Capítulo 5 do meu Pós-Doutorado em Literatura Comparada. Faculdade de Letras (UFRJ ,2014). Título: Álvaro Lins e Afrânio Coutinho: dois críticos e uma polêmica.
Por Cunha e Silva Filho Em: 29/11/2023, às 15H07
Capítulo 5 do meu Pós-Doutorado. Faculdade de Letras (UFRJ, 2014)
5. O NEW CRITICISM DE AFRÂNIO COUTINHO
O crédito a favor da Crítica Nova permanece imensamente significativo. Eu já disse aqui que ela ensinou uma geração a ler. Posso acrescentar que ela ensinou a refletir sobre o significado, a prestar atenção para o que uma obra de arte significa realmente.
David Daiches
É bem provável que possamos - digamos assim -, rastrear os primeiros sinais de vontade de transformações, i.e., de novas approaches no terreno da crítica literária e do ensaio no país manifestados por Afrânio Coutinho desde a publicação de sua obra A filosofia de Machado de Assis (1940).
Neste sentido, seria oportuno, antes de tudo, fazermos uma referência a breves dados informativos de natureza biográfica que, sem dúvida, são necessários à compreensão da trajetória desse crítico a quem os estudos de literatura brasileira tanto devem não somente no campo da atualização e de novas orientações que imprimiu aos estudos literários no país, tanto no ensino médio quanto sobretudo na cátedra universitária. Não seria temerário ou exagerado afirmar que seu papel de crítico e historiado, na literatura brasileira, tornou-se um divisor de águas.
Afrânio Coutinho era formado em medicina, porém, nunca exerceu efetivamente essa atividade porquanto sua vocação ainda quando estudante de medicina, o predispunha inelutavelmente aos estudos literário, históricos e filosóficos, vindo mesmo a lecionar, ainda em Salvador, no curso secundário, literatura e história. Em 1941, fora convidado a fazer parte do corpo docente da Faculdade de Filosofia da Bahia.
Ora, àquela altura também atuava no jornalismo e ao mesmo tempo ia se preparando para o que, na realidade, viria a ser a sua atividade primordial na vida: a de escritor, sobretudo de alguém profundamente motivado por questões de crítica literária e de historiografia.
Não sendo, como os de sua geração, formado em Letras, uma vez que este tipo de curso só surgiria no país no final dos anos de 1930, mas sendo um moço estudioso e consciente de seus objetivos intelectuais, tudo indica que já estivesse ao corrente da leituras de alguns autores estrangeiros na área da crítica literária, notadamente do que se vinha publicando, desde os anos de 1920, na Europa e nos Estados Unidos nesse domínio de estudos de Literatura.
Dentro dessa possibilidade de leituras feitas por Coutinho, podemos pensar na hipótese de que, na juventude, ainda em Salvador, já tivesse lido a obra do crítico inglês I.A. Richards, Princípios de crítica literária, que saiu publicada em 1924, e cuja tradução em português foi lançada, em 1967, pela Série Universitária da Editora Globo com a Editora da Universidade de São Paulo. Richards escreveu também, na área de crítica literária, entre outras obras, Practical criticism (1929), Coleridge on imagination (1935), The Philosophy of rhetoric (1936), Intrepretation in teaching (1938) e How to read a page (1942). Entretanto, como a confirmar aquele hipótese de que Coutinho, ainda em Salvador, já estivesse de posse das leituras de alguns autores na direção que gostaria de imprimir à sua formação literária, o seguinte passo nos parece fornecer uma pista neste sentido:
(...) Pode o presente articulista oferecer também o seu testemunho acerca do assunto: ao chegar aos Estados Unidos em 1942, levava no espírito muitos dos problemas e dúvidas, muitos dos anseios renovadores, que foi encontrar expressos em críticos americanos e outros, e lá, em contato com os meios universitários, foi-se identificando com o movi mento renovador, que vinha ao encontro de suas ideias e das necessidades que sentia quanto à crítica de palavras, com o valor do vocábulo (...).[1]
Segundo o crítico David Daiches, Richard, na fase de sua produção, já andava investigando questões concernentes à “natureza do significado poético” como diferente do significado científico, conceitos estes que para Daiches iriam ter “influência considerável sobre todo o movimento crítico moderno.” [2]
Na vida intelectual, atuou incansavelmente em duas frentes: na primeira, no campo da crítica literária, particularmente, na produção teórica – longe daquilo que, com certa pressa e desconhecimento das ideias e do pensamento crítico-teórico de Afrânio Coutinho, o julgara Adélia Bolle ao definir sua doutrinação do new criticism como equivalente a uma “crítica de divulgação.”[3] Na condição de introdutor e principal propugnador entre nós do New Criticism americano, empregamos este termo por ora como uma marca que lhe ficou nas citações em histórias literárias brasileiras, pois, na realidade, o conceito que Coutinho tinha por essa corrente crítica tem uma significação e uma abrangência bem maior do que um único movimento de renovação crítica que veio substituir o velho impressionismo no país, por sua vez, derivado, por importação, do impressionismo francês do século XIX, o qual teve representantes ilustres como Anatole France, Jules Lemaître, Remi de Gourmont, Faguet, France Jaloux, André Gide e alguns outros.
Reconhece Coutinho que entre o new criticism e a nova crítica há algumas convergências de princípios. Todavia, acrescenta ainda que a sua “afinidade” mais profunda era com o formalismo eslavo, cujos ensinamentos foram adquiridos em Nova Iorque, na Universidade de Colúmbia, através das lições de René Wellek e de materiais pouco conhecidos então no Ocidente.
No mesmo artigo, Coutinho aproveita para reiterar que ao regressar ao Brasil, o que estava nos seus planos era iniciar uma campanha de esclarecimento no meio literário procurando “desacreditar” o “velho e sovado” impressionismo crítico, reduzido, então, a uma atuação praticamente apenas nos rodapés de jornais, “...praticado à larga pelos donos de rodapés da ‘crítica’ literária.”[4] De outra parte, Coutinho refuta, no artigo “Nova Crítica,” que faz parte da sua obra Impertinências, um artigo de Wilson Martins, segundo o qual Coutinho havia sido “divulgador” do new criticism norte-americano. Inclusive ironizando que essa corrente crítica “... chegara ao Brasil dentro da minha bagagem, ao regressar, em 1947, dos Estados Unidos..”[5]
Coutinho, já cansado de ouvir essa mesma história várias vezes, que ele chama de “balela,” repeliu a visão de Wilson Martins, negando, assim, que tenha importado aquela corrente crítica. O que, segundo Coutinho ocorrera era o fato de que os conhecimentos sólidos que trouxera dos Estados Unidos não eram simplesmente a nova corrente, porém “...toda uma renovação da crítica literária.”[6]
Acentuava Coutinho que o New Criticism e a Nova Crítica não eram a mesma coisa no seu conjunto de princípios e preceitos. A corrente norte-americana fazia parte de uma tendência “globalizante,” abrangendo “métodos e doutrinas de várias tendências.”[7] Informa que a mesma situação que ele enfrentou no país tinha acontecido na França nos anos de 1960, com o movimento crítico denominada nouvelle critique e, segundo o crítico, era semelhante à nova crítica por ele inaugurada.
Numa segunda frente, atuou intensamente no campo da historiografia, nos estudos sobre periodização literária, nos estudos sobre o Barroco em que se tornou um especialista e um desbravador no país, no tema da descolonização literária.. Além disso, incluiríamos os seus estudos de temas sobre educação, língua portuguesa, ensino e pedagogia na área da literatura, biblioteconomia, bibliografia, normas técnicas de preparação de trabalhos acadêmicos. Alguns desses tópicos comentaremos mais adiante.
Segundo o crítico David Daiches, Richard, na fase de sua produção, já andava investigando questões concernentes à “natureza do significado poético” como diferente do significado científico, conceitos estes que para Daiches iriam ter “influência considerável sobre todo o movimento crítico moderno.”[8]
Recordemos, apoiados na síntese de Martins Gray,[9] que o movimento do New Criticism, mantendo a expressão em maiúsculas do verbete no original, data dos anos de 1930 a 1940 com a edição The New Criticism (1941), de John Crowe Ransom tendo sido ele quem consolidou essa designação e sintetizou as questões atinentes a essa corrente crítica, à qual se juntaram outros “novos críticos,” como Allen Tate, R.P. Blackmur, Robert Penn, W..K. Wimsatt, Cleanth Brook e Robert Penn Warren. As investigações dos dois últimos resultaram na publicação conjunta da obra Undestanding poetry (1938), obra cuja repercussão logo se fez sentir, graças às novas visões e métodos que apresentava, com a sua ampla adoção tanto em escolas secundárias quanto em universidades americanas.
Martin Gray esclarece que os “novos críticos” americanos receberam também subsídios das ideias de I.A. Richards no que tange à terminologia adequada empregada por aquele estudioso inglês visando a “efeitos literários” e suas adaptações do pensamento de Coleridge relativo às “ideias de forma como elemento de síntese da poesia.” Da mesma maneira, Gray se reporta à atuação das ideias de Richards segundo as quais a literatura é produzida por meio de uma “linguagem especial”, “não-referencial.”[10]
Ainda Martin Gray, amparado em T.S.Eliot, sustenta que a literatura vista pelo New Criticism, tinha como pilar fundamental a “Autonomia” da obra literária: ”... deve-se estudar um poema como um poema, não com uma peça biográfica ou sociológica, ou como matéria literário-histórica, ou por qualquer outro motivo”[11]
Finalizando sua síntese, Gray menciona o crítico americano F.R. Leavis que, segundo relata a história da crítica americana, sofreu influência do New Criticism, se bem que Leavis não negasse a autonomia da literatura, realçava, contudo, os componentes “morais” e de “formação cultural.’[12] Reconhece Gray a enorme e duradoura influência dão New Criticism nos novos hábitos assumidos pela crítica literária, sobretudo por desbancar o antigo amadorismo de natureza histórico-biográfica dos estudos literários.[13]
Voltando ao que afirmamos em linha precedentes acerca da formação intelectual de Afrânio Coutinho, podemos, agora, fazer uma inferência: ao escrever A filosofia de Machado de Assis, adotando no seu estudo de Machado de Assis uma abordagem aplicada ao estudo de influências literárias no ficcionista carioca e elegendo Pascal como o principal vetor de influência, além de Montaigne em menor intensidade e de outros autores estrangeiros, Coutinho fazia um tipo de aproximação crítica que já era conhecida em universidades americanas, conforme declarou o próprio Álvaro Lins dando mostras de estar atualizado com o que acontecia no universo literário americano.
