[Flávio Bittencourt]

A marca e o logotipo brasileiros

Um posfácio de Antonio Houaiss, escrito e publicado em 1974, numa importante obra de Wlademir Dias-Pino .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://mundodasmarcas.blogspot.com/2006/10/phebo-odor-inconfundvel.html)

 

 

 

 

 

 

"DE ACORDO COM ALGUNS PESQUISADORES DA HISTÓRIA

DA POESIA VISUAL BRASILEIRA - E O PROF. ANTONIO MIRANDA

É UM DELES (Philadelpho Menezes, que infaustamente faleceu

ainda jovem, em acidente automobilístico, e publicou livros

magistrais sobre esse teoricamente relevante assunto, era

outro [MAS É PRECISO PESQUISAR NOS TRABALHOS DE

P. MENEZES COMO É ALI SITUADA A OBRA DE W. DIAS-PINO

NO DIACRÔNICO 'filme' DA PRODUÇÃO POÉTICO-VISUAL

DO BRASIL, o que, neste momento, por falta de tempo,

mas não de interesse, não foi feito]) -,  O FAMOSO POEMA AVE,

DE WLADEMIR DIAS-PINO, FOI O MARCO INICIAL DAQUELE

TIPO DE ARTÍSTICO-SEMIÓTICA MANIFESTAÇÃO NACIONAL

[BRASILEIRA] DA VANGUARDA DO ENGENHO HUMANO,

NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX; segundo outros

autores, contudo, TERÁ SIDO ESSE POEMA VISUAL,  FUNDANTE, 

UM DOS MARCOS INICIAIS (PARA OS QUE PERCEBEM QUE 

HOUVE MAIS DE UM MOMENTO INAUGURAL, no caso

mencionado); A POESIA VISUAL, COMO SE SABE, POR ASSIM DIZER,

'descende' DAS EXPERIÊNCIAS POÉTICO-VISUAIS DE

S. MALLARMÉ E DE G. APOLLINAIRE, SENDO ANTERIOR

À PRÓPRIA POESIA CONCRETA - A BRASILEIRA E A MUNDIAL -,

QUE DELA É APARENTADA (apesar de não haver outra

coisa senão palavras, na poesia concreta, diferentemente

da poesia visual) - e, talvez, (TAMBÉM 'DESCENDA') de obras

das artes plásticas nas quais o elemento verbal esteve

presente, em sua semiótica instância DE DESENHO,

de desenhado lettering, digamos, desde que não tenhamos

incorrido em em pleonasmo na enunciação da

expressão composta ' DESENHADO LETTERING', 

abstraídas, além disso, em pinturas, por exemplo, 

as assinaturas de autores, em cada tela pictórica,

já que, neste momento, se fala em LETRAS, ALGARISMOS

E OUTROS GLIFOS CENTRALMENTE REPRESENTADOS 

NA OBRA e não em indicação da fonte humana da

criação, elemento que, a propósito, do ponto de vista

semiótico-artístico, é bastante interessante,

inclusivamente"

 

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

VERBETE 'WLADEMIR DIAS-PINO',

WIKIPÉDIA: 

"Wlademir Dias-Pino

Wlademir Dias-Pino, nascido no Rio de Janeiro em 1927 e tendo residido por um longo período em Cuiabá, é um poeta visual que participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, tendo sido, ainda, um dos fundadores do poema/processo em 1967 e o primeiro autor a elaborar o conceito de "livro-poema", com o poema A Ave considerado por Moacy Cirne e Álvaro de Sá o primeiro exemplo/exemplar conhecido deste tipo de poema [1]. O que caracteriza o livro-poema é a exploração das característica físicas do livro como parte integrante do poema, tornando-os um só corpo físico, de forma que o poema só existe porque existe o objeto livro.

