Todo mundo fala mal dos políticos, e esquece que afinal eles estão ali como meros prepostos de alguém – das pessoas que votaram neles. Um voto é uma procuração que a gente passa em termos mais ou menos assim: “Já que estou muito ocupado trabalhando e cuidando da minha família, e consequentemente não posso cuidar do Brasil, designo o candidato Fulano de Tal para cuidar do país em meu nome, e me responsabilizo por tudo que ele fizer”. Claro que os eleitores não veem as coisas nesses termos, mas o fato é que funciona assim. Daí que muita gente se desilude com o nível dos prepostos que estamos colocando nos Executivos e nos Legislativos. (A gente vota pro Judiciário? Eu mesmo nunca votei.) E recomeça a lenga-lenga de sempre, uns querendo a volta da monarquia, outros querendo dar uma chance à anarquia e outros dizendo: “O que está faltando no Brasil é um homem de verdade que moralize esse cabaré!”. Ou seja, um caudilho que prenda e arrebente. (Ironicamente, os primeiros a serem presos e arrebentados são os que ajudaram o caudilho a chegar lá, como foi o caso dos camaradas de Stálin.)
Isaac Asimov satirizou a democracia do voto no conto “Democracia Eletrônica” (http://bit.ly/Jy3tiJ), onde um computador seleciona um eleitor completamente mediano que deverá escolher sozinho entre os candidatos à Presidência da República, pois a opinião dele representa a maioria do eleitorado. Philip K. Dick, em Loteria Solar ( http://bit.ly/IjkEPz) imagina um futuro onde o Chefe de Estado é escolhido por sorteio, e pegado de surpresa por essa escolha. Agora, um artigo publicado na revista Physica A (http://on.io9.com/IccCvR) por professores da Universidade de Catania, na Sicília, sugere que a democracia sairia ganhando se as atuais legislaturas bipartidárias tivesse uma parte dos seus membros escolhidos por sorteio, e não pelo voto. Entre as razões para isto está o fato de que candidatos eleitos por um partido tendem a pensar mais nos interesses imediatos do partido do que no interesse coletivo a longo prazo.
Talvez valesse a pena pensar em um sistema onde a seleção fosse rigorosa, os benefícios dos cargos severamente restritos (pra não atrair os abutres de sempre), metade da Câmara e do Senado seriam eleitos pelo povo e metade seria sorteada entre os não-eleitos. Isto talvez desse melhores chances àqueles candidatos sérios e honestos, mas sem carisma pessoal para adular o eleitorado. Como se sabe, no sistema atual não se elegem os melhores administradores nem os melhores legisladores, mas os atores que conseguem produzir a fantasia mais convincente aos olhos ingênuos e interesseiros do eleitorado