Este fato de ordem biográfica demonstra que Coutinho perseguia objetivos específicos visando a realizações que vislumbrava em futuro próximo no plano da sua vida intelectual de estudioso de Literatura, mormente no terreno da crítica e da historia literária.
Um primeiro passo decisivo, conviria reafirmar, foi a oportunidade que lhe veio de permanecer nos Estados Unidos, em Nova Iorque, de 1942 a 1947, fazendo cursos na Universidade de Colúmbia, nas disciplinas da teoria literária, história literária e crítica literária, Destarte, pôs-se em contato com grandes mestres e scholars norte-americanos e europeus que lecionavam naquele país, com os quais desenvolveu sólida formação intelectual.
Foi lá também que conheceu o teórico René Wellek e o linguista Roman Jakobson, dos quais foi aluno. Ainda na sua permanência em solo americano e naquela mesma universidade realizou curso com o filósofo francês Jacques Maritain, de quem traduziu para o português as obras Humanismo integral e Os direitos do homem Além disso, fez cursos em outras universidades americanas.
De retorno ao Brasil, Coutinho retomou seus planos de atuar no magistério, no jornalismo literário e no livro. Pode-se assinalar que daí em diante vai inaugurar duas “fases” em sua carreira de escritor. O sentido que damos aqui a “fases” do percurso intelectual de Coutinho se inspirou no que Eduardo Portella chamou de “momentos.” [14]
A primeira fase se circunscreve ao período em que se tornou o principal propugnador do new criticism no país, caracterizada pela predominância de uma ação de peleja renhida tendo por escopo central conduzir a um novo rumo a crítica literária brasileira. Para isso, revelou-se Coutinho um espírito polêmico, “um notável polêmico,” segundo as palavras de João Cezar de Castro Rocha[15], intransigente quanto a seus propósitos de atualizar os modos de se fazer crítica no país É a fase de combate e de virulência contra o corrente do pensamento crítico da época, o impressionismo, ou como Portella com muita perspicácia a compreendeu:
Dois momentos assinalam a evolução presente da nossa crítica literária: o que se identifica pela ênfase polêmica, canalizando todas as suas energias para a liquidação das últimas resistências impressionistas, e o que, indiferente àquela prolongada escaramuça teórica, dirige-se resolutamente para o texto poético, e procura produzir sobre ele[16]
Mais adiante, no mesmo parágrafo supracitado, Portela acrescenta: “No primeiro, [momento] a preocupação não foi tanto construir quanto destruir. E destruir violentamente uma crítica caudatória da simpatia para a qual o subjetivismo era o valor absoluto.[17] (grifos nossos).
A segunda fase volta-se principalmente para a produção das suas melhores obras e para a da atividade docente tanto no ensino secundário quanto principalmente no ensino superior, a que, pouco depois, se dedicou inteiramente.É a fase construtiva e da vitória sobre o impressionismo. A esta fase Portella chama de momento de construção, ou melhor, de produção, de mostrar serviço, “.. em cima de um universo prático-teórico nitidamente recortado.”[18] O juízo de Portella prova ser francamente conciliador, equilibrado, a ponto de afirmar
(...) E na própria A literatura no Brasil, na sua introdução geral, a serenidade doutrinária se prejudica, às vezes, por certa agressividade que já não tem razão de ser. E não tem porque o momento atual já não é mais o de destruir o impressionismo crítico, porém, o de ultrapassá-lo, incorporando o que teve de mais válido, e consequentemente, de mais transcendente.[19] (grifos do autor).
Porém, Portella, na citação que faz de eminentes críticos brasileiros, prudentemente não menciona o nome de Álvaro Lins, contudo não esquece de reconhecer a importância que o impressionismo teve à história da crítica brasileira:
(...) Sobretudo numa literatura, como a nossa, onde a contribuição dessa crítica vem sendo verdadeiramente admirável, através mesmo de críticos que, fazendo ou não da atividade crítica o seu ofício sistemático, a ela trouxeram páginas surpreendentemente reveladoras. São os casos dos críticos Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Augusto Meyer, Otto Maria Carpeaux, Sérgio Milliet, Antonio Candido, Olívio Montenegro, Roberto Alvim Correa, Wilson Martins. É o caos principalmente de Alceu Amoroso Lima.[20]
5.1 A PRIMEIRA FASE: COMBATE AGUERRIDO
A fase primeira, já anunciada na seção anterior deste capítulo, à semelhança das vanguardas artística e dos movimentos literários de renovação que sempre acompanharam a história cultural do Ocidente, foi, no caso de Coutinho, reagir contra o establishment da crítica literária que, nos anos de 1940 aos anos de 1950, é conhecido como o domínio quase absoluto da impressionismo crítico no país.
Coutinho, com todo o reforço de conhecimentos adquiridos nos centros acadêmicos americanos, se via, assim, pronto e capaz de lançar as sementes do new criticism ente nós. E veio com toda a força de sua veemência e mesmo virulência, segundo temos tido o ensejo de frisar neste estudo, contra os que faziam crítica de rodapé nos principais jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, seguramente com repercussão em outras regiões do pais. Coutinho não poupava ataques contra não somente os praticantes da velha crítica subjetivista como também contra a situação vexatória da vida literária brasileira, segundo vimos, de forma mais detalhada, no capítulo 2.
Coutinho, como é natural em todo processo de subversão de modos e hábitos da vida literária e do exercício crítico, cometeu também alguns excessos no calor da querela e um dos seus principais rivais, conforme já ressaltamos neste estudo, foi Álvaro Lins.
É dessa fase de polêmica que resultaram os artigos de Coutinho reunidos nas obras Correntes cruzadas, No hospital das letras, Da crítica e da nova crítica e, num estágio menos mordente, na obra Crítica & críticos. Porém, o ciclo da reação de Coutinho pode remontar ao ano de 1943. Mesmo durante sua estadia em Nova Iorque, enviava artigos que foram estampados em jornais do Brasil.
Se sabíamos que entre os dois êmulos, Lins e Coutinho, havia o abismo da discordância de princípios de militância judicativa e de ideias estético-metodológicas, também sabíamos que, com o tempo, a querela entre os dois – pode-se aventar esta hipótese – já não se situava unicamente no desforço pessoal, ou da mera animosidade resultante do calor da polêmica.
Grande parte da obra de Coutinho, ou seja, da fase de combate aguerrido, não obstante seja escrita com a intenção polêmica, ficou muito mais concentrada na doutrinação da nova crítica, na demonstração de que, para a época, o mais coerente seria um desvio de rota da crítica brasileira, que, para Coutinho, teria que passar do amadorismo de lidar com o exame das obras literárias e passar para os novos postulados de uma crítica centrada nos elementos intrínsecos, na autonomia do produto da imaginação, em suma, num olhar para o texto literário, não mais subordinado aos elementos extrínsecos.
Quer dizer, reconhecer a literatura na sua natureza autotélica, ergocêntrica, poética, aristotélica, literatura como mímesis da lição aprendida com a Poética de Aristóteles que, para Coutinho, era fundamento de toda perquirição do fenômeno literário. Naquela conferência originalmente proferida em Salvador e, depois, publicada em opúsculo, com o título A crítica, ensinava Coutinho sem hermetismos de exposição, conforme era característico de seu estilo de escrita, seja na crítica, seja no ensaio, seja na condição de historiador, seja no artigo de jornal. Na simplicidade de apresentar considerações teóricas, Coutinho sintetiza os dois componentes essenciais dos princípios da nova crítica:
Os elementos extrínsecos são: - o meio, a raça, em que o autor nasceu, a geografia, o autor, enfim, a língua, uma série de elementos sem os quais não se pode fazer a obra de arte literária, nenhuma literatura pode existir, Mas esses elementos são comuns à obra de arte literária em geral, como às outras formas de vida. Qualquer forma de vida surge nesses elementos. Quer dizer: - as formas de trabalho, as formas de convivência, são todas fenômenos da vida que têm com a Literatura esses elementos comuns. Ao passo que na Literatura, na obra de arte, há elementos que são específicos da obra de arte, só ela os possui. É o que se chama os elementos intrínsecos, os elementos propriamente literários, os elementos estéticos, São, no romance, a técnica de narrar, a ordem da narrativa, uma série de elementos que são específicos: só o romance possui, só a obra de arte literária possui – nenhuma outra forma de vida possui esses elementos. Tanto assim é que esses elementos são específicos, são os elementos intrínsecos, os elementos estéticos, propriamente estéticos.[21] (itálicos do autor).
De resto, as reflexões de Coutinho quanto à explicitação dos elementos extrínsecos e intrínsecos, por ele largamente repisada, não se colocaram no Brasil de forma facilmente aceitas. Lembremos de que Antonio Candido, na obra Literatura e sociedade, [22] no capítulo inicial, de título “Crítica e sociologia,” discute, em chave de crítica estético-sociológica, mas muito distante de qualquer condicionamento operativo impressionista, as relações entre “aspectos” da realidade e da obra literária.