A Ave, elaborado a partir de 1954 e lançado apenas em abril de 1956, assumia já o elemento visual como principal agente estrutural do poema. Produzindo, a partir daí, uma concepção própria da poesia concreta, o poeta intencionava expressar, por exemplo, através de um gráfico o que necessitaria de um longo discurso verbal para ser dito. Assim sendo, seus poemas visuais incluem gráficos, perfurações, figuras, etc., além de caracteres escritos e, por vezes, chegam a abrir mão da palavra para tornarem-se puramente plásticos, não-verbais[2].

Diferindo da poesia concreta em sua essência, que via na paranomásia o principal motor da poesia, extrapolando o contexto da linguagem verbal, Dias-Pino trabalha com o simbólico e o metafórico, buscando uma espécie de metáfora pura[3].

Antonio Houaiss o considerou "um dos mais perspicazes pesquisadores visuais no Brasil"[4].

Referências

                                                                  Antônio Houaiss

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.vidaslusofonas.pt/antonio_houaiss.htm)

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

A Ave - Wlademir Dias-Pino,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=aUjkO0G9v38

 

 

 

 

 

                             HOMENAGEANDO AS MEMÓRIAS DE ANTONIO HOUAISS E

                             PHILADELPHO MENEZES E

                             REVERENCIANDO O FUNDADOR WLADEMIR DIAS-PINO,

                             A QUEM SE DESEJA

                             MUITA SAÚDE E VIDA AINDA MAIS LONGA

  

 

 

 

6.10.2011 - Uma variação da palavra logotipo. em Portugal, tal como grafada no dicionário originalmente de Antônio Morais Silva, é logótipo, com acento agudo no segundo 'o' , um "(...) requinte filológico postulado pela quantidade breve do y grego original, como nos casos de protótipo, genótipo, fenótipo, biótipo etc." - Essa é apenas uma das numerosas informações preciosas, da área da linguística histórica (linguística não-estrutural), que, COM CONHECIMENTO DE CAUSA, mestre Antonio Houaiss apresentou-nos, em 1974, no posfácio do importante livro A MARCA E O LOGOTIPO BRASILEIROS, de Wlademir Dias-PIno.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

  

  

"Posfácio: a Marca e o Logotipo Brasileiros
Antonio Houaiss [1974]

