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Engenheiro, militar, político, empresário, escritor, propagandista republicano na capital do Império, Anfrísio Fialho foi um piauiense de destaque no cenário nacional.

Nasceu em Oeiras, no dia 14 de abril de 1839, filho de outro ilustrado piauiense, o tabelião Francisco José Fialho e de sua esposa Adeodata Joaquina de Montserrat. Os genitores eram abastados, tendo o pai exercido o cargo de deputado geral pelo Piauí, em duas legislaturas, iniciadas, respectivamente, em 1864 e 1869. Ainda em 1839, residindo em Oeiras, foi o genitor autorizado a redigir ali um periódico visando transmitir as informações da Balaiada e os atos do governo. Natural de Oeiras, Francisco José Fialho foi um jornalista combativo e polêmico. Mudando-se para o Rio de Janeiro tornou-se tabelião, conselheiro do Império, benfeitor da cidade do Rio de Janeiro, quando reformou o Passeio Público da cidade em 1860, a pedido de D. Pedro II, para tanto tendo contratado os serviços do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, que implementou novo projeto paisagístico nos jardins do Passeio. Também, tornou-se importante fazendeiro e latifundiário na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde possuía diversas propriedades, tendo, inclusive, arrendado e em seguida arrematado junto ao Banco do Brasil terras que pertenceram ao Visconde de Mauá. Era culto e inteligente esse tabelião, havendo registro de correspondências suas com vários intelectuais, inclusive com o cientista Carls Friedrich von Martius(1867).

Pois bem, Anfrísio Fialho iniciou as primeiras letras em Oeiras, mais tarde mudando-se para o Rio de Janeiro, em companhia dos pais. No novo domicílio, prossegue nos estudos, matriculando-se na Escola Militar, onde forma-se em engenharia. Era de estatura baixa, medindo 62 polegadas de altura, cabelos e olhos pretos, segundo os assentamentos militares.

Concomitantemente aos estudos militares, ingressou no Exército, prestando juramento em 26 de outubro de 1858, no 1.° Batalhão de Artilharia a Pé, com o prêmio de cem mil réis, na forma da lei, e ficou dispensado do serviço para estudar o curso de sua Arma na Escola Militar e de Aplicação; em 13 de novembro do mesmo ano passou para o Batalhão de Engenheiros; em 19 de março de 1859, passou a efetivo como trabalhador, sendo promovido a Cabo de Esquadra, em 25 de novembro, Furriel em 1.º de dezembro e 2.º Sargento a 16 do mesmo mês e ano; continuou a ascender no ano de 1860, passando em 4 de fevereiro, a pertencer à 2.ª Companhia de Alunos em virtude de ter se matriculado na Aula Preparatória de Matemática Elementar da Escola Militar e de Aplicação; em 10 de maio do referido ano, fora promovido a 1.º Sargento, servindo a partir de 31 de agosto, de Inferior da Companhia de Alunos, passando a 2.º Sargento e classificado no 1.º Batalhão de Artilharia a Pé, em 21 de dezembro, em virtude de decreto do mesmo dia que o desligou do Batalhão; segundo uma Relação de Exames de 28 de dezembro deste último ano, fora aprovado plenamente na Aula Preparatória de Matemática da Escola Militar, classificado com grau oito e habilitado em desenho com grau quatro, concluindo, assim, essa etapa de estudos e sendo desligado da Escola Militar em 4 de janeiro do ano seguinte.

Durante os anos de 1862 a 1863, esteve estudando na Escola Central.

Porém, em 11 de janeiro de 1864, retornou à Escola Militar, matriculando-se no terceiro ano de seu curso, que o concluiu com êxito em 25 de novembro, razão pela qual, por ato de 13 de dezembro foi desligado da 1.ª Companhia de  Alunos, ficando adido à 1.ª Companhia do Batalhão de Engenheiros.

Desta forma, em 22 de dezembro de 1864, Anfrísio Fialho marchou com um Contingente do referido Batalhão, para o front de operações da Guerra na bacia do Prata. Embarcou no Vapor Oyapock, com destino ao Exército em operações no Estado Oriental do Uruguai, tendo desembarcado no Porto de Montevidéu no último dia daquele ano e integrado-se de imediato à Brigada Expedicionária. Foi logo transferido para bordo da Corveta Bahiana, que bloqueava o Porto daquela cidade, a fim de reforçar a sua guarnição.