Em síntese traz à baila os conceitos que, em sentido geral, correspondem ao que Coutinho denomina elementos extrínsecos e intrínsecos. Candido chama-os externos e internos; os primeiros fariam parte da dimensão social; os segundos, da dimensão literária. Se levarmos para o que Coutinho define como unidade da obra literária, da lição do new criticism, ou da nova crítica, as divergências praticamente não existem.
Porém, Candido se comporta teoricamente diferente e, convocando os termos “texto” e “contexto,” advertia que, na época da escrita do seu ensaio, “.. a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas ...”[23] e que, com tal, a obra só seria entendida pela fusão do texto e contexto. Isso o leva, mais adiante, do mesmo parágrafo, a afirmar que o “externo” se torna” interno” As ponderações de Candido – convém salientar – são, nesta visão do ensaísta atrelada a uma “interpretação dialética.” No penúltimo parágrafo do seu ensaio, Candido acena para um possível diálogo com seu tempo cultural no domínio da crítica literária:
Outro perigo é que a preocupação do estudioso com a integridade e a autonomia da obra exacerbe, além dos limites cabíveis, o senso da função interna dos elementos, em detrimento dos aspectos históricos, - dimensão essencial para aprender o sentido do objeto estudado.[24]
Fato curioso também é constatar o quanto o tempo nos pode reservar de surpresa no que concerne aos estudos literários da pós-modernidade quando vemos a posição de Eduardo Faria Coutinho[25] discutindo questões relacionadas à criação, crítica e função do crítico em tempo de pós-modernidade, sobretudo quando ele retoma aspectos basilares da nova crítica que forma largamente investigados por Afrânio Coutinho. Referimo-nos aos elementos intrínsecos e extrínsecos
A posição de Eduardo F. Coutinho, compartilhando as ideias de outros estudiosos atuais, avança em abertura aos novos entendimentos do que seja a obra literária, principalmente porque repele o binarismo ou a dicotomia que ainda estavam presentes na nova crítica propugnada por Afrânio Coutinho e, ao contrário, se aproxima em parte daquilo que Antonio Candido já advogava no que tange aos elementos interno e externo, i.e., o externo se torna interno na medida em que”...desempenha um certo papel na constituição da estrutura da obra”[26] Em tal sentido, para Candido, o elemento externo não é “causa” nem é entendido como “significado.”[27] Candido, contudo, não torna suficientemente explícitos estes dois últimos termos.
O mais interessante ainda é que, conforme lembra Eduardo F. Coutinho, ensaísta no qual reconhecemos certas marcas intertextuais da crítica paterna, a crítica retoma o discurso da subjetividade, da importância novamente concedida à historicidade e passa a valorizar não os exclusivismos da crítica objetiva, volta-se agora para o papel do crítico como uma atividade criadora, dando mais liberdade ao crítico diante da singularidade de cada obra, que, por isso, requer formas de apreensão estética co-participativa com a obra literária:
Com a ampliação do leque de referenciais do discurso crítico e o regate de sua condição de historicidade, que veio a reconhecer que os padrões de avaliação estética sempre oscilaram de um contexto para o outro, tanto no tempo quanto no espaço, a Crítica volta, na segunda metade do século XX, a assumir explicitamente a sua subjetividade, mas sem deixar de admitir as marcas de objetividade presentes na obra,.Assim, o que passa a prevalecer na análise, interpretação e avaliação desta última é a relação que se estabelece entre o estudioso e o texto, e a célebre questão que inquieta o investigador quanto ao método a adotar em sua abordagem do fenômeno literário irá depender exatamente dessa relação.[28]
Eduardo Faria Coutinho, já no final do seu ensaio, ainda retoma a velha questão da chamada crítica criadora, tema que, para simplificarmos, remonta também ao impressionismo de Álvaro Lins, para quem a crítica literária seria uma atividade criadora, assim como seria um gênero literário. Afrânio Coutinho pensava diferente. Para ele, a crítica não era um genro literário, mas
(...) uma atividade reflexiva, intelectual, da natureza da ciência, adotando um método rigoroso, tanto quanto o das ciências, mas de acordo com a sua própria especificidade, o literário, a obra de arte literária. Não é uma atividade imaginativa, embora consinta no auxílio da imaginação.[29]
Todavia, Eduardo Faria Coutinho, de uma geração de críticos e ensaístas mais jovens, em novos tempos e perspectivas críticas, pensa, diferentemente do pai. Assume posições tias como as assumidas por estudiosos da segunda metade do século XX , os quais já veem a literatura sem os exclusivismos do New Criticism, em que a atividade crítica volta-se para o texto literário com uma leitura nitidamente flexível, uma leitura aberta, múltipla na escolha de abordagens, em chave crítica criativa, ou, como afirma Eduardo Coutinho, invocando a observação de Barthes, que vê o semiólogo como um artista, como uma “recriador da obra,” o “leitor-cúmplice’ de Julio Cortazar.[30]
Sobre a mesma questão dos elementos extrínsecos e intrínsecos, de que o New Criticism ou a nova crítica cuidavam fazer as necessárias diferenciações, Fábio Lucas[31] igualmente tratando desses fatores da obra literária, sustenta que o extrínseco possa ser “apresentado de forma intrínseca Ponderando que, estribado num estudo de Jacques Ehrmann “Les Structures de l’échange dans Cinna” (Les Temps Modernes, Nov. 1966), aduz Lucas que as “estruturas literária” (grifos do autor) apontavam para uma “realidade “exterior à obra, histórica e antropologicamente determinável”.[32]
Por outro lado, adverte Lucas que, nos estruturalismo a obra poética se apoia na separação entre “ sistema linguístico ( sistema semiótico primário) e linguagem literária (sistema semiótico secundário).” E ainda quatro níveis básicos de estruturação poética”: motivo, tem, imagem, e ritmo. Entretanto, acrescenta Lucas, se olharmos para o conceito de “motivo”, por exemplo, no juízo dele, vai possibilitar ao analista atingir o “exterior da obra, e, o que é mais, no campo poético.[33] .No final do ensaio, faz esta reflexão: “Assim, propostos os problemas acima, cremos ser possível mencionar os aspectos extrínsecos da obra literária sem sair do campo literário e sem arriscar o completo desdém dos que preferem a análise intrínseca.”[34]
Na crítica de Afrânio Coutinho, quando este estudioso compreendeu que deveríamos buscar uma forma independente de interpretar a literatura brasileira, neste sentido, empreendeu investigar, já desde o período colonial da história brasileira, aquele traço de nossa identidade que remonta, na tradição crítica brasileira, a Machado de Assis, com o seu “Instinto de Nacionalidade,” ou seja, o sentimento mais íntimo do caráter nacional da literatura brasileira, de que faz parte o conjunto de ideias chamado por Coutinho de “tradição afortunada.” Por certo já estava se delineando esse desvio de perspectiva, cuja tônica, a nosso ver, o fez, com o passar do anos de sua atividade crítica, distanciar-se de uma visão fortemente influenciada pela natureza imanente e a-histórica de certas vertentes do New Criticism. Daí suas preocupações com as questões por ele defendidas com veemência e rigor em textos sobre a língua brasileira, sobre uma crítica brasileira, sobre a educação brasileira, nos três níveis.de escolaridade.
A alteração epistemológica na crítica literária empreendida por Coutinho tem seu nível de aprofundamento nos estudos incansáveis que realizou na Universidade de Colúmbia, fato já referido por mais de uma vez neste estudo em virtude da pertinência que teve no percurso crítico de Coutinho.
Essa mudança de compreensão da obra literária, traço da objetividade do new criticism, como novidade no pensamento crítico nacional, em posição antagônica ao subjetivismo anatoleano, sainte-beuveano, a todo tradicionalismo crítico taineano, evolucionista, decimononista do século XIX, é fruto do que Coutinho costumava chamar de scholarship, base do conhecimento erudito da tradição combinada com os avanços dos estudos literários dos tempos modernos naquilo que já ofereciam os centros europeus de alta cultura e as grandes universidades americanas.
Toda essa disponibilidade advinha do que Coutinho defendia como a ruptura de uma crítica que já estava sendo superada nos grandes centros mundiais. E não pensemos que, nos Estados Unidos, a mudança entre a velha crítica tradicional foi uma operação fácil. Lá, assim como no Brasil, houve escaramuças de críticos que cerraram fileiras contra o new criticism O próprio T.S. Eliot foi vítima de incompreensões na aplicação e na divulgação do New Criticism. Eis o que Coutinho informa a respeito da resistência de autores americanos ao New Criticism:
Em toda parte, a reação contra a nova crítica mobiliza precisamente os corifeus do impressionismo, seja na as forma legítima, seja nos seus descendentes, os comentaristas do ‘review,’ que a isso reduzem a crítica, como um J. Donald Adams, com o seu quartel-general estabelecido no importantíssimo suplemento do New York Times, e de onde saíram talvez as mais venenosas flechadas às novas tendências da crítica. Apoiados em pontos de vista que tais do liberalismo crítico tradicional ou então do historicismo é que se têm levantado contra a nova crítica um R. Hillier, um Douglas Bush, um Karl Shapiro, e diversos outros. Não faltam adversários em todos os centros intelectuais. Os Estados Unidos são a fortaleza do conservadorismo e da reação no particular.[35]
Daí a razão de, em artigos doutrinários, propugnar pela renovação crítica não como mera subserviência à Europa e aos Estados Unidos, mas como necessidade urgente dos novos tempos que se iniciavam no pais no âmbito dos estudos literários e na práxis da crítica e do ensaio, assim como na conveniência de implantar outras disciplinas importantes no meio universitário, como a teoria literária, a literatura comparada, a história literária e, num estágio mais adiantado, da ciência da literatura.
