Dalton Trevisan ganha o Prêmio Camões

Por Sérgio Rodrigues

Genial, genioso e muito mais recluso do que Rubem Fonseca jamais sonhou ser, o contista curitibano Dalton Trevisan é o vencedor do 24º Prêmio Camões 2012, o mais importante da literatura de língua portuguesa.

O vencedor do Camões – que também já premiou os brasileiros João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar e o próprio Rubem Fonseca, entre outros – recebe 100 mil euros, em torno de R$ 260 mil. Presidido pelo crítico brasileiro Silviano Santiago, o júri tomou a decisão por unanimidade. O anúncio foi feito hoje de manhã em Lisboa por Francisco José Viegas, secretário de Cultura de Portugal. Leia aqui a reportagem do jornal português “Público”.

O júri justificou assim a escolha: “Dalton Trevisan significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra. Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao fazer literário sem concessões às distrações da vida pessoal e social”.

Dalton, que completa 87 anos no mês que vem, manteve em toda a sua carreira impressionante fidelidade a um estilo de prosa de crescente minimalismo e temática inconfundível, marcada em doses iguais por erotismo à flor da pele, provincianismo e uma espécie aguda de metacafonice, com o uso insistente de clichês verbais, diminutivos e personagens chapados. Numa combinação rara, enraizou seu experimentalismo de autor sofisticado num solo popularíssimo de “Brasil profundo”:

A noivinha em pranto:

– São horas? Um homem casado? De chegar?

O boêmio fazendo meia-volta, no passinho do samba de breque:

– Não cheguei, minha flor. Só vim buscar o violão.

O título do livro mais famoso de Dalton Trevisan, “O vampiro de Curitiba”, acabou por virar também sua alcunha. Os últimos que lançou (pela editora Record) foram “Desgracida” e “O anão e a ninfeta”.

A editora Record tentou entrar em contato com Dalton esta manhã para lhe dar a notícia, mas não sabe se ele já a recebeu. A comunicação é precária. “Fizemos do jeito que sempre fazemos para falar com ele”, disse a gerente de imprensa Gabriela Máximo. “Telefonando e mandando um fax para a Livraria do Chain, que então manda alguém botar o fax na caixa de correio dele.” Se Dalton irá a Lisboa para coletar a honraria? “Acho praticamente impossível”, diz Gabriela, que em 2007 recebeu em nome do escritor o segundo prêmio do Portugal Telecom