A Silvino Santos, nos 40 anos de seu falecimento
Por Flávio Bittencourt Em: 25/05/2010, às 22H36
A Silvino Santos, nos 40 anos de seu falecimento
Sua câmara captou a selva, o ser da amazônia, os animais e a produção pesqueira e extrativista.
(http://desconstrucao.blogs.sapo.pt/arquivo/2006_03.html,
onde se pode ler:
O CINEASTA DA SELVA, Trilha sonora de Caíto Marcondes e Teco Cardoso
Press release: Inspirados por imagens estonteantes de uma Amazônia do começo do século, os músicos Caíto Marcondes e Teco Cardoso criaram a trilha sonora do filme "O Cineasta da Selva" (de Aurélio Michiles), longa - metragem que narra a saga do português Silvino Santos, um verdadeiro mito da selva e um dos pioneiros do cinema no Brasil. A textura sonora criada pela mistura de talking drums e paus de chuva com flautas de bambu e vozes, ganha uma nova dimensão mixada no envolvente sistema Dolby Surround. As cantoras Marlui Miranda e Eugénia Melo e Castro acompanham Caíto e Teco nessa estimulante aventura, "dando vozes aos espíritos da mata e às reminiscências de Silvino". Indicado para Prêmio Sharp 99 - Cat. Trilha Sonora. Design Gráfico de Ruth Klotzel / Estúdio Infinito. Produção Gráfica de Rogério Nicolau. Primeiro CD brasileiro mixado em DOLBY SURROUND.
Temas: 01Abertura 02Sonho 03No Rastro do Eldorado 04Espíritos da Mata 05Rio Putumayo 06Casamento 07Pesca do Pirarucu 08Festa 09O Vôo 10Don Julio 11A Fiandeira 12No País das Amazonas 13Cavalhada 14Rio Antigo 15Colheita da Castanha & Decadência da Borracha 16Crônica
FICHA TÉCNICA- Caíto Marcondes - tablas, bongô, talking drum, bombo, caxixis, gongos, pratos, djambê, pandeiro, pandeirão, kalimba, cavaquinho, teclados e voz. Teco Cardoso - flauta em Dó, flauta em Sol, flautas indígenas de bambu, pífano, percussão com as chaves da flauta, sax soprano e sax tenor. Eugénia Melo e Castro - voz ( em "A Fiandeira" ). Marlui Miranda - voz e fala indígena. Gravado no estúdio Oykoumenê mixado e masterizado em Dolby Surround em Junho de 98.
Crítica- "O selo Núcleo Contemporâneo está lançando a trilha sonora do filme ‘o Cineasta da Selva’, reunindo os músicos Teco Cardoso e Caito Marcondes. O filme, dirigido por Aurélio Michilis, conta a história do português Silvino Santos que desde a sua chegada à Amazônia, em 1900, exercitou a vocação de fotógrafo e cineasta, tornando-se um dos pioneiros do cinema n Brasil. Este é o primeiro CD brasileiro mixado no sistema Dolby Surround, tecnologia que possibilita intensa sensação de envolvimento no ouvinte. Utilizando instrumentos de percussão e de sopro, os músicos conseguiram uma textura sonora que reflete com fidelidade os mistérios a região amazônica, seus sons gritos e tambores da mata. Flautas de bambu que se misturam com vozes, tablas que se unem aos paus da chuva, em canções que contam com a participação da cantora portuguesa Eugénia de Melo e Castro e da brasileira Marlui Miranda.Todas as músicas e arranjos são de Caito e Teco, que souberam dar vozes ao espírito da selva de forma irretocável." José Prado Netto, Jornal do Sul de Minas, 05/5/1999
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12.7.2008 | 15h15m
Custódio, o guardião da memória de Silvino Santos
Custódio com o chapéu de Silvino. Foto: Rosane Nicolau
Você precisa cruzar as salas de exposição do Museu Amazônico de Manaus, descer uma pequena escada e entrar numa saleta apertada da casa anexa para encontrar Custódio Rodrigues, o guardião da memória de Silvino Santos (1886-1970). Quem me deu o mapa da mina foi Aurélio Michiles, o documentarista manauara radicado em São Paulo. Custódio (o nome não poderia ser mais apropriado) foi fundamental para a produção de O Cineasta da Selva, a ponto de Michiles lhe ter dado uma ponta na cena que reconstituía uma noite de gala no Teatro Amazonas.
