Apresentação: a temática e as formas em "Pausa para poetizar"
Por Cunha e Silva Filho Em: 15/10/2024, às 16H00
APRESENTAÇÃO :A TEMÁTICA E AS FORMAS EM PAUSA PARA POETIZAR(1)
Observando a produção literária de Mirtzi Lima Ribeiro escritora paraibana, ,vejo que o livro acima mencionado no título deste Prefácio, se refere a uma estreia da autora no gênero poético. A escritora tem uma já extensa produção em prosa, sobretudo na crônica ou breves ensaios definidores de um traço característico de seu estilo: ela é uma escritora prolífera, que se destaca por uma dinamismo e uma vontade de escrever febrilmente a ponto de o leitor seu ficar, por vezes, sem tempo para acompanhar a frenética e intensa escrita de seus textos voltada para diversos temas da vida humana e com um tendência nitidamente didática. de orientação a uma existência equilibrada e mais saudável e para um tipo de leitura com forte predominância alicerçada na importância das ciências e das suas relações com os indivíduos. Seus textos revelam um dado circunstancial muito propalado que guarda semelhanças com obras de autoajuda. Seu pluralismo de temas é digno de nota.
Agora, separando-se de seu repertório em prosa, por ser uma autora inquieta e dinâmica nos seus processos de escrita, ela se volta para a composição de uma obra poética; A escritora se desgarra do gênero em prosa, a fim de adentrar um outro universo de textualidade bem diferente da prosa por ela cultivada com precisão e talento..Vê-se, por este título, a indicação de natureza catafórica, ou seja, o título remete a um dado temático previsível, quer dizer, a escritora se desgarra do gênero em prosa, por isso, temos o lexema “pausa” a fim de adentrar um outro universo da semântica e da textualidade de uma
outra linguagem bem diferente da prosa por ela cultivada com precisão e talento. Dessa vez, ela
penetra no gênero mais sublime da Literatura, que é a poesia. Dessa vez, e penetra no gênero mais sublime da Literatura: a poesia.
Ao ler alguns poemas de Mirtzi, fico pensando numa amiga francesa que é também poeta e que faz poesia de forma tradicional, mas belamente construída e de uma pureza cristalina . A boa poesia não está apenas nos “ismos” vanguardistas dos seus prosélitos, mas na força do verso antigo ou moderno com rima ou sem rima.
O que sobreleva assinalar é a qualidade da fatura da composição poética. O resto é silêncio dos deuses de barro e dos juízos supostamente estéticos dos fátuos e prepotentes, dos que se arvoram em donos das abordagens, muitas vezes emprestadas do exterior (neocolonialismo intelectual subserviente), porém sem o sinete da originalidade, segundo o pensamento do crítico e ensaísta Assis Brasil, o qual pensava a literatura brasileira com lentes próprias. Outro bom exemplo seria o do “Machado de Assis de nossa crítica,” antonomásia muito bem apropriada criada pelo ensaísta e professor Ivan Teixeira para definir o pensamento crítico de Antonio Candido(1918-2017).
Por outro lado, é mais do que óbvio que as altas culturas do pensamento intelectual, no domínio teórico da literatura dos europeus, ou não europeus, têm a sua real importância e devem ser conhecidas entre nós quanto aos avanços nos estudos literários. Seria uma falácia afirmar que o legado do Ocidente mais adiantado deva ser subestimado. Entretanto, isso não significa asseverar que copiemos e sigamos à risca qualquer corrente crítica alienígena.
Elas são grandes instrumentos indispensáveis de progresso no campo teórico e das ideias filosóficas ou e outras disciplinas das ciências humanas e até científicas. No entanto, devemos, quando necessário, adaptá-las ao pensamento que já remonta a um antigo desejo da chamada Nova Crítica defendida por Afrânio Coutinho (1911-2000).Obviamente, não podemos ser culturalmente isolacionistas e afastados dos grandes centro seculares europeus, dos Estados Unidos e das outras Américas, assim como de outros países mundo afora.
Após essa digressão, feita apenas para contextualizar o lugar da poesia de Mirtzi, quero acentuar que seu e livro ora comentado constitui uma seleção de poemas que, em geral, apresenta paralelos com a sua prosa no que concerne ao pensamento lógico balizado pela autora tanto quanto sua temática em prosa, só que protocolado pelos traços mínimos que um poeta , nos seus pressupostos estéticos, deve constituir como estratégia da poesia , ou seja a linguagem centrada primordialmente na emoção e no sentimento líricos não apenas para os temas objetivos, empíricos mas propiciando ao leitor certos elementos indispensáveis para que se possa defini-los como poemas.
Mirtzi ,na maior pare dos seus poemas, alcança esse nível de lirismo. Na extensão dos poemas selecionados, ela nos permite ensejar um panorama de múltiplas situações do cotidiano, dos desejos e aspirações do ser humano e de temas relacionados com a atualidade, meio ambiente, defesa de nossas riquezas naturais, críticas sociais e a governos irresponsáveis, cuidados com a Natureza-Mãe, diversas situações existenciais, afetividades e sentimentos de cunho religioso em poemas que nos deleitam e que nos previnem sobre o lado feroz da existência. Outra vertente ou veios temáticos se debruçam para valorizar a dimensão moral e ética do ser humano, o amor à poesia.
Por outro lado, há uma vertente de sua dimensão lírica em que o narrador poético, um alter-ego da autora, se expande para cantar a infância e outra fases da vida de um pessoa. Esse é o lado memorialista que sua poesia oferece ao leitor, a se ver pela nomeação de entes queridos, e de situações pessoais abertamente confessadas pelo narrador poético.
Encontro em alguns passos de seu estro algo que me fez lembrar um poeta português de grande talento, que é Cesário Verde (1855-1886), sobretudo naquele poema longo belíssimo “Sentimento de um Ocidental,” no qual como se fosse mediado por uma câmera, o narrador poético fixa a sua atenção em vários detalhes e locais de uma cidade com rara concretude realista e objetiva como o faz, em proporção menor Mirtzi no poema “Quinquilharis da vida” (p.36).Este poema demonstra que não somente com lexemas do sermo nobilis se constroem poemas, mas também com o sermos vulgaris, segundo o fez Manuel Bandeira (1886-1968) com rara habilidade originalidade.
O que importa na elaboração do poema é a sintaxe, formas de construções imagéticas, metaforizadas, ou seja, na retórica é que se alicerça a linguagem poética, cujo vetor maior é o tipo linguagem do âmbito da competência literária. Outros exemplos singularizadores da natureza da comunicação poética ou lírica da obra em exame são os poemas metapoéticos: “Lirismo e vida”(p.10). “A canção e o poema”(p.12), “De que é feito a poesia?”(p.111). “ Magia da palavra” (p. 36).Por fim, o livro termina exibindo um espectro amplo da espacialidade fora de nossa limites nacionais, quando retrata lugares e paisagens referentes a diversas partes do mundo cantando as beleza de cidades e monumentos visitados por turistas de toda a parte do mundo, como é exemplo o poema ”Natal : as estrelas brilham” (p. 131).
Aguardo, pois, que muitos leitores de Mirtzi se sentirão fortalecidos ética e espiritualmente para os embates da vida após a leitura prazerosa desta obra.
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2024
Cunha e Silva Filho
Ensaísta e crítico literário. Pós-Doutor em literatura comparada pela U.F.R.J.Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia - ABRAFIL
NOTA AO LEITOR: O LANÇAMENTO DE PAUSAS PARA POETIZAR SERÁ FEITO POR VOLTA DE NOVEMBRO PRÓXIMO.