Vista parcial da antiga Colinas, no vale do rio Itapecuru, um dos berços da família Teixeira.
Vista parcial da antiga Colinas, no vale do rio Itapecuru, um dos berços da família Teixeira.

Reginaldo Miranda[1]

 

Segundo anotou o senhor José Orsano Brandão, no ensaio sobre Colinas, que publicou no XV volume da Enciclopédia Brasileira dos Municípios (Rio: IBGE, 1959), a influente família Teixeira que ali fincou raízes ainda nos primórdios de fundação daquela cidade, é oriunda de Caxias, descendente do comendador Antônio José Teixeira.

De fato, na segunda metade do século XIX eram atuantes no Médio-Itapecuru, os irmãos Rodrigo José Teixeira, o moço, comerciante, capitão da guarda nacional e membro de uma sociedade abolicionista; Joaquim José Teixeira e Severino José Teixeira, aquele bacharel pela Faculdade do Recife (turma de 1862), magistrado e deputado provincial, este um rábula muito inteligente e perspicaz, tudo indicando que também ali estudara e, por algum motivo, não concluíra o curso[2].

Eram todos naturais da cidade de Caxias, filhos de Antônio José Teixeira, um abastado comerciante português, natural da cidade do Porto, radicado desde 1827, na maranhense cidade de Caxias; e de sua esposa Marinha de Jesus Carneiro Teixeira; netos paternos de Rodrigo José Teixeira e Antônia Maria de Jesus, ambos naturais e moradores na cidade do Porto; e maternos do tenente-coronel Severino Dias Carneiro e de sua esposa Eusébia Maria de Jesus Carneiro, aquele filho do colonizador português Francisco Dias Carneiro e de sua companheira Eusébia Gonçalves Duarte.

Por essa razão, recebeu na pia batismal o nome do avô materno, porém, dada a existência de outros descendentes de igual nome, preferiu o genitor manter no filho o prenome do avô, acrescentado de seu próprio nome e sobrenome. Assim, ao invés de Severino Dias Carneiro Neto, tivemos Severino José Teixeira. Mantinha, assim, o laborioso comerciante português intacto o nome de sua descendência, todos os seis filhos assinando Teixeira, sem apelidos da família da genitora.

Porém, muito cedo, ficaram esses irmãos órfãos de pai, tendo a educação cuidada e dirigida pela genitora, a quem auxiliavam na atividade comercial e na gestão da fazenda. Por aquele tempo, prosperava a povoação dos Picos, hoje Colinas, situada em um porto à margem direita do rio Itapecuru, termo da vila de Passagem Franca, a quem servia. Então, não demoram esses jovens irmãos a transferir seus armazéns, herdados do genitor, para a nova povoação, vislumbrando crescer com o lugar. Ficava esta, mais perto da fazenda que herdaram do avô materno. O tempo provou que estavam certos, porque tanto cresceram com o lugar, quanto o ajudaram em seu desenvolvimento comercial, eclesiástico, judicial e na emancipação política. 

Desde a juventude Severino José Teixeira foi figura influente na povoação dos Picos. Ingressando na guarda nacional, alcançou a patente de capitão do batalhão sediado na vila de Passagem Franca e, depois, no de Picos, hoje Colinas, no Maranhão.

O capitão Severino José Teixeira, foi sócio-instalador da Sociedade Beneficente Caxiense, instalada em 20 de setembro de 1863 e dissolvida em 24 de março de 1878[3].

Foi um advogado provisionado de largo conceito e atuante nos fóruns maranhenses. Lemos no jornal Cruzeiro, de São Luiz do Maranhão, a seguinte nota sobre a defesa que fez aos acusados de rumoroso caso de assassinato que abalou a cidade de Mirador, no Centro-Leste maranhense:

 

“No encerramento da formação da culpa, o advogado dos pretendidos cúmplices, capitão Severino José Teixeira, alegou com suas razões bem fundamentadas a necessidade de prazo para produzir e instruir a defesa de seus constituintes, porém o juiz apenas concedeu dous dias”[4].

 

Muitos outros registros de sua atuação nos fóruns maranhenses, sobretudo no Alto-Itapecuru, constam em diversos órgãos da imprensa[5].

Com a criação do município e vila de Picos, hoje Colinas, pela lei provincial n.º 879, de 4 de janeiro de 1870, foi ele nomeado para o cargo de subdelegado de polícia (4º distrito).

Ingressando na política filou-se ao Partido Liberal e foi eleito vereador da câmara municipal de Picos, para o quatriênio 1873-1877. Desavindo-se naquela agremiação partidária, candidatou-se a deputado provincial no pleito travado em 1879, pela legenda do Partido Conservador. Com a Proclamação da República, filiou-se ao Partido Federalista e depois ao Partido Republicano, este último liderado por Benedito Leite[6].

Em julho de 1875, foi nomeado para o cargo de promotor público da comarca de Pastos Bons[7].

Mais tarde, em outubro de 1885, foi nomeado para o cargo de promotor público da comarca de Loreto, onde permaneceu até princípio do ano de 1889, quando foi removido para a de Carolina, de onde foi exonerado em julho de 1889. Em 2 de maio de 1890, foi novamente nomeado para a promotoria pública da comarca de Loreto, tomando posse em 25 de agosto. Em 5 de fevereiro de 1892, Severino José Teixeira foi nomeado promotor público da comarca do Alto-Itapecuru, assumindo as funções em 26 de fevereiro do mesmo ano. Por algum motivo exonerado, foi novamente nomeado para o mesmo cargo em 17 de abril de 1893[8].