E porque nada ali de grave aconteceu, em 29 de janeiro seguinte, por ordem do Vice-Almirante Barão de Tamandaré, reuniu-se ao Exército acampado junto à Barra de Santa Luzia, aonde chegou a 2 de fevereiro, encostando-se às Baterias de Artilharia a Cavalo. E marchou o destemido militar piauiense até a vila de União, ainda no Uruguai, assistindo ao cerco e capitulação da Praça de Montevidéu e ao Convênio de 20 daquele mês. Marchando para o Cerro a 25, foi promovido ao posto de 1.º Tenente para a Arma de Artilharia, conforme ato publicado em 1.º de março.

Ainda no teatro de guerra, em 2 de março do indicado ano de 1865, foi classificado no Corpo de Artilharia do Amazonas, sendo transferido a 21 de abril para o 1.º Batalhão de Artilharia a Pé, embarcando em 26 no Vapor Princesa, com destino a São Francisco do Uruguai, onde desembarcou a 30 do mesmo mês; em 19 de junho, embarcou no Vapor Presidente com destino a Dayman, onde desembarcou a 21 e reuniu-se ao Batalhão de Engenheiros; entretanto, por ordem do Comando em Chefe do Exército, de 3 para 4 de julho, foi desligado deste Batalhão a fim de recolher-se ao 1.º Batalhão de Artilharia a Pé, adido ao Contingente do Batalhão de Engenheiros, sendo, em seguida, nomeado para instruir na esgrima de baioneta aos zuavos bahianos, sem prejuízo do serviço do mesmo Contingente.

De uma certidão passada pelo 1.º Regimento de Artilharia a Cavalo, consta que em sendo 1.º tenente do 1.º Batalhão de Artilharia a Pé, foi adido a este Regimento em 28 de fevereiro de 1866, por ter sido nomeado Comandante da Bateria de Voluntários Alemães; e assumiu o dito Comando na mesma data, no acampamento junto a Lagoa-Brava, na província de Corrientes, na Argentina, achando-se o Exército em marcha contra o ditador Francisco Solano Lopez, do Paraguai, tendo chegado à margem esquerda do rio Paraná, no Passo de Itapiru, em 31 de março, onde acampou com o Regimento defronte ao inimigo, então já no posto de Capitão, por decreto do dia três. Em 18 de abril, o intrépido militar liderando a sua Bateria, transpõe o rio Paraná, acima do Forte de Itapiru, incorporando-se no dia seguinte ao Regimento que ali estacionava; sem perda de tempo, cinco dias depois, passou com as tropas pelas fortificações do Passo da Pátria, abandonadas pelo inimigo e aí acampou; em 2 de maio, nessa posição, assistiu sem esmorecer ao combate dado pelo inimigo; sem perda de tempo, a 20 de maio, marchou com o Regimento na Vanguarda do Exército Aliado, tomando posição em frente às trincheiras inimigas, combatendo e desalojando-a de suas posições, na extensão de quase duas léguas, reocupando-as com sua tropa; depois de bater o inimigo paraguaio, acampou em Rojas, com o Exército Oriental do Uruguai, formando a vanguarda nesta posição; aí, dois dias depois, assistiu ao reconhecimento feito na Vanguarda do Exército e a 24 tomou parte ativa na grande Batalha dada pelo inimigo, combatendo-o com vivo fogo durante toda a ação; então, sem titubear marchou com a Bateria, a  reunir-se à 3.ª Divisão do Exército e assistiu aos Combates de Artilharia dos dias 14, 18 e 19 de junho; assistiu também aos combates de 16 e 18 de julho, marchando em seguida, com a Bateria para a frente, à disposição do General Comandante da Vanguarda, onde combateu o inimigo com vivo fogo até o final da ação, recolhendo-se ao Regimento no dia 23 do mesmo mês. Sobre a participação nesses combates do destemido patriota piauiense, é importante ressaltar que foi o mesmo mencionado em duas Ordens do Dia elaboradas pelo Comando em Chefe do Exército, por ter se distinguido no combate de 24 de maio e 18 de novembro.

Em 10 de maio de 1868, foi nomeado Major em Comissão, desligando-se a 18, por ter a Bateria de seu Comando passado a pertencer ao 4.º Corpo Provisório de Artilharia, sendo no mesmo ato, “elogiado pelo Comando do Regimento, por ter, no cumprimento de seus deveres, na qualidade de Comandante de Bateria, ministrado ao mesmo Comando a maior coadjuvação, para a regular marcha do serviço geral do Regimento, manifestando o mesmo comandante, o maior pesar, por separar-se de um Oficial ilustre e bravo, que saudosas recordações, deixa no 1.º Regimento de Artilharia a Cavalo, o que, há mais de dois anos, no Comando da Bateria de Voluntários Alemães, tem partilhado com o Regimento, em seus movimentos, os trabalhos, perigos e privações de guerra” (Certidão do Exército).