O título deste livro – e a palavra `livro`, no caso, já não é bem a que melhor o denota – é, de um lado, absolutamente fiel a um dos seus muitos objetivos.: A marca e o logotipo brasileiros. Qualquer industrial, artesão, criador de coisas, comerciante, banqueiro, financista, barganhador, intermediador, (de bens, benesses, serviços, relações) que se defrontar com a necessidade de ter a sua marca ou o seu logotipo, nele encontrará um repertório de informações tão rico e aliciante que, sem dúvida, sairá, depois de manuseá-lo e apreende-lo, enriquecido de idéias para criar ou fazer criar ou escolher a sua marca ou o seu logotipo. Assim, o objetivo primeiro está aqui cabalmente cumprido.
Mas marca e logotipo têm história, forma, função, estrutura, inseridas na cultura. E o lado visual da cultura, se não é sensorialmente o predominante, é por certo dos mais relevantes, se bem que os sentidos continuem e continuarão a ser campo aberto ao conhecimento humano, como elos situacionais do vivente para consigo mesmo, do vivente para com o vivente, do vivente para com o não-vivente e, por extensão, de ser para com ser.
Percamos uns minutos com relação às duas palavras-chaves deste livro.
A base morfológica correspondente ao português marca ocorre em quase todas as línguas germânicas; e, através de teutônico, deve ter sido cedo introduzida no românico, aparecendo, tanto em forma feminina quanto em masculina, como em ambas (como é o caso do português marca e marco, ademais de marcha, e sem contar seus cognatos), no francês, no provençal, no italiano, no espanhol, com sentidos que se irradiam entre `sinal, signo, sinete, limite, moeda (porque ´marcada´), padrão, módulo, modelo, traço, caráter´ e afins. Em português há documentação escrita, tardia embora, já a partir de 1179 e daí por diante com ocorrências nos diversos sentidos referidos. Mas o ligado mais diretamente à problemática deste livro, vale dizer, a ´marca comercial´, não deve ser anterior ao século XVI, como se pode inferir da palavra inglesa correspondente, trade mark, cuja acepção se faz clara já por 1571, embora a forma fixa de composto só se documente por 1838.
De outro lado, a palavra logotipo é de formação moderna, calcada sobre elementos gregos (lógos, ´palavra´, e týpos, impressão, marca´) e tem sua origem inequivocamente estabelecida: foi forjada em 1816 , em inglês, pelo conde Stanhope, citado da Typographia, de 1825, no Hansard´s Parliamentary Debates, nos seguintes termos, por tradução: “Estimei oportuno forjar um novo par de caixotins compostos... introduzindo um conjunto novo de letras duplas, que denominei logotipos”. Daí – dada a internacionalidade e motivação óbvia em línguas de cultura – a palavra passou para outras, sempre, de início, como termo de tipografia no sentido de `tipo com uma palavra, ou duas ou mais letras, fundidas numa peça única´. Talvez a primeira dicionarização das palavras em português seja a da chamada 10ª edição (1954) do dicionário originalmente de nosso compatrício Antônio de Morais Silva (cuja grande edição é de 1813), em que ocorre sob a forma logótipo – requinte filológico postulado pela quantidade breve do y grego original, como nos casos de protótipo, genótipo, fenótipo, biótipo etc. mas em tipografia, na linha consagrada para com monotipo e linotipo, para que não há como contestar o paroxítono de logotipo. O que há é consignar o fato de que, do sentido original, a palavra logotipo tem hoje em dia, pelo menos no Brasil, uma aura semântica que se aproxima da de ´marca comercial´, ´marca de fábrica´, ou, mais ainda, de ´marca, sinal, símbolo, emblema, insígnia empresarial´ e afins.
Estão, assim, perdidos os minutos solicitados para as palavras em causa, que poderiam ser horas ou dias. Fui, quanto pude, breve. E prossigamos.
Ora, se de um lado este livro, como dissemos, é absolutamente fiel a um dos seus objetivos, com ser, como é, catálogo racional e temático de marcas e logotipos brasileiros capaz de ministrar aos usuários um repertório riquíssimo de espécimes dessa natureza, vai ele, de outro lado, muito além disso, pois constitui sem favor uma preciosa iniciação à faculdade e arte de ver.
