1 DE SETEMBRO DE 1994, TRIBUNA DA IMPRENSA

 

Miguel Carqueija

 

 

         Esta carta foi publicada pela Tribuna da Imprensa sob o título “Credibilidade II” (havia carta de outro leitor, como “Credibilidade I”) e meu nome saiu errado, Cerqueira em lugar de Carqueija (fiz uma ligeira revisão do texto).

 

 

         De há muito percebo um fenômeno extremamente nocivo que acompanha as eleições no Brasil e ao qual todos tendem a se curvar, inclusive os candidatos. Refiro-me às pesquisas eleitorais efetuadas por certos órgãos misteriosos. A coisa chega a tal ponto que a impressão nítida é que as eleições são decididas pelas pesquisas. Com frequência as pessoas mudam seu voto porque o candidato de sua preferência desabou nas pesquisas: aí escolhem outro mais bem colocado, para tentar derrubar um terceiro, de quem não gostam. É o chamado voto útil, que por natureza é imoral. Infelizmente até católicos exemplares trocam o voto de consciência — ou voto ético — pela imoralidade do voto útil. Ora, quem vota não deveria pensar de forma tão utilitária, sufragando às vezes verdadeiros estropícios e desprezando quem sabe ser melhor, porque “não tem chance de vencer”. Isto é secundário, entrega-se a Deus. As pesquisas eleitorais perverteram o processo, interferem com a liberdade do eleitorado e deveriam ser proibidas, tanto mais que, em geral, nenhum de nós jamais foi pesquisado e nem conhece quem tenha sido. Quando essas prévias aparentemente acertam é provavelmente porque elas provocaram o resultado que antecipam, induzindo os eleitores.