Lavadeiras
Lavadeiras

     

Reginaldo Miranda

“Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar
Onde tenho o meu pão e a minha casa...”

                                    (Florbela Espanca)

Possui minha terra encanto imenso,
Que às vizinhas faz todas ofuscar;
O mais belo que guardo e recomponho,
É seu nome, impossível de olvidar:
Bertolínia, meu pranto, o meu começo,
De rios e memórias a cantar.

 

Lá no Xixá, onde o banho é sagrado,
Quem nele adentra, e ali deseja ficar;
Leva na alma o carinho consagrado
Que ainda conforta ao longe, ao viajar.
Do outro lado, as rixas lavadeiras
Estendem roupas limpas a brilhar;

 

Com mãos ligeiras, firmes e certeiras,
Ensaboam, esfregam, deixam a quarar.

 

Na praça da matriz, entre mamoranas,
Cantam andorinhas, pegas e sabiás;
Seus cantos puros soam pelas manhãs,
Louvando a terra e a vida, aqui e além.
Mais abaixo, lá na praça do mercado,
Ergue-se o velho cajueiro que vem

 

Do tempo antigo, firme e enraizado.
Berram feirantes, no sábado também,
Cercados pelo povo amontoado,
Pelo ébrio alegre, simples e do bem.

 

Prosseguindo à praça dos condurus,
Entre devotos fiéis, vê-se a capelinha,
Por crentes, romeiros, humildes, conduzida,
Consagração da piedosa Teresinha.

 

E assim, saudoso, termino este meu canto;
Que a voz se cale antes de vir o pranto
Ao relembrar as paisagens da minh’alma,
Paisagens sempre vivas de minha terra.

                                         Teresina, março/1989.