Da Costa e Silva
Em: 12/11/2007, às 15H14
BIOGRAFIA
Aguarde...AMOSTRAGEM
Lady Macbeth
Não na posso entender, senhora, amante ou serva:
Amo-a; não sei dizer se ama, desdenha ou finge.
Embora! Meu amor todo a ela se reserva,
Porque meu nobre ideal só a ela se restringe.
Conto-lhe a minha dor, mas a voz não atinge
Seu coração pueril; e imóvel se conserva,
Na impassível mudez dolorosa de esfinge,
Nessa atitude real de estátua de Minera.
Fixo nos olhos seus os meus olhos de lince,
E um vago e estranho encanto o alvor das formas lhe unge
De uma graça imortal, que não há quem destrince...
Lembra Nossa Senhora aureolada num nicho;
E fulge em seu olhar, de um brilho que compunge,
Toda a revelação de um bizarro capricho...
As Horas
As Horas cismam no ar parado:
— Passado.
As Horas bailam no ar fremente:
— Presente.
As Horas sonham no ar obscuro:
— Futuro.
Madrigal de um Louco L u a !
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O Carrossel Fantasma
Ganhei o dia a meditar na minha vida,
porque a saudade me levou à longínqua Amarante
que cisma, talvez por mim, debruçada sobre as águas
lentas e sonolentas do Parnaíba
a rolar para o mar como eu para o mistério...
Então, num sonho de criança convalescente,
vem-me à memória o carrossel que fascinava,
no seu giro constante, os meninos de minha idade:
Cesário, Luís, Holanda... meus irmãos Nica e Joca,
na vertigem do carrossel arrebatados tão cedo!
Tal qual o largo da matriz em noites de novena,
meu pensamento se ilumina de uma luz ardente e doce
como a dos balõezinhos pendentes dos arcos verdes,
festonados de folhagens e frementes de bandeirolas...
E vejo, com os olhos de hoje, ao fundo do largo em festa,
o mesmo carrossel ruidoso da minha ruidosa infância,
rodando... rodando... rodando continuadamente...
Eu fui o mais feliz dos meninos do meu tempo:
gastava todas as moedas das imagens que fazia
(já tinha o dom divino de um criador de imagens)
a dar voltas e voltas nos cavalos de madeira,
que galopavam automaticamente, feito cavalos
[árabes...
Era arrogante e destemido que nem os vaqueiros da
[minha terra,
quando galgava o lombo de um desses pégasos sem asas,
mas nem por sombra imaginava o meu destino de
[poeta...
O carrossel parou no largo... mas não pagou na vida...
Continua em meu sonho, rodando... rodando sempre...
E andando e desandando, num ritmo contraditório,
ainda me dá a alegria inevitável de dar voltas...
de girar, de rolar como os astros no espaço,
de elevar-me a um destino superior ao do planeta,
que em torno da sua órbita, como um símbolo, roda...
— Upa! upa! meu pensamento!
O Sapo
Feio e fátuo a fingir de grande, gordo e guapo;
Hediondo e humilde a inchar de empáfia e ocioso orgulho,
Viscoso de vaidade, entronado no entulho,
Cisma na solidão, sorno e soturno, o sapo.
Os bugalhos em brasa, a palpitar o papo,
Acocorado, absorto, ao mínimo barulho
Que o sossego lhe suste, em súbito mergulho
Se atasca no atascal; e ei-lo escondido e escapo.
Patriarca do paul, pelo pântano parco
De água, a arfar e a imergir no lodo liso e imundo,
O batráquio bubuia, o corpo curvo em arco...
E sobe à superfície o rei das rãs, rotundo,
Glabro e inchado, a coaxar no lamaçal do charco,
Como o ser mais soberbo e singular do mundo.
Refrão do Trem Noturno
Corre o trem dentro do túnel estrelado da noite
tonto de velocidade
ávido de espaço
a arrastar uma rua ruidosa de carros
e lá vai
acelerando mais e mais as rodas rápidas
da máquina que marcha
— Muita força pouca terra
muita força pouca terra
Andam, resfolegam, sopram, bufam
os cavalos-vapor a galopar invisíveis
nitrindo aflitos
silva a locomotiva
a pupila alucinada reverberando na treva
— compasso de relâmpago
tomando a distância
perdida na noite
— Muita força pouca terra
muita força pouca terra
Em disparada o comboio foge trepidando
ao vaivém dos vagões entrechocados na carreira
como elefantes perseguidos no deserto
É um pesadelo sob o silêncio o trem que passa
o trem que desfila como um sonho rumoroso
o trem que leva oscilando na perspectiva fugidia
árvores
campos
montes
repentinamente em movimento
o trem que se lança no espaço como a vida no tempo
— Muita força pouca terra
muita força pouca terra
Hino do Piauí
(Letra: Antonio Francisco Da Costa e Silva/ Música: Firmina Sobreira Cardoso)
Salve! terra que aos céus arrebatas
Nossas almas nos dons que possuis:
A esperança nos verdes das matas,
A saudade nas serras azuis.
Piauí, terra querida,
Filha do sol do equador,
Pertencem-te a nossa vida,
Nosso sonho, nosso amor!
As águas do Parnaíba,
Rio abaixo, rio arriba,
Espalhem pelo sertão
E levem pelas quebradas,
Pelas várzeas e chapadas,
Teu canto de exaltação!
Desbravando-te os campos distantes
Na missão do trabalho e da paz,
A aventura de dois bandeirantes
A semente da Pátria nos traz.
Piauí, terra querida,
Filha do sol do equador,
Pertencem-te a nossa vida,
Nosso sonho, nosso amor!
As águas do Parnaíba,
Rio abaixo, rio arriba,
Espalhem pelo sertão
E levem pelas quebradas,
Pelas várzeas e chapadas,
Teu canto de exaltação
Sob o céu de imortal claridade,
Nosso sangue vertemos por ti,
Vendo a Pátria pedir liberdade,
O primeiro que luta é o Piauí.
Piauí, terra querida,
Filha do sol do equador,
Pertencem-te a nossa vida,
Nosso sonho, nosso amor!
As águas do Parnaíba,
Rio abaixo, rio arriba,
Espalhem pelo sertão
E levem pelas quebradas,
Pelas várzeas e chapadas,
Teu canto de exaltação
Possas tu, no trabalho fecundo
E com fé, fazer sempre melhor,
Para que, no concerto do mundo,
O Brasil seja ainda maior.
Piauí, terra querida,
Filha do sol do equador,
Pertencem-te a nossa vida,
Nosso sonho, nosso amor!
As águas do Parnaíba,
Rio abaixo, rio arriba,
Espalhem pelo sertão
E levem pelas quebradas,
Pelas várzeas e chapadas,
Teu canto de exaltação
Possas Tu, conservando a pureza
Do teu povo leal, progredir,
Envolvendo na mesma grandeza
O passado, o presente e o porvir.
FORTUNA CRÍTICA