A era do gelo: metáfora do aquecimento global?
Por Flávio Bittencourt Em: 10/10/2009, às 07H22
A era do gelo: metáfora do aquecimento global?
O frio extremo mostrado em filme de animação evoca, paradoxalmente, o medo dos efeitos calamitosos do aquecimento global
Flávio Bittencourt
Aos amigos que partiram em 2009, Fernando Almeida Feghali, Fernando de Souza Santos Levenhagen, Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, Narciso Julio Freire Lobo e Maria de Jesus Chaves (Lia Chaves), em afetuosa memória.
"(...) A semente da castanha do Pará precisa da ajuda de um esquilo, para roer a ponta e enterrar, a fim de ela romper a casca e germinar. (...)", http://www4.ensp.fiocruz.br/terrapia/?q=castanhadaamzonia.
'(...) [Pergunta a E. Pound] Acha que o mundo moderno alterou os modos em que a poesia pode ser escrita? Ezra Pound: Há um bocado de competição que nunca houve antes. Tome o lado sério de Disney, o lado confuciano de Disney. Está nele ter pego um ethos, como ele faz em Perri, aquele filme do esquilo, onde você tem os valores da coragem e da ternura expostos de uma maneira que todos podem entender. Aí você tem um gênio absoluto. (...)" (Os escritores - As históricas entrevistas da Paris Review, p. 72, trad. de Alberto Alexandre Martins, São Paulo, Companhia das Letras, 1988 [1957, 1958, 1963, entrevista concedida a Donald Hall; "Ezra Pound & The Paris Review", por Pedro Luso de Carvalho: "Além deste texto sobre Ezra Pound, poeta, músico e crítico literário (...) farei a transcrição de um trecho da entrevista publicada inicialmente pela The Paris Review, em 1957, e depois editada em forma de livro (Writers at Work), em 1958 e 1963, pela The Viking Press, Inc., Nova Iorque. (...)",
http://lusodecarvalho.spaces.live.com/blog/cns!800B55D0D73E5454!788.entry]).
"(...) Bem, eu ainda não fui ao quinto dos infernos mas só o imagino frio. Aquela Igreja Messiânica, aquela do Johrei, ensina isto, que o inferno é gelado. (...) Saudade de morar no Rio de Janeiro, saudade dos 12 dias em Manaus, dos 30 dias em Porto Velho, saudade de suar, de sandália havaiana, de vestido solto, saudade do meu coração calorado e caloroso. Porque crianças, meus dedos estão roxos sobre o teclado. Danação. Mas eu volto... volto prá um quentinho ainda em vida, pois pode ser que depois...(...)" (Bárbara [do blog "Lesados em geral" ], servidora pública, Petrópolis-RJ, "Inverno rima com inferno", em 22.6.2009, não mencionado o nome completo da autora do texto, http://lesadosemgeral.blogspot.com/2009/06/inverno-rima-com-inferno.html.
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Um fantasma ronda o mundo, o fantasma do aquecimento global. E isso acontece - tremendo paradoxo! - quando deveríamos estar presenciando o esfriamento que antecede uma nova "era do gelo", ou seja, uma nova glaciação.
Consta no verbete 'Era do Gelo', da Wikipédia: "(...) o planeta experimenta 10.000 anos de era quente a cada 90.000 anos de Era de Gelo. (...)".
Sendo a era gelada uma "grande fria" para nós humanos, para os outros animais e também para as plantas, vale dizer, para a vida em nosso planeta, o aquecimento global poderia ser considerado um verdadeiro benefício à humanidade. Se não fosse tão perigoso aos seres afetados.
Prosseguem os autores do citado verbete enciclopédico: "(...) Devido à ação humana (principalmente através de atividades industriais e do desmatamento florestal), o planeta tem experimentado no último século um período de aquecimento cada vez mais acelerado. (...) Se por um lado esse aquecimento global evitaria uma nova glaciação e seus característicos contratempos; por outro está provocando grandes desastres ecológicos como furacões e tornados, secas e queda na diversidade biológica. Além disso, o efeito do aquecimento global não representa um aumento de temperatura em todo o globo, mas sim na temperatura global média. Estudos de previsões dos efeitos desse aquecimento mostram que o derretimento das calotas polares por ele provocado, podem afetar as correntes marítimas, provocando longos períodos de forte glaciação no hemisfério norte, principalmente na América do Norte e Europa enquanto o hemisfério sul sofreria um forte aquecimento. O impacto da atual civilização sobre o planeta é bem menor que o impacto de um meteoro, como aquele que supostamente provocou a extinção dos grandes répteis [dinossauros]. (...)", http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_do_Gelo.
