Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
Por Miguel Carqueija Em: 13/05/2021, às 00H35
CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Miguel Carqueija
Senhor Fernando Henrique Cardoso:
Não pretendo, senhor, agradecer pelos oito anos em que mandou e desmandou no país, desbaratando as energias dos brasileiros, do nosso povo já tão sofrido, com a implantação do malfadado Plano Real, que o saudoso Dr. Enéas Carneiro tão bem qualificou como o “plano diabólico”. Um plano, enfim, que quase acabou com o nosso país, envolvendo o Brasil num aranzel de maldade e mesquinharia.
Eu lembro muito bem de como isso repercutiu comigo. Sim, Senhor FHC, naquele já longínquo ano de 1995 o senhor me arruinou financeiramente. Naquele tempo eu tinha reservas monetárias que aliás só tendiam a crescer. Hoje eu poderia estar prosperando. Mas veio o seu governo e seu Plano Real, e em poucos meses as minhas reservas sumiram e em seu lugar ficaram as dívidas.
Não, Senhor FHC, eu não o odeio, não lhe desejo mal, pois aprendi na minha Religião que não devemos odiar a ninguém, nem mesmo aos nossos inimigos. Não o odeio, só o desprezo e me compadeço. Espero também que o senhor se arrependa a tempo dos seus pecados, pois ninguém, e isso inclui ateus como dizem que o senhor é, escapa do Juízo Divino.
O fato é que, se eu era da classe média baixa, hoje não sou classe média, nem pobre e muito menos rica, sou de uma categoria não reconhecida oficialmente, a dos endividados, conhecida também como a “pobreza envergonhada”. E quem é da pobreza envergonhada encontra-se numa situação constrangedora já que ninguém, e isso inclui a própria família, acredita que nós somos pobres. Então, não esperamos ajuda de ninguém; só podemos contar com as nossas próprias forças e a ajuda do alto, que rogamos incessantemente.
Desde 1995 vivo portanto nesta situação sem conseguir me recuperar; permaneço na corda bamba, ou melhor, no fio da navalha, debaixo de uma espada de Dâmocles; inclusive com o risco em potencial de terminar meus dias ao relento, na sarjeta mesmo, afinal este é o risco que acompanha todas as pessoas que moram de aluguel e não possuem estabilidade financeira.
E ainda existe uma agravante: por seis anos seguidos, durante seu desgoverno, fiquei sem aumento salarial, o que prejudicou substancialmente a minha aposentadoria.
Já se vê, portanto, que não sou a única pessoa a ter queixas do governo Fernando Henrique Cardoso. O povo brasileiro em peso foi prejudicado, espoliado, sufocado com os impostos, os baixos salários, a falta de perspectiva. Alguém disse que no governo FHC a inflação foi controlada? Ledo engano, a pobreza aumentou e na fase de transição do cruzeiro novo para o real — a fase da tal URV — os preços subiram muito e depois ficaram lá em cima mesmo: o Real já entrou inflacionado.
E como se tudo isso não bastasse, o senhor ainda nos deixou como herança um estropício como Lula, que deu prosseguimento à desconstrução do Brasil.
E mesmo assim ainda vem o senhor dar palpites na vida pública nacional, em vez de se recolher à sua mediocridade? O senhor, que não passa de um socialista fabiano?
É triste notar que muita gente já esqueceu, e as novas gerações nem tomaram conhecimento, do estrago que foi para o país o período FHC, que inventou em PEC a reeleição presidencial como um casuísmo, quando FHC não poderia ele próprio se beneficiar da emenda constitucional, pois ela não existia quando de sua eleição.
Eu porém não esqueci, e não caio no canto de sereia da esquerda, seja ela marxista ou, no seu caso, fabiana. Eu sou uma vítima do seu socialismo fabiano, e vítimas não esquecem facilmente.
Rio de Janeiro, 4 de maio de 2021.