A Bruxa do Espaço
Por Miguel Carqueija Em: 13/12/2010, às 12H35
Um antigo conto de "space opera", apenas publicado no extinto fanzine de papel "Notícias do Fim do Nada", de Ruby Felisbino Medeiros (Porto Alegre), ora revisado:
A BRUXA DO ESPAÇO
Miguel Carqueija
No imenso restaurante, o indescritível vozerio levava muitas pessoas a “desligarem” os ouvidos, acionando um abafador. O de Denise tocava música erudita e incluía um microfone de frequência para comunicar-se com Wagner.
— Na verdade — ele observou — nós estamos na situação de procurar agulha em palheiro. Isso aqui é um formigueiro e eu não sei como...
— Querido, as dificuldades são um estímulo em nossa profissão. Não se esqueça disso.
— Infelizmente o meu temperamento é muito mais pragmático que o seu. Aquele romantismo das novelas de espionagem...
Denise sorriu.
— A vida real pode ser mais fantástica que a fantasia. Quando eu me lembro das árvores de Gnatalli...
— É. Eu achava mais fácil acreditar em Papai Noel que naquilo.
Denise cortou a “pizza” recentemente trazida e passou uma parte para Wagner.
— Se esse pessoal não tem postos secretos de reabastecimento — curioso, ninguém pensou nisso — então terão de passar de vez em quando por lugares como esse. Tirando fora a minha restrição, isso foi o que nos disseram.
— Mas como poderiam ter postos secretos? De onde viriam os víveres?
— Cultura hidropônica. Reciclagem. Hoje em dia...
— Nossos sensores poderiam localizar tais bases.
— Na imensidão do espaço? Só com muita sorte.
Denise gostaria de falar menos, mas Wagner, menos introspectivo, não é companhia que facilite o silêncio. Ela se recorda dos últimos raides da “Bruxa”. O ataque a uma nave de passageiros com destino a Marte, as vítimas fatais. A abordagem das naves espaciais era uma coisa recente, requeria técnica ousada. Por isso nunca se ouvira falar em pirataria espacial. Agora, porém, quem viajava pelo Sistema Solar temia deparar com a “Bruxa do Espaço”. Uma ameaça absurda, acintosa, numa época de grande estabilidade social e política.
Denise e Wagner procuravam observar as pessoas à sua volta, atrás de qualquer atitude suspeita. Não era fácil tarefa, e há uma semana estavam nessa observação, em vão.
Denise gostava da Rosca Stephen Hawking. Era muito asseada e organizada e monitorava uma imensidão incomensurável de espaço cósmico e membros da família solar. De seus observatórios podiam ser acompanhados os vôos de naves à distância de várias U.As *. A Bruxa também já fôra avistada algumas vezes, mas não pudera ser alcançada.
Para a Inteligência Internacional, capturar a Bruxa era ponto de honra.
Denise colocou a mão no queixo, reflexiva, e procurou observar na direção do estrado onde se apresentava um conjunto de “jazz”. Havia centenas de pessoas no local. Não havia por onde começar.
— Se nos pusermos a investigar pessoas em atitudes suspeitas, Wagner, vamos mas é achar o que não procuramos.
— Nós temos é que investigar os fregueses do mercado e a documentação das naves de abastecimento.
— Isso já é feito pela polícia da Rosca. Esse pessoal é muito esperto.
— Nós mesmos tínhamos que investigar isso, Denise. Pode ser caso de corrupção.
— Estaríamos nos expondo muito...
Denise tomou um pouco do suco de frutas e recostou-se, desanimada.
Seus olhos brilharam de súbito.
— Que foi?
— Wagner, aquele robô...
Wagner procurou olhar discretamente. Havia um homem seguido por um robô-criado.
— Que tem ele?
— Depois eu digo. Pague a despesa e me alcance.
A agente se levantou, ligou o seu polarizador prismático de localização e pôs-se a seguir os dois elementos que lhe interessavam: um homem e um robô, entre quatrocentos outros ocupantes do salão.
O lugar estava muito apertado e Denise avançava com dificuldade, inclusive sem mais enxergar quem buscava seguir. Sem o aparelho, teria facilmente perdido a pista; na verdade só tinha certeza de estar seguindo o autômato.
Atravessou toda a largura do salão e viu-se num corredor que dava para uns jardins de falso “ar livre”, com telas panorâmicas de paisagens computadorizadas. O que havia lá fora era de fato o espaço cósmico.
O sinal do aparelho era forte na direção do espaço-porto.