Em 2 de maio de 1869, combateu ferozmente o inimigo paraguaio no Chaco de Humaitá, de cujo combate saiu gravemente ferido, obtendo a 21 do mesmo mês, licença de dois meses para, no Brasil, tratar-se do ferimento recebido em combate. Por esse ato, foi mencionado com louvor na Ordem do Dia do Comando em Chefe do Exército de n.º 211, datada de 6 de maio.

De retorno ao campo de batalha, foi nomeado para uma Comissão encarregada de proceder à venda dos produtos daquele País, que não fossem reclamados pelo Tribunal competente. Foi, também, nomeado para servir na Comissão de Engenheiros, oportunidade em que “dirigiu os trabalhos da construção de Baterias, contra o entrincheiramento de Peribebuhy” e abriu “uma picada pela esquerda, a fim de flanquear o inimigo, sendo digno de louvor, pela presteza e tino com que desempenhou esta tarefa”, assistindo “ao assalto das fortificações de Peribebuhy, a  12 de agosto”. “Tendo sido incumbido de continuar o levantamento a percorrer pelo Exército, organizou e apresentou o resumo do itinerário de marcha do Exército de Piraju a Caraguatahy”(Ministério do Exército. Certidão emitida pelo Coronel Chefe da Seção da Repartição de Ajudante General, Francisco Egydio Moreira de São Pedro. In: Blog de Antonio Carlos Mesquita Amaral).

Com o fim da Guerra do Paraguai(1864 – 1870), e por ato de 14 de maio de 1870, obteve quatro meses de licença, para esperar na Corte a concessão de sua requerida Reforma em virtude das lesões incuráveis, obtendo-a por decreto de 12 de outubro. Aos 31 anos de idade, encerrava com distinção sua carreira militar, sendo reconhecido pelos relevantes serviços prestados à nação. Como reconhecimento, mesmo depois da reforma, por decreto de 10 de julho de 1873, foi-lhe concedida “as honras do Posto de Major do Exército, de conformidade com a Imperial Resolução de 2 do dito mês, tomada sobre consulta do Conselho Supremo Militar, em atenção aos relevantes serviços que prestou durante a Guerra do Paraguai”. Ainda em face desses serviços, recebeu as seguintes condecorações: Cavaleiro da Ordem de Cristo (Dec. 17.10.1866); Cavaleiro da Ordem da Rosa e depois Oficial da mesma Ordem(Decs. 13.04.1867 e 11.04.1868); Medalha Geral da Campanha do Paraguai, com o passador de ouro número cinco e respectivo diploma, concedida pelo Exército(12.12.1874).

Com o fim da guerra e o afastamento do serviço militar, o reformado major de comissão e capitão de artilharia Anfrísio Fialho viaja para a Europa, a fim de prosseguir nos estudos, fixando-se na Bélgica e matriculando-se na Universidade de Bruxelas, onde estuda e obtém o grau de doutor em Ciências Políticas e Administrativas, em 1877.  Quando de sua estada e estudos em Bruxelas, e durante a segunda viagem do imperador brasileiro à Europa, em 1876, na qualidade de adido militar à legação do Brasil, publicou, em francês, uma biografia laudatória do imperador brasileiro, Dom Pedro, Empereur du Brésil – Notice Biographique(1876), visando divulgar o império, então pouco conhecido na Europa. Segundo ele, com esse livro seu objetivo “procurando chamar a atenção do público europeu para o Brasil, era preparar a solução do mais importante problema que podia agitar-se na nossa sociedade, o problema da imigração e colonização deste vasto continente, dissipando previamente as falsas apreciações que a nosso respeito se tem espalhado nos países donde devemos chamar os braços de que carecemos” (FIALHO, Anfrísio. Processo da Monarchia Brazileira – necessidade da convocação de uma Constituinte. Rio de Janeiro: Typographia da Gazeta de Notícias, 1885. P. 5). Consta também que nesse mesmo tempo, ainda na Bélgica publicou uma defesa do general Bazaine.

De retorno ao Brasil, no ano e 1878, dedicou-se a algumas iniciativas empresarias em suas fazendas do Rio de Janeiro, bem como a criação de uma companhia, em sociedade com Theodor Chistiansen, para o estabelecimento de três engenhos centrais em Pernambuco, nos municípios de Cabo, Gameleira e Água Preta, destinados ao fabrico de açúcar de cana. Para este empreendimento obteve do governo imperial, através do decreto n.º 8.053, de 24.03.1881, a garantia de juros de 7% sobre o capital de 1.500:000$, fosse a sede estabelecida no Brasil ou no exterior. E meteu-se ao trabalho até pelo menos o ano de 1883, enfrentando diversos problemas. Consta que foi indicado para a presidência da província de Pernambuco, não tendo, porém, assumido o cargo, ficando, assim, a nomeação sem efeito.