Por outro lado, os ataques contra suas ideias de renovação foram igualmente veementes e duros. Por serem julgados formalistas os princípios da nova crítica, priorizando o exame da obra literária nos seus aspectos intrínsecos , formais e relegando a segundo plano os elementos extra-literários, os opositores se puseram frontalmente hostis como foi o exemplo do crítico e tradutor Antônio Houaiss ao enxergar na pregação de Coutinho algo equivalente à “castração” da literatura e do ...Brasil.”[36] Veja-se aí até que ponto, em dado momento histórico, pode ser levado um intelectual de reconhecida competência a assertivas não bem fundamentadas quanto aos objetivos da campanha de Coutinho para ver aplicadas no país as suas ideias de renovação crítica.
Nos quatros livros mencionados, ou seja, Correntes cruzadas, No hospital das letras, Da crítica e da nova crítica e Crítica & críticos estão consubstanciadas as principais discordâncias de Coutinho quanto ao que no país lhe parecia uma vida intelectual já envelhecida, estagnada e, portanto, carecendo de um novo alento, reformador, de”uma limpeza do terreno,” enfim, de uma modernização tanto da vida literária em franca deterioração moral e de ausência, muitas vezes, de qualidade estética de sua produção literária, quanto da crítica que, na maior parte de seus praticantes, estava presa ao que David Daiches denominou “o borbulhar romântico.”[37]
Cumpria, por isso, a Coutinho lutar pelas transformações e para dois ambientes iria lançar suas setas de reação: contra o que chamou de “comédia da vida literária e contra o impressionismo exercido sobretudo nos rodapés de jornais. O primeiro já comentamos neste estudo; o segundo, detalharemos agora.
É preciso elucidar um fato relevante. Coutinho aprofundava o seu proselitismo da nova crítica expondo nas citadas obras polêmicas o que veio a ser a nova corrente crítica que, nos seus fundamentos mais decisivos, não se diferenciava das lições aprendidas nos Estados Unidos e, de regresso ao país, na continuidade de seus estudos e investigações dos métodos e aplicações que deveriam nortear os adeptos representados pelas gerações de críticos com formação, em geral, oriunda dos cursos de Letras, realizados no país, ou, ainda e alguns casos, no exterior, como foram os exemplos de Eduardo Portela, Mário Faustino e, mais próximos de nós, Luiz Costa Lima, Silviano Santiago, Roberto Schwarz, José Guilherme Merquior, entre outros.
Largamente familiarizado com os principais críticos do new criticism anglo-americano, acompanhando, passo a passo, os lançamentos de novos estudos e revistas aparecidas nos países sobretudo de língua inglesa, Coutinho, no batente semanal do Diário de Notícias do Rio de Janeiro, pelo menos durante duas décadas, foi a liderança maior da nova crítica considerada em suas diferentes vertentes de métodos, porém todas mostrando-se eficazes na prática crítica e na teoria crítica de tal sorte que, em termos gerais, estavam bem distante do impressionismo.
O que, todavia, unia as novas gerações de críticos, a despeito de divergências de abordagens teóricas, era o fato já tão lucidamente anunciado por Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde): “O novo elemento é o estilo, a forma, de modo que é, afinal, na linguagem, no estudo da linguagem como síntese e finalidade de toda obra literária que se concentra a crítica formalista.” [38]
Naturalmente, os ataques de Coutinho contra os críticos de rodapé e em defesa da nova crítica receberam também o revide dos adversários em várias instâncias exegéticas. Coutinho fora tachado de americanófilo, de inimigo dos rodapés, de que da nova crítica fazia um abordagem levando em conta apenas a dimensão formalista com base na unicidade do objeto literário.Por outro lado, na sequência de seus artigos em jornal e, depois, coligidos nos naqueles quatro livros já citados, frutos de sua doutrinação crítica, procurou rebater os adversários e o fez com a convicção de que as censuras que se lhe imputaram não resistiriam ao seu programa de renovação:
Um primeiro equívoco é pensar na nova crítica em termos de unidade. Não há dúvida que a nova crítica possui um caráter de movimento geral de intenção renovadora no que respeita aos estudos literários do presente e do passado. Há inúmeros postulado comuns, como a reação anti-historicista e anti-biográfica.[39]
Grande parte de sua defesa se insere em alguns estudos mais amadurecidos da Crítica e da nova crítica e da Crítica & críticos..É curioso notar que, não obstante tratar de temas semelhantes e, por isso, mostrar-se redundante, essa forma de voltar aos temas já repisados e em círculos se exprime, de obra para obra, com mais verticalidade, vigor argumentativo, concisão estilística e, o que é mais sintomático e positivo, com uma sede constante de ser um scholar atualizado nas questões atinentes à Literatura, à Educação e à Universidade.
Por exemplo, em obras como Universidade, instituição crítica (1977), O processo da descolonização (1983) e Impertinências (1990), ali está o velho crítico atento, rejuvenescido intelectualmente, ainda disposto a discutir temas que lhe foram sempre muito caros como a literatura brasileira, a nova crítica, a literatura comparada, o ensino de Letras, a crítica literária, o problema da “língua brasileira”, a educação, sendo de destacar na obra Impertinências, acima-citada, numa espécie de síntese autobiográfica intelectual, intitulada “Crítica de mim mesmo” – admirável relato, depoimento pleno de sinceridade e emoção de um vida de escritor que nunca hesitou na opção que fez na vida de ser o que foi, um crítico, um historiador, um pesquisador pertinaz dos estudos literários e sobretudo da literatura brasileira.
Espécie da “Itinerário de Pasárgada,” esse depoimento abarca toda uma vida de lutas, sacrifícios e de conquistas, de incompreensões, mas também de adesões às suas ideias e às suas concepções no domínio da crítica literária e da renovação dos estudos de Letras no país. Se algumas de suas ideias e conceitos sobre a arte literária podem ser controversos e discutíveis, isso faz parte do debate elevado do conhecimento humano de todas as épocas da História e da Cultura. Sem nenhuma intenção nossa de fazer trocadilho, esse depoimento que trata da formação intelectual de Coutinho passa a ser tanto um documento quanto um monumento na história do pensamento crítico nacional. Para ilustrar, vejamos uma passagem desse texto:
Como observou Eduardo Portela, o título deste livro é uma definição do espírito contestatório e revisionista do autor na área literária. Constitui, para o grande crítico, um fiel retrato de seu temperamento, sua vida e atuação intelectual, assim como da família espiritual a que pertence, bem representados nestas páginas, espécie de autobiografia intelectual.[40] ((grifos nossos)
Nas obras Crítica e da nova crítica e Da crítica & críticos, Coutinho não propugnava por uma nova crítica dissociada por inteiro dos elementos extrínsecos. O que advoga é o grau de importância que cabe ao crítico atribuir no estudo de uma obra literária., ou seja, na nova crítica os valores intrínsecos, estéticos se sobrepõem aos extrínsecos. Os últimos são apenas complementares, mas não deixam de fazer parte, da “unicidade da obra literária,” para empregarmos uma expressão de Coutinho.” O trecho seguinte explicita melhor esse tópico:
A questão é de ênfase [a crítica oitocentista, genética, historicista, extrínseca]: enquanto uma colocava a mira sobre os fatores circunstantes e ambientais, o foco de interesse da nova é o núcleo intrínseco do fato literário. A primeira era histórica, a atual é estética. Um ponto e, todavia, fundamental n a as compreensão: a nova crítica não isola o fato literário como um bólide no espaço, mas o encara nas suas relações com os outros fatos da vida, sem contudo sacrificar o que deve ser o ponto precípuo da análise crítica, isto e, o núcleo intrínseco.[41]
À vista disso, Coutinho não concebe o produto da imaginação, o poético, como um constructo que nasce por geração espontânea. Vida e arte se completam e, neste ponto, ele se afasta de qualquer dogmatismo ou radicalismo, mesmo vindo de alguma vertente da nova crítica, que renegue componentes culturais, históricos, sociológicos, psicológicos. Por isso, toda contribuição que venha subsidiar a compreensão da análise e julgamento de valor em literatura não se pode negligenciar.
Na defesa e propagação da Nova Crítica teve sempre em vista que ela não representava uma corrente do pensamento crítico isoladamente, um mero monopólio doutrinário e teórico de procedência anglo-americana. Para Coutinho, a nova crítica fazia parte de um vasto movimento diversificado e universal que ia se espraiando pelo Ocidente. Demos a palavra a Coutinho: ”O movimento [da Nova Crítica] é, portanto, internacional, não depende de nacionalidade nem culturas regionais, em que pesem às contribuições locais, diferentes em aspectos, mas de mesmo propósitos gerais.”[42]
Urge reafirmar uma ponderação diante de movimentos do pensamento crítico daquela época: não só nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Europa em geral, a reação a correntes críticas antecessoras em todos os tempos da arte literária, e possivelmente de todas as artes em geral, só se tornaram vitoriosas após muita resistências e controvérsias, e até mesmo de resistências que teimam em se mostrar monolíticas ainda que tenham sido ultrapassadas por novas tendências, o que levou o teórico René Wellek a essas observações digna de atenção no tumultuado e multiforme domínio da crítica literária do século XX:
Naturalmente, mesmo hoje muita crítica que não é nova: estamos cercados de sobrevivências, de sobras, de regressões a velhas fases a história da crítica. (...) Em todos os país há escritores, e muitas vezes bons escritores, que praticam esses métodos característicos da crítica do século XIX: apreciação impressionista, explanação histórica e comparação realista.(...) As novas tendências da crítica, sem dúvida, têm também raízes o passado, não são sem antecedentes e não são absolutamente originais.[43]
Por conseguinte, julgamos serem as correntes críticas realidades culturais que se distinguem por durações provisórias, as quais, com o passar do tempo e de novos aportes resultantes de pesquisas e investigações mais avançadas, são surpreendidas por outras tendências e estas, por sua vez, vão reagir contra uma outra, numa espécie de dinamismo multiplicador de visões e métodos diferentes. Umas e outras podem permanecer vivas por muito tempo e concomitantes, mas decerto um dia serão superadas.