Em seu pequeno escritório, com um misto de orgulho e familiaridade, ele abriu armários e gavetas para me mostrar relíquias de Silvino, o primeiro documentarista da Amazônia. Diversas máquinas e apetrechos de revelação fotográfica, como um pequeno tanque metálico, a bacia de louça francesa vista na foto ao lado e o relógio com que ele marcava o tempo da revelação. A caneta com que escreveu suas memórias. Uma pintura a óleo (Silvino também pintava). Algumas latas de filmes. Um estojo de giz Lefranc trazido de Paris para colorizar fotografias. Para meu deleite, Custódio folheou álbuns de fotos belíssimas de Manaus antiga, inclusive da cidade inundada pela grande enchente de 1953. Não relutou sequer em posar para a câmera da minha mulher envergando um chapéu que Silvino usava em suas expedições.
O acervo do Museu Amazônico possui ainda cerca de 300 negativos fotográficos em lâminas de vidro produzidos por Silvino Santos. Mas o autor de No País das Amazonas e No Rastro do Eldorado não é o único personagem de que Custódio Rodrigues se ocupa. Ele cuida também da memória da empresa de J.G. de Araújo, o comendador e barão da borracha que empregou Silvino por duas décadas. A parte de sua imensa obra que escapou à perda e à destruição foi produzida paralelamente a uma intensa crônica (fotográfica e filmográfica) da vida dos patrões, das viagens e empreendimentos do comendador. Assim Silvino filmou florestas, índios, cidades, costumes, fauna e flora amazônicos ao longo da década de 1920. Para revelar suas fotos e filmes na floresta, ele inventou e adaptou toda uma tecnologia rústica que entraria para a história do documentarismo brasileiro.
Custódio, por sua vez, dá cursos de conservação e restauro de fotos, além de se dedicar à paciente recomposição de achados arqueológicos do Amazonas que chegam ao museu. Agora mesmo está às voltas com a preparação de um projeto de inventário documental e restauração digital de todos os acervos, a ser patrocinado pela Petrobras. A paixão pelo assunto o levou a começar o trabalho justamente pelo material de Silvino. Ele sabe que ali palpita o coração do Amazonas".
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CONTRIBUIÇÃO NOSSA, de 1981
Silvino Santos
por Flávio A. L. Bittencourt
Silvino Simões Santos Silva nasceu em Sernache de Bomjardim, pequena cidade portuguesa. Filho de Antônio Simões Santos Silva, um professor de música e de Vírginia Silva, Silvino Santos, ainda muito jovem, partiu para tentar a vida na lendária Amazônia. Chegando a Belém do Pará foi trabalhar no comércio. Aprendeu a fotografar nesta época já demonstrando enorme talento, foi descoberto por um dos mais poderosos seringalistas da Amazônia Peruana, o Sr. Júlio Cezar Araña.
Araña era responsável pela Peruvian Amazon Co. e queria sensibilizar os acionistas ingleses, que estavam indignados pelas acusações de Hardenburg, um missionário americano. Hardenburg afirmava que no rio Putumayo, Aranã escravizava e assassinava indígenas. Este foi defender-se no Tribunal dos Comuns em Londres e percebeu que havia uma novidade sensacional que poderia servir como veículo de propaganda. Era o cinematógrafo.
Araña financiou a viagem de Silvino a Paris. As usinas dos irmãos Pathé e os laboratórios dos Lumière eram diariamente freqüentados pelo rapaz que precisava de películas resistentes ao calor tropical.
Retornando ao rio Putumayo, onde se havia estabelecido, Silvino rodou o filme que mostrava os seringais de Araña (1912).
Em 1913, casou-se com Anna Maria Schermuly, descendente de alemães, que estava sendo tutelada por Araña.
Em 1914, o filme rodado no Peru ia ser copiado nos Estados Unidos, mas submergiu, pois o navio onde se encontravam os negativos foi colocado a pique na I Guerra Mundial.
Silvino Santos se estabeleceu em Manaus e seu segundo filme também se perdeu. Em 1918, o comerciante Manoel Gonçalves resolveu fundar a Amazônia Cine Film e foi realizada a película documental Amazonas, o Maior Rio do Mundo. O empresário Avelino Cardoso participava do empreendimento. O noivo de sua filha, Propércio Saraiva, a título de copiar o filme em Londres, desapareceu com os originais deixando o cineasta em difícil situacão financeira. A firma se dissolveu e o material cinematográfico foi arrematado pelo Comendador Joaquim Gonçalves de Araújo. Silvino iria conhecer o sucesso.
