sobejamente  demonstrados nas manifestações de domingo passado,     tais como  “Fora Lula!” e “Fora Dilma!,” estarão  selando   a sua derrocada  política  em próximas  eleições e sabe lá o que vai  acontecer com essa  pobre nação desvalida.
   Continuo a sublinhar  isso: o país só tomará uma caminho certo  e prudente se o conjunto de sua  população (de letrados, semi-letrados, analfabetos  funcionais, analfabetos puros ) se revestir de civismo  e patriotismo. A Educação  será  o grande pilar para uma mudança efetiva de  uma mentalidade   ignorante para a conscientização  e maior   politização  da sociedade.
   Se persistirem a imoralidade política, os escândalos, as denúncias de corruptos,   sucumbiremos  num precipício funesto. Que  Deus tenha  misericórdia dessa Nação! 
 

Nota: Já tendo  finalizado a redação deste  artigo, agora mesmo me vem pela televisão um inesperado  pronunciamento à imprensa  de dona  Dilma  anunciando o nome do ex-presidente Lula para o cargo de ministro da Casa Civil. No entanto,  as minhas   posições  expendidas  neste artigo  praticamente   não justificam  alterações  na escrita.