É pensando nessa tendência à multiplicidade de movimentos do pensamento crítico que nos vem à mente aquela declaração de Wellek em tom de censura e exaustão a propósito de certo desvirtuamento dos objetivos inerentes à crítica literária:
A cada instante a crítica recente desliza para psicologia, a sociologia, a filosofia e a teologia. Somente aquelas que aderem à tradição idealista alemã na versão kantiana ou coleridgiana, ou aquelas que redescobrem Aristóteles, ainda têm uma compreensão da natureza da arte e reconhecem a necessidade de uma estética e o ideal do estudo da literatura como literatura.[44]
5.2 A SEGUNDA FASE: AÇÃO CONSTRUTIVA E VITÓRIA SOBRE O IMPRESSIONISMO
Ao introduzir os princípios da nova crítica, Coutinho revelou-se um estudioso dessa questão não com uma atitude de querer importar ou transplantar um approach crítico por mera vaidade ou pretensão de superioridade de conhecimentos hauridos fora do pais. Ele tinha metas a serem cumpridas em dois passos, na renovação da cultura literária brasileira, com o objetivo de demolir o status quo do impressionismo crítico, que, então, ainda estava em alta, com também reformular drasticamente o ensino de literatura, os padrões vigentes, ou melhor, a falta de padrões de orientação no ensino de literatura brasileira e portuguesa.
Recorde-se que, pelo país afora, o ensino de literatura brasileira, portuguesa e mesmo de língua portuguesa, era improvisado, obsoleto, tanto no curso secundário o quanto, depois, com o surgimento dos curso de Letras. Havia programas oficiais, portarias, recomendações etc, mas faltava a um professorado a didática do ensino, metodologias, enfim, faltava o essencial, a formação de professores naquelas áreas. Por exemplo, no estudo de literatura, as aulas eram apenas expositivas, sem haver a necessária aplicação de trabalhos de análise literária, de rudimentos de teoria literária.
O que imperava era o domínio de professores não preparados profissionalmente para se dedicarem a aulas bem desenvolvida, criativas e atualizadas. Muitas vezes, o corpo docente dos curso secundários eram constituídos de professores formados em outras áreas. Portanto, eram amadoristas, autodidatas, se bem que deles havia muito talentosos, cultos, sobretudo nos centros mais atrasado do país, onde os curso de Letras surgiram com muito atraso se comparados às grandes capitais.
Coutinho tinha, de volta ao país, seguramente refletido sobre tudo isso. Ele próprio tinha sido vítima das deficiências: “Inconformado cm as deficiências da sua formação intelectual, na terra natal, a Bahia, procurou o autor aperfeiçoar-se nos Estados Unidos” (...), consoante confessa no texto “Crítica de mim mesmo.” [45]
Foi pensando nessas carências todas que ele estava determinado em modernizar, atualizar os fundamentos de nosso ensino secundário e universitário. Foi o que fez, e isso lhe é uma marca de desbravador, de atitude pioneira de nossos estudos literários, da pedagogia da literatura.
Ele bem sabia que a nova abordagem nos estudos literários seria útil e necessária, mas também tinha convicção de que haveria que flexibilizar o método importado, adaptando-o às condições de nosso meio literário, de uma país com grandes diferenças de mentalidade, por exemplo, em relação aos Estados Unidos e à Europa. O texto sofreria ajustes do contexto histórico, com outros condicionantes em vista. O seu desiderato de avançar em certas questões de real valor para os estudos de literatura brasileira, com o tempo e o amadurecimento e, com o background de conhecimentos adquiridos em universidades americanas, abriu- lhe mais a mente no que tange ao que poderia concretizar no país no campo da investigação e da pesquisa, para época, de ponta.
Daí haver se aprofundado nos estudos do Barroco alicerçado pelos estudos de Wöfflin, e, como ele próprio diz no seu “Crítica de mim mesmo, ” “... procedeu a uma revisão da literatura seiscentista, erradamente chamada ‘clássica’, aplicando o conceito à reinterpretação das figuras brasileiras dos séculos XVI a XVIII ...” Foi, assim, a partir dos seus estudos do barroco, que percebeu o “caráter” barroco da “alma brasileira” - um traço específico que repercutia em diferentes manifestações culturais: artes plásticas e visuais, na música, na literatura, nas festas populares, nos costumes.
As pesquisas do Barroco lhe renderam uma tese, Aspectos da literatura barroca, depois, publicada em livro. O que havia investigado sobre o barroco, que lhe deu uma nova perspectiva histórica de compreensão da literatura brasileira, o fez pensar em delinear uma nova história da literatura brasileira, que resultaria na sua conhecida obra, A literatura no Brasil, idealizada e planejada a partir de 1951, portentoso trabalho coletivo por ele organizado. Esta obra, fundamental à bibliografia da literatura brasileira, teve seu primeiro volume editado em 1955, e seu último volume, em 1959, perfazendo seis volumes.
A literatura no Brasil, até o ano de 2004, editada pela Global, de São Paulo, já contava com sete edições.[46] Obra ambiciosa empreendida por uma equipe de especialistas, mobilizando uns 50 colaboradores de diversas orientações críticas Obedecia a uma orientação escrupulosa de Coutinho, que determinou a cada colaborador um estudo, na medida do possível, sem fugir ao critério estético... Vejamos como Afrânio Coutinho explica os princípios a que a equipe deveria se ater tanto quanto possível na elaboração de cada ensaio:
Em comparação com obras anteriores do gênero, ressalta a olhos vistos a novidade de seu plano e de sua base conceitual, tal como se indica na introdução geral devida ao seu organizador e diretor: um princípio diretor de natureza estética que é o conceito estético ou poético da literatura, literatura concebida como arte, a arte da palavra, produto da imaginação criadora, com valor e finalidade em si mesma, dotada de composição específica e elementos intrínsecos (...).[47]
Para cada volume Coutinho preparou uma introdução As “introduções,” criteriosamente preparadas, entusiasmaram tanto o crítico e pensador Tristão de Ataíde que, com justiça, as considerou um feito grandioso, um “epoch making” na história editorial brasileira.[48]
A reunião dessas introduções resultaram numa outra obra grandiosa até hoje, que é a Introdução à literatura brasileira. Esta obra mereceu uma tradução para o inglês a cargo de Gregory Rabassa e foi publicada pelo Institute of Latin American Studies, Columbia University, Press, New York & London, 1969, assim como foi também traduzida para o espanhol, segundo informa Eduardo F. Coutinho[49]. Obra de grandes méritos, representa, junto com Aspectos da literatura barroca e A tradição afortunada, em nosso juízo, as três melhores obras de Coutinho.Até hoje, nenhum outro historiador brasileiro conseguiu, como o fez Coutinho, preparar uma bibliografia tão magnífica quanto à da Introdução da literatura brasileira. As três obras citadas confirmam, pelo menos para o autor deste trabalho, o mais alto nível de amadurecimento do autor tanto ao nível de escrita quanto de seriedade e consciência de realização literária e de pesquisa acadêmica.
Outras pesquisas ocuparam a mente de Coutinho, com a questão do nacionalismo na literatura brasileira, da qual resultou a obra A tradição afortunada que da crítica abalizada de Fábio Lucas recebeu o seguinte comentário num ensaio sobre a crítica moderna:
A esse propósito, o mais minudente estudo da independência literária brasileira pode ser encontrado no livro A tradição afortunada ((Rio, 1968) de Afrânio Coutinho, fruto de pesquisa metódica e de obstinada campanha intelectual. Tal volume de informações ali contidas e de ideias necessariamente polêmicas que merece análise à parte. O objeto do autor foi essencialmente valorizar a civilização brasileira, fixar um tema e uma posição para a historiografia literária nacional, de modo especial, dar realce à contribuição, a esses mesmos fins, prestada pela nossa crítica do século XIX[50].
Alguns autores, porém, veem nesta obra, apesar de não lhe negarem o grande valor, uma contradição de Coutinho, por se mostrar um defensor da nova crítica e empreender um trabalho nitidamente historicista.
Acontece, que, à altura da publicação dessa obra, Coutinho percebeu que o melhor caminho de abordar o tema seria pelo viés historicista, de vez que a historiografia aplicada ao tema do nacionalismo estaria dentro de uma perspectiva, não mais submissa à historiografia caudatária da portuguesa e de seus seguidores brasileiros, como um Varnhagem, adepto de uma historiografia oficial submissa culturalmente a Portugal. Varnahagen deixou discípulos que lhe seguiram a orientação de caráter colonial. Não haveria, pois, a contradição alegada porque Coutinho tinha uma visão arejada, não monista, sobretudo na fase da preparação de A tradição afortunada:
O estudo da literatura tem deve ser feito de maneira global, através de um caleidoscópio, por todos os ângulos. Nenhuma obra é igual a outra, por isso exigem-se métodos de abordagem diferentes, de acordo com essa peculiaridade, É a morte dos monismos, que só veem a literatura por um aspecto, julgado o principal. E não há em literatura aspecto principal. Todos são válidos e importantes.[51]
De outra parte, Fábio Lucas, ainda se reportando à obra A tradição afortunada, e ao discutir a questão dos elementos extrínsecos da obra literária, nota com argúcia que tais elementos, que chama também de exógenos, não podem ser descartados da crítica literária ainda daquela crítica, segundo ele,”.. mais obstinadamente tributária do close reading.[52]
Tal posição desse crítico é indicativa de uma visão partilhada com o pensamento crítico de Coutinho e às opção deste pela abordagem adotada na escrita de A tradição afortunda. Lucas nega que Coutinho tenha se afastado de sua crítica de base estética e do princípio de autonomia da obra literária. Em outras palavras, não vê no desenvolvimento da exposição historicista de Coutinho uma “.. ruptura do seu autor com o se passado de defensor da ‘nova crítica’, nem sequer uma concessão,”[53]
Para Lucas, Coutinho expressa sem temores um compromisso com o sentimento de defesa da ideias de nacionalismo de afirmação da autonomia da literatura brasileira, num ensaio, segundo Lucas, realizado pelo critério periodológico, uma concepção de historiografia literária que Coutinho já vinha utilizando desde os seus estudos do Barroco, da publicação de Introdução à literatura brasileira (1959) e se estendendo – acrescentaríamos à obra O processo da descolonização literária (1983)[54]
Da mesma maneira, cremos que esse “processo de descolonização” tenha também levado Coutinho às reflexões acerca da questão do conceito de “língua brasileira” uma vez que o foco de interesse de suas pesquisas sobre a “identidade nacional” como forma de ruptura de nossa forma de comunicação escrita e oral em relação à Metrópole portuguesa. a partir desse conjunto de posições afirmativas de quebra de submissão a Portugal, literária, linguística e politicamente considerada, é possível que sejam os móveis que levaram Coutinho a cada vez mais se concentrar em temas e propostas teóricas enfatizando formas de pensar nossos problemas culturais por um ângulo especificamente brasileiro, mas sem isolamentos com as culturas adiantadas do mundo.
