A morte da matriz

A morte da matriz

 

Rogel Samuel

 

O tema central do romance de Dilson Lages Monteiro, “O morro da casa grande” (Nova Aliança, Teresina, 2009) é a demolição da Igreja Matriz de Barras.

Quem diz matriz diz mãe, marco inicio fundação. A vidas das pessoas ressurge ao redor daquela igreja, daquele Cristo de Braços Abertos no alto da edificação. Quando demolida, em 1963, seu mundo todo morre desaparece, o mundo antigo, básico, matriz.

A vida do livro depende disso, veio para isso, clama contra isso: a igreja morta.

“As casas nascem, vivem, adoecem e morrem, como as pessoas”, diz Drummond no início do livro. E a doença da igreja se manifesta, é uma rachadura na parede. “Naquele 1957, algumas rachaduras de cima abaixo levavam o povo a dizer que a igreja despencaria”.

A casa da fazenda nem é o centro da família. Seu centro simbólico é a igreja, construída pelo patriarca  José Carvalho de Almeida, o bisavô que nasceu ali mesmo, em Barras, em 1770.

Tudo era ele, o Patriarca, o Cristo entre as duas torres, as dez portas laterais, as muitas janelas.

A presença da Igreja e sua significação garantia “a abundância luminosa das águas”.

Sua demolição matou o sentido de Barras.