Homem de formação acima da média, com elogiada atuação jurídica, foi ativo intelectualmente em sua região, onde fundou dois órgãos de imprensa, sendo o jornal O Republicano em 1896 e Epocha, em 1898:

 

“Cidade de Picos – Apareceu um novo órgão de publicidade – O Republicano – redigido pelo capitão Severino José Teixeira, o qual será órgão do partido de que tirou o nome”[9].

 

“Chegou-nos às mãos o n. 2 da ‘Epocha’, órgão do Partido Republicano no Alto Itapecuru, e de que são redactores os capitães Severino José Teixeira e João Cândido F. Lima. É do dia 19 passado o número citado. Publica-se três vezes por mez”[10].

 

O capitão Severino José Teixeira, foi casado com D. Francisca do Vale Porto Teixeira, batizada[11] em 5 de outubro de 1850, na igreja matriz de N. S. da Conceição da cidade de S. Luiz e falecida em 17 de abril de 1882, na cidade de Picos, hoje Colinas. Era filha de Zacharias do Vale Porto[12], guarda da alfândega, escrevente da inspetoria das medições de terras públicas, eleitor da paróquia de N. Sra. da Conceição da cidade de São Luís, e de sua esposa Ana Rita de Berredo e Souza, ambos oriundos de tradicionais famílias maranhenses. Do consórcio deixaram alguns filhos, entre esses: Antônio José Teixeira[13]; e D. Florinda Teixeira Nunes, que fora casado com o agricultor Deolindo José Nunes, mudando seu domicílio para a localidade Salinas, no termo de Oeiras e, depois de 1900, fixando-se na vila hoje cidade de Regeneração, ambas no Piauí, onde deixaram ilustrada descendência.

Ficam essas notas para a reconstituição da biografia do capitão Severino José Teixeira, chefe de numerosa família e homem de múltiplas iniciativas para desenvolvimento do vale do rio Itapecuru, no Centro-Leste maranhense.

 

 

 


[1] Advogado e escritor. Membro titular da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e da Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons. Contato: [email protected]

[2] Publicador Maranhense, 9.1.1875.

[3] O Paiz, 6.6.1878.

[4] Cruzeiro, 5.7.1884.

[5] Pacotilha, 29.1.1886; 6.7.1887; O Paiz, 6.9.1884; 31.7.1885; 3.12.1885; 6.5.1886.

 

[6] Publicador Maranhense, 18.11.1879; O Paiz, 23.7.1880; Diário do Maranhão, 24.9.1879; 18.11.1879; 22.2.1896.

[7] Diário do Maranhão, 7.7.1875; 26.1.1876.

[8] Pacotilha, 19.7.1889; O Paiz, 19.10.1885; Diário do Maranhão, 28.12.1888; 3.12.1890; 31.5.1893.

[9] Diário do Maranhão, 29.10.1896.

[10] Diário do Maranhão, 15.7.1898.

[11] Foram padrinhos o capitão Francisco Antônio Bandeira de Mello e s/m D. Gertrudes d’Aguiar Vieira de Mello.

 

[12] Falecido em 17.4.1863, com 35 anos de idade, vítima de “moléstia interior”. Desconhecemos estudos genealógicos sobre a família Valle Porto, no Maranhão. Porém, sabemos ter sido iniciante dessa geração o tenente-coronel Coronel Francisco da Valle Porto, português, vereador (1828 – 1831), juiz de fato (1823 e 1831) e juiz municipal (1833, 1834) da cidade de São Luís, onde era abastado comerciante e lavrador com terras na ribeira do Itapecuru, termo da vila de Caxias; casado com D. Maria dos Passos do Valle Porto, ambos falecidos antes de 4.4.1848. Deixaram “diversos herdeiros”, entre os quais: 1. Francisco Canuto do Valle Porto; 2. Caetano Alberto do Valle Porto; e, 3. Vencesloa Bernardina do Valle Porto, casada com Izaac Manoel de Castelo Branco, de quem divorciou-se. Porém, não foi ele o único português deste apelido chegado ao Maranhão, porque também recebeu alguns sobrinhos, entre esses o negociante major Diogo do Valle Porto, radicado na vila de S. Vicente Ferrer, naturalizado brasileiro em dezembro de 1877. Foram filhos de Maria Joaquina do Valle Porto, falecida antes de 1854: 1. T.te. Antônio Francisco do Valle Porto (casado com Peregrina Maria do Carmo); e 2. Cap. Ignácio Brandão do Valle Porto, morador na vila de Rosário. Por outro lado, Carolina Joaquina do Valle Porto era irmã de Zacharias do Valle Porto (AHU. ACL. CU 009. Cx. 94. D. 7765; O Conciliador do Maranhão, 1.2.1823; Farol Maranhense, 14.4.1828; 10.11.1829; 18.2.1831; Echo do Norte, 31.7.1834; Publicador Maranhense, 4.4.1848; 23.5.1848; 21.1.1854; 25.2.1854; A Nova Epocha, 25.10.1856; O Estandarte, 6.9.1849; A Coalizão, 18.4.1863; A Imprensa, 18.8.1858).

 

[13] Afilhado de João da Matta de Moraes Rego (Diário do Maranhão, 21.4.1882; Pacotilha, 24.5.1991).