Houve e há uma tradição que crê os sentidos e os instintos – e entre eles os limites continuam operação de dificílima definição, em todos os ramos das biociências – como manifestações de vida biologicamente transmitidas, cujas potencialidades se atualizam no curso da aventura própria de cada vida. É muito provável que haja aí um lastro de verdade.  Mas é mais provável que haja aí apenas mais um lastro de verdade, mas não a verdade. O homem, como ser sócio-histórico-cultural, faz-se a si mesmo. E faz-se a si mesmo porque, dentre muitos outros fazeres, faz cada vez mais humano o ouvir, o ver, o degustar, o olfatar, o tatear, o termar, o etcetrar – correndo o risco, assim, de também casa vez mais desfazer o humano que já tenha conquistado. Assim, o homem tem fatalmente de aprender tudo, desde o primeiro até o último momento do seu viver, aprender inclusive o morrer. E não há saber que se possa erguer e apreender sem confrontação, debate, dúvida, divergência, polêmica, ensaio, erro, obstinação, prova, contraprova, prática.
Ora, este livro ´organiza´ o material, que se propôs documentar, segundo vários pontos de vista. De um lado, postula um tipo de ´leitura´- quero sobretudo dizer ´visura´ou ´vistura´- em que haja uma operação contrapontística: se as páginas pares são, em certas áreas, preferencialmente documentos visuais presentes, modernos, as páginas ímpares são preferencialmente documentos pretéritos , modernizados ou atualizados pelo contraponto. As raízes brotam e emergem na floração de hoje. Mas pedem mais estas páginas: pedem que o ´leitor´- ou ´visor´ ou ´vistor´ou ´vedor´ - acompanhe os aprofundamentos que se propõem sucessivamente, desde, por exemplo, uma página com uma quadrícula central apenas, até as seguintes, em que o tema quadricular – como num esquema de transformação do Bauhaus – se amplifica, se transfigura, se enriquece,s e despoja, se barroquiza.
Creio dever aqui também ressaltar outra dentre as muitas sabedorias consumadas neste livro. A tecnologia gráfica e tipográfica – se posta em evidência nos seus mais requintados recursos – poderia ter feito dele uma obra de arte gráfica luxuosa, suntuária, até mesmo pidatória: seria `belo´, mas seria irreal para o nosso meio, transformando-o em coisa de bibliófilo, o que não é defeito, mas é, até muitos pontos, coisa para os ´eleitos´ da tribo. A sabedoria a que me refiro constituiu em fazê-lo realmente funcional e belo, mas com uma exemplar economia de meios, com recorre a técnicas gráficas menos onerosas e nem por isso menos eficazes: consciência social.
O livro, assim, diagramado em ativa operação mental – e aqui o visual é, efetivamente, à Leonardo da Vinci, cosa mentale – , se torna um permanente desafio ao usuário, propondo-lhe associações, oposições, conexões, correlações, dissociações, simplificações, atomizações, conglomerações, análises, sínteses, expansões, contrações, dispersões, compactações, com problemas que transcendem o teorético da gestalt, do behavior, do abissal. É uma obra aberta, no melhor sentido didático, o de aprender sempre, de educar-se sempre, dentro ou sobretudo fora dos centros institucionalizados de instrução – as escolas, quaisquer que sejam os seus nomes: creche, maternal, pré-primário, primário, ginasial, colegial, técnica, ateneu, vestibular, academia, superior, faculdade, universidade, colégio e os demais -, como na visão antecipatória de Ivan Illich.
Os textos que acompanham o material visual fervilham de proposições e insinuações, mas não se prendem rigidamente a um sistema de idéias ou de teorias fechado: são eles também, na sua concisão lapidar, convites à mentação, à pensação, à indagação, à pesquisa, à discussão individual (de si para si) ou colegiada (de vários para vários), permitindo hipóteses de trabalho das mais diversas e fecundas. Os campos da comunicação e da expressão, teórica e praticamente, se problematizam assim, compelindo a um pensar e um fazer experimentais de que velhos erros e novas luzes brotarão.
O poderoso escritor que é João Felício dos Santos, com ter sue nome associado à co-autoria deste livro, de ter-se sentido rejuvenescer dentro de um novo universo, já que o seu era o de um veterano campeão de outro, o verbal. E Wlademir Dias-Pino, na sua seriedade de um dos mais perspicazes pesquisadores do visual no Brasil, deve sentir-se feliz com essa realização, que encontrou nos editores e gráficos Antonio da Costa Martins e Aparício Miranda, a benemérita compreensão de que aqui se aperfeiçoou algo muito mais do que um catálogo de marcas e logotipos. Esse algo, este livro, deverá ser um vademécum para quantos estudantes haja no Brasil onde se estudarem, pra valer, os problemas da comunicação e expressão visuais. Oxalá esse meu voto se confirma, para que venhamos a ter a enciclopédia do visual que Wlademir Dias-Pino sonha – e pode – realizar.