Daí vermos sair de sua pena artigos, segundo sobre isso fizemos referência anteriormente neste estudo, bem indicadores dessa posição nova e amadurecida, entre outros artigos de temas correlatos, os seguintes : “Por uma crítica brasileira,” “Que é língua brasileira?,” “Por uma filologia brasileira,” todos inseridos na obra Impertinências.[55] Outros dois temas que lhe absorveram a atenção foi o de periodização literária e o problema da “língua brasileira, este último bastante discutível. Até hoje, pelo que temos notícia, ainda permanece indefinido e não resolvido. Vejamos, em síntese, cada um.
O tema da periodização foi um avanço nos estudos literários e, em particular, na historiografia brasileira. Coutinho há muito vinha refletindo sobre ele, assim como havia assimilado lições de René Wellek e Helmut Hatzfeld, quando da sua permanência na América do Norte. O velho esquema empregado por historiadores brasileiros pautavam-se por formas cronológicas de enquadramento de escolas literárias, ou por divisões meramente historicistas, como o fez José Veríssimo e outros.
Data essa preocupação concernente à divisão de períodos tanto da história geral quanto da literária dos tempos em que ainda estava em Salvador e lecionava história. Aplicou o conceito de periodização à sua obra Introdução à literatura brasileira. Substituiu o historicismo das cronologias ou conceitos de ordem político-histórica que vigoraram no país por muito tempo por concepções ligadas à estilística. Na obra Introdução à literatura brasileira, dedica, no texto “Introdução Geral,” setenta e cinco páginas discutindo minuciosamente problemas de alta relevância aos estudos de historiografia literária.[56]
É um vasto e admirável painel, no qual o autor nos transporta para dentro do espaço do fenômeno literário visto em toda a sua complexidade e em todos os seus objetivos de realizar um história literária atualizada, que ressalta, a par da organização e metodologia que presidiu à escrita da obra Introdução à literatura brasileira, discutindo tópicos de profunda significação aos estudos literários e culturais em geral, tais como a “Questão da História Literária”, “As Soluções Brasileiras”, a “Periodização,” “Definições e Caracteres da Literatura Brasileira”, “Influências Estrangeiras,””Conceitos e Plano Geral da Obra.”
Os diversos períodos de estilos literários brasileiros, estudados não pelo desenvolvimento historicista, mas pela compreensão dos estilos que se formam na universalidade dos fenômenos literários, nas mudanças de um estilo individual ou estilo de época.
A periodização - ponto crucial das preocupações teóricas de Coutinho - desde os tempos da mocidade, tem, enfim, com objetivo agrupar traços de uma forma literária não subordinada à mera datação do surgimento de um escritor, mas procura reunir traços específicos de linguagem e de ideias, de formas de escrita, de campos culturais diversos e sem marcas de preconceitos com a alta cultura e a cultura popular que, independentemente da tradição cronológica, podem identificar escritores de tempos históricos diversos com as mesmas características e a mesma visão da vida e da literatura.
Ou seja, não vê divididas ou estanques as formas literárias, os gêneros, que podem ultrapassar épocas posteriores da História.. E, assim, ficam tipificados nessa história literária os seguintes estilos: Barroco, Neoclassicismo, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Impressionismo e Modernismo. A sua proposta de história literária atinge duas faces que se completam: a literária sob o primado da estética e da autonomia da criação artista e a crítica literária que lhe corresponde.
O problema da “língua a brasileira,” que tem suas raízes nas discussões de José de Alencar, no Romantismo, depois, no Modernismo, com Mário de Andrade, e ocupou a atenção de filólogos e escritores e, desde então, tem sido objeto de reflexões de críticos brasileiros, como o próprio Álvaro Lins, o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, o linguista e filólogo Sílvio Elia e, entre outros, Afrânio Coutinho que, em diversos artigos, sempre retornava a discuti-lo e formulava a sua defesa com muita tenacidade. Propunha, igualmente, a designação de “língua brasileira” para diferenciar-se da língua portuguesa do além-mar.
Esta vexata quaestio permanece ainda sem solução. Em nosso entender, a questão não oferece tanta bulha e é na língua inglesa que, em princípio, vemos uma maneira de contornar o problema, i.e.,. no inglês costuma-se fazer a distinção terminológica de forma prátca: inglês britânico e inglês americano. Esta lingua franca, instrumento internacional há tanto tempo, que saibamos, não tem provocado tanta celeuma.
As diferenças básicas fonéticas, ortográficas e de vocabulário, em que este último apresenta palavras diferentes para significações iguais, ou de idiomatismos para os quais o inglês oferece uma riqueza impressionante, além das gírias que se multiplicam com alguma rapidez, até agora não provocaram tantas discussões acaloradas. Talvez aqui se possa falar de um caráter democrático da língua inglesa que o português não possui.
Cremos que os argumentos de Coutinho sejam mais motivados por implicações do uso culto oral e escrito da língua portuguesa, e especificamente, do estilo de linguagem de alguns escritores brasileiros contemporâneos que não fazem distinção entre a linguagem da ficção ou da poesia no que tange à oralidade, da “estilização” da língua para efeitos estético-literários. Isso se pode ver em escritores como Guimarães Rosa, João Antônio, por exemplo.[57]
Outra tarefa, na área da literatura brasileira, que mereceu um atenção especial de Coutinho foi no campo editorial, um verdadeiro legado à posteridade a ponto de um escritor e ex-professor da Faculdade de Letras da UFRJ, Samuel Rogel, haver dito, certa vez, numa crônica, que Afrânio Coutinho tinha sido um dos mestres brasileiros que praticamente mais reservou energias intelectuais de incansável pesquisador, publicando obras de autores de indiscutível valor para as letras brasileiras, como, entre os críticos, Araripe Júnior, Capistrano de Abreu; na ficção, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Raul Pompeia, Afrânio Peixoto, e, como organizador da Coleção “Fortuna Crítica,” conseguiu publicar os seus cinco primeiros volumes tendo como autores: Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Cassiano Ricardo, Cruz e Sousa e Manuel Bandeira.
As introduções de edições de obras formam uma vasta produção sua de natureza crítico-ensaística digna de ser reunida em volumes de crítica, porquanto tivemos a oportunidade de ler muitos desses textos e confirmar a importância que especialistas e críticos deveriam dar a essas introduções, estudos críticos da melhor qualidade. Para finalizarmos considerações sobre a sua produção literária, queremos salientar uma obra coletiva organizada por Coutinho e J. Galante de Sousa - Enciclopédia de literatura brasileira - de inegáveis méritos e de consulta obrigatória como já dissemos em trabalho de nossa autoria[58]
O lado polêmico enfrentado por Coutinho, no plano da reação contra o impressionismo – diga-se melhor, contra o mau impressionismo -, ficara para trás, não obstante esse traço forte e combativo lhe fosse inerente à personalidade de intelectual.
Agora, seria tempo de Coutinho se colocar como um crítico, ensaísta e historiador, ainda com tempo bastante disponível às realizações que combinariam a cátedra universitária, as publicações de obras e a sua intensa e contínua participação como educador – no caso dele como pedagogo da literatura na universidade - estudioso do ensino e da educação superior, sempre, porém, com aquele rigor crítico e espírito combativo..
Coutinho, já no final das décadas de 1970, 1980, aproximadamente, compreendia que a situação da crítica literária brasileira tomava outro rumo em direção ao que propugnara por, pelo menos, durante duas décadas. Todo o esforço praticamente tinha sido benéfico, pois os cursos de Letras já funcionavam plenamente.
A crítica transferiu-se do rodapé para a cátedra, revistas especializadas e livros, não se falando da mudanças operada na mentalidade dos professores universitários que mobilizaram seu aparato teórico assente em métodos críticos de diversas linhas do pensamento estético linguístico, filológico, cujos desbravadores no Rio de Janeiro foram, para citar apenas, entre outras figuras ilustres, alguns nomes de destaque: Tristão de Ataíde (literatura brasileira), Joaquim Mattoso Câmara Jr. (linguística), Augusto Meyer (teoria literária) Eduardo Portella (teoria literária), Celso Cunha (filologia), Sílvio Elia (linguística), Ernesto Faria( latim, filologia), Gladstone Chaves de Melo (filologia), Cleonice Bernardinelli (literatura portuguesa), Roberto Alvim Correia ( literatura francesa, ensaísta)e Afrânio Coutinho (literatura brasileira, história literária, crítica literária).
