Elmar Carvalho
Hoje à tarde fui acordado de um cochilo por um recado de meu irmão César Carvalho, que me mandava entregar um álbum com fotografias coloridas de esculturas de Braga Tepi, que foi convidado a expor suas obras na H. Rocha Galeria de Arte, no Rio de Janeiro. A exposição será aberta no próximo dia 04 de março e se estenderá até o dia 23 do mês seguinte. Confesso que ainda não ouvira falar nesse artista, e portanto não conhecia seus trabalhos. Por isso mesmo, olhei o fólio lentamente, com muita atenção. Surpreendi-me com a qualidade das peças. São obras construídas com sucatas de ferro. Mas nota-se que o artista teve muito cuidado na escolha das peças e no modo como as interligou, como as encaixou e dispôs, dando harmonia ao conjunto. Mesmo nas esculturas grandes e pesadas, pode ser visto, em certas partes da composição, um toque detalhista, uma minúcia de obra minimalista, como se fora um trabalho de delicada ourivesaria, fazendo como que um contraste com as partes maiores e mais compactas. Apenas pelo título de algumas obras, que remete à cultura humanística e clássica, percebe-se que Braga Tepi não é um artesão ingênuo, e muito menos primitivista. Dentro do que é possível nesse tipo de escultura, concebida com a montagem das mais diferentes peças de sucatas de ferro, que não permite uma moldagem total, pode-se afirmar que ele é um figurativista de alta linhagem, mas sem ser um copiador servil e fotográfico da natureza, porque sabe distorcê-la artisticamente, adicionando elementos colhidos na imaginação, na mitologia, nos sonhos, podendo-se tirar a conclusão de que ele agrega a algumas de suas esculturas, com muito refinamento e graça, elementos extraídos do surrealismo. Sem dúvida, pelo que pude perceber das peças constantes do álbum, é um dos maiores escultores do Piauí, e inegavelmente é um dos grandes artistas brasileiros. Por isso, não me chateei de ter o meu cochilo sido interrompido abruptamente. Até porque mergulhei num sonho maior e melhor, que é a arte mágica, supra e surreal de Braga Tepi.