(Miguel Carqueija)

Um título imortal da literatura brasileira:

CECÍLIA MEIRELES E O “ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA”

Miguel Carqueija


    Com certeza, temos aqui uma das obras máximas da poética brasileira.
    Cecília Meireles (1901-1964) é um dos nomes mais importantes das letras nacionais. Como poeta, ela detinha um grande carisma no lidar com as palavras, de lançar versos que caem profundamente na alma.
    “Romanceiro da Inconfidência” é um livro épico, nos diversos poemas (mais de noventa) em que vai contando, na linguagem barda, o pungente drama dos inconfidentes. Um drama que inclui os próprios animais:

     “Eles eram muitos cavalos,
    ao longo dessas grandes serras,
    de crinas abertas ao vento,
    a galope entre águas e pedra (...)
    Eles eram muitos cavalos
    rijos, destemidos, velozes
    entre Mariana e Serra do Frio,
    Vila Rica e Rio das Mortes (...)
    e uns viram correntes e algemas,
    outros, o sangue sobre a forca,
    outros, o crime e as recompensas. (...)
    Eles eram muitos cavalos,
    Mas ninguém mais sabe os seus nomes (...)”

    Muito interessante — patética — a referência aos nomes dos cavalos, que, como tantas outras coisas, caíram no total esquecimento. Uma romântica, comovente alusão ao redemoinho cruel da Vida e da História.
    Cecília é igualmente contundente quando se refere ao traidor, Joaquim Silvério:

    “Pelos caminhos do mundo,
    nenhum destino se perde:
    há os grandes sonhos dos homens
    e a surda força dos vermes.”

    Não escapa á autora a tragédia da “rainha louca” que um dia assinara a sentença condenatória de Tiradentes e seus companheiros:

    “Do cetro já não se lembra,
    nem de mantos nem coroas,
    nem de serenins do Paço,
    nem de enterros nem de bodas:
    só tem medo do demônio,
    de seu fogo sem piedade.”

    Precisamos incentivar, no povo brasileiro e nesta juventude hoje tão mal orientada, o amor pela brasilidade e pela nossa cultura. Entre outras coisas, é preciso ler Cecília Meireles, é preciso ler Guimarães Rosa, é preciso ler Thales Andrade, é preciso ler Paulo Setúbal.