O jornalismo literário abrigava, agora, não mais os “massudos” artigos de rodapés dos anos de 1940 e 1950. Modernizou-se acompanhando os novos tempos de pressa, objetividade e impessoalidade nas matérias publicadas em jornais, em geral, dirigidos, nas seções sobre literatura (os suplementos literários), por editores-chefes que passaram a ser jornalistas profissionais, alguns formados em Letras, e até com graus de mestres e doutores, com esquema de equipes, agendas, contatos internacionais, reportagens, artigos encomendados e aprovados, ou não, pelos editores e com intenso intercâmbio nacional e internacional, junto a editoras e a complexas engrenagens de caráter comercial-editorial.
Coutinho, nesses tempos mais próximos do final do século passado, encontrava-se ainda na atividade docente e de pesquisador, num período da vida universitária intenso, já havia se tornado um nome acatado no seu papel de educador, de pedagogo do ensino de Letras. Talvez não mais lhe interessassem as canseiras das polêmicas.
O que pretendia mesmo era devotar-se ao magistério, publicar mais livros e orientar gerações que lhe pudessem dar continuidade àquilo em que antes se empenhara: manter o nível de seriedade nos estudos superiores de Letras, manter atualizado o ensino de Letras, o currículo dessa área e, ainda mais, não permitindo que a universidade se isolasse do contato permanente com os grandes centros europeus e norte-americanos. Essa posição não poderia ser acoimada de submissão colonialista, mas, ao contrário, o conhecimento daquela época, como o da contemporaneidade, ainda mais exigente se tornava no que tange à necessidade da inter-comunicação entre culturas.
É certo que enfrentara muitas barreiras, sobretudo ideológicas que não viam com bons olhos os caminhos que, na crítica literária e nos curso de Letras, se estavam abrindo e, por isso, atacaram o que Nelson Werneck Sodré chamou de “formalismo” do neocritcismo em nosso estudos de Letras, Os adversários não viam estas inovações com bons olhos e julgaram que deformariam a crítica literária, por verem nelas a dissociação entre a obra literária e a realidade, ou seja, por entenderem que o formalismo crítico destruiria os valores humanos e estéticos da Literatura.
Formariam, segundo ele, mentalidades elitistas, “ ...de pretenso cientificismo,” numa escolástica que [a crítica] distancia cada vez mais do juízo popular.” [59] Entretanto, a insatisfação e o repúdio de alguns estudiosos mais antigos se deviam ao receio de transformar-se a crítica brasileira numa espécie de desumanização da Arte por julgar o fenômeno literário apenas como veículo a serviço da linguística e do estruturalismo.
É evidente que a nova crítica, ou melhor, as novas formas de abordagem da obra literária não trariam só embaraços e confusões para os jovens estudantes de Letras. Ate hoje, há professores que ainda têm certo ódio a obras que foram obrigado a ler na época do surgimento do estruturalismo. Porém, isso se deveu, em nosso juízo, a maneiras errôneas de professores não suficientemente preparados a fazerem exposições em aulas sobre o que nem eles mesmo dominavam bem. E isso acontecia mais na área da linguística.
Todavia, isso não foi por culpa da Nova Crítica, cujos princípios não se limitavam a ver na obra literária só a dimensão da autonomia. Coutinho cansou de afirmar esse fato durante anos de sua doutrinação da mesma forma que o foi para muitos críticos do new criticism americano ou inglês.[60]
Por esses motivos, não hesitaram em asseverar que alguns críticos hostis ao formalismo crítico, se apostaram no insucesso doa nova crítica, não tiveram sucesso. Não se quer significar com isso nenhuma adesão cega a alguns defeitos e deformações tanto no ensino de Letras quanto por vezes nos excessos cientificistas trazidos mormente a partir do Estruturalismo.
Linhas atrás aludimos à monumental A literatura no Brasil. A realização dessa obra em seis volume e, até o ano de 2004, na edição da Global, de São Paulo, já contava com sete edições.[61] A realização dessa obra coletiva obedecia a uma orientação escrupulosa de Coutinho, que determinou a cada ensaísta elaborar um estudo, na medida do possível, sem fugir a uma abordagem estética Como é natural, envolvendo diferentes críticos e ensaístas que professavam abordagens variadas mas dentro de um sistema de corpus de valores estéticos e exegéticos modernos, era de se esperar que, no conjunto, aquela obra de equipe não resultasse perfeita em todos os aspectos.
Contudo, foi o que de melhor Coutinho poderia ter escolhido como colaboradores. Lida por gerações de estudantes, professores e pesquisador de Letras, A literatura no Brasil sofreu críticas de Wilson Martins que, a bem da verdade, também lhe dirigiu elogios. Martins, velho crítico e historiador, com experiência docente no exterior, Universidade de Nova Iorque, implicou até com o título da obra de Coutinho; no entanto, contraditoriamente, foi a essa obra de Coutinho que destinou a mais demorada análise, o que, em nossa opinião, foi uma forma de nela reconhecer muitos méritos.[62]
Nos anos de 1960, Coutinho intensificou sua obra de educador numa missão especial que a si tomou, que foi a de organizar e elevar o nível de estrutura da vida acadêmica universitária. Neste ponto, seu esforço foi igualmente notável Conseguiu desmembrar, em 1968, o curso de Letras da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio e Janeiro UFRJ), com a ajuda dos professores Celso Cunha, Thiers Martins Moreira e outros professores, conforme declarou Eduardo Coutinho, filho de Afrânio, em palestra por ocasião de uma homenagem comemorativa ao centenário de nascimento de Afrânio Coutinho, prestada ao velho crítico no Instituto de Letras da UERJ, através de seu Departamento de Letras.
O desmembramento do curso de Letras da Faculdade de Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e, como dissemos acima, da sua consequente transformação na Faculdade de Letras da UFRJ foi uma iniciativa pioneira no ensino de Letras do Rio de Janeiro, digno de ser imitado por outras cursos de Letras ainda agregados ao conjunto de cursos reunidos no mesmo espaço geral de uma universidade.
Em suas muitas viagens ao exterior (Estados Unidos, Alemanha, França), países nos quais também foi professor visitante, Coutinho examinou minuciosamente as estruturas burocráticas e curriculares de cursos de humanidades que, naqueles países, constituíram suas Faculdade de Letras e que tiveram forte influência nas modificações que imprimiria à Faculdade de Letras da UFRJ como seu primeiro diretor. No início, a parte burocrática deixou um pouco a desejar, sobretudo com a novidade da implantação do sistema de créditos, bem diferente do regime anterior, que era seriado.
No entanto, no plano pedagógico, como diretor da Faculdade de Letras, Coutinho revelou-se dinâmico, empreendedor e progressista, compensando, dessa forma, deficiências pontuais de natureza administrativa. Um exemplo de seu espírito avançado foi outro passo de grande relevância para os destinos do curso de Letras, que foi criação dos cursos de pó-graduação (mestrado e doutorado), os quais obrigaram alguns professores, que ainda não tinham nem mestrado, e pela necessidade legal de continuarem docentes da Faculdade e urgência de aperfeiçoamento, a cursarem o mestrado e doutorado.
Foi, naquela época, final da década de 1960 e inícios dos anos de 1970, que recém-graduados, entre os quais alguns tinham sido colegas de graduação do autor deste estudo, foram realizar curso de mestrado e doutorado no exterior, principalmente, Estados Unidos e Inglaterra. Da mesma maneira, ex-professores nossos foram cursar o doutorado no exterior. De regresso ao Brasil, alguns se tornariam ilustre professores da Faculdade de Letras da UFRJ.
Com o tempo, os curso de pós-graduação stricto-sensu e lato-sensu foram se expandindo na própria Faculdade de Letras, e se transformando em centros de alta qualidade dos estudos de Letras no país.
Não devemos esquecer igualmente que Afrânio Coutinho, antes de ser docente da Faculdade de Letras, para a qual ingressara, em 1965, por concurso de títulos e provas, para a vaga de literatura brasileira deixada por Tristão de Athayde, que se aposentara em 1963. Antes, Coutinho, em 1958, prestou concurso para livre docente de literatura brasileira da Faculdade Nacional de Filosofia. Com a livre docência, obteve o título de Doutor em letras clássicas e vernáculas. Convém ressaltar que Coutinho havia também lecionado na Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayette e nela fundou a cadeira de teoria literária e técnica literária, tendo sido, assim, o pioneiro, no país, na implantação dessa disciplina.
A obra crítica de Coutinho não foi um produtor de hesitações e falta de rumo. O historiador sabia aonde iria chegar. Planejara bem seus objetivos. Sabia o que queria para si e para seu país. Vencera o domínio e monopólio do impressionismo crítico. Entretanto, sabia também que enfrentaria dissabores e decepções, até alguma ingratidão. Ninguém, contudo, pode negar-lhe o papel decisivo e fundamental de, ainda em vida, ver que o combate, as polêmicas não foram em vão.
No país havia uma nova mentalidade de críticos e ensaístas que a ele devem reconhecimento pelo que construiu no terreno da crítica literária, na historiografia literária e no ensaísmo. Tendo orientado gerações de estudiosos da literatura brasileira, da teoria literária como orientador de dissertações e teses, sua lição e ensino se espalharam pelo país afora através de suas aulas e da sua produção escrita.