'Inverno' rima com 'inferno', bem lembrou a blogueira Bárbara, como acima se viu. Mas frio extremo e generalizado é prenúncio de grande calor no planeta? Sim, é, mas não apenas depois de decorridos 90 mil anos, se o bicho-homem, de forma alarmante, apronta das suas. Diferentemente daquilo que acontece na sucessão de estações do ano - primavera/verão/outono/inverno -, quando a alternância frio/calor banalmente acontece (não é o caso, aliás, na maior parte do Brasil, como se sabe), no desenho animado A Era do Gelo (ou, como já está sendo chamado, A Era do Gelo-1, em razão de seus desdobramentos "2" e "3", também de grande sucesso), uma "idade-catástrofe" natural resulta em longas e penosas migrações, de bichos, homens... e vegetais, no caso do filme.
Ocorre que, a se acreditar nas hipóteses de que se fala metaforicamente de algo ao se abordar outra coisa, que, no texto - pode ser no texto fílmico, também -, como lugar-tenente, o substitui (essa primeira hipótese é genuinamente semiótico-literária) e de que se fala do presente e seus problemas contando-se, desde Esopo - ou, desde antes, da tradição popular-oral onde o fabulista grego teria haurido suas estórias e inspirações -, estórias com animais, parte do sucesso do filme A era do gelo talvez se deva a nosso atual medo... do calor!
Passo a informar alguns dados sobre o citado desenho animado, norte-americano, mas co-dirigido por um especialista em animação fílmica, Carlos Saldanha.
Dois artistas de talento dirigiram esse longa-metragem de animação (EUA, Fox / Blue Sky Studios, 2002, adaptação da estória original de Michael J. Wilson), o carioca Carlos Saldanha (nasc. em 1965) e o estadunidense Chris Wedge (nasc. em Binghamton/Nova Iorque, em 1957, e premiado com o Oscar em 1998 pelo curta-metragem de animação Bunny). O título do filme, Ice Age, recebeu a tradução, no Brasil, de A era do gelo, e, em Portugal, de A idade do gelo [fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ice_Age].
Pois bem, como se sabe, por vezes em curtas sinopses de filmes, podem aparecer trechos excepcionais, idéias iluminadoras, "sacações" verdadeiramente poéticas, filosóficas e até histórico-ecológicas. Veja-se essa, por exemplo: "(...) Scrat [famoso esquilo do filme] trava uma guerra com a própria Era do Gelo por causa de sua preciosa noz (...)" [adiante, a sinopse completa está transcrita].
Não sou especialista em processos biológicos de reprodução de fauna e flora brasileiras, todavia, por ser parente de queridas pessoas - primos e primas - que ainda exploram castanha no interior do Amazonas, às vezes leio algo sobre a castanha-do-Brasil, também conhecida como castanha-do-Pará (
Ora, se a proteção da noz, na "era do gelo", coincide com a própria disseminação das plantas (muito nutritivas a mamíferos-pouco-peludos (humanos), mamíferos-com-muitos-pelos (macacos), de um lado, e a capivaras, cotias, esquilos e outros roedores, de outro), evidentemente, a luta pela disseminação da vida é um enfrentamento de condições naturais adversas.
A questão é que uma glaciação é um processo natural e o aquecimento global parece ser o resultado de lastimáveis devastações artificiais, por exemplo, as causadas por rodovias que cortam selvas.
Sobre esse assunto - estradas naturezas estragando -, escreveu o falecido economista amazonense Theodoro Botinelly, em Amazônia, uma utopia possível (Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1990): "(...) Por mais que se tente arranjar argumentos defendendo a construção das estradas na Amazônia, não se consegue. Construir-se estradas paralelas aos rios é um despropósito. Principalmente nas condições de nossa planície. Os rios são as vias de transportes mais baratas (...)" (BOTINELLY, 1990: 112)].
