BREVE COMENTÁRIO SOBRE UM GRANDE POETA

Cunha e Silva Filho

      Vou  me  referir aqui  a um   poeta  já com obra  praticamente  acabada e de alta  qualidade literária, Francisco Miguel de Moura, de  um autor  piauiense que  há muito  já saiu da "província das Letras,"  do ambiente um tanto ainda beletrista, dado a expressões léxicas como "sodalício,"  ou seja,  de um bardo que  não mais  tinha espaço  literário  para ficar restrito  à visibilidade local, mas, por mérito,   a expandir  sua voz lírica para    regiões  mais culturalmentae  desenvolvidas, equivalentes ao chamado   eixo Rio-São Paulo. Mas deixemos de fazer  observações gerais sobre esse escritor que tem já  um nome  respeitado, reitero, fora dos  limites do  Piauí, para falarmos apenas do poema em exame  ainda que de forma sintética, em "vol d'oiseau". 

      Um  observador atento à leitura poética faz  uma primeira leitura  ou duas,  ou mesmo três,  que o leva  a ter  uma ideia  mais madura    do que lê  embevecido  pelo poder encantória  do lirismo   exposto  tanto à superfície  textual quanto  à profundidade  textual,  lembrando aqui   das duas  estruturas  de  Noam Chomski. É óbvio que a leitura de um  poema escrito  por alguém  muito  familiarizado  com  o "fabbro"  poético não pode deixar  escapar  de  deslindar alguma coisa  extraída  da riqueza formal-estética  do  poema. Do título,  já por si só,  como elemento indicial e catafórico  do conjunto dos versos  de que o poema  se forma, posso  assinalar alguns comentários preliminares.

       Estou lidando com tema  e forma  poética,  com  realidade da mímesis  aliada  à factualidade  de um "narração com naador poético"   versando sobre dois  termos  fundamentais ao entendimento  melhor  do poema: "flor" e "livro.", Ambos metaforizados do título até ao conjunto do poema e sua elaboração  finalizada  como criação  literária. Os dois  termos  ou lexemas se situam  no âmito de seres  inanimados, um como  criação da Naturez;, o outro  como  produção cultural  material. Os dois lexemas logo  interjetam, em nossa sensiblidade,  um realidade  criada pela animização  dos elementos definidos   como  uma flor e como um livro. "A flor" sinaliza, em resumo,  para a  realidade que tem o seu tanto oriundo  do universo  da memória.

       Podia-se logo  pensar  na mullher e,   por extensão,  no amor e quanto ao lexema "livro,"  por extensão do sentido já metaforizado,  poder-se-ia invocá-lo como  uma  persona, quer dizerm  o poema  desempenhando o papel de  produtor  de realidades  só  válidas  quando  são lidas.   Acresce assinalar que o poema trabalha também  com  o recurso  do  traço metapoético, bem visível se lido  com  maior atenção. Depreende-se  também  um jogo do amor . Basta afirmar  que, logo no princípio do poema, "... uma flor me viu...", sinaliza  um diálogo  entre dois seres, ou mas claramente,   duas "personae" que  trocam  ações,  falas e sentimentos. Penentramas, agora,  no  plano  do humano  que se vai  revelando a nosso  olhos atentos  de leitor ou codificador de mensagens com objetivos bem definidos. Repare-se que, no poema,  estão presentes  lexemas como  "página," "livro,"  o ato de leitura.

       Os versos da estrofe final apontam novamene para o que  me propus a delindar da leitura desse poema  feito  de saudade e do sentimento amoroso e,  "last but not least", da importância da poesia  como  fator deflagrador  da narrativa  lírica, que me lembra, por sinal, uma dimenão de fábula    num  poema   de um  autor francês que já traduizi. Fico por aqui, porquanto  apenas   desejei  atentar  para alguns recursos   da linguagem,  do  sentido e da forma  desse   poema bem  mentado.Abraços.