Ensaístas e críticos das gerações mais novas o colocam ao lado dos grandes críticos-scholars, como fez Leda Tenório da Motta em Sobre a crítica literária no último meio século,[63]estudo denso e original abrangendo esse recorte de tempo onde discute as relações tensas entre conhecidos críticos brasileiros, como Antonio Candido, Sergio Buarque de Holanda, Álvaro Lins, Afrânio Coutinho, Haroldo Campos e outros mais. A autora, no entanto, se inclina mais nesse ensaio sobre crítica literária, um estudo erudito, original e de alta complexidade exegética, para considerações em torno de autores paulistas
Coutinho teve também suas diferenças com Candido derivadas de posições doutrinárias conflitantes. Leda Tenório chega a falar no “duelo” entre Candido e Coutinho, nos anos de 1960.”Duelo” foi o que Flora Sussekind lembrou em relação às desavenças “ entre os dois e o termo ela foi buscar num conto de Guimarães Rosa, no qual dois personagens inimigos sempre hesitam em chegar ao enfrentamento real, o duelo é “esperável” mas se adia, e aos opositores só resta o “rastro do outro,.” que não se apaga de vez.[64]
Num artigo de título “Crítica superada?” publicado em 1985, Coutinho, respondendo, em tom de ironia e sarcasmo, aos por ele chamados de “resenhadores e propagandísticos de livros em jornais,” que decretavam, então, estar morto o New Criticism, retruca nestes termos:
O new criticism anglo-americano, tal como o formalismo eslavo, que renovaram a crítica literária a partir da década de 20 não morreu, apenas foi incorporado, mas suas sugestões e contribuições mais válidas, ao acervo da prática crítica e do ensino literário em todos os centros em [que] a literatura é levada a sério. O close reading por ele introduzido é método precioso, como também o explication de texte francês.[65]
Foi assim a sua defesa a princípios de ordem estética consubstanciados na sua nova crítica que, por seu turno, já se ia tornando menos dominante e, como toda corrente do pensamento crítico, ia cedendo seu espaço para novas abordagens, contribuições também válidas e diversificadas que Coutinho acompanhou até pelo menos os anos de 1990, porquanto veio a falecer no ano de 2000[66].
Ainda no texto autobiográfico, “A crítica de mim mesmo,”[67] o combativo crítico faz surgir, diante de nossos olhos, nomes que ganhavam espaço literário no Ocidente. E é o próprio Coutinho que aproveita, mais uma vez, para afirmar sua insatisfação diante de uma fato que lhe parecia censurável:
Ultimamente, assistimos a vários modismos que circulam sem qualquer preparação prévia entre os seus cultores. Luckács, Heidegger, Adorno, Benjamin, são ingeridos e passam ao uso sem a menor deglutição nem assimilação. Somos homens do derradeiro livro ou ator aparecido nas vitrinas europeias, mais particularmente francesas, embora estas estejam um pouco desacreditadas. Ninguém em sã consciência pode penetrar na obra de m filósofo moderno sem percorrer a dos que o precederam. É mister uma preparação prévia para que se possa dominar um pensador do nosso tempo. Do contrário, permaneceremos na epiderme, utilizando os termos e ideias sem propriedade.[68]
São muitos e podemos citar apenas algumas deles que tiveram, por sua vez, a atenção dos estudiosos brasileiros de Literatura:. Bachelard, Lucian Goldman, Emil Staiger, Adorno e a Escola de Frankfurt, Gennette, Greimas, Lotman, Todorov, Hans Robert Jauss, Wofgang Iser, Derrida, Umberto Eco, Jonathan Culler, Paul de Mann, Roland Barthes, Mikhail Bakhtin, Blanchot.
Paremos aqui que a história da crítica literária continua e os estudiosos brasileiros, da mesma forma, continuam discutindo alguns daqueles nomes da relação acima e remetendo os leitores a muitos deles em aulas, congressos, ensaios, revistas especializadas, monografias, dissertações, teses e – por que não? - em outro espaço indiscutivelmente indispensável ao avanço do conhecimento literário, espaço, ainda que com dificuldade de penetração, dos grandes jornais. Os estudiosos, finalmente, podem contar com outra possibilidade de debater questões culturais, que são os sites e os blogs numa escala de qualidade do ruim ao excelente.
Todos esses nomes e outros que não citamos estão na lista que Coutinho elenca na obra Impertinências, o que demonstra a curiosidade perene do velho crítico por tudo aquilo que na vida lhe foi parte integral e razão de sua vida: a crítica e as obras de Literatura
[1] COUTINHO, Afrânio. Crítica & críticos. Op. cit.; p. 134.
[2] DAICHES, David. A crítica nova. Apud SPILLER, Robert E. .(Org..). A renascença literária norte-americana (1910-1960). Trad. de Francisco Rocha Filho. São Paulo: Editora Letras e Artes, 1963, p. 139.
[3]MENESES BOLLE, Adélia Bezerra de. Op. cit., p. 80. Nota de pé de página nº 64.
[4] COUTINHO, Afrânio. Impertinências, op. cit., p. 149.
[5] Idem, p. 148-149.
[6] Idem, p. 149.
[7]Ibidem..
[8] DAICHES, David. Op. cit., p. 139.
[9] GRAY, Martin. Dictionary of literary terms. 2nd. revised edition. Essex: Longman York Press, 1992, p. 195.
[10] Idem, ibidem.
[11] Ibidem. Tradução nossa. Texto no orignal: “(…) a poem must be studied as a poem not as a piece of biographical or sociological evidence, or literary-historical material, or other reason”.
[12] Idem, p. 196.
[13] Ibidem.
[14] PORTELLA, Eduardo. Em torno de um conceito de crítica literária. In:__.PORTELLA, Eduardo. Dimensões I. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1977, p. 32.
[15] CASTRO ROCHA, João Cezar de. Op. cit., p. 75.
[16] PORTELLA, Eduardo. Dimensões I. Op. cit., p.32.
[17]Ibidem..
[18]Ibidem.
[19] Idem, p.33.
[20] Ibidem.
[21] COUTINHO, Afrânio. A crítica.. Ensaios - Série Miniatura. Salvador: Livraria Progresso Editora/Universidade da Bahia, 1957, p. 37-38.
[22] CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 7. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985..
[23] Idem, p. 4.
[24] Idem, p. 3-8.
[25] COUTINHO, Eduardo F. Literatura comparada: reflexões. São Paulo: Annablume, ,2013, p.104.
[26] CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Op. cit., p. 4.
[27] Ibidem.
[28] COUTINHO, Eduardo F. Op. cit., p. 99-107.
[29] COUTINHO, Afrânio. Crítica & críticos. Op. cit., p. 177.
[30] COUTINHO, Eduardo F.Op. cit., p. 107.
[31] LUCAS, Fábio. Fronteiras imaginárias. Op. cit., p. 75-76.
[32] Ibidem, p. 75.
[33] Ibidem.
[34] Idem, p. 76.
[35] COUTINHO, Afrânio. Da crítica e da nova crítica. Op. cit., p. 271.
[36] Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. .Op. cit., p. 639-640.
[37] DAVID, Daiches. Op. cit., p. 140.
[38] AMORSO LIMA, Alceu. Quadro sintético da literatura brasileira. Op. cit., p. 149.
[39] COUTINHO, Afrânio. Crítica & críticos. Op. cit., p. 110.
[40] COUTINHO, Afrânio. Impertinências. Op. cit., p. 14-15.
[41] COUTINHO, Afrânio. Da crítica e da nova crítica. Op. cit., p. 96-97.
[42] Idem, p. 134.
[43] WELLEK, René. Conceitos de crítica. Introd. De Stephen G. Nichols, Jr. Trad. De Oscar Mendes. São Paulo: Cultrix, p. 295-296, s.d.
[44] Idem, p. 294.
[45] COUTINHO, Afrânio. Impertinências. Op. cit., p.14.
[46] COUTINHO, Eduardo F. Afrânio Coutinho - Cadeira 33 /Ocupante 4. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2011, p. 17. Essa pequena obra propicia ao leitor uma síntese bem realizada e atualizada da vida e obra de Afrânio Coutinho.
[47] COUTINHO, Afrânio. Crítica e poética. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1968, p. 148.
[48] Cf. “Nota da Editora “ – Dados Biográficos do Autor, incluído na obra A tradição afortunada, op. cit., p. xi-xii
[49] COUTINHO, Eduardo F. Op. cit., p. 17.
[50] LUCAS, Fábio. Fronteiras imaginárias. Op. cit., p. 37.
[51] COUTINHO, Afrânio. Impertinências. Op. cit., p. 154.
[52] LUCAS, Fábio. Op. cit., p. 73-74.
[53]Ibidem..
[54] Idem, p. 74.
[55] Cf. COUTIHO, Afrânio. Op. cit., p.154-157;183-190;195-196.
[56] Ver o magnífico texto, que é essa “Introdução Geral, p. 7-75 da edição por nós consultada. É, sem dúvida, obra de pleno amadurecimento intelectual do historiador que, até hoje, deve ser lida com muito proveito pelos estudiosos de literatura brasileira.
[57] Ver, na obra Impertinências, o tema da “língua brasileira”” discutido, com muito vigor e espírito de defesa, na III Parte, sob o título”Ainda e Sempre a Língua Brasileira,” p.165-205.
[58] SILVA FILHO, Cunha e. Breve introdução ao curso de Letras: uma orientação. Rio de Janeiro: Litteris/Quártica, 2009, p. 99.
[59] SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. Op. cit., p. 655.
[60] Ver o que dissemos sobre o assunto, p. 156-157.
[61] COUTINHO, Eduardo F. Afrânio Coutinho. Op. cit., p. 17.
[62] MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil. Op. cit. Ver a seção “A nova batalha de Azincourt”, p. 55-118; ver também a seção “As surpresas de 1968,” p. 167-174.
[63] MOTTA, Leda Tenório da. Sobre a crítica literária brasileira no último meio século.Rio de Janeiro: Imago, 2002. Ver, sobretudo, a parte final, “Notas para um conclusão,” p. 189-205.
[64] Idem, p. 192. Ver também, nessa obra e na mesma página, a nota de pé de página nº 2
[65] COUTINHO, Afrânio. Impertinências. Op. cit., .p. 143.
[66] Segundo Eduardo Faria Coutinho, pouco tempo antes do falecimento do pai, o crítico, impossibilitado fisicamente de escrever, ainda continuava ditando artigos para publicação. Ver COUTNHO, Eduardo de F. Afrânio Coutinho: cadeira 33 / Ocupante 4.. Op. cit., p.30.
[67] COUTINHO, Afrânio. Impertinências. Op. cit., p. 25.
[68] Idem, p. 135.