Denise seguiu para lá, procurando não se apressar para não chamar a atenção de ninguém.
Na verdade o espaçoporto tinha duas partes, ou fases, como usavam chamar. Uma hermética, outra exposta. Sem falar na câmara de pressurização. Podia-se portanto chegar facilmente na fase interna, de onde as naves, já tripuladas, eram transferidas para a pista de vôo e descida.
E Wagner, onde estava?
Denise passou por um homem que falava num telefone público. Telefone sem imagem, como muita gente preferia. Ela sorriu. Sentou-se num banco entre buganvílias e alterou o sinal de seu aparelho. O homem lhe interessava mais que o autômato, agora que eles se haviam separado.
A jovem esperou. Não poderia captar a conversa, a dez metros de distância, mas não queria perder o sujeito de vista. Um homem alto, magro, cheio de bexigas e verrugas, com um nariz de Cyrano.
Wagner finalmente apareceu.
— E aí? O que você descobriu?
— Eu segui um homem com um criado-robô. Esse estava se comportando de forma estranha: olhava para os lados. Isso não é normal num robô.
— E onde estão agora?
— Deixei o robô de lado. O homem se separou dele e está naquele telefone.
Wagner pensou rapidamente.
— Eu creio que temos autoridade suficiente para deter esse sujeito e exigir uma investigação sobre o robô.
— Isso pode ser contraproducente.
— O que é que você sugere?
— Vamos manter esse sujeito na mira do polarizador e tentar achar o robô. Temos que fotografá-lo.
— Isso me parece muito complicado, mas você é mais intuitiva...
Aproximaram-se da área do espaçoporto, cheia de colunas dóricas. Denise encarou Wagner:
— Querido, me faça um favor. Transmita ao computador-mestre o que nós vimos até aqui.
— Mas nós não vimos quase nada que...
— Me faça isso, por favor. Uma questão de prudência.
Wagner digitou algumas informações cifradas e olhou para Denise.
— E agora?
Denise apertou-lhe o braço na altura do cotovelo.
— Veja a pequena espaçonave roxa. “Batata Frita”. Engraçado! Mas o robô entrou nela.
— Sozinho?
— Apresentou um passe. Isso não é normal. E veja só: o tal homem está se afastando de nós.
Isso era claramente indicado no polarizador oculto no relógio da agente. Wagner resolveu agir:
— Vamos abordar aquele fiscal.
Denise desta vez não objetou. Acompanhou Wagner, que se aproximou de um rapaz cafuzo, uniformizado, e falou:
— Meu amigo, preciso que me dê uma informação.
— Pois não.
— Por que você abriu o cordão para o robô?
— Por que o senhor me pergunta isso?
— Vigilância — respondeu Wagner enigmaticamente, sem revelar ao certo a quem representava. — E você sabe que robôs sozinhos não entram em naves.
— Por que não?
“Ele faz perguntas, não responde”, pensou Denise.
— Pois bem, sabidinho — Wagner estava deliberadamente calmo. — Só se dá passes a seres humanos. Você sabe disso.
— O senhor está desatualizado. Aqui aceitamos passes de robôs — desde que eles os tenham recebido de seres humanos.
— Mostre-me o passe dele.
O rapaz mostrou. Era em nome de Zeno Tardini.
— Quem é essa pessoa?
— Suponho que é o dono do robô.
— E como é que ele entrará na nave, sem passe?
— Arranjará outro, sem dúvida.
— Mas, homem, não se dá mais de um passe a um cidadão, para um único embarque!
Súbito ouviu-se um silvo agudo. Denise olhou em volta e viu apenas trabalhadores e viajantes cuidando de seus assuntos, nenhum muito perto deles.
O rapaz arregalou os olhos e deu um pulo enorme, passando sobre o cordão de isolamento. Wagner retesou-se, espantado. O fiscal correu para a Batata Frita, com a velocidade de um atleta.
Wagner pulou atrás e Denise, sem outra opção, acompanhou-o. Quando a porta estanque se abriu três pessoas entraram como raios uma atrás da outra, Denise e Wagner já acionando seus anéis de vibração que os salvariam de um possível fuzilamento imediato.
