Mas, naquele anno de dois mil e quatro
da Cristianíssima Era Terceira,
naquela julina terça-feira,
às dez horas e vinte minutos
de uma manhã estranhíssima,
nublada, altaneira,
naquela Megalópole agitada e guerreira,
a Deusa Cibele Gisele Romanelli
Thereze Terrosa DuCéu e DuMar
resolvera ao Planeta Terra voltar,
tomando por empréstimo,
à Íris do Profundo Olhar,
a massa corpórea
da dita Sacerdotisa
dos Olhos Faiscantes
e do Vigoroso Narrar.
O fato era que a Íris Mensageira
das Antigas Guerreiras
Estórias Compridas
iria entrar em férias
praláde merecidas,
naquele friorento mês de julho
de Estranhas Invernadas Floridas
e, por tal razão,
com certeza exemplar,
não viu impedimentos para emprestar
o corp’humano de Almandina Cristina
Rubirosa do Brilhante Olhar
à famigerada Cibele Gisele
da Prodigiosa Pedra Lunar.

Aconteceu assim o tal avatar:
Almandina, quomodo sempre fazia
nas tais terças-feiras fatais,
acordara às oito horas
e uns minutinhos a mais,
e, depois dos procedimentos matinais
(levantar-se do flutuante
e aconchegante
e rosado leito
com o pezinho direito;
lavar-se minuciosamente
com o sabonete das Estrelas Maiorais,
perfumoso-cremoso, e sais magistrais;
escovar os dentinhos meio tortinhos,
para que ficassem bem limpinhos
e perfumadinhos;
tomar o café-com-leite-de-vaca-
e-pão-com-manteiga-quentinho;
e outros tantos rituais bem normais),
dirigira-se ao Templo da Sabedoria Geral,
para usufruir pelo menos umas três horas
de reciclagem intelectual.
A partir daquele dia, sem guia,
as suas férias de meio de anno estavam a começar,
e iriam durar até ao dia 28
daquele mês seven
do Almanaque Anual do Horóscopo Solar.
Mas, quomodo era uma terça-feira nublada,
e ela já estava habituada
àquela revigoração semanal,
resolveu-se a sair de sua Casa Rosada
sem perda de tempo e muito animada.

Enquanto encaminhava-se para o Metrô
da Praça Saens Peña
das Manhãs Encantadas,
no Bairro da Tijuca
das Barulhentas
Briguentas
Montanhas Agitadas,
a Almandina foi pensando e cismando
no melhor jeito de aproveitar o dia
com Gran Sabedoria
e, ao mesmo tempo,
procurava imaginar
algumas fórmulas secretas
que a livrassem daqueles sinistros
e malvados atletas
dos sobressaltos existenciais,
os quais,
há muito!,
perturbavam os habitantes
daquelas Regiões Dilatadas
de Ares Poluídos Tropicais-Equatoriais
e Incríveis Baladas Calientes
e Barulhadas Insistentes
e Sensacionais.
Imersa em seus pensamentos e alentos,
a Almandina Bonina andava apressada,
sem perceber a aura dourada
que circundava seu corpo
e sua caminhada.
A cada passo que dava,
as pessoas se voltavam
para olharem espantadas
aquela mulher gorduchinha,
baixinha,
envolta em um halo de luz,
e toda animada.
E aqueles se perguntavam:
“O que será isto!,
oh! meu Deus dos Hebreus
e Cristãos
e da Nova Era Anunciada?!
Uma mulher iluminada
andando em plena calçada,
neste início de Século XXI
de muita trovoada?!”
A surpresa era geral e normal,
porque, de verdade!,
a aura sagrada dos ascetas e santos
que andavam deapé,
nos idos da Idade Média
Santificada,
havia sido banida
daquela sociedade sem-fé
e mal-humorada.
Eu mesma,
a narradora sem-rumo
desta estória com sumo,
neo-enrolada,
desgovernada,
desajeitada,
mal-direcionada,
quebrada,
me surpreendo
até agora
com aquele acontecimento sem lógica,
e estou procurando um jeito fabuloso
direito
de recontar o ocorrido
nitidamente
encadeadamente,
mui fielmente!,
aos poucos futuros leitores
deste narrar antológico
seleto
mas um tanto DeMente.
