[Galeno Amorim]

Por Galeno Amorim

Tudo começou naquele dia em que ele simplesmente se cansou de olhar para o monte de livros encostados na estante de casa. Por mais que gostasse, e acalentasse mesmo o desejo íntimo de um dia revisitá-los, ele já tinha se convencido: dificilmente conseguiria reler a maioria deles até o fim de seus dias.

Então, por que mantê-los trancafiados naquele lugar? Foi esse pensamento que passou pela cabeça do doutor Marcelo naquele instante. Não era certo, disse para si, prender entre quatro paredes tamanho conhecimento que fora acumulado pela humanidade por séculos afora.

Soube de uma loja de livros de segunda mão que existia na cidade e decidiu dar um pulo até lá. Especulou sobre os sebos, viu como eles funcionam e, por fim, propôs um negócio: entregaria sua pequena biblioteca doméstica em troca de um punhado de livros seminovos. Afinal, não é para isso mesmo que serve o velho e bom comércio de livros usados?!

Com o tempo, trocar livros que já havia lido por outros que ele próprio podia escolher à vontade, entre as prateleiras e estantes do armazém de obras, acabou virando uma rotina na vida do doutor.

Um dia, ele descobriu que também podia alugar, por alguns trocados, livros recém-lançados. Tornou-se cliente fiel da casa.

Vez ou outra doutor Marcelo apanha algum título que versa sobre sua especialidade. Mas o que faz mesmo sua cabeça são as obras de literatura. Para ele, livros são fonte inesgotável de informação e cultura. Melhor ainda quando lê por puro prazer, só para se distrair um pouco. São esses seus melhores momentos de lazer:

- Ler é uma das coisas que mais descansam as pessoas - receita o dermatologista, que revirava bibliotecas enquanto estudante da Universidade de São Paulo (USP) no campus de Ribeirão Preto, interior do estado.

Doutor Marcelo garante que, em se tratando de livros, não tem nenhum preconceito. Vai, com naturalidade, dos romances policiais à autoajuda, passando pelas obras de não ficção e pelos livros técnicos. O que importa, pontifica ele, é ler.

Outro dia mesmo devorou A Sangue Frio, do Truman Capote. Em seguida, alugou toda a trilogia Millennium, do Stieg Larsson. Leu num fôlego só.

Além de garimpar pelos sebos, Marcelo também é frequentador assíduo de livrarias. Está sempre atrás de novidades. As dicas vêm de amigos ou revistas que compra nas bancas - onde, invariavelmente, também encontra bons livros, sobretudo os de bolso.

Ler, enfim, virou quase uma obsessão: às vezes, não sossega enquanto não lê todos os livros de um autor só porque gostou de um de seus livros. Em casa, ele conserva coleções completas de vários deles, ainda que alguns sejam totalmente desconhecidos do público.

Marcelo tornou-se leitor bem jovem. Nunca mais parou. Tomou gosto pela coisa graças à mãe - como, aliás, aconteceu com metade dos brasileiros que gostam de ler, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

Agora que é pai, quer fazer dos filhos bons leitores da vida. Bom exemplo ninguém pode dizer que ele não dá...