A porta fechou-se instantaneamente e uma chuva de faíscas e rajadas-laser caiu sobre o casal de agentes da Inteligência Internacional. Invulneráveis, eles correram por uma espécie de despensa, procurando localizar os assaltantes entre os quais já identificavam o robô, que deslizava entre pilhas de titânio em cilindro. Homens e mulheres surgiam de todos os cantos e a pressão energética aumentou de tal maneira que Denise e Wagner, de costas entre si, tiveram que acionar os raios de suas agulhas de cotovelo apontadas para a direção dos pulsos. Com as mãos abertas, dirigiram seus jatos de fulgurante energia cósmica, derrubando oponentes que pulavam entre toras de lítio e berilo, e pilhas laminares de cobalto selenita.
De repente um terrível estremeção arrojou os dois agentes ao chão de borracha carmesim da espaçonave e uma brutal aceleração elevou a gravidade e imobilizou-os.
A nave estava levantando vôo com uma rapidez insensata.
— Denise, permaneça deitada!
Uma algaravia metálica deu a entender que o autômato, excessivamente rígido para a situação, acabara de rachar. Denise lembrou-se que a nave teria de passar por uma comporta; aliás só do nível externo poderia decolar para o espaço. Nunca do nível interno, dentro de paredes. A garota percebeu que a morte passava por perto e pensou em Deus.
Mas a comporta se abriu. Alguém tentava escapar!
“Não sabem que não sabemos de nada”, pensou Denise. “Entraram em pânico”.
Logo a sensação de gravidade foi substituída pela ausência de peso e cubos de poliedros de carbonato de tungstênio flutuaram pelo ar. Wagner e Denise ligaram seus controles de vôo e deslocaram-se com rapidez, cobrindo a tripulação que em parte não se recuperara do choque. Uma mulher em traje espacial gritou-lhes:
— Que vocês querem? Não têm como escapar daqui!
— Que quer dizer com isso? — Denise não ocultava sua irritação. — Esse balaio de minério é nosso.
Denise e Wagner pousaram junto da mulher, que usava botas magnéticas, e a agente prosseguiu:
— Diga aos seus colegas para ficarem quietos, pois nossas armas são superiores. Vocês já sentiram. Onde é a cabina de pilotagem dessa coisa?
— Mas quem são vocês?
— Fiquem a distância! — ordenou Wagner. Ele e Denise já haviam desarmado a tripulante e mantinham-se de costas para a parede metálica.
— Serviço Secreto — disse Denise, mostrando-lhe o anel multicromático. — Que carregamento maluco é esse de vocês?
— Que quer dizer? Transportamos minerais e um carregamento de insetos sedígeros, em estado criônico...
— E por que aquele fedelho entrou correndo aqui, fugindo de nós? E por que aquele robô entrou com um passe de gente? Fale, porque nós sabemos que você tem relação com a “Bruxa”!
Wagner interveio:
— Acho que não vamos ter tempo. Estão terminando de confabular.
O corredor era como um túnel quase cilíndrico. Com exceção do assustadinho de há pouco, todos os oito demais ocupantes pareciam estar equipados com botas magnéticas e não flutuavam. Um homem de óculos antiquados e grande corpulência apontou para os agentes:
— Soltem a moça e se rendam, pois vamos abrir fogo.
— Vocês atirarão em sua companheira? — gritou Denise.
— É um risco que teremos de correr. Nós lhes damos cinco minutos.
Wagner sussurrou:
— Isso é ridículo! Eles sabem que não podem enfrentar nossas armas!
— Querem ganhar tempo, mas por que?
— Para que a nave chegue a seu destino!
Denise compreendeu. Deviam estar a caminho da “Bruxa do Espaço”. E seria muito difícil enfrentar a nova situação.
— Wagner, temos de chegar na cabina de pilotagem!
— Bem, essa nossa amiga terá de...
Mas nesse momento a mulher reagiu, empurrando Denise para a parede e pulando, rasgando-se o tecido de sua manga, segura por Wagner. Ela deu um grande pulo e flutuou até pousar a meio caminho de seus companheiros.
Uma chuva de projéteis desceu sobre o casal, mas o seu “guarda-chuva energético” resistiu.
Reagindo, Denise e Wagner acionaram suas armas e varreram o aposento. Avançaram, agora bastante irritados, e Wagner derrubou facilmente o “funcionário” que os havia atraído e que flutuava tentando chegar ao chão. Na verdade ele não caiu; só ficou flutuando sem sentidos.
Os outros tentavam se esconder atrás das pilhas e dos engradados, mas a dupla sobrevoou-os e acertou-os um a um, com raios paralisantes.
O efeito era muito passageiro, mas desta vez houve tempo para injetar soníferos de ação prolongada em todos.
