A SAGA DO INOVAÇÃO
Por Elmar Carvalho Em: 11/11/2010, às 17H58
ELMAR CARVALHO
Colaboradores do jornal Inovação, sob o cajueiro de Humberto de Campos. 1º plano: Bartolomeu Martins, Vicente de Paula (Potência), Elmar Carvalho e Canindé Correia; 2º plano: Francisco Fontenele de Carvalho (Neco), Diderot Mavignier, Francisco José Ribeiro (Franzé), Sólima Genuína, B. Silva e Reginaldo Costa; 3º plano: Danilo Melo, Jonas Fontenele de Carvalho, Israel Correia, Porfírio Carvalho, Wilton Porto, Alcenor Candeira Filho, Flamarion Mesquita e Paulo Martins
Colaboradores do Inovação, quase todos residentes em Brasília: Porfírio Carvalho, Cícero, Ana Alice, Cândida, Jonas Carvalho, Madeira Basto, Reginaldo Costa, Ivana, Rinaldo e Ernesto Magalhães
Há vários dias o romancista Assis Brasil me pediu que lhe conseguisse uma cópia da entrevista que concedera ao saudoso jornal Inovação, muitos anos atrás. Nas vezes em que fui a Parnaíba, tentei consegui-la através do Francisco José Ribeiro (Franzé), companheiro do Reginaldo Costa na feliz iniciativa de fundarem o periódico. Soube que um filho dele estava escaneando todos os números do Inovação, o que seria muito importante para os pesquisadores e interessados, pois apenas o Franzé e o Reginaldo tinham a coleção completa dos números publicados. Em “Jornal Inovação – um Depoimento”, que publiquei em vários livros e na internet, contei a saga do jornal, suas lutas, suas dificuldades, suas atividades culturais, como biblioteca, suplementos (encartes), pesquisas sociais e promoções de eventos e palestras. Nesse trabalho, eu dizia que a história do órgão bem se prestaria a uma tese de doutorado ou a uma dissertação de mestrado. Tenho conhecimento de que alguns estudantes escreveram ou estão escrevendo a esse respeito. O Reginaldo Costa, seu principal baluarte, escreveu um livro sobre o Inovação, infelizmente ainda não publicado, que será de grande valia para o conhecimento da efervescência cultural que Parnaíba então viveu. Através do Vicente de Paula, o nosso bravo Potência, ou do Canindé Correia, ambos colaboradores assíduos do jornal, recebi, meses atrás, um cd com a digitalização de todos os seus exemplares, graças ao esforço de um dos filhos do Franzé. Acabo de imprimir o número que traz a entrevista de Assis Brasil, concedida ao Francisco Fontenele de Carvalho (Neco), no Rio de Janeiro. Entrevista bem feita, longa, de rico conteúdo, recheada de reminiscências, quando o escritor ainda não retornara ao Piauí, nem mesmo a passeio. A capa assinalava: Ano VII – Nº 50 – Parnaíba, 31 de outubro de 1984. Sei que vai causar muita emoção ao Assis Brasil, quando eu lhe entregar o exemplar que fiz imprimir.
Aproveitei para ver, virtualmente, vários números, que tive em minhas mãos, em papel, ainda quase com a tinta fresca, ainda quente, como um pão que tivesse acabado de sair do forno. Emocionei-me. Voltei a me sentir aquele garoto vibrante, entusiasmado, cheio de sonhos e ideais, a exalar poesia e literatura por todos os poros. Recordei as lutas e o idealismo do Reginaldo Costa para publicar o “monstrinho”, como eu e ele, brincando, chamávamos o periódico. Achávamos que estávamos contribuindo para destruir a ditadura militar, que no início do jornal (dezembro de 1977) ainda era muito forte. Folheando digitalmente esses velhos números, recordei os amigos, que foram seus colaboradores assíduos. Em homéricas degustações de crustáceos, que os imbecis chamam de caranguejos, em tirada pacamônica, regadas a cerveja, o Reginaldo Costa, o Canindé Correia, Bernardo Silva, De Paula e este diarista, traçávamos a pauta e planejávamos as estratégias de sobrevivência do jornal, que estava sempre enleado em dificuldades financeiras, sobretudo quando não mais pode ser editado em Parnaíba, em consequência de represálias a sua linha independente e ousada. Escritores, poetas, intelectuais e artistas plásticos da estirpe de Canindé Correia, Alcenor Candeira Filho, De Paula, Ednólia Fontenele, João Maria Madeira Basto, Wilton de Magalhães Porto, Danilo Melo, Israel Coreia, Jonas Carvalho, Airton Menezes, Ana Alice, Sólima Genuína, Olavo Rebelo, Flamarion Mesquita, Bartolomeu Martins, Paulo Martins, etc. foram seus colaboradores. Várias outras pessoas, que não escreviam, o ajudaram, de uma forma ou de outra. Quase todos éramos amigos fraternos, e estávamos sempre em contato, seja para discutir o jornal, seja para conversar em nossos momentos de lazer. Vendo as fotografias do rio Igaraçu e das ruas inundadas, comprovei, mais uma vez, que naqueles idos já denunciávamos a lenta agonia do Parnaíba, a devastação dos mangues, a exploração predatória dos caranguejos e os descasos da administração pública. Folheando, através da tela do monitor, essas velhas páginas do Inovação, senti emoção e saudade, do jovem emotivo e sentimental que fui e dos amigos que citei; das longas viagens de motocicleta que fiz, na companhia do Reginaldo Costa, a serviço do jornal ou para acampar, por simples espírito de aventura, em plagas distantes, como Sete Cidades e Camocim. No topo das barracas, o Reginaldo fixava a bandeira improvisada do jornal Inovação. Poderia dizer que essa bandeira continua a tremular, para sempre fincada em minha memória e em meu coração.