ANO NOVO: 2011
Por Cunha e Silva Filho Em: 12/01/2011, às 18H20
Cunha e Silva Filho
As eleições de 2010 se passaram e assim o Presidente Lula com seu segundo mandato.
Durante a corrida para a Presidência, todo cuidado era pouco a fim de que não se falasse em inflação, sobretudo em aumento de custo de vida,que seria, na era Lula, um tabu ou o horror dos horrores do companheiro Presidente, por menor que fosse a porcentagem desse fantasma que, no passado, atormentou, nossa vida econômica e mais ainda a vida do brasileiro de classe média, pobre ou miserável. Portanto, na campanha de Dilma, “inflação” era palavra proibida, proscrita no jargão petista a não ser para afirmar que, nos mandatos de Lula, o retorno dela era algo impensável, pois o combate seria sem trégua. Nesse aspecto, foi uma conquista, tanto quanto o foi nos dois governos de FHC.
Para uma grande maioria do brasileiros e de observadores estrangeiros, o Brasil era um conto de fadas, não fora atingido pelo vendaval da recessão americana, europeia, pelas bolhas imobiliárias ianques,. Os súditos de Lula prestaram-lhe e ainda o fazem vasta vassalagem digna de um súdito britânico e, curioso, incluindo praticamente todos os estratos sociais. Falar mal de Lula era ganhar um inimigo certo ou desafeto implacável. Nunca me incluí nesses milhões amantes incondicionais do antigo metalúrgico, dessa figura carismática, desse simpático nordestino do interior pernambucano, nascido realmente com a estrela do PT fincada lá no céu de sua terra natal, desse emigrante que, em São Paulo, desejou o que quis e o conseguiu. Tudo, sobretudo no segundo mandato de Lula, era mágico e, com uma varinha de condão, tudo dava certo até nos períodos tempestuosos da imoralidade sem tamanho que foi a história sombria e execrável do Mensalão e outros subprodutos de escândalos que, de quando em quando, pipocavam, aqui e ali. Tudo continuava inteiro, no partido, na política e no cargo quase imperial. Era uma apoteose, um furacão de bonança, de alegrias, de feitos e de fatos, contaminando tudo, levando tudo de roldão com o fito de auferir os altos dividendos eleitorais. Votos aos milhares.
Tanto assim que a candidata dele, da sua escolha, da sua vontade, saiu vitoriosa. Lula ganhou honrarias, diplomas, títulos de universidades estrangeras .Presentes aos montões, que de tantos dariam para serem transportados em caminhões. Lula tornou-se o “cara”, na expressão de Barack Obama diante do carisma e do sucesso de seus mandatos. Lula virou biografias, filmes, enfim, conseguiu o estrelato a despeito de ser ele mesmo a estrela do PT cravada nos céus brasileiros. “Nunca houve na história da República um Presidente como...” E assim a história o guardará.
Porém, mal começou o novo mandato com a vitória de Dilma Rousseff, uma ex-combatente da Ditadura Militar, certos aspectos da antiga crônica política brasileira por que já passou o país, parecem retomar seu curso e o seu peso próprio: notícia de retorno de período inflacionário, gordo aumento autoconcedido a parlamentares que, naturalmente, em cascata, será exigido pelos outros dois poderes, executivo e judiciário, além de uma desenfreada disputa por cargos de alta relevância, notícia de concessão de passaportes diplomáticos a filho e neto do ex-Presidente Lula, agora, em merecidas vacaciones numa área de lazer do Exército, seguida ainda da notícia de que um dos filhos de Lula hoje detém um considerável patrimônio empresarial, datando de sete anos para cá, segundo informação divulgada em jornal de grande circulação.
É nesse con exto de país de ainda tantos males e tantas injustiças que me ponho a refletir e me sentir com justificada estado de pessimismo. Então, me pergunto: O Brasil vai dar certo diante dos desníveis de vida social e cultural, diante da calamidade coletiva e crônica no setor da saúde pública,como , por exemplo, entre tantos outros espalhados pelo país afora, no estado de Rondônia onde nem a boa vontade demonstrada por abnegados médicos impede de se constatar uma realidade abjeta e desumana, na qual pacientes, muitos jogados ao chão, sofrendo dores e padecimentos, esperando em vão nos corredores das emergências por uma cirurgia que não se sabe quando vai acontecer, e, não dispondo do mínimo necessário ao atendimento por falhas de infraestrutura? Ou o nosso país em parte ainda é aquele “país do futuro”, de que falava Stefan Zweig (1881-1942)? Ou é ainda a imagem esmaecida daquela obra panglossiana do velho conde Afonso Celso( 1860-1938), Por que me ufano de meu país?(1900) que eu vim a conhecer há tanto tempo num exemplar da biblioteca de meu pai?
Enquanto isso, no país da pós-modernidade os abençoados membros da alta burguesia e do alto capitalismo, em helicópteros ou outros meios de transportes e regalias, são imperialmente, cuidados, operados e paparicados por médicos sorridentes, atenciosos sabendo estes que polpudos ganhos profissionais estão bem depositados nas suas contas bancárias, visto que é um truísmo afirmar que no país, como em outros de sistemas econômicos semelhantes, há duas medicinas:a do pobre, a do rico e a do riquíssimo. Mercantilismo a serviço dos endinheirados brasileiros que só não se tornam eternos biologicamente neste Planeta porque a lei da morte é justa e implacável. Todos morrem e a riqueza fica entre os sobreviventes que, por sua vez, irão lutar – nunca vão aprender a lição da humildade – pela sempiterna divisão do espólio e dos testamentos com unhas e dentes próprios do capitalismo que engendrou essa mentalidade doentia, egoísta, consumista, festeira e inimiga de quem pensa com o coração e os sentimentos de bondade verdadeira e de solidariedade pura.
Há ainda um fato curioso: se os ricos se dão bem num país, esse mesmo paradigma de vida e de mentalidade se encontra em qualquer país onde a riqueza de poucos se instala em detrimento da miséria de muitos.
Certa vez, olhando para uma fila de ônibus suburbano em que todos pertenciam, para um pouco mais ou um pouco menos, ao mesmo estrato da pirâmide social, não me contive e exclamei: A riqueza vem da pobreza!
Alguém, ao meu lado, com um simples olhar inteligente, comigo concordou e fomos embora.