Ocorre que a deusa-mãe
dos portentosos
famigerados famosos
deuses do Olimpo de Roma
e das Velhas Cidades da Ásia
e das Cidades Maiorais,
todas elas cidades reais,
a poderosa Cibele Gisele
Romanelli das Viagens Astrais,
até hoje idolatrada
nos lares remanescentes
dos Antigos Jograis
e pelos apreciadores
de Velhíssimos Lais,
descobrira que
seus divos rebentos heróicos
estavam na Terra
dos Homens Sem-Rumo
disfarçados de seres mortais.
A zelosa mãe ficou preocupada,
ansiosa por demais!
A Terra tornara-se um lugar perigoso
tenebroso
angustioso,
e os seus divinos menininhos
agitados
e mal-humorados
já não possuíam o mesmo vigor
e poder dos tempos passados,
para se defenderem
das ciladas do Destino Enganoso.
Ela mesma,
há muitos séculos!,
já amasiada com um tal Fulanim
Precioso Querubim,
morava em uma Galáxia Mirim,
localizada em um canto qualquer
da vastidão do Universo Sem-Fim.
Então?!
Então, o único jeito de retornar a Terra,
sem muito impacto e real sofrimento,
sem a necessidade de nascer novamente
(o que, certamente!,
mostrava-se deveras incoerente),
seria arranjando um jeito de incorporar-se
em uma mulher maternal,
e ao mesmo tempo sensual,
e, com esse avatar sem-igual,
resgatar o seu excepcional pessoal.
A escolhida,
de índole aguerrida!,
foi a Sacerdotisa
Almandina Rubirosa
De Mente Engenhosa.
Então,
naquele estranhíssimo momento
em que a divina manhã
uma luz nublada emanava,
e a Aurora Fermosa
dos Dedos de Rosa
da Terra Azulinda
já se aproximava,
enquanto a Almandina Cristina
Feminina Rubirosa
animada caminhava,
a Cibele Gisele Romanelli
Demiurga Czarina
da Antiga
e Heróica Estória Gloriosa
de sua forma exterior
e vital se apropriava;
por isto, todos viram,
na dita Sacerdotis’Almandina Cristina
Rubirosa da Face Rosada,
a aura dourada que seu corpo exalava.
Só que a Iluminad’Almandina,
coitadinha!,
não sabia que,
a partir daquele desusado dia sem-guia,
uma deusa em seu corpo existia.
Almandina Cristina
Mineiríssima Mineira
da Gema Rubirosa
foi caminhando flutuando
e sonhando
em direção ao Metrô
da Praça Saens Peña,
uma Praça Fermosa,
uma Praça Tijucana
fervilhante guerreira
famigerada famosa;
ansiosa,
desceu as escadas
repletas de gente
até ao subsolo;
aleixosa,
comprou o passe-passagem,
passou pela roleta-catraca,
desceu novamente
uma outra escadaria
de muito vem-e-vai
e de muito vaivém,
e foi postar-se na plataforma da Estação
à espera do Trem.
Por certo,
um halo dourado
mitificado
a circundava,
e ela sobre nuvens coloridas andava.
Um brilho alterado
de rejuvenescimento inventado
inundava o seu rosto iluminado,
o qual, antes,
estivera bem macerado.
Os homens a olhavam.
As mulheres a admiravam.
As criancinhas de colo p’ra ela sorriam
e se deleitavam
e se encantavam.
E Almandina Cristina Rubirosa,
também conhecida pela alcunha famosa
de Odisséia Maria,
nas alturas se via.
E assim tudo isto aconteceu naquele dia,
até que ela entrasse no Templo
da Maravilhosa Sabedoria,
visitado pelos fantasmas do Amoroso Alceu
e do mui consagrado-idolatrado-estimado
escritor-criador
realista-impressionista Joaquim Maria.
Em ali chegando,
foi logo os livros do passado procurando.
Um deles chamou-lhe imediatamente a atenção.
Era O Livro de Cibele,
a Avó Paterna do Garboso Tritão,
a tal que em seu corpo se ataviara
engalanara
e se fixara,
e ela, coitadinha!,
ainda nem mesmo notara.
Mal sabia a presbítera
do profundo olhar
que fora a própria Cibele
que a induzira o tal Livro folhear;
pois só a partir do Saber Literário
da estudiosa Almandina Cristina
Rubirosa,
a divina Cibele Gisele
Thereze Romanelli Terrosa,
a mui fabulosa
gran deusa da evolução biológica
da Géia Fermosa,
poderia adquirir consistência
e presença
na Terra dos Impagáveis Adágios,
naquele início de Século XXI
de tristes universais
guerreiros presságios.