A loura agente secreta flutuou em direção à cabina de pilotagem, que se encontrava fechada; seus sensores não indicavam a presença de seres humanos. A porta, de duroplast metamorfizado, resistiu a todas as tentativas para ser aberta. Finalmente, Wagner abriu-a por vibração magnética, e o casal penetrou numa cabina vazia, com o piloto automático ligado.
— Alô, Batata Frita! — disse uma voz anasalada — Fala Bruxa!
O choque paralisou Denise e Wagner por um segundo, e antes que pudessem responder uma gravação se fez ouvir:
— Isto é uma gravação. Nave em pilotagem automática. Caçamos clandestinos a bordo. Câmbio.
— Assim que retornarem à cabina, entrem em contato para triangular a abordagem. Desligo.
As vozes se calaram. Denise e Wagner se entreolharam, quando seus rádios individuais começaram a chamar. A frequência subespacial da Inteligência Internacional garantia-lhes sigilo e rapidez ultra-luz nas comunicações.
— Aqui o Computador-Mestre. O que está havendo com vocês?
— Aqui Denise. Mande socorro imediato, pois estamos prestes a ser capturados pela Bruxa do Espaço. Estamos a bordo do cruzador “Batata Frita”, de propriedade dos piratas, dominamos a equipagem mas rumamos em controle automático para a “Bruxa”. Tentaremos controlar esta nave, mas isto não será fácil. — Façam o que puderem e enquanto isso enviem todos os dados disponíveis. Estou alertando seus superiores.
Wagner pousou sua mão sobre a de Denise.
— Querida, acho que ganhamos a parada. Temos naves de prontidão na rosca.
— Sim. E com um pouco de trigonometria eles logo nos alcançarão.
Cerca de uma hora e sete minutos depois, a situação alcançou cores dramáticas. A “Bruxa” tornara a chamar quinze minutos após a primeira tentativa. Desta vez porém a varredura cósmica da Batata Frita já localizara a nave-mãe e Denise e Wagner, tendo algemado os tripulantes, esforçavam-se por alterar o programa do computador de bordo. Wagner injetara um vírus com os objetivos da Inteligência Internacional e o pequeno veículo modificara aos poucos sua rota, passando a uma órbita paralela à da Bruxa, sinal de que as interfaces locais já estavam obedecendo às intenções dos dois agentes. Tendo vencido a pequena batalha no mundo simbólico, Wagner e Denise preparavam-se para a luta mais difícil, no mundo real.
— Essa nave não dispõe de armamento — observou Denise. — Portanto teremos que usar as nossas armas, amplificando-as a laser se pudermos improvisar um canhão com os faróis.
— Isso levará muito tempo. Precisamos fugir. A qualquer momento seremos atacados ou abordados. Já dominamos o computador, portanto...
— Fugir sem a Bruxa? Está brincando, Wagner. Só Deus sabe quando ela poderá ser localizada de novo, se a deixarmos escapar.
— Mas se não temos como dominá-la...
— Alô Batata Frita! Alô Batata Frita!
Era uma voz anasalada de mulher, que prosseguiu:
— Alô! Sabemos que há alguma coisa errada! Se gente estranha dominou esta nave, que nos responda! Caso contrário abriremos fogo!
Denise pegou no microfone:
— Alô, Bruxa do Espaço! Aqui fala a Inteligência Internacional! Rendam-se porque já capturamos seus cúmplices da Batata Frita!
— Vocês estão loucos! Rendam-se vocês e soltem nossa tripulação. Se for preciso mataremos a todos.
Denise ia escrevendo um bilhete para Wagner:
Descubra como estão as coisas. Adapte as armas. Prepare a retirada.
Wagner afastou-se e Denise continuou a negociar:
— Agora que vocês foram localizados não escaparão facilmente. E estamos fora do alcance de suas armas!
— Não por muito tempo, palhaça! Deixarei o circuito aberto. Quando quiser implore misericórdia.
Acrescentou uns palavrões que Denise ignorou.
A agente procurou Wagner, muito séria:
— Irão manobrar para nos atacar. Seu vírus está preparado para isso?
— Se for preciso ele fará um jogo de gato e rato. Se você me ajudar agora, em uma hora teremos o canhão. Até lá é possível manter a distância.
Quarenta e cinco minutos depois, com dois cruzadores da Armada Terrestre se aproximando num movimento de pinças, uma voz de mulher se fez ouvir:
— Socorro! Me tirem daqui, vocês dois! Preciso sair daqui!
— Querido, vou ver o que há — disse Denise.
