A Caxinauá
Por Rogel Samuel Em: 20/10/2020, às 16H32
A Caxinauá depois do morticínio escondeu-se e permaneceu algum tempo num capão de mato perto do Palácio sem ninguém. Pensasse morrer e não queria ser mais vista. Pierre tinha nas imediações cerca de 500 homens, caçadores, mateiros, caucheiros, balateiros, toqueiros, comboieiros, homens de campo, mariscadores, lavradores, empregados e aias. Ninguém. Ninguém a viu. Ser invisível quando quer fica mesmo invisível. Que somos alvos fáceis de suas cobras mandadas, de suas flechas, dardos e zarabatanas. A zarabatana solta um dardo muito pequeno e muito rápido, que não se vê no ar, e é muito preciso, mortal, envenenado por um tipo de curare feito do cipó uirari e dos venenos de cobras, moscas, aranhas e escorpiões misturados num tipo de ritual. Paralisa o sistema nervoso e mata por asfixia. Alguns índios usam cobras como armas. Certo Othoniel das Neves, do Juruá, famoso por suas crueldades e matanças, morreu picado pela cascavel encontrada debaixo do seu travesseiro. Pintados com ervas especiais, os índios enganam os melhores cães de caça. No morticínio Numa só se encontraram corpos carbonizados. Quase morta, Maria teve de ser levada às pressas para Manaus, com Frei Lothar e Zequinha juntos. Foi a pior guerra da região até hoje. Depois disso, Pierre Bataillon, que gostava das frases de espírito, e para levantar o moral da tropa, que começava a respeitar e a temer a força de resistência dos guerreiros Numas, apesar da incomparável diferença das armas que utilizavam, passou a chamar os índios de “novos ajuricabas”, referência ao herói dos Manaús que, em 1723, enfrentou e venceu os soldados da coroa portuguesa, sob o comando de Manuel Braga.