E o pré-dito avatar
estava já começando a atuar.
O fato era que,
apesar do razoável conhecimento
de Almandina Cristina,
a Sacerdotisa
d’O Precioso Saber
e d’O Luminoso Olhar,
no que se referisse aos mitos
que os exaltados povos
da antigüidade endeusara,
a dita senhora pouco sabia
a respeito da Deusa da Terra
e da Farta Seara,
aquela antiga matriarca
tão reverenciada
pelos anosos terráqueos
do Continente Europeu
e da Ásia Preclara.
Naquele tempo anterior,
a fermosa Mãe
e Filha
e Esposa do Céu,
a protectora da fartura
do Continente Europeu,
simbolizava a energia
do Centro Girante
da Terra da Uva e do Mel,
e era considerada, também,
a Mãe dos Quatro Elementos
Olímpicos Briguentos
que comandavam a Paz
e a Guerra.
E, por esta notável razão,
era cultuada quomodo
a Deusa da Fecundidade e Ação.
Aquela diva Cibele,
a do glorioso passado,
fora proprietária poderosíssima
do Mitológico Veloz Voador
Veículo Desenfreado,
naquele período histórico
praláde dourado.
Quase sempre,
era flagrada,
pelos antigos mortais,
viajando em variados variantes
voadores carros possantes
de rodas astrais,
muuuito brilhantes!,
na frente dos quais
se viam parelhas de oito Leões
Amestrados sensacionais.
Os Leões representavam
a sua grandiosa força
de deusa dominadora,
opressora
e temida,
dominação que era exercida,
sem piedade!,
e sem nhém-nhém-nhém!,
sobre os deuses do Olimpo romano,
e humanos também.
Dominação consentida,
por certo!,
uma vez que,
sob o jugo de Cibele Gisele Velida,
os tais Leõezinhos
se comportavam quomodo fossem
cordeirinhos fraquinhos.
Mas, em defesa da deusa,
matriarca de deuses durões,
seriam sempre Leões Valentões.
Os admiradores de Cibele eram muitos!
Mas, só os homens a cultuavam.
Os romanos antigos, por exemplo,
a adoravam!
As mulheres romanas
por ela não tinham sequer simpatia,
e achavam-na uma tremenda vadia,
uma deusa sandia.
Também, pudera!
Naquela época,
a Cibele Gisele Romanelli
da Preciosa e Grandiosa Floresta,
aquela Floresta Amazônica
que depois pertenceu
ao famoso casal alencariano Ceci e Peri,
se tornara uma procriadora nata,
e reinava do Oiapoque ao Chuí.
E os filhos hercúleos
não eram nadinha parecidos entre si.
A deusa pôs muito chifre
na cabeça de Saturno Soturno,
o seu maridão celestial
do Mandato Diurno.
E, a cada escapadela da Bela,
naquelas viagens insólitas,
sem muita querela,
a tremenda QuironAmante
colocava mais um filhote
ou filhota
em seu ventre possante;
e, certamente,
de pais diferentes,
anões ou gigantes!
Inclusive, há uma dúvida
quanto à filiação de Júpiter Rompante.
Fontes questionadoras induzem
ao pensamento de que o Tonitruante,
o Roncador de Trovão Sibilante,
o Poderoso Inflamante,
não era filho de Saturno Soturno
coisíssima nenhuma!
Muitos opinam que ele fora gerado
por meio de um ajuntamento epo-amoroso
de Cibele Gisele Adamante
com o vyásico Deus Indiano
do Vento Itinerante.
Outros já afirmam que o pai
foi o famigerado famoso El Touro
dos antigos hebreus
do passado de ouro.
Esta dúvida, por certo!,
sempre merecerá
uma sensata reavaliação.
Não foi com a forma de Touro
Adorável
que o Tonitruante Agradável
acasalou-se com a incrível Europa
de Hiper-Inebriante Sedução,
exalando por ela amor e paixão?
E então?!
A História dos Mitos Esquisitos,
neste Terceiro Milênio
de Rápida e Entrópica
e Enrolada Globalização,
não estará a merecer
uma nova formatação?