O TEMPLO QUE CONTEMPLO

Desde criança, eu via uma praça de aldeia com um templo. O templo era a construção mais rica do aldeamento pobre. Eu constatava montanhas baixas ao fundo do templo. Outra coisa que me ficou na memÓria, foi um grande pátio retangular, sem o lago, e ao fundo, uma montanha baixa marron.

Eu era muito criticada e servia de chacota para os companheiros adolescentes. Quando meus pais morreram - eu, que nunca quis casar, mas tive uns namorados - resolvi ir à Índia.  Eu conhecia uma família de Verona e Leslie, na época com vinte e seis anos não quisera morar no Brasil.  Leslie era guia turística.  Fui ao encontro dela em Verona. 

Eu sabia que tinha de ir para o Sul da India, pois as Devadases só existiram no Sul.  Em Verona, folheando um livro de turismo, deparei com uma palavra: Madurai.  Tive um grande choque quando li "Madurai" — na Índia do Sul, no Tamil Nadu.

Em Madurai, percorri muitos templos... mas não identificava o que eu via desde criança. Por fim, me dirigi à um dos taxistas que ficavam no patio do Hotel:

—- Você sabe onde fica um templo dedicado ao deus Shiva, com umas montanhas atrás?

— Sei sim senhora.  Fica fora da cidade, mas amanhã, eu levo a senhora lá.

No dia seguinte, estavamos diante de um templo não muito grande em comparação aos que vi em Madurai. Entrei, descalça, olhando para o chão sujo de excrementos de morcego e pombos. De repente, algo me tocou... me senti rainha daquilo tudo... ergui a cabeça, olhando as paredes, o altar, entrando como louca, nos compartimentos permitidos a uma ocidental — em PRANTOS! 

Desci para o andar de baixo e vi agora o pátio retangular, coberto de água — virou lago, e, lá no fundo, a colina marron...

O templo era consagrado ao deus Murunga, um filho do deus Shiva.