No ano do centenário da fundação da Universidade do Amazonas, orações para as almas do Prof. Botinelly e do Prof. Narciso Lobo, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia Amazonense de Letras infaustamente falecido no mês de julho, ambos eminentes professores e pesquisadores U.A. - atualmente, denominada UFAM - estabelecimento de Ensino Superior que começou a funcionar quando meu bisavô Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt governava o Amazonas.
Que as sementes dispersadas por esses sábios esquilos, habilíssimos disseminadores de um saber não-catastrófico, germinem nos ambientes de decisão, aqui e alhures, até mesmo porque, como se não fosse suficiente tanta implosão terráquea, o satélite da terra, a antigamente poética lua, está sendo agora também bombardeado(a) por artefatos "bolados" por macacos nus (grandes símios sem pelos), como na hora certa nos chamou o zooantropologista inglês Dr. Desmond Morris, esse mesmo que, hoje, do alto de seus 81 anos de idade, encanecido e solícito, continua segurando um espelho-de-monos para que nos enxerguemos melhor.
Escreveu o desventurado Euclides da Cunha: "(...) A Amazônia é a última página ainda a escrever do Gênesis. Um metafísico imaginaria ali um descuido singular da natureza, que após construir em toda parte as infinitas modalidades dos aspectos naturais, se precipita na Amazônia para completar às pressas a sua tarefa. É a terra moça, a terra infante, a terra em ser, a terra que ainda está nascendo. (...)" (grifos nossos). A Amazônia ainda vai ser escrita? Não, é claro, já está lá. É resultado de descuido natural? Não, é preciso responder - e absolutamente não foi feita às pressas, já que é resultado de um lento, multissecular - e pleno de sabedoria - processo de surgimentos, desaparecimentos e adaptações de intrincados ecossistemas naturais. Complexidade, enfim. Deus foi apressado? Não, Deus não opera apressadamente. Mas eu respeito os ateus e os agnósticos: afirmar-se que "a natureza" foi apressada na criação da própria natureza - elementos metafísicos e de possíveis autoproduções colocados de lado - é uma contradição nos termos: refiro-me ao ato de escrever. E se um trecho de mera sinopse de filme é maravilhoso, o trecho euclideano está mesmo - falo num português bem claro, porque o homem foi tortuoso - escrito de forma desajeitada, sugerindo que a natureza constrói aspectos naturais: o que é enganoso parece, como de costume, texto fraco. E, nesse caso, trata-se, mesmo, de um texto fraquíssimo. Euclides da Cunha talvez estivesse feliz, hoje, quando homens loucos atiram até na lua, talvez para tentar "consertar" alguma coisa por ali. O que Deus não fez, o homem fará: acabar com a vida no planeta.
Sobre a idéia (magnífica) de Botinelly de que a Amazônia é uma utopia possível, devo acrescentar o seguinte: Euclides da Cunha, logo se percebe, não acertou. Disse ele (acima ficou claro) que aquela era terra ainda quente do Gênesis, como se fosse algo inicial. Ali, penso eu, a Divina produção - assim a perspectiva burguesa vê a invenção de Deus, mas o termo é usado aqui de forma irônica - terminou, e as coisas verdes já nasceram maduras. Chegou o Criador ao topo de sua inventividade eco-lógica. Por inveja e absurda cobiça - Amazônia e a cobiça internacional é o título de um livro do saudoso historiador Arthur Reis -, querem acabar com ela. Vamos deixar? Resposta sucinta: não. A Amazônia é uma "utopia" plenamente realizada.
Brasília, 10.10.2009
2009 - Ano do Centenário do Falecimento de Barbosa Rodrigues.
Participe do Seminário João Barbosa Rodrigues: um naturalista brasileiro, entre 21 e 23.10.2009, no Jardim Botânico, Rio, http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/seminario-barbosa-rodrigues,236,2318.html.
A programação atualizada do evento está em:
http://www.jbrj.gov.br/ e em:
O artigo constitui homenagem também a:
Tertunilla Vivaldina Bittencourt dos Santos
(filha de Agnello Bittencourt e Tertunilla de Mello Bittencourt),
e Maria de Lourdes Araujo Lima Diniz
(filha de Benjamin Franklin de Araujo Lima e Cacilda Mello
de Araujo Lima),
tias falecidas nonagenárias, em 2009,
in memoriam.