Em 1921 filmou No Paiz das Amazonas, filme de rara beleza fotográfica, exibido no Cinema Pathé do Boulevard des Italiens, em Paris, e nos principais centros da Europa. O lançamento comercial no Rio de Janeiro, se deu em 02 de abril de 1923 no cinema Palais. O Jornal O Paiz comentou: “Chama-se No Paiz das Amazonas e é uma estupenda licão de coisas. Paisagens, maravilhas phisicas, riquezas naturaes, progressos economicos, typos, costumes, cidades, tudo se projecta nessa empolgante pellicula, que o Sr. Presidente da República teve ensejo de admirar, com todos os Ministros de Estado, no Palácio do Cattete e a que não poupou honrosos encomios”.
Esse filme foi produzido incialmente para ser exibido na Exposicão Comemorativa do Centenário da Independência. No Rio de laneiro, Silvino filmou a Exposicão, na qual seu filme fez enorme sucesso, e rodou o documentário Terra Encantada, focalizando os mais variados aspectos da Capital Federal.
Em 1924/25 realizou No Rasto do EI-Dorado, documentação cinematográfica da Expedicão Alexander Hamilton Rice, outro sucesso estrondoso.
Produziu ainda Terra Portuguesa, focalizando aspectos de Portugal, onde permaneceu de 1925 a 1927 com a família Araújo. Trabalhou até o fim de sua vida na firma do Comendador Araújo. Teve um casal de filhos, Guilherme (1914) e Lilia (1916).
Quando já não mais produzia longas-metragens, Silvino fazia “shorts” para serem exibidos na Fábrica de Cerveja e Gelo de Miranda Corrêa e Cia. Era um ambiente refinado onde a sociedade amazonense ia se admirar na tela do cinematógrafo.
Em 1970, os cineastas Roberto Kahané, Domingos Demasi Filho e Paulo Sérgio Muniz realizaram o curta-metragem Silvino Santos, o Fim de um Pioneiro.
Silvino Santos faleceu em Manaus a 14 de maio de 1970. Anna Maria faleceu em 1979.
Em novembro e dezembro de 1981, realizou-se, na Galeria de Arte Afrânio de Castro em Manaus, uma exposição fotográfica comemorativa dos 95 anos de nascimento do cineasta.
Como se vê, o cinema, arte de suporte material tecnológico, não foi introduzido no Amazonas sem a dose de poesia e criatividade característica das produções dos grandes artistas de nosso século.
Filmografia
1912 - Filme rodado no Rio Putumayo
1918 - Amazonas, O Maior Rio do Mundo
1921 - No Paiz das Amazonas
1922 - Documentação cinematográfica da Exposição da Independência
1923 - Terra Encantada
1924 - Documentação cinematográfica da Intervenção Federal no Estado do Amazonas, no episódio do golpe de Ribeiro Júnior
1924/25 - No Rasto do El-Dorado
1925/27 - Terra Portuguesa
Fontes:
1. ALENCAR, Miriam. Silvino Santos no Rastro das Amazonas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 08 ago. 1970.
2. BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias. Rio de Janeiro, Conquista, 1973.
3. MONTEIRO, Mário Ypiranga. Um Jovem Cineasta, Jornal do Comércio, Manaus, 27 dez. 1975.
4. RANGEL, Carlos. Um Herói à Antiga. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, nº 50, 1969.
5. RICE, Hamilton. Exploração da Guiana Brasileira. São Paulo, EDUSP, 1978.
6. SOUZA, Márcio. A Expressão Amazonense. São Paulo, Alfa-Ômega, 1977.
7. STEVENS, Albert W. Exploring the Valley of the Amazon in a Hidroplane. The National Geographic Magazine, nº 4, 1926
Silvino Santos,
um genial pioneiro Durante a filmagem de No Rasto do El-Dorado (1924/25): “Santos, o cinegrafista, descobriu esta grande árvore, crescendo na margem do rio, onde a água estava à mão. Ele observou suas vantagens naturais e a converteu em laboratório. À noite, com um pedaço de lona amarrado ao redor das raízes para manter afastada a luz, poderia revelar os filmes. Entusiasta pelo seu trabalho, vinha pelo campo com a lanterna ou vela, com um pé ou dois de filme, mostrando a todos o que teve a sorte de conseguir. Se ele não aparecesse todos sabiam que o seu dia tinha sido um fracasso”. (Albert Stevens. Foto The National Geographic Magazine)" |