Uma comovente história de amor aos animais

(Miguel Carqueija)


As crônicas do Titanic falam de uma mulher chic que, ao se dirigir para o barco salva-vidas, levava um cachorro de grande porte. Impedida de embarcar com ele, retornou, disposta a morrer com seu animal de estimação.
    Muitas pessoas censurarão essa atitude, classificando-a de loucura e fanatismo. Mas, até que ponto é meritório amar apenas aos semelhantes, ou seja, os demais seres humanos, fazendo pouco dos animais a partir do epípeto “irracionais” tomado como pejorativo?
    É muito fácil amar apenas aos semelhantes. São Francisco de Assis, porém, amava todas as criaturas, por sabê-las criação divina. O homem que só ama – às vezes, mal e porcamente – os semelhantes, acaba por não amar a Deus, ou sequer acreditar n’Ele, pois não o vê, não o sente, não o ouve. Mas, ama-se a Deus amando-se a Criação.
    Eu fico imaginando o que teria acontecido com aquele cão, se a sua dona o houvesse largado naquela hora, dando prioridade à sua própria vida. Abandonado no navio em polvorosa, sem entender o que estava acontecendo, em meio ao pânico, à lenta agonia do transatlântico, e enfim chegando a cruel morte por afogamento ou hipotermia naquelas águas geladas. Podemos medir a sua angústia em tal situação? Ou se atiraria ele ao mar, na tentativa desesperada e sem chances, de alcançar a querida dona?
    O que aconteceu, então? Morreram ambos, provavelmente abraçados, confortando-se mutuamente.
    Quem ama dá a vida por quem ama – mesmo se for um bicho de estimação. Eles também têm sentimentos e os cães, a gente sabe, dão a vida por seus donos.