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OTA AOS MEUS ESTIMADOS LEITORES:

O TEXTO A SEGUIR FARA PARTE DO MEU LIVRO

"NÃO ESTÁ CHOVENDO  LÁ FORA"

    (CRÕNICAS)

   A  AMIZADE NO TEMPO

CUNHA E SILVA FILHO

Não li o livro A writer’s notebook, de W. SOmerset Maugham ()1874-1965), mm dos ficcionistas ingleses que a crítica apontou ter influenciado o nosso romancista Érico Veríssimo (1905-1975), ao lado de Aldous Huxley (1894-1963) e Rosamond Lehman (1901-1990). Mas, um pequeno trecho daquele livro de Maughan que encontrei num compêndio sobre questões gramaticais da língua inglesam me chama a atenção e me surpreende pelo alto grau de entendimento da natureza humana demonstrado pelo escritor inglês. É um trecho antológico m que nos faz pensar na condição humanam mais precisamente no domínio das relações da amizade ou mesmo do amor.

Segundo a tese de Maughan entrevista no pequeno trecho lido e apresentada neste artigo em forma de paráfrase, quanto mais envelhecemos tanto mais nos tornamos silenciosos. Na juventude mergulhamos de cabeça no mundo e com os braços abertos . Tratamos nossas amizades ou os outros com a intensidade de nossos sentimentos. Pensamos que, ao desejarmos nos lançar nos braços dos amigos. receberemos de volta com a mesma intensidade e calor o que imprimimos aos nossos sentimentos.

Abrimos-lhes nosso corações e julgamos que eles ou elas nos receberão com igual abertura. Acreditamos que o desejo de penetrarmos de corpo e alma na amizade será correspondido por outrem, tal como as águas dos rios que, ao se misturarem com o mar, se tornam uma só.

Entretanto, à medida que o tempo passa, todo esse poder de entrega “gradativamente” vai nos deixando Entre nós e os amigos vai surgindo uma “barreira,” de tal sorte que os mesmos sentimentos que acreditávamos existir nos outros em relação a nós, vão-se desmoronando. Os amigos, agora, se nos tornaram estranhos.

Aí, então, nos apegamos inteiramente a uma única pessoa e nela depositamos todo o nosso amor, toda a nossa capacidade de entregam numa tentativa derradeira de realizarmos uma união de almas com todas as nossas forças trazendo para junto de nós aquela pessoa querida na expectativa de conhece-la e de sermos conhecidos por ela até ao âmago de nosso ser.

O escritor, prosseguindo o fio de seu pensamento, acrescenta que, aos poucos, por mais que demonstremos nosso amor, por mais que nos liguemos a essa pessoa amada, há uma impossibilidade de entendimento e conhecimento entre nós malgrado toda a intensidade e fervor demonstrados pelo nosso afeto.

Ao final e ao cabo, resta-nos a solidão. Então, o nosso silêncio constrói um mundo só nosso que faremos questão de ocultar dos outros ainda que seja da pessoa que amamos, porque sabemos que nem mesmo ela nos entenderá.

Na vida quotidiana, nos nossos relacionamentos pessoais, o exemplo de Maugham transforma-se em parâmetro. Mais ainda: torna-se verdade, quase uma regra.

A vida contemporânea, notadamente nas grandes cidades, para cada um de nós, nos oferece essa mesma possibilidade do silêncio, solidão e impossibilidade do encontro absoluto com os outros até mesmo com os que estão afetivamente mais próximos de nós.

As conversas que mantínhamos vão rareando as chamadas ao telefone vão-se minguando as amizades se interrompem. O que fazemos? Posto que ainda sofrendo do silêncio e do abandono, teimamos em procurar outros relacionamentos, torcendo a fim de que se prolonguem por longos anos e, desse modo não venham a se tornar mais uma vez no silêncio e na incomunicabilidade entre corpo e alma, como brilhantemente refere o texto de Maugham