Antonio Houaiss
Rio de Janeiro, 10 de julho de 1974"

(http://www.enciclopediavisual.com/textos.detalhes.php?secao=4&subsecao=17&conteudo=36)

 

 

 

 

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ALMANDRADE PRODUZIU

O SEGUINTE ARTIGO SOBRE

W. DIAS-PINO:

 

 

"Para lembrar os 80 anos de
Wlademir Dias-Pino

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Almandrade
 
A leitura como objeto do olhar
 
      Pouco se falou da obra de Wlademir Dias-Pino, entre a literatura e as artes visuais, estranho poeta concreto nos anos 50, desconfiado e crítico com relação à objetividade construtiva. Existe um problema central na produção gráfica e poética deste artista: a didática da leitura, uma didática não linear contra o mito da retina. Poeta, pintor, programador visual, um dos inventores da poesia concreta e do poema processo, Wlademir nasceu no Rio de Janeiro em 1927, onde vive atualmente depois de residir por um longo período em Cuiabá. Publica seu primeiro livro em 1940 “A Fome dos Lados” (edições Cidade Verde, Cuiabá Mato Grosso). Poeta da palavra que já pensava a linguagem como problema central da poesia.
«Aqui está a mancha do assassinado
livre agora era bom e é livre
sua mancha horizontal e leve
como são leves as coisas horizontais».
      “A Máquina Que Ri”, “A Máquina ou A Coisa em Si”, “Os Corcundas”, livros editados em Cuiabá nas décadas de 1940 e 1950 que mostram um poeta desconfiado do progresso tecnológico, rebelde com a semântica, introduzindo na poesia um vocabulário estranho e perturbador.
«Teus olhos têm o brilho de flecha
- Um eco polido de rolar
Nossa ânsia nos une como sombras».

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«O homem examina seu tédio
como se fosse um dedo».
_____________
 
«Que pluma esses dentes
de engrenagem até ao tédio
tamanho mapa, mapa de ferro
ruminando que raiva igual
toda andaime logo de febre
e também aço outras coisas
quase humana, quase hélice».
 
      A partir de 1956, depois de participar da exposição de lançamento do concretismo no Brasil, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o trabalho poético de Wlademir assume radicalmente o visual como estrutura do poema, “A Ave”, um livro objeto/poema foi um novo desdobramento na composição e na visualidade da poesia concreta, superando a própria poesia visual. Leitura do ponto de vista da poesia visual pode ser o método mais fácil de consumir o trabalho de Wlademir e disfarçar o enigma indecifrável fora do saber do olhar. São imagens, espaços que se indagam, construídos como sabedoria do olhar e da geometria para a ginástica da reflexão e emoção do olhar. Desenhos silenciosos, traçados com um repertório construtivo, utilizado de forma crítica e sarcástica, buscando tensionar a higiênica visualidade concreta com outras geometrias, como a escrita indígena.
 
“Além do fluxo de informações próprio à época de sua formação, o repertório de Wlademir Dias Pino recebeu elementos através do contato peculiar e significativo com fatos e com um conjunto de repertórios, o que contribuiu para que seus trabalhos, por ocasião da Poesia Concreta, apresentassem uma universalidade resultante de uma atividade inventiva que marcaram as particularidades de sua produção.” (Álvaro de Sá)
     
      Momentos de inversão em plena euforia do otimismo da arte e da poesia concreta. Um poeta da dessacralização do poético com o culto à máquina, mas uma máquina rebelde, uma “máquina que ri” e não produz. A pintura de Wlademir é constituída de sintagmas visuais contraditórios, relacionados ironicamente, na corda bamba entre o rigor e o humor. Espaços cortados e re-significados por segmentos de retas, obedecendo a uma noção de economia da cor e do desenho. Entre equilíbrios e desequilíbrios, uma ambigüidade trabalhada e uma pluralidade de leituras com tendência ao excesso. O prazer de ver sem a necessidade de decifrar.
No trabalho de Wlademir, existe um olhar voltado para organizar a inteligibilidade do mundo visual, como sistema de relações de saber. Questionando e re-significando espaços gráficos construídos de forma livre da ortodoxia construtiva, somados com elementos provenientes do figurativo, tratados como formas plásticas. Uma visualidade para o estranhamento do olhar. Espaços planos assimétricos, profundidade imaginável, carregados de problemas para a imaginação do olhar interior, que nos fala Merleau-Ponty, resolvê-los. São de ordem da própria trama da visualidade.
 
