A Literatura Esquecida
Por Washington Ramos Em: 05/08/2020, às 06H29
[Whashington Ramos]
Beira rio, beira vida; O tronco; Corpo vivo; Quarup; Os cavalinhos de platiplanto; O jazigo dos vivos; Prisioneira da noite; Crônica da casa assassinada; Floradas na serra; O pirotécnico Zacarias... Citei apenas dez, mas é bem maior o número de romances e coletâneas de contos ou de poesias que estão quase totalmente esquecidos no Brasil de hoje. Alguns foram vencedores de prêmios importantes e concorridíssimos como o Walmap, nos anos 60 e 70 do século passado. É o caso, por exemplo, do primeiro romance relacionado acima, que não está mais esquecido porque hoje o autor mora no Piauí, sua terra natal, e alguns amigos têm contribuído para novas edições dessa obra.
Os livros supracitados são de pessoas que já faleceram, com exceção de Assis Brasil. Não estão mais aqui para o cuidado e divulgação de sua obra. Esta, portanto, encontra-se fora de catálogo e de moda também. Sim! É isso mesmo! Muitas obras literárias saem da moda, assim como grifes ( quem hoje se lembra das marcas Feranda e Dijon, por exemplo? A campanha da Dijon era estrelada pela estonteante, na época, Luíza Brunnett. ). É preciso que haja alguma coisa abrindo espaço para que livros entrem e continuem em evidência. No entanto alguns autores já falecidos estão com seus livros bombando aí na web. É o caso de Machado de Assis, Lima Barreto, Carolina de Jesus e Clarice Lispector dentre outros. Como se explica isso?
Explica-se porque, ou eles são impulsionados por uma grande editora, ou por revistas muito prestigiadas, ou por grandes eventos literários como a FLIP, ou por algum autor estrangeiro. É claro que os quatro autores acima mencionados são muito talentosos e têm cadeira cativa na literatura brasileira e pelo menos dois se destacam fora do Brasil. Mas, nos últimos anos, têm sido alavancados promocionalmente. Lima Barreto foi o autor homenageado na FLIP – 2017. Homenagem certa e juntamente com isso ele é um escritor muito valorizado ainda por causa de seu combate contra o preconceito racial, claramente exposto na novela Clara dos Anjos. Essa luta, que é justa e necessária, configura-se hoje como uma das atitudes que mais contribuem para a valorização de um artista.
Clarice Lispector, além de ter sido homenageada na FLIP – 2005, teve uma biografia sua escrita e publicada por Benjamin Moser, um norte-americano que se diz apaixonado por sua (dela) obra. Alguns críticos literários têm afirmado que esse livro de Moser tem muitas coincidências com Clarice, uma vida que se conta, biografia publicada ainda nos anos 90 pela professora brasileira Nádia Battella Gotlib. A coisa cheira a plágio em alguns trechos. Aliado a isso, não se sabe por quê, Clarice Lispector é muito citada nas redes sociais por muita gente que não assume o que escreve e a ela atribui frases. Escritor hoje que não aparece em Facebook & cia torna-se menos conhecido.
Carolina de Jesus, além de ter a força e o apoio da turma que, com razão, combate o preconceito de cor no Brasil, está sendo reeditada, só que desta vez é por uma grade editora brasileira com excelentes contatos no Exterior.
Machado está sempre na moda, foi o fundador de nosso romance moderno, tem recebido elogios de gente famosa no mundo inteiro como Woody Allen. Para completar, em junho deste ano, recebeu o impulso da prestigiadíssima The New Yorker, que publicou um elogioso artigo sobre a reedição de Memórias Póstumas de Brás Cubas nos EUA, a qual esgotou em um dia.
Outra explicação é que as novas gerações, influenciadas pela propaganda que grandes editoras fazem de autores jovens, identificam-se com eles e os leem avidamente. São os escritores da moda. No futuro, a maioria sairá de evidência e será esquecida. No entanto cada geração tem sua igrejinha, isso é inevitável.
O Instituto Nacional do Livro – INL -, que existiu de 1937 a 1987, editou muitos autores brasileiros, tirando-os do esquecimento. De 1990 para cá, com esses governos neoliberais, a tendência é que bons ficcionistas e poetas sejam esquecidos quase totalmente se não estiverem na moda impulsionados por algo ou alguém.