AS DÁDIVAS DO POETA
Por Elmar Carvalho Em: 31/01/2014, às 19H39
ELMAR CARVALHO
Por esses dias, recebi a visita dos jovens poetas Walter Lima e Cleyson Gomes. O primeiro, de férias, veio de São Paulo visitar seus parentes e amigos; o segundo, além de lhe fazer companhia, colheu a oportunidade para que nos conhecêssemos pessoalmente. Walter é um leitor apurado, percuciente, e que não perde tempo com autores que reputa de pequeno valor artístico. Garimpador de sebos, tem encontrado obras importantes e muitas vezes desconhecidas pelo chamado grande público. Poeta talentoso, sobre ele já me reportei neste diário.
Sempre que vem ao Piauí, gosta de visitar os literatos pelos quais nutre amizade e consideração. Além da visita e de suas alvíssaras, Walter Lima ainda me trazia dádivas. E as dádivas de um poeta outras não poderiam ser senão livros. Declino-lhes os títulos e autores: A forma do silêncio, Fios de luz, aromas vivos: leitura de “Retrato de Mãe, de Jorge Tufic” e Os maribondos de fogo, respectivamente da autoria de Wilson Rocha, Rogel Samuel e José Sarney. Fico feliz em fazer parte do seu seleto e restrito rol de amigos.
Conhecia Cleyson Gomes apenas de nome, de alguns poucos textos de sua lavra e através de referências do Walter. Conversamos sobre cultura, livros e poetas, no alpendre de nossa casa. Mostrei-lhes alguns poucos quadros e objetos que a guarnecem. Fiz questão de ofertar aos dois vates livros de minha autoria, de que ainda posso dispor, sem comprometer minha reserva técnica, digamos assim.
Para minha grande surpresa, quase diria perplexidade, Cleyson Gomes disse já ter em sua biblioteca todos os meus livros, com que iria lhe presentear. Intrigado, perguntei-lhe como os adquirira. Respondeu-me que os comprara em livrarias ou sebos locais. Devo dizer que isso, conquanto não fosse propriamente um elogio, foi, para mim, uma das maiores referências elogiosas que já recebi.
Somente um significativo apreço poderia fazer uma pessoa, que sequer me conhecia pessoalmente, se dar ao trabalho de ir procurar livros e opúsculos deste humilde escriba. De certa forma, observadas as proporções, considerei o fato algo semelhante ao sucedido ao nosso poeta maior Da Costa e Silva, que consignava como um dos maiores elogios que já obtivera a circunstância de que um larápio, ao roubar uma livraria do Recife, ter subtraído unicamente uma obra de sua lavra.
Talvez a título de explicação, confessou-me ele que, quando mais novo, na qualidade de campomaiorense e estudante do curso superior de Letras, procurava saber quais seriam os principais literatos de sua terra natal. Procurou informar-se sobre isso com a sua professora universitária, que lhe indicou alguns nomes, entre os quais o deste diarista. Com essa informação, o poeta Cleyson procurou adquirir livros de minha autoria, como já dito acima. Para honra minha, descobriu em meus textos qualidades que lhe mereceram leitura cuidadosa e algumas releituras.
Pela conversa que tive com os poetas que me visitaram, logo percebi que o meu conterrâneo Cleyson Gomes é um intelectual antenado com a produção poética contemporânea, mas sem perder de vista a contribuição dos grandes mestres do passado. Mormente se considerarmos a sua juventude, sem dúvida é um erudito e amante da literatura. Merecer a sua leitura atenta me vale mais do que certas honrarias, porque demonstra o seu interesse e apreço pela minha (pálida) poesia. Que mais dizer? Nada mais a dizer, tudo a agradecer.