APRESENTAÇÃO :A TEMÁTICA E AS FORMAS EM PAUSA  PARA  POETIZAR(1)

        Observando   a produção  literária  de  Mirtzi Lima Ribeiro escritora paraibana, ,vejo que   o livro acima   mencionado no título deste Prefácio, se refere a uma estreia  da autora  no gênero  poético. A escritora   tem  uma  já extensa produção em  prosa, sobretudo  na crônica  ou breves  ensaios  definidores  de um  traço  característico de seu estilo: ela é uma escritora  prolífera, que se destaca  por uma dinamismo  e  uma  vontade  de  escrever febrilmente a ponto de  o leitor seu  ficar, por vezes, sem  tempo  para acompanhar a frenética e  intensa escrita  de seus textos   voltada para diversos temas  da vida humana e com  um tendência nitidamente  didática.  de orientação a    uma existência  equilibrada e mais saudável  e para um tipo de leitura  com  forte  predominância  alicerçada  na importância  das ciências e  das suas relações  com  os  indivíduos. Seus textos revelam um dado  circunstancial muito  propalado  que guarda semelhanças  com  obras de autoajuda. Seu  pluralismo   de temas  é digno de nota.

      Agora,  separando-se  de seu  repertório  em  prosa, por ser uma autora   inquieta  e dinâmica nos seus processos  de escrita, ela se volta  para a composição de uma obra  poética;  A  escritora  se desgarra  do gênero em  prosa,  a fim de adentrar   um outro universo de textualidade    bem diferente  da prosa   por ela  cultivada   com  precisão  e talento..Vê-se, por este título, a indicação de natureza catafórica, ou seja, o título remete a um dado temático previsível, quer dizer, a escritora se desgarra do gênero em prosa, por isso, temos o lexema “pausa” a fim de adentrar um outro universo da semântica e da textualidade de uma
outra linguagem bem diferente da prosa por ela cultivada com precisão e talento. Dessa vez, ela
penetra no gênero mais sublime da Literatura, que é a poesia. Dessa vez,  e penetra  no gênero  mais sublime  da Literatura: a  poesia.

      Ao ler alguns  poemas  de Mirtzi,  fico pensando  numa amiga  francesa que  é também  poeta e que faz poesia de forma  tradicional, mas belamente  construída  e de uma pureza cristalina . A boa  poesia não está  apenas nos “ismos”  vanguardistas   dos seus  prosélitos, mas   na força  do verso antigo  ou moderno  com rima  ou sem rima.

        O que sobreleva  assinalar é a qualidade da fatura  da composição  poética. O resto  é silêncio dos deuses   de barro  e dos juízos supostamente   estéticos  dos  fátuos e prepotentes, dos que se arvoram  em donos das abordagens, muitas vezes emprestadas do  exterior (neocolonialismo  intelectual subserviente), porém sem o sinete da originalidade, segundo o pensamento  do crítico  e ensaísta  Assis Brasil, o qual pensava a literatura  brasileira  com lentes  próprias.  Outro  bom exemplo seria o do “Machado de Assis de nossa  crítica,” antonomásia  muito bem  apropriada   criada   pelo ensaísta e professor  Ivan  Teixeira para definir   o pensamento   crítico de   Antonio  Candido(1918-2017).

       Por outro lado,  é mais do que  óbvio que as altas  culturas  do pensamento  intelectual,  no domínio teórico  da literatura  dos europeus, ou não europeus,  têm a sua real  importância   e devem ser  conhecidas  entre nós   quanto aos avanços  nos estudos literários. Seria  uma  falácia afirmar  que o legado do Ocidente mais adiantado deva ser   subestimado.  Entretanto,  isso  não significa  asseverar que copiemos e sigamos à risca  qualquer corrente crítica  alienígena.

        Elas são grandes  instrumentos  indispensáveis de progresso   no campo teórico e das ideias  filosóficas ou e outras  disciplinas das ciências humanas e até científicas. No entanto,  devemos, quando    necessário,  adaptá-las  ao  pensamento  que já remonta a  um antigo desejo  da chamada Nova Crítica   defendida   por Afrânio Coutinho (1911-2000).Obviamente,  não podemos  ser culturalmente isolacionistas e afastados  dos grandes centro  seculares   europeus, dos Estados Unidos e das  outras Américas, assim como de outros países   mundo afora.