— Mas tenha cuidado. Pode ser algum truque.
Era a mulher de há pouco, que seria bonita se não fosse a expressão raivosa. Acordara antes dos outros.
— O que você quer? — indagou Denise.
— Tenho que ir no banheiro! A necessidade é urgente! Não posso ir assim algemada!
Denise constatou que os demais ainda dormiam:
— Está bem. Eu a escoltarei, mas se você tiver alguma arma escondida, eu a descobrirei.
Pôs-se a revistar a mulher, que dava mostras de grande aflição. Estava meio convencida quando seus espertos dedos pegaram um tubinho maleável, como um cigarro dourado, oculto num interstício da gola da tripulante.
— Que é isso?
Súbito a mulher, com um sorriso atroz, deu um ágil chute na mão de Denise, fazendo voar o objeto. Este se desfez no ar, provocando uma luminosidade branca.
Denise recebeu um chute nas costelas e recuou. Já não enxergava praticamente nada. Com sua mente ágil percebeu logo o que havia acontecido e tratou de retornar à cabina e trancar a porta. Fez isso antes que a brancura se consumasse.
— Que aconteceu, Denise?
— Encrenca, Wagner. Oh, cair num truque desses!
— Qual truque?
— Por nada desse mundo abra essa porta! A mulher disse que queria ir ao banheiro. Eu ia deixar, mas revistei-a, encontrei um tubo dourado... e ela chutou o tubo. Era uma bomba de alvura! Ela certamente usa algum colírio ou lente que lhe permite ver nessas condições e me agrediu, mesmo algemada. É possível que os outros tenham a mesma facilidade!
— Quer dizer que está tudo branco lá fora?
— É claro! A sorte é que eu a revistei, que a coisa aconteceu antes de desalgemá-la...
— Se ela conseguir se soltar e soltar os outros, ficaremos acuados aqui dentro...
— Bem, então vamos agir. Pouco importa que eles todos se soltem, se não puderem nos...
— Atenção vocês aí! — uma voz grossa e rouca se fez ouvir.
— Quem é? – indagou Wagner.
— Aqui Sibelius, da Bruxa do Espaço. Vamos atacar em cinco minutos. Rendam-se até lá!
— Vamos sussurrar, querido — observou Denise. — Não responda ao sacripantas. Vamos verificar o astronavegador.
— Sim, e chamar o Computador-Mestre.
Em resumo, a situação estava crítica. A Bruxa, que parecia um terneiro avançando, vencera as manobras da Batata Frita e já estava quase em condições de alvejá-la. Mas o Computador-Mestre garantia que as naves-policiais estavam já tão perto que logo entrariam em conflito com a Bruxa. Questão de minutos...
Em minutos, pensou Denise, poderemos morrer.
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Wagner e Denise já tinham o canhão improvisado. Denise, porém, acreditava que não poderiam com o armamento da Bruxa. Esta se aproximava a olhos vistos. Então, fortes pancadas fizeram-se ouvir na porta trancada.
— Já devem ter-se libertado — observou Denise. — Você terá de enfrentar a Bruxa e eu vigiarei a retaguarda!
— Não será preciso, amor. Que alívio! Veja: a Bruxa está fugindo.
De fato, numa tela tridimensional no teto podia-se acompanhar o que ocorria “lá fora”, e a Bruxa, agora, fugia dos cruzadores. Wagner pediu o envio de dois módulos para ajudá-los.
A batalha começou dois minutos depois da partida dos módulos. Na fuzilaria cerrada que então ocorreu, a Bruxa, sob fogo cruzado, foi rapidamente danificada e logo se encontrou à deriva. Com poucos danos, os cruzadores se aproximaram. Enquanto isso os módulos já manobravam para se acoplarem à Batata Frita.
Denise suspirou, aliviada.
— Vencemos, Wagner. Vencemos, querido!
— O mérito é todo seu, mocinha!
— Todo meu? Que exagero!
— Todo seu, sim! Só chegamos a esse resultado porque você não confia em robôs que olham para os lados...
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— Não me importa que nos tenham promovido, meu querido. Para mim o que me importa é o meu amor por você e o seu por mim. Porque tudo o que fazemos, fazemos por amor. Mesmo quando lutamos com bandidos...
— Você tem toda a razão. Lembra-se, querida, que é só por você que eu entrei para a Inteligência Internacional?
Denise encostou o rosto no ombro de Wagner, que dirigia o carro-avião, e respondeu:
— Só havia duas alternativas. Era isso, ou eu me tornar jornalista...