Bateria de poemas
Em: 01/05/2015, às 19H39
O BELO INSTANTE
Só vens quando me dois
ou a manhã é excessiva
Bandeira Tribuzi
Enclausurado na amplidão silente
desta sala, sozinho e comovido,
eu curto o belo instante percebido
pela roupagem nobre, diferente.
Instante assim (feliz e comovente)
na minha vida, ai quantos tenho tido!
Instante às vezes breve, mas vivido
por mim de modo igual, intensamente.
Ao revelar-se esse momento/sonho
que tem feitio de imaginação,
torná-lo produtivo me proponho.
Momento excepcional, momento não
comum, durante o qual sempre me ponho
a delirar nos braços da emoção!
A TUA VEZ
O agora é uma sombra ensolarada
que no desvão do tempo anda, passeia
com passo firme e se supões parada,
como parece, aliás, após a ceia.
O agora é uma sombra que clareia,
mesmo quando não acontece nada,
passada a onda, descoberta a areia,
alguma coisa pode ser notada.
O agora é o presente que recebes
de Deus enquanto vivo te percebes
no que vês também no que não vês.
O agora é uma sombra ensolarada
de vida. Está a tua frente a estrada!
o agora é simplesmente a tua vez.
IMPROVISADOR
Reparem bem: depois de acontecidas
as coisas, não há choro, não há reza
que volte tudo ao que era antes, pesa
de qualquer forma o efeito em nossas vidas.
Baseado na s experiências vividas
e com minha alma ainda, com certeza,
despreparada e felizmente ilesa,
busco esquecer as ilusões vencidas.
Vai o presente, firme, se arquivando...
Por isso é que, sempre feliz, o encaro
a meu talante, ou seja, improvisando.
Daquilo que virá não faço conta.
Eu vivo a vida sem nenhum preparo
e dela vou partir sem mala pronta.
P.S.: Os poemas integram o livro inédito Tempo Nuvem
É tarde - é cedo
é tarde, o sol declina no horizonte,
os pássaros procuram o arvoredo,
desde ontem juntos, tenho de ir embora
mas meu amor sugere que ainda é cedo.
— é tarde, eu digo, a noite vai vestir
o manto que acoberta o seu segredo;
já nos amamos o bastante, amor.
e meu amor me diz: — amor, é cedo.
retruco: é tarde, as sombras mais se adensam
e os caminhos, escuros, causam medo.
— isso mesmo, — diz ela me beijando —
espera amanhecer... amanhã cedo...
ela é divina! eu sou feliz! atendo
ao seu convite e aos seus carinhos cedo:
mais momentos de amor então gozamos;
até que, de repente acordo, é cedo?
é tarde? a claridade de outro dia,
para nós dois, severa, aponta o dedo.
vou levantar, ela também acorda,
me abraça, e fala, insiste que inda é cedo.
— é tarde, eu mostro, há luz em toda a alcova,
impondo fim ao nosso doce enredo.
— não! — ela diz — isto é clarão da lua...
amor, não vá, ainda é muito cedo!
Esdrúxulo
A prata, o caviar, a mesa elástica,
riem do pobre
e lhe pesam no vazio estômago.
O lustre, o veludo, o mármore,
esbofeteiam
a face do menino pálido.
Dói no seu corpo o sacrifício
da ingênua espera:
aberta mão ao desviado prêmio
De tanto conviver com áscaris
morre o menino
de alma e coração imáculos.
Uma paixão antiga, hoje única,
domina o mundo.
É torturante a dor sem número.