Depois dessa experiência empresarial em Pernambuco, retorna para o Rio de Janeiro, onde dedica-se à política sendo um perfeito representante da Geração de Setenta, inebriado pelas ideias de Comte, Spencer, Darwin e outros. Fez-se intransigente no combate ao sistema monárquico e ferrenho na propaganda dos ideais republicanos, defendendo a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Em 1885, reeditou dois panfletos com os quais se identificava, a saber: O libelo do povo, de Francisco de Sales Torres Homem, Visconde de Inhomirim, cuja primeira edição saíra em Lisboa(1868); nesta obra o autor analisa as revoluções europeias de 1848 e os acontecimentos brasileiros do mesmo período, referindo-se à Revolução Praieira, em Pernambuco, considerando terem disso sufocadas as liberdades, bem como mostrando o antagonismo existente entre a soberania nacional e a prerrogativa real, criticando o sistema federativo, a centralização monárquica e o exercício do Poder Moderador; o outro livro reeditado com comentários seus, foi A conferência dos divinos, de Antonio Ferreira Viana, publicada anonimamente em 1867, em cujo texto o autor concebe um diálogo imaginário onde o imperador D. Pedro II explica a Nero como conseguia manipular os homens e os Partidos a fim de governar sem usar violência, apenas a arma da  corrupção. Nesse mesmo ano, publica de sua autoria Processo da monarquia brasileira – necessidade da convocação de uma Constituinte (Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1885. 47 p.), folheto de 54 páginas com tiragem de dez mil exemplares, onde também justifica o programa de seu jornal O Constituinte, fundado no mesmo ano. Naquela obra ele afirma intimoratamente: “Saibam aqueles que ainda o ignoram que esse patrício já verteu o seu sangue por sua pátria e saberá por ela morrer – Ele o jura perante Deus”.

Ainda nesse ano de 1885, publica um ensaio autobiográfico com o seguinte título: Um terço de século(1852 – 1885): recordações (autobiográficas) (Rio de Janeiro: Edição do autor, 1885), salientando-se pelo pioneirismo do assunto, sobretudo porque foi pela primeira vez usado no Brasil o termo autobiografia.

Com a proclamação da República(15.11.1889), pela qual tanto lutara, vai eleito em setembro de 1890, deputado federal constituinte pelo Piauí, assumindo o mandato em 15 de novembro do mesmo ano, exatamente um ano depois daquele ato, quando foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte. Promulgada a Carta Constitucional em fevereiro de 1891, em cujos debates participara ativamente, e iniciada a legislatura ordinária em junho seguinte, ali permaneceu no exercício do mandato parlamentar até dezembro de 1893. No exercício desse mandato parlamentar é digno de nota a sua defesa de indenização aos ex-senhores de escravos que perderam seu patrimônio com a abolição da escravatura, chegando-se mesmo em pleno governo provisório a organizar-se um banco com a finalidade de administrar os fundos para a indenização, contra o qual se bateram os abolicionistas.

Paralelamente ao exercício do mandato parlamentar, não descurava das atividades empresariais. Por decreto de 5 de novembro de 1890, consegue do Governo Provisório permissão para explorar minas de sal-gema nas margens do rio Tibagy e seus afluentes, no Estado do Paraná.

No ano seguinte publica o livro História da fundação da República no Brasil (Rio de Janeiro: Laemmert & Cia., 1891. 188 p), versando sobre a gênese do movimento, as perspectivas de um terceiro reinado, a questão militar que antecedeu à proclamação e a ação do dia quinze, concluindo que o continente americano é a terra da República.

Insatisfeito com os rumos que o presidente Floriano dava à nascente República em 1893, tomou parte na fracassada Revolta da Armada, embarcando em 5 de setembro no navio Aquidaban, com o Almirante Custódio de Mello e alguns outros oficiais e políticos.

Depois, afasta-se da vida pública não sabendo esse biógrafo quando ele veio a falecer.

Concluindo, pode-se dizer que foi um piauiense que muito se destacou nos estudos, na vida militar, nas atividades empresariais e, sobretudo, na propagação das ideias republicanas no Brasil. Merece, pois, figurar nessa galeria de figuras notáveis.

 

* REGINALDO MIRANDA é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Autor de mais de doze livros e dezenas de artigos.