 
      O livro foi um instrumento crítico utilizado por Wlademir, este objeto cheio de mistérios que oculta com a sedução de seus signos o processo de sua confecção. Rigorosamente programados, uma forma experimental de paginar e manipular o conteúdo gráfico, o gesto comum de virar a página, nos livros planejados por Wlademir é sempre uma surpresa e um trabalho que motiva se pensar sobre o livro como coisa produzida para ser manuseada.
 
      “A Ave” é um livro para se pensar sobre o livro e a leitura. A perfuração, a cor, os gráficos sugerem a idéia de uso como meio de decodificação, ironizando a utilidade do olhar e das mãos.
“Assim, quando começamos ‘A Ave’, estávamos participando do Movimento Intensivista em Cuiabá; e muito nos preocupava o problema da colocação da palavra nos vértices (dobradiças) do espaço (o nível ou altura da palavra no suporte do papel significava a potencialidade) W.D.P.
O mundo visual de Wlademir Dias-Pino
      A Imagem quer sonhar seu próprio passado, recordar, recriar. Acumula informações e contradições: o novo e o arcaico. Dos traços rupestres depositados nas paredes das cavernas aos códigos virtuais da janela do computador, um mergulho na origem e no desenvolvimento da escrita. O projeto é fazer uma enciclopédia visual. O trabalho que propõe o poeta Wlademir Dias–Pino, um dos criadores da poesia concreta que comemora 30 anos em 2006, é construir uma história da imaginação da mão e do olho. Um lugar de meditar sobre a natureza das imagens apropriadas e transformadas em matéria-prima para outras imagens, que oferecem ao pensamento um mundo. Wlademir, “na sua seriedade de um dos mais perspicazes pesquisadores visuais no Brasil” (Antonio Houaiss), interroga os signos visuais como sabedoria, ou seja, a utilização e organização do visual como “coisa mental”, lembrando Leonardo da Vinci.
 

 
“Precisamos compreender que a mão, assim como
o olho, tem seu devaneio e sua poesia.” (Gaston Bachelard)
 

      A mão do poeta inventa e relaciona imagens, mobiliza o pensamento de quem olha na busca de uma história, ou melhor, de uma pré-história das artes gráficas e sua poética. Uma performance da visualidade que viaja no tempo e exige de nós uma contemplação provocante. Elas são apenas o que desejam ser, imagens; mas estimulam a imaginação a ver um certo universo que habita o signo. Quem olha com atenção descobre as confidências de um “artesão” que não desconhece o raciocínio das mãos. O olhar acaba por projetar sobre o que vê: uma história, uma lenda, ao percorrer toda a superfície gráfica. Vivendo entre Cuiabá e Rio de Janeiro em 1974, Wlademir lança “A Marca e o Logotipo Brasileiros” que poderia ser o primeiro volume desta audaciosa Enciclopédia Visual. Mais do que um estudo de marcas e logotipos, é um rico repertório de imagens.

 

 
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ALMANDRADEse desempeña desde hace más de 30 años tanto en las artes plásticas, como en la arquitectura, el diseño y la poesía. Participa en varios salones internacionales entre los que destacan las XII, XIII e XVI Bienales de Sao Paulo, y la muestra especial de la XIX Bienal de Sao Paulo En Busca de Esencia. En 1974 edita la revista Semiótica, proyecto del Grupo de Estudios del Lenguaje de Bahía, del cual fue uno de sus creadores. Desde 1975 realiza más de veinte exposiciones en Salvador, Recife, Río de Janeiro, Brasilia y Sao Paulo, y escribe en varias publicaciones especializadas sobre arte y arquitectura. En los años 1981 y 1982 recibe premios del Museo de Arte Moderno de Bahía, en 1986 de Fundarte en el XXXIX Salón de Artes Plásticas de Pernambuco, y en el año 1997 es galardonado con el premio Copene de Cultura e Arte. En marzo de 2002 su obra es incluida en la exposición Brazilian Visual Poetry organizado por el Mexic-Arte Museum de Texas, Estados Unidos, y entre julio y agosto de 2002 se realiza una retrospectiva de su obra en el Museo de Bellas Artes de Río de Janeiro, Brasil. Asimismo, ha editado los siguientes libros de poesía y trabajos visuales: O Sacrifício do Sentido, Obscuridades do Riso, Poemas, Suor Noturno y Arquitetura de Algodão.
 