[O colunista, cujo endereço de e-mail é [email protected], sai de férias e retornará na segunda semana de nov./2009. FB]
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Sinopse do filme
"Quando a preguiça [da megafauna do Pleistoceno] Sid 'adota' o mamute Manny como seu protetor, o mamute tenta de tudo para se livrar de sua nova 'bagagem'. Mas isso é apenas o começo de suas frustrações: após encontrarem uma vila humana destruída, Manny é convencido por Sid a ajudar a entregar um bebê humano chamado Roshan à sua família. Eles têm a companhia de Diego, o tigre dente-de-sabre sinistro que faz amizade com Sid e Manny e que tem planos de entregar o bebê ao chefe de seu bando.
À medida em que Sid, Manny e Diego vão atravessando vasta paisagem gelada, outra criatura, Scrat, o roedor azarado, tenta desesperadamente realizar a sua missão na vida: enterrar uma noz - que acaba desencadeando eventos calamitosos. Enquanto Scrat trava uma guerra com a própria Era do Gelo por causa de sua preciosa noz, Manny, Sid, Diego e Roshan embarcam numa viagem incrível: enfrentam avalanches, brigam por comida com um bando de dodôs, exploram os mistérios de uma fralda, escorregam por uma montanha-russa pré-histórica de funis de gelo e atravessam pontes geladas sobre lagos de lava vulcânica",
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ice_Age.
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Notícia de agora há pouco sobre a senadora e ex-ministra Marina Silva
Portal BOL - Notícias
"10/10/2009 - 11h54
Marina Silva recebe prêmio internacional por defender meio ambiente
A senadora Marina Silva (PV-AC), ex-ministra do Meio Ambiente e provável candidata à Presidência em 2010, recebe neste sábado em Mônaco o prêmio Mudanças Climáticas, oferecido pela Fundação Príncipe Albert 2º de Mônaco.
A iniciativa premia pessoas e instituições por atuarem em favor do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. O prêmio considera ações e iniciativas em três eixos: mudança climática, preservação da biodiversidade e acesso à água, além da luta contra a desertificação.
A senadora vai receber 40 mil euros, além da homenagem com o troféu, que será entregue pelo Príncipe Albert 2º.
É o quinto prêmio que a senadora recebe desde 2008, quando deixou o Ministério do Meio Ambiente por discordar de algumas diretrizes da política ambiental do governo. O mais recente foi em maio deste ano, o Prêmio Sofia 2009, concedido anualmente pela Fundação Sofia a pessoas e organizações que se destacam nas áreas ambientais e de desenvolvimento sustentável",
http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2009/10/10/ult4728u32211.jhtm.
A senadora Marina Silva (PV-AC), ex-ministra do Meio Ambiente e provável candidata à Presidência em 2010, recebe neste sábado em Mônaco o prêmio Mudanças Climáticas, oferecido pela Fundação Príncipe Albert 2º de Mônaco.
A iniciativa premia pessoas e instituições por atuarem em favor do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. O prêmio considera ações e iniciativas em três eixos: mudança climática, preservação da biodiversidade e acesso à água, além da luta contra a desertificação.
A senadora vai receber 40 mil euros, além da homenagem com o troféu, que será entregue pelo Príncipe Albert 2º.
É o quinto prêmio que a senadora recebe desde 2008, quando deixou o Ministério do Meio Ambiente por discordar de algumas diretrizes da política ambiental do governo. O mais recente foi em maio deste ano, o Prêmio Sofia 2009, concedido anualmente pela Fundação Sofia a pessoas e organizações que se destacam nas áreas ambientais e de desenvolvimento sustentável",
http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2009/10/10/ult4728u32211.jhtm.
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NOTA TRISTE
Lamento profundamente o falecimento de quatro pessoas em Petrópolis. Pai, mãe e dois de quatro filhos foram soterrados por deslizamento de terra acontecido hoje, sábado, 10.10.2009, por volta de uma da madrugada. As chuvas no RJ já duram quatro dias seguidos, de acordo com a notícia de O Estado de SP,
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,chuvas-causam-4-mortes-em-petropolis-no-rio,448868,0.htm.