        Após essa digressão, feita apenas para contextualizar  o lugar da  poesia  de Mirtzi,  quero   acentuar  que  seu e livro  ora  comentado constitui   uma seleção de  poemas que, em geral,    apresenta  paralelos com a sua  prosa   no que concerne  ao pensamento   lógico    balizado  pela autora   tanto quanto  sua temática  em  prosa, só que  protocolado   pelos traços  mínimos  que  um  poeta ,  nos seus pressupostos estéticos, deve   constituir  como estratégia  da  poesia , ou seja a linguagem       centrada  primordialmente   na emoção e no sentimento  líricos  não apenas para os temas  objetivos, empíricos    mas  propiciando  ao leitor   certos elementos   indispensáveis  para que   se possa defini-los como  poemas.

        Mirtzi  ,na maior pare dos  seus  poemas, alcança  esse nível  de lirismo.  Na extensão dos  poemas   selecionados,   ela nos permite ensejar    um panorama    de  múltiplas  situações   do cotidiano, dos desejos  e aspirações   do ser humano  e de temas  relacionados com a  atualidade,    meio ambiente, defesa de nossas riquezas  naturais, críticas  sociais  e    a governos   irresponsáveis,  cuidados    com a Natureza-Mãe,     diversas situações  existenciais, afetividades  e sentimentos   de cunho  religioso em  poemas que nos deleitam e que  nos  previnem   sobre o lado  feroz da existência. Outra vertente  ou veios  temáticos se debruçam  para   valorizar  a dimensão  moral e  ética do ser humano,  o amor à poesia.

       Por outro lado,  há uma vertente  de sua dimensão  lírica   em  que  o narrador  poético, um alter-ego da autora,   se expande   para  cantar  a  infância   e outra fases   da vida de um  pessoa. Esse é o lado  memorialista    que sua  poesia   oferece  ao leitor, a se ver pela nomeação   de entes queridos, e de  situações pessoais  abertamente  confessadas   pelo  narrador   poético.

        Encontro  em  alguns passos  de seu estro    algo que me fez lembrar  um  poeta   português de grande   talento,  que  é Cesário  Verde (1855-1886), sobretudo  naquele  poema longo   belíssimo  “Sentimento de um  Ocidental,” no qual  como se fosse  mediado  por  uma câmera,   o narrador poético fixa a sua  atenção em vários  detalhes e locais  de uma cidade com rara concretude realista  e objetiva   como o faz, em proporção menor Mirtzi  no poema  “Quinquilharis da vida” (p.36).Este   poema  demonstra que  não somente  com  lexemas do sermo nobilis  se constroem poemas, mas também com  o sermos vulgaris,  segundo  o fez Manuel Bandeira (1886-1968) com rara habilidade  originalidade.

      O que  importa na elaboração  do  poema  é a sintaxe,   formas  de construções imagéticas,  metaforizadas,  ou seja,  na retórica  é que  se alicerça a linguagem  poética,  cujo vetor maior  é o tipo linguagem   do âmbito da competência  literária. Outros  exemplos singularizadores   da natureza  da comunicação  poética  ou lírica da  obra  em exame  são os poemas metapoéticos: “Lirismo e vida”(p.10). “A canção  e o poema”(p.12), “De que é feito a  poesia?”(p.111). “ Magia da palavra” (p. 36).Por fim, o livro termina exibindo  um espectro  amplo da espacialidade fora de nossa limites  nacionais, quando  retrata  lugares  e paisagens   referentes   a diversas  partes do  mundo cantando as beleza  de cidades  e monumentos visitados  por   turistas de toda a parte do mundo, como é exemplo  o  poema ”Natal : as estrelas brilham” (p. 131).

      Aguardo, pois,  que  muitos leitores  de Mirtzi se sentirão  fortalecidos ética e espiritualmente    para os embates da vida  após a leitura prazerosa desta obra.

                  Rio  de Janeiro,  14 de  outubro de 2024

                                       Cunha e Silva Filho

Ensaísta e crítico literário. Pós-Doutor  em  literatura  comparada  pela U.F.R.J.Membro efetivo da Academia Brasileira   de Filologia  -  ABRAFIL

NOTA AO LEITOR:  O LANÇAMENTO DE PAUSAS PARA  POETIZAR SERÁ FEITO  POR VOLTA DE NOVEMBRO  PRÓXIMO.