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NO SITE DE POESIA DE ANTONIO MIRANDA
CONSTA:
 
 
"POESIA VISUAL
 
WLADEMIR DIAS-PINO
 

Veja>>> CALIGRAMAS / CALIGRAMMES, seleção original de WLADEMIR DIAS-PINO:http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/caligramas.html


 



 
“A primeira vez que  vi um poema do Wlade, consultei uma enciclopédia e estava escrito logo nas primeiras linhas: ‘O autor não diferencia os gêneros.’ Naturalmente fiquei surpresa, dele, que tem formação arquitetônica, não separar um poema de uma idéia espacial.  Depois vi na Revista da UNE, em 1956, um artigo dele, fazendo a relação entre a arquitetura de Brasília e a visualidade de um poema concreto. Agora ele entrega este material e afirma que a leitura visualizada também é um poema que se diferencia da usual versão do Poema//Processo, que é a transformação de uma obra visual para outra. Aqui se trata de partir da visualidade até a leitura visualizada”.
Comentário de Regina Pouchain, poeta visual e artista gráfica – responsável pela catalogação da obra de WDP –, sobre o trabalho acima, feito pelo poeta especial e gentilmente para este sítio de poesia.
* * * * *
 
 


“Wlademir Dias-Pino, por seu turno, tem uma concepção toda própria de poesia concreta, em que “seis ou sete páginas discursivas podem ser expressas  num simples gráfico e é esse  poder de síntese de expressão que a poesia concreta poderá utilizar também.” (De negação e poisitivação do espaço”, Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, 23/2/1958.) A afirmação está de acordo com seu poema “Solida”, exibido na Exposição Nacional de Arte Concreta.  Como já foi dito, “Solida” destaca-se dos demais poemas expostos, oferecendo em cada uma de suas quatro pranchas uma diferente representação diagramática da composição/decomposição, letra por letra, da fase “sólida solidão só lida sol saído da lida do dia”,  e suas  possíveis subdivisões  de sentido, geradas a partir da palavra-título.
PALAVRAS NO ESPAÇO – a poesia na Exposição Nacional de Arte Concreta. In: concreta ´56 a raiz da forma.  Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM. Catálogo da exposição – 26 de setembro a 10 de dezembro de 2006. p. 131, 168-169
 
E ao  acompanharmos hoje com interesse as experiências do grupo que propugna uma poesia não-verbal, construída a partir de signos visuais, de formas aleatórias ou geométricas, o que verificamos também é um retorno a certas fontes de inquietação criativa do seiscentismo ibérico. O poema “Sólida”, de Wlademir Dias-Pino, talvez a mais racional criação da poesia de vanguarda brasileira, não estará acaso redimensionando, agora fora do contexto da linguagem verbal, o mesmo processo de metáfora pura de Gôngora?Cabe ressaltar que o texto citado foi escrito originalmente em 1968. “  AFFONSO ÁVILA, no capítulo “O barroco e uma linha de tradição criativa”, no livro O POETA E A CONSCIÊNCIA CRÍTICA – uma linha de tradição, uma atitude de vanguarda  (São Paulo: Perspectiva, 2008. (Col. Debates), p. 31-32.
 

Wlademir Dias-Pino e Antonio Miranda, em casa do primeiro, no dia 25 de setembro de 2009. Encontro marcado para celebrar uma amizade que teve início pela homenagem prestada a Wlademir durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasilia, em setembro de 2008.
 
Agora, veja um video elaborado a partir do célebre poema AVE, marco inicial da poesia visual no Brasil