(Miguel Carqueija)


    Quando o astro intruso para a Terra orientou,
    caiu flamejante, partiu-se e no Ceará desceu.
    Desfeito pelos mísseis, no solo crestado afundou
    e em forte terremoto a antiga crosta rompeu.


    E aí eles surgiram. Oh! Então há vida no abismo:
    e o horror do Triássico pelo mundo se espalhou.
    E a raça humana, angustiada pela força do sismo,
    Redobrou de angústia quando a Raça do Passado olhou.


    E lá vieram. O Tiranossauro, o Diplodoco, o Iguanodonte,
    o Plessiossauro, o Brontossauro, os Filhos do Cataclismo.
    Os dentes imensos, as garras gigantes, as patas de mastodonte:
    e os povos em fuga, presas de pânico e histerismo.


    Os monstros avançaram. Estúpidos, lerdos, esfomeados,
    em toda parte estavam: na cidade, no vale, no deserto, no monte.
    Uns se arrastavam, outros corriam, outros eram alados:
    Que armas empregar? O Homem, aflito, esfregava a fronte.


    E foi assim que todo o conflito entre os povos morreu,
    e hoje os que antes se matavam, agora apaziguados,
    conduzem a paz entre as nações ao seu apogeu:
    e na guerra ao dinossauro, judeus e árabes são aliados.


    E segue o desafio da Natureza em revolta,
    que ao implume bípede apostrofa: a ti descarto!     

    E aos canhões opõe o sáurio em ominosa volta.
    

    Enfim quem vencerá? O Homem ou o Lagarto?
    
   (do livro homônimo: edição da Protótipo Editora, Rio de Janeiro, 1992)