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 COMO JÚLIO VERNE PREVIU O AVIÃO

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance “Robur, o conquistador”, de Júlio Verne. Título original francês: “Robur le conquérant”. Hemus Editora Ltda., sem data, São Paulo. Tradução de Carlos Evaristo M. Costa e Otávio Almerindo Ferreira.

 

            Li esta romance em plena crise aérea brasileira. E é notável a antevisão de Verne, que escrevendo antes de Santos-Dumont afirmou textualmente: “O futuro da navegação aérea pertence à aeronave e não ao aeróstato”. E para defender a tese do mais pesado que o ar Verne criou uma versão aérea de seu Capitão Nemo: o engenheiro Robur, de origem desconhecida, é menos carismático que o seu antecessor do submarino Náutilus, mas enfim dá o seu recado.

            Robur sequestra os dois líderes do movimento balonista nos EUA, o Tio Prudente e Felipe Evans; respectivamente o presidente e o secretário do Instituto Weldon, mais Fraicolin, criado a serviço do primeiro, e os leva numa interminável viagem de circunavegação do globo, atravessando os diversos continentes e oceanos. Durante todo esse tempo os balonistas, ofendidos e irritados (eles que, com seus pares, haviam expulsado Robur do instituto), recusam dialogar com o capitão da nave Albatroz — um imenso e autosuficiente avião imaginado por Verne, cheio de hélices e de conforto, e que quase não descia à superfície — e fechando-se no ódio e o mutismo, planejam a fuga e a destruição da máquina aérea, que ofende aos seus brios de paladinos do mais-leve-que-o-ar.

            Enfim, descobriremos que esses dois são os verdadeiros vilões do romance e Robur com seus tripulantes, os heróis.

            Detalhe curioso: as aparições misteriosas do Albatroz antecipam a onda de UFOS que aparecem principalmente nos Estados Unidos, no ano de 1897.

 

Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2007.