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A SOLUÇÃO DE HIKARU
    Miguel Carqueija


    
“O que tem de errado em amar uma pessoa?”
(Hikaru Shidou)

“Não quero mais ver ninguém chorando com a perda de pessoas amadas.”
(Hikaru Shidou)


“O que queremos é viver felizes ao lado das pessoas que amamos.”
(Hikaru Shidou)



Resenha do volume 6 (final) do mangá “Guerreiras Mágicas de Rayearth” (Editora Kodansha, Japão, 1994; Editora JBC, Brasil, 2014), da CLAMP (Satsuki Igarashi, Nanase Ohkawa, Tsubaki Nekoi e Mokona).



    O volume final do mangá “Guerreiras Mágicas de Rayearth”, da CLAMP, chegou há pouco nas bancas brasileiras, em edição da JBC, de São Paulo. A saga talvez seja, até hoje, a mais prestigiada da CLAMP, além de mais inteligível que várias outras.
    Com mais de 200 páginas, este caprichado volume fecha a epopéia de Hikaru Shidou, Fuu Hououji e Umi Ryuzaki, numa apoteose que, de certa forma, podia ser prevista, pelo menos no que se refere ao destino final de Hikaru, cujo nome quer dizer luz ou brilho. Na dublagem original do animê ela era chamada de Lucy.
    Mas se o grandioso destino de Hikaru podia ser imaginado, o mesmo não ocorre com Mokona que, visto como um bicho mágico típico de mangás, animês ou mesmo fantasias ocidentais, acaba se revelando uma espécie de divindade capaz de estabelecer as regras que regem Cefiro e a Terra. Uma relação que me pareceu forçada e que, de resto, foi de todo ignorada no seriado de animação; portanto não era inevitável nem mesmo para a CLAMP.
    A doçura de Hikaru, secundada por Fuu e Umi, espalha o amor por todos ao redor e mesmo sua lealdade pelo último adversário, Eagle, mostra a que ponto vai a sua generosidade. Por mais que se disseque e se analise a saga das Guerreiras Mágicas o grande destaque, o ponto alto será sempre esse, e a CLAMP conseguiu tornar a protagonista verossímil, aceitável, pois a bondade, o desprendimento, a retidão da menina fluem como uma melodia de mestre, com toda a naturalidade. Esta exaltação de valores parece mais realçada ainda por emanar de três garotas de 14 anos, com o viçoso idealismo de sua idade e sexo. No Brasil, em nossa ficção, parece que adolescentes sempre são vistos, senão como pessoas vulgares, como praticantes de gírias e cabotinos. Já Hikaru, Fuu e Umi falam uma linguagem surpreendentemente elevada. Não que usem uma linguagem difícil, mas uma linguagem bonita, expressiva de nobres sentimentos.
    As personalidades que desfilam na epopéia são elaboradíssimas, surgindo aos poucos em diálogos intimistas. Presea, Cléf, Fério, Lantis, Ascot, Aska e diversos outros, além é claro das três principais: a suavidade professoral de Fuu, a nobre impetuosidade de Umi e a doce